quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Nova família de animais marinhos é descoberta no litoral paulista






Pesquisadores identificam 12 espécies de organismos microscópicos que vivem incrustados em rochas e algas na baía do Araçá, entre Ilhabela e São Sebastião (zoóides do Jebramella angusta n. gen. et sp., que pertence a uma nova família de briozoários, Jebramellidae n. fam / foto: Cifonauta/USP)


Por Elton Alisson
07 de janeiro de 2015

Agência FAPESP – Pesquisadores do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com colegas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Smithsonian Marine Station, nos Estados Unidos, descobriram 12 espécies de briozoários (animais invertebrados marinhos que vivem incrustados em substratos, como rochas e algas) na baía do Araçá, situada entre Ilhabela e São Sebastião, no litoral paulista.

Um das espécies – a Jebramella angusta n. gen. et sp. – foi classificada pelos pesquisadores como pertencente a uma nova família e gênero de briozoários, a Jebramellidae n. fam.

Os novos organismos foram identificados no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP e de um Projeto Temático financiado pela Fundação. Foram descritos em um artigo publicado na revista Zootaxa.

“A descoberta da Jebramella angusta n. gen. et sp. foi por acaso”, disse Leandro Manzoni Vieira, professor do Centro de Ciências Biológicas da UFPE e primeiro autor do estudo, à Agência FAPESP.

“Já tínhamos observado essa nova espécie fixada em pedras e fragmentos de conchas. Ao filmá-la, descobrimos que ela apresenta estrutura e comportamento até então desconhecidos em briozoários”, afirmou Vieira, que realizou pós-doutorado no Cebimar, sob orientação do professor Alvaro Esteves Migotto, com bolsa da FAPESP.

De acordo com Vieira, os briozoários ou “musgos do mar”, como são conhecidos popularmente, formam colônias incrustadas em pedras, conchas e algas, que podem variar de milímetros até 5 centímetros de diâmetro.

Cada colônia é formada por indivíduos conhecidos como zooides, que apresentam um exoesqueleto com compartimentos internos separados, chamados zoécios, ocupados por organismos individualmente muito pequenos e com tentáculos – da ordem de 0,3 a 1,2 milímetro (mm) de comprimento –, denominados polipídeos.

Geralmente, em espécies de briozoários do grupo Ctenostomata, já conhecidas, os embriões ficam incubados internamente nos zooides.

No caso da nova família de briozoários descoberta, os pesquisadores observaram que os embriões são incubados em uma estrutura externa, em forma de capuz, que é movida com a atividade de protração e retração dos tentáculos dos polipídeos.

O compartimento externo possui um orifício que é aberto quando o tentáculo é projetado para fora e fechado pelos embriões quando é retraído pelos polipídeos.

“Não havia nenhuma descrição na literatura científica sobre esse tipo de comportamento de polipídeos e estrutura externa de incubação de briozoários”, afirmou Vieira. “Há outras famílias próximas à que descobrimos, mas nenhuma delas apresenta embriões incubados externamente.”

Animais vivos

Segundo Vieira, a descoberta das 12 novas espécies de briozoários foi possível, entre outros fatores, pela observação dos animais vivos. As espécies do grupo Ctenostomata têm sido tradicionalmente descritas com base em observações e análises microscópicas de zooides preservados em álcool.

Os estudos baseados apenas nessa metodologia, no entanto, não permitem observar com maior nível de detalhe diferenças na coloração, morfologia e comportamento, entre outras características das espécies, avaliou.

“Percebemos que existiam diferenças nos resultados das análises feitas com espécies vivas em comparação com as análises realizadas com zooides conservados em álcool. A maior parte da informação sobre a espécie é perdida ao conservá-la em álcool”, comparou.

Para realizar as análises dos animais vivos, os pesquisadores realizaram coletas de espécies em áreas ao longo ou próximas da baía do Araçá e as levararam para o Cebimar, onde foram conservadas vivas em potes contendo água corrente do mar.

Os animais foram fotogrados e filmados por meio de câmeras fotográficas acopladas a um estereomicroscópio (microscópio de visão binocular).

Dessa forma, foi possível observar detalhes da coloração, morfologia e comportamento das espécies descobertas, contou Vieira.

“Ao filmar as espécies vivas, começamos a observar algumas diferenças em relação ao seu comportamento , principalmente no que diz respeito ao movimento dos tentáculos”, disse.

Poucos estudos

As espécies de briozoários da ordem Ctenostomata, a que as 12 novas espécies descobertas pertencem, são bastante comuns em ambientes marinhos rasos – com até 200 metros de profundidade –, quentes ou estuarinos, e, tal como outras ordens de briozoários, têm sido pouco estudadas no Brasil e no mundo.

“Há poucos estudos sobre os briozoários, em geral, porque há poucos especialistas nesse grupo de animais”, disse Vieira.

“É preciso mais estudos para conhecer melhor como, por exemplo, esses animais se reproduzem, sobre o que ainda não sabemos praticamente nada”, avaliou.

O artigo “Ctenostomatous Bryozoa from São Paulo, Brazil, with descriptions of twelve new species” (doi: 10.11646/zootaxa.3889.4.2), de Vieira e outros, pode ser lido na revista Zootaxa em http://biotaxa.org/Zootaxa/article/view/zootaxa.3889.4.2.

Imagens e vídeos da nova família de briozoários estão disponíveis no banco de imagens de Biologia Marinha Cifonauta, do Cebimar, e podem ser vistos em cifonauta.cebimar.usp.br/taxon/jebramella-angusta/.


Fonte: Agência FAPESP








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