domingo, 3 de abril de 2016

MAIS CULTURA EM NITERÓI - Niterói promove intercâmbio cultural e sedia ‘Encontros com África’


Contemporânea. Companhia de dança de Angola - Divulgação


Marco Stamm

Programação tem apresentações com artistas de Angola, Benim e África do Sul

NITERÓI — Receber artistas estrangeiros é uma tradição em Niterói. Desde a década de 1990, o município organiza encontros culturais em parceria com um determinado país. Começou com Cuba, seguiu com Portugal, Itália, Japão, Espanha, e, mais recentemente, em 2011, o tema foi a América do Sul. As atividades culturais, que se tornaram uma política pública de vários governos, eram desenvolvidas em três semanas. Também seria assim com a África, mas uma sucessão de crises mudou os planos dos organizadores. Agora, em vez de um único grande evento, serão realizados vários “Encontros com África” ao longo de dois anos. A gratuidade em todas as atividades, porém, está mantida. As primeiras exibições começam na próxima quinta-feira, com apresentações no Teatro Municipal.

— Em 2013 começamos a organizar um encontro com a África e tínhamos a ideia de fazer tudo como fazíamos antes, mas neste meio tempo surgiram a epidemia de ebola e a crise econômica e política no Brasil, que, obviamente, mexeram com as possibilidades do evento. Como tivemos dificuldades para o grande encontro, resolvemos fazer vários. Particularmente, estou muito satisfeito com o que estamos realizando — afirma o organizador, Marcos Gomes.

As atividades promovem um intercâmbio entre niteroienses e africanos. Nesta primeira quinzena, a cidade vai receber artistas de Angola, de Benim e da África do Sul. Para esta semana estão programadas apresentações do Jongo Folha de Amendoeira, de Niterói; da Companhia de Dança Contemporânea de Angola; do espetáculo de música teatral “Vida de vassoureiro”, com o artista brasileiro Elias Rosa; e show com o cantor beninense John Arcadius.

Na próxima semana tem jongo com o Grupo Dandalua; um fórum de cultura angolana; a peça “Laços de sangue”, da Companhia Elinga, de Angola; e show do compositor Ndaka Yo Wiñi, com participação da cantora Anabela Aya, ambos angolanos. Todas as apresentações serão no Teatro Municipal. A única em outro endereço será a do grupo sul-africano Obrigado, que, no dia 17, encerra a programação abrindo o show de Emicida, no Teatro Popular Oscar Niemeyer.

Gomes enfatiza que o evento, mesmo com sua grandiosidade, não gera custos para os cofres municipais.

— Desde os primeiros encontros conseguimos parcerias que permitiram que os artistas viessem a Niterói sem cobrar cachê e sem que o município arcasse com as passagens. Viajamos muito e mostramos credibilidade para que fundações, como a Sindika Dokolo, apoiassem a iniciativa — diz o organizador, acrescentando que espera consolidar a parceria para que artistas niteroienses também possam viajar aos países africanos para se exibirem lá.

A escolha da África, garante Gomes, foi natural, embora o secretário municipal de Cultura, o músico Arthur Maia, conheça bem o continente, onde se apresentou várias vezes, e seja entusiasta da cultura africana.

— Nós compartilhamos desta opção. Foi um gosto particular e coletivo, muito pela concepção e pelo respeito que temos pelo continente — justifica Maia.

A garantia de dar continuidade aos eventos do encontro pelos próximos dois anos também pesou na opção pelo continente, já que, diz Gomes, há relacionamento estreito com cerca de 20 países. Na opinião dele, não seria possível mostrar todas as culturas num único evento. A intenção é que as atividades sejam desenvolvidas semestralmente. As negociações para a próxima edição estão adiantadas, faltando apenas a confirmação das atrações.

— Com essa nova fórmula, nós damos uma continuidade que é fundamental no caso da África, que não é um país, mas um continente com diferentes culturas. O grande desafio é mostrar a influência africana na nossa cultura, que é tão presente, mas pouco conhecida. E começamos com Angola, que é o país com maior presença no nosso país. Pouca gente sabe, mas Cubango, o nome do bairro de Niterói, é uma palavra angolana. E há muitas outras referências espalhadas por aí — ensina o organizador.

Para Maia, a relação entre Brasil e África é maior do que a história construída no período de colonização.

— Existe um rio da África que corre muito perto da gente, e sempre passou. Continua limpo, mas a gente bebe muito pouco dele — define o secretário.

A coordenadora de Políticas e Promoção da Igualdade Racial de Niterói, Tatiara Souza, ressalta que eventos como o “Encontros com África” atendem ao programa da Organização das Nações Unidas (ONU) que desenvolve a Década do Afrodescentendente, com intuito relembrar o histórico dos negros na formação dos países ao redor do mundo.

— O Brasil só é o que é hoje graças à cultura africana — enfatiza.

Além das apresentações culturais, o encontro pretende abordar os aspectos citados por Tatiara. Um dos objetivos da Fundação Sindika Dokolo é apresentar parte da terceira Trienal de Luanda, que tem como tema “Da utopia à realidade: da escravidão ao apartheid”. O Fórum Cultura Angolana vai discutir literatura, língua portuguesa e arquitetura. Também será feito o lançamento do site Malungo Eu, feito por brasileiros, com colaboração africana, para discutir o tema.

Como as apresentações são gratuitas, a entrada está condicionada à lotação do Teatro Municipal. A distribuição de senhas começa uma hora antes de cada espetáculo. A programação completa está no site niteroi.rj.gov.br/encontroscomafrica.

Fonte: O Globo Niterói 








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