Prefeito Rodrigo Neves apresenta ações contra a criminalidade em entrevista ao O Fluminense

Lucas Schuenck

Experiência do exterior contra a criminalidade

Prefeito anuncia parceria com Disque-Denúncia e 'Código de Convivência'

O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), visitou nesta semana o Grupo Fluminense para falar sobre segurança pública no município. Em entrevista de quase uma hora, que pode ser conferida na íntegra em www.ofluminense.com.br, ele ressaltou ações que a prefeitura vem realizando, como o Pacto Niterói Contra a Violência, anunciado no último dia 6. A iniciativa prevê investimentos de R$ 304 milhões para o setor nos próximos dois anos. Neves revelou que Niterói ganhará um número exclusivo no Disque-Denúncia através de parceria, e que está estudando a elaboração do que apelidou de “Código de Convivência”, que será desenvolvido após as eleições, para conscientizar os moradores da cidade da importância do respeito mútuo. Rodrigo disse ainda que na próxima semana se juntará a um grupo de prefeitos da região para ir ao gabinete de Intervenção Federal, onde solicitará um planejamento estratégico e ações integradas na Região Metropolitana.

Da recente visita que fez a Nova Iorque, o prefeito trouxe experiência internacional de combate à criminalidade. Segundo Rodrigo, cidades das Américas Latina e do Norte já passaram por situações piores do que a de Niterói hoje, e conseguiram reverter a situação. A partir destes casos, a equipe responsável pelo pacto estudou as iniciativas fundamentais tomadas para a melhora de segurança pública.

“Em Medelín, na Colômbia, o número de homicídios por 100 mil habitantes era de 300, na década de 80, e hoje é de 15. Nos anos 70 e 90, Nova Iorque constatou um crescimento de 100 para mil tiroteios por ano, e as pessoas pararam de frequentar o Central Park, por exemplo. O prefeito desta cidade, na ocasião, resolveu fazer um pacto, similar ao que estamos fazendo aqui, e acredito que teremos um resultado ainda melhor porque sabemos quais foram os erros e acertos de quem já o fez”, disse.

O prefeito ressaltou mais uma vez que a segurança pública é dever do estado. Neves acredita, entretanto, que uma vez constatada a grave situação administrativa do Rio de Janeiro, cabe à prefeitura tomar iniciativa neste aspecto.

“Niterói não é uma ilha e, por isto, decidimos reforçar a segurança pública. Nós decidimos investir nos policiais, com as ações do Niterói Presente e com o aumento do efetivo da Guarda Municipal da cidade, aumentando inclusive os salários”, declarou.

Prefeito Rodrigo Neves esteve nos estúdios da TV OFLU. Foto: Douglas Macedo

Cisp – Neves acredita também que a região metropolitana do Estado está abandonada, mas em Niterói seus investimentos em companhias destacadas, viaturas e na Delegacia de Homicídios, por exemplo, evitaram que a situação ficasse ainda pior. Afirmou também que a cidade possui o primeiro Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), que fez com que o município estivesse totalmente monitorado por câmeras.

Rodrigo Neves (PDT) disse acreditar que a situação da segurança pública de Niterói ainda é preocupante, mas é melhor quando comparada aos municípios vizinhos. Ao citar estes dados, o prefeito ressaltou, mais uma vez, que isto se deve aos investimentos voluntários do Executivo.
“No início de meu mandato, havia cerca de 160 policiais realizando as rondas nas ruas. Hoje, subimos para 500, sendo 70% do efetivo pago pela prefeitura”, disse.

Niterói Presente – Sobre o programa, o prefeito afirmou que a iniciativa foi tomada porque a Constituição não veda investimentos para a segurança pública no âmbito municipal. Abordando resultados, Rodrigo Neves cita que, desde dezembro do ano passado, início da ação do programa, os roubos de rua diminuíram 30% em Icaraí e 20% no Centro.

“Com a contratação de outros efetivos para o Niterói Presente, liberamos os policiais do 12º BPM para atuarem em Santa Rosa, Região Oceânica e na Alameda São Boaventura, deixando a cidade mais segura”, afirmou.

Prevenção – Rodrigo Neves e a equipe do pacto promoveram uma pesquisa com vítimas que não registraram seus casos em delegacias. Segundo ele, ouvir todos que sofrem com a violência é fundamental e, a partir disto, foi possível constatar, em um diagnóstico, que 70% da violência contra crianças acontece dentro das próprias casas.
“Se não tratarmos as pequenas e médias violências, elas se tornarão grandes. Precisamos formar também melhores pais, melhores mães, para que o ciclo da violência não se reproduza”.

O prefeito afirmou ainda que as escolas municipais trabalharão, em breve, o desenvolvimento socioemocional das crianças. Neves acredita que os alunos se beneficiarão com a formação, colhendo uma melhor convivência na escola e levando-a para suas casas.

Poupança – O Pacto Niterói Contra a Violência prevê incentivos para que alunos continuem na escola. O prefeito explicou como funcionará a poupança para quem concluir seus compromissos no ano.

“Os alunos do 9º ano do fundamental ao 3º ano do ensino médio vão receber um prêmio para cada ano concluído com sucesso. O aluno que passar de ano poderá sacar 30% de uma poupança de R$ 4 mil por ano passado. Isto fará com que as taxas de evasão escolar abaixem”, disse.

