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quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Defesa Civil de Niterói intensifica rondas preventivas contra queimadas

 




A Secretaria Municipal de Defesa Civil e Geotecnia de Niterói ampliou, esta semana, as rondas preventivas contra queimadas na cidade. No último domingo (22), a ausência de chuva, altas temperaturas e baixa umidade fizeram o risco de fogo em vegetação ser alterado para alto no município. Na terça (24) e quarta-feira (25), respectivamente, equipes realizaram rondas no Peixe Galo, em Jurujuba, e no Boa Vista, em São Lourenço. Este ano, os canais de acionamento da Defesa Civil já registraram 88 ocorrências de queimadas em Niterói.

Durante as rondas preventivas foram visitadas cerca de 70 residências e abordados aproximadamente 200 moradores, que receberam orientações e panfletos informativos ressaltando os riscos relacionados às queimadas, além de métodos de prevenção e acionamento das equipes de combate.

Equipes da Defesa Civil têm feito o trabalho constante de conscientização com a população por meio de SMS, das redes sociais e dos grupos de voluntários dos Núcleos de Defesa Civil (Nudec), além das rondas preventivas contra queimadas em áreas previamente mapeadas e consideradas críticas. O pedido a toda população é que não queime o lixo, não solte balões e não faça fogueiras ou jogue guimbas de cigarro próximo à vegetação.





Neste ano, desde o início do período de estiagem foram realizadas rondas no Vital Brazil, Souza Soares, Martins Torres, Cavalão, Morro do Marinheiro, Maceió, Jurujuba e Boa Vista. Durante estas ações, as equipes conversam com os moradores das regiões de mata, explicam os riscos das queimadas e reforçam que toda a cidade conta com a coleta de resíduos feita pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Clin). As equipes também orientam as pessoas a usarem os resíduos naturais como folhas e galhos na compostagem ou colocarem em sacos para serem coletados.

O secretário municipal de Defesa Civil, tenente coronel Walace Medeiros, explica que as altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar criam um cenário propício às queimadas. A vegetação fica muito suscetível a qualquer fagulha, qualquer fonte de calor, e o fogo pode se alastrar e tomar proporções consideráveis. As queimadas, além de destruir a vegetação, podem causar problemas para a fauna, incêndios em residências, além de trazer prejuízo para a qualidade do ar.

“Estamos em um período de risco elevado para a ocorrência dos incêndios em vegetação urbana e florestal, precisamos contar com a conscientização de todos e atuar com foco na prevenção. Temos estruturado ações sistemáticas e integradas com outros setores da Prefeitura e com o Corpo de Bombeiros. Estamos realizando o monitoramento das áreas verdes através de drones, fazendo as rondas preventivas contra queimadas nas áreas de maior risco, utilizando todos os nossos meios de comunicação (mídias sociais, SMS e nosso aplicativo ALERTA DCNIT) para alertar os cidadãos sobre os riscos e buscando a conscientização de todos para esse problema”, destaca o secretário.

Em 2014, a Prefeitura deu início ao projeto Niterói Contra Queimadas, iniciativa voltada às ações de prevenção e combate à incêndios em vegetação, constituída de ações de mapeamento de áreas vulneráveis, rondas preventivas nessas áreas, elaboração de plano de contingência, que prevê ações integradas entre o Município e o Corpo de Bombeiros, capacitação dos guardas ambientais para combate à incêndios e convocação e capacitação de voluntários para integrarem o Nudec contra Queimadas, que atualmente conta com mais de 300 participantes.

As rondas preventivas contam com a participação de equipes da Clin, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a Coordenadoria de Meio Ambiente da Guarda Municipal, lideranças comunitárias e integrantes dos Nudecs, grandes aliados nas ações da Secretaria Defesa Civil e Geotecnia. Caso a população identifique fogo em vegetação, a orientação é ligar imediatamente para o Corpo de Bombeiros (193).

Fonte: A Tribuna



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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Mais de 70 milhões de brasileiros podem enfrentar falta d’água até 2035



Escassez hídrica traz prejuízos econômicos a setores como indústria e agropecuária e ameaça a saúde da população, alerta relatório lançado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (nascente de um rio no Cerrado; foto: José Sabino)


Elton Alisson | Agência FAPESP – O Brasil possui a maior reserva terrestre de águas superficiais, além de duas das maiores áreas úmidas do mundo – o Pantanal Mato-Grossense e a Bacia Amazônica – e vastos reservatórios de água subterrânea. Essa abundância de água, porém, não garante a segurança hídrica do país.

O recurso natural está distribuído de forma bastante desigual pelo território nacional e, sem investimentos em infraestrutura para garantir o abastecimento, 74 milhões de brasileiros podem sofrer com a falta d’água até 2035.

