segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Cidades buscam novas políticas para combater trânsito caótico e reduzir gases-estufa


Em um grupo que reúne 70 entre as maiores cidades do mundo, cerca de 50 já traçaram novos planos para melhorias - Domingos Peixoto / Agência O Globo

Tráfego de veículos poderá responder por metade das emissões desses poluentes no planeta daqui a 20 anos

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RIO - Além de buzinaços e mau humor, o trânsito está provocando um prejuízo explosivo ao meio ambiente. Em uma conferência realizada este mês, o Banco Mundial alertou que o tráfego de veículos poderá responder por metade das emissões de gases-estufa do planeta daqui a 20 anos. É um crescimento expressivo comparado ao cenário atual, em que os sinais fechados respondem por 15% da liberação de poluentes para a atmosfera. Enquanto isso, os engarrafamentos são cada vez mais visíveis nas metrópoles. Em um grupo que reúne 70 entre as maiores cidades do mundo, cerca de 50 já traçaram novos planos para melhorias neste aspecto.

Como o crescimento das cidades depende do deslocamento das pessoas, a demanda por petróleo deve crescer de 84,7 milhões para 105 milhões de barris por dia entre 2008 e 2030. E a dependência de combustíveis fósseis é a chave para o aquecimento global. Daí vem a necessidade de as grandes cidades encontrarem uma fórmula para que, no futuro, o aumento da temperatura global não seja um obstáculo para a economia.
 
"... a demanda por petróleo deve crescer de 84,7 milhões para 105 milhões de barris por dia entre 2008 e 2030. E a dependência de combustíveis fósseis é a chave para o aquecimento global".


O ano começou movimentado nas resoluções contra o trânsito. Desde a semana passada, a prefeitura de Lisboa proíbe a circulação de automóveis fabricados antes de 2000 no centro da cidade portuguesa. O governo de Madri anunciou que uma área de 190 hectares, no coração da capital espanhola, será fechada para o tráfego de veículos. Em Paris, os carros à diesel serão retirados de circulação nos próximos cinco anos.
 
"O governo de Madri anunciou que uma área de 190 hectares, no coração da capital espanhola, será fechada para o tráfego de veículos. Em Paris, os carros à diesel serão retirados de circulação nos próximos cinco anos".

As novidades já se estendem da Europa para a sul-africana Joanesburgo, que constrói o seu primeiro BRT, e a chinesa Shenzhen, onde o licenciamento de carros receberá restrições. Todas estão em sintonia com as reivindicações dos climatologistas.

— É preciso criar desestímulos ou restrições a veículos particulares — recomenda Tasso Azevedo, coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (Seeg). — É preciso criar um incômodo para o motorista que, com seu carro, ocupa um lugar onde cabem 15 ou 20 passageiros. Podemos restringir o número de vagas de estacionamento. Algumas podem ser convertidas em ciclovias. A expansão dos pedágios também traria recursos que, se forem investidos no transporte coletivo, contribuiriam até para a redução das tarifas.

ESPERANÇA NO TRANSPORTE PÚBLICO

A opção pelo carro não faz bem para o bolso. Estima-se que, nas grandes cidades, o motorista gasta cerca de 18% de sua renda em seu carro.
 
"... nas grandes cidades, o motorista gasta cerca de 18% de sua renda em seu carro".

No Brasil, segundo o Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), automóveis e motocicletas emitiram cerca de 67 milhões de toneladas de CO2 em 2013, o triplo do que foi liberado por ônibus (22 milhões de toneladas).

— O transporte público deve ser retirado do congestionamento — alerta David Tsai, pesquisador do Iema. — Diversas medidas ainda precisam ser tomadas para que o ônibus se torne atraente a ponto de convencer a população a deixar o carro em casa.

"No Brasil, (...) automóveis e motocicletas emitiram cerca de 67 milhões de toneladas de CO2 em 2013, o triplo do que foi liberado por ônibus (22 milhões de toneladas)".


A restrição ao transporte, claro, não costuma ser bem vista. Em São Paulo, vagas de estacionamento foram pintadas de vermelho para dar lugar a 100 quilômetros de ciclovias. E os proprietários de carros antigos de Lisboa prometem ir às ruas no início de fevereiro, em uma marcha contra a restrição a seus veículos no centro da cidade.

— É difícil fazer com que as pessoas aceitem transições — admite Tasso, que ressalta como algumas medidas, de tão necessárias, podem ser interpretadas de várias formas. — Existe a proposta de fechar vias inteiras do centro de São Paulo no domingo. Isso é uma estratégia ou um sinal de que realmente estamos vivendo o caos?

O incentivo ao transporte coletivo também está na lista de recomendações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Além disso, os governantes também devem preocupar-se com a eficiência energética dos veículos, o teor de carbono do combustível.

— Na verdade, o importante não é saber a idade do carro, e sim quantos quilômetros ele é capaz de percorrer por litro de combustível — ressalta Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe e membro do IPCC. — Também é importante optar por combustíveis com menor teor de carbono. É melhor um automóvel movido a álcool, em vez de gasolina, e um ônibus a biodiesel, no lugar do diesel. Infelizmente, o governo brasileiro está fazendo o contrário.

DESLOCAMENTO RACIONAL

Schaeffer defende que as pessoas precisam economizar o máximo possível dentro do que define como “necessidade de deslocamento”.

— As pessoas podem avaliar quanto elas precisam se deslocar. Por exemplo, um ônibus escolar pode levar todas as crianças para a aula, em vez de cada pai dirigir com a sua.

Em paralelo, a indústria automobilística deve ser obrigada a oferecer veículos cada vez menos poluentes. Diversos países, como a China, já estabelecem um cronograma para assegurar o aprimoramento da eficiência dos carros. No Brasil, segundo Schaeffer, a resolução ainda é fraca.

Carros e ônibus podem dar lugar ao Bus Rapid Transit (BRT), os ônibus articulados que circulam em corredores exclusivos. No Rio, há 311 viajando nos 91 quilômetros de extensão da Transcarioca e no trecho já em operação da Transoeste. Com o novo sistema, 700 ônibus urbanos puderam sair de circulação.

— Temos condições de viver em lugares com ar limpo e criar novos empregos em uma economia mais verde — defende Rachel Kyte, vice-presidente do Banco Mundial e enviada espacial para assuntos relacionados às mudanças climáticas. — Precisamos revolucionar as cidades.

Fonte: O Globo








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