Rodrigo afirmou que Niterói também vem fazendo altos investimentos em educação, abrindo 23 novas escolas nos últimos quatro anos. Ele, entretanto, afirma que a qualidade do ensino médio da rede estadual é ruim, mas os jovens serão motivados pela poupança como benefício.

Para Rodrigo, a conclusão da educação básica é fator fundamental para que jovens não se juntem a atividades criminosas. Ele lembra que, hoje, 70% da população carcerária não concluiu nem o ensino fundamental, e que todos os países que investiram na área fortemente fizeram uma revolução, por meio da educação, na cultura e segurança de seu povo. O prefeito afirma também que revitalizará os Cieps.

“Temos cinco Cieps abandonados em nossa região. Já reativei o do Buraco do Boi, do Caramujo, e estou reconstruindo o de Cantagalo. Também estamos com obras na unidade da Rua Leite Ribeiro, no Fonseca, e hoje assinei a recuperação do Ciep na Benjamin Constant, no Barreto”, garantiu.

Rodrigo Neves afirma que, para disputar os jovens com o tempo ocioso, irá investir R$ 50 milhões em atividades de contraturno nas unidades.

“Os alunos estudarão de manhã e, pela tarde, terão encontros com cultura, esporte e cursos profissionalizantes”, disse.

40% da criminalidade vem de fora

Rodrigo disse que, em pesquisas para o Pacto Niterói Contra a Violência, foi constatado que 40% dos crimes da cidade são cometidos por moradores de outros municípios. Por isto, se juntará aos prefeitos de Itaboraí, São Gonçalo e Maricá em uma visita ao gabinete da intervenção no Rio, para solicitar reforço nas atuações da região.

O prefeito acredita que o problema da segurança pública, no município, não será apenas resolvido com aumento das forças policiais. Segundo ele, o policiamento tem que ser complementado com serviços de inteligência e ações integradas de políticas públicas.

“O pacto foi feito a partir de casos de sucesso no âmbito internacional que melhoraram, de fato, problemas de violência em cidades. O limite, aceitado pela ONU, para assassinatos por 100 mil habitantes é de 8 casos. Hoje, Niterói registra 23, acima do padrão das nações unidas”, afirmou.

O prefeito lembra que a região sofreu um duro golpe com a crise econômica do estado, com a parada das atividades do Comperj e da indústria naval, que contribuíram com o aumento da criminalidade no Leste Fluminense.

Rodrigo Neves afirma que existe um perfil definido que arca com a maior parcela das consequências.

“Quem mais mata e mais morre são jovens a partir dos 16 anos. Isto se deve pela situação dramática de desemprego no Leste Fluminense, que chega, hoje, a 40% na juventude”, avaliou.

Para solucionar a questão do desemprego, o prefeito pretende abrir frentes de trabalho.

“Vamos dar oportunidades para jovens que realmente precisem, de realizar trabalhos ecológicos no município. Eles receberão salário diretamente da prefeitura. Além disso, ando conversando com empresários locais e pretendemos promover um banco de oportunidades para recrutamento, justamente para quem ainda não conseguiu ingressar no mercado. Nós vamos disputar este jovem com o crime organizado e vamos vencer”, afirmou.

Guarda permanecerá desarmada

No final da entrevista, Rodrigo Neves respondeu a duas perguntas enviadas por leitores de O Fluminense. Indagado sobre a possibilidade de tentar mais uma vez armar a Guarda Municipal em face do aumento da violência, ele descartou a possibilidade, para que a vontade do niteroiense seja respeitada, pelo menos até o fim de seu mandato.

“Nesta eu fui voto vencido. Governantes democráticos são os que consultam a população. O resultado foi acertivo e, na oportunidade, mais de 70% dos que votaram fizeram a opção pelo não. O que vamos fazer é um novo concurso para efetivo, e vamos continuar as capacitações para os agentes. Teremos a melhor Guarda Municipal do estado”, afirmou.

A segunda pergunta foi sobre a possibilidade de custear um batalhão de polícia exclusivamente para a cidade. Em resposta, Rodrigo Neves afirmou que já está em negociações com o Comando da PM e com o prefeito Fabiano Horta, de Maricá, para resolver a situação.

“Existe a possibilidade de desenvolver uma Companhia Independente, com recursos do município vizinho, para cuidar do policiamento ostensivo em Maricá. Com isto, o 12º BPM, que hoje cuida das duas cidades, atuaria exclusivamente em Niterói”, disse.

Rodrigo afirmou que, na próxima quarta-feira, 22, assinará convênio com o Disque-Denúncia para ter um departamento específico para a cidade.

“Nós vamos ter um setor para atender somente Niterói. A Câmara inclusive já aprovou o primeiro pacote do tema, que obrigará a publicidade deste número em toda linha municipal de ônibus”, declarou.

Ao término da entrevista, o prefeito explicou que a situação, hoje, é ruim, mas que avanços serão concretizados nos próximos anos.

“Niterói tem problemas, como toda cidade, mas estamos progredindo. O Pacto, com a participação da população, trará bons resultados. Não tenho dúvidas de que Niterói será o lugar que queremos em qualidade de vida para nós e nossos filhos”, encerrou.

Fonte: O Fluminense