As conclusões são do relatório temático “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil” e de seu respectivo sumário para tomadores de decisão, lançados nesta quinta-feira (08/8), durante o 15º Congresso Brasileiro de Limnologia, em Florianópolis (SC).

Resultado de uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês) – apoiada pelo programa BIOTA-FAPESP – e as universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o relatório foi elaborado por um grupo de 17 pesquisadores, de diversas instituições do país.

“A água é um recurso de suma importância para o Brasil, onde já vemos regiões, como o Sudeste, que têm enfrentado crises hídricas bastante sérias nos últimos anos”, disse à Agência FAPESP Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES.

“A redução da disponibilidade de água poderá acirrar os conflitos pelo uso desse recurso no país”, avaliou o pesquisador, que também é coordenador do programa BIOTA-FAPESP.

O relatório destaca que, além da população e da biodiversidade, praticamente todas as atividades econômicas no Brasil dependem de água. A agricultura irrigada e a pecuária são os principais usuários dos recursos hídricos do país, consumindo, respectivamente, por volta de 750 mil e 125 mil litros de água por segundo.

Além disso, 85% da produção agropecuária nacional – localizada nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul – depende da água proveniente das chuvas, que tem, aproximadamente, 40% de sua origem na evapotranspiração da Amazônia.

Já a indústria usa mais de 180 mil litros de água por segundo e, pelo menos, 80% dos reservatórios hidrelétricos recebem água proveniente de unidades de conservação, que asseguram o fornecimento do recurso em quantidade e qualidade necessárias para suas operações, apontam os autores.

Esses setores econômicos altamente dependentes de água já têm sofrido os impactos da diminuição da disponibilidade do recurso em função de fatores como as mudanças climáticas, de uso do solo, fragmentação de ecossistemas e poluição, apontam o relatório.

Anos de seca prolongada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste resultaram em uma perda estimada de R$ 20 bilhões no faturamento do setor agrícola em 2015 – um recuo de quase 7% em relação ao ano anterior.

Por outro lado, mudanças no uso do solo em função da expansão agrícola e do represamento de rios podem comprometer a disponibilidade e a qualidade da água em todo o país, afetando os usos pela biodiversidade aquática e pela população humana.

Essas mudanças, bem como a transposição de rios, promovem modificações na dinâmica e na estrutura dos ambientes aquáticos, causando perda na conectividade e alteração no regime hidrológico, o que favorece o estabelecimento de espécies exóticas.

Da mesma forma, o aumento no aporte de poluentes em rios, lagos e riachos acarreta prejuízos à biodiversidade e aos serviços providos por ecossistemas aquáticos, como o fornecimento de água limpa e de peixes para o consumo, ressaltam os autores.

“A água não é só um recurso hídrico, mas também um componente-chave da biodiversidade, patrimônio cultural do país e um elemento essencial para o bem-estar da população brasileira”, disse Aliny Pires, professora da UERJ e coordenadora do relatório.

Garantia de segurança hídrica

De acordo com o relatório, cerca de 10% das espécies de peixe continentais do país estão sob risco de extinção e 30% do total de espécies da fauna ameaçada no Brasil compreendem peixes e invertebrados de água doce.

Quase 65% das áreas úmidas brasileiras – fundamentais na prevenção de enchentes e de outros desastres naturais – foram perdidas e a taxa atual de alteração desses ambientes observada é três vezes mais rápida que a de perda de floresta.

“Em biomas como a Amazônia e o Pantanal, a alternância entre as cheias e as vazantes determina a estrutura e a dinâmica dos diversos ecossistemas da região”, afirmou Joly.

“Nesses casos, a interrupção do pulso de inundações periódicas leva a um colapso no funcionamento dos ecossistemas”, disse.

O enfrentamento das ameaças e a conservação dos ambientes aquáticos e das áreas úmidas nas diferentes regiões do Brasil serão fundamentais para garantir a segurança hídrica no país, indica o relatório.

A restauração florestal e a conservação dos mananciais e da vege¬tação ribeirinha podem trazer benefícios consistentes para a qualidade da água e reduzir, consideravelmente, os gastos com tratamento.

No sistema Cantareira, que está situado na Região Metropolitana de São Paulo e abastece a capital, a recomposição da vegetação nativa, por exemplo, pode reduzir em cerca de três vezes os custos com o tratamento da água, considerando-se os valores da restauração, apontam os autores.

“Um dos fatores que causaram as crises hídricas pelas quais São Paulo tem passado nos últimos anos é a remoção de cobertura vegetal nativa”, afirmou Joly.

Segundo o relatório, estima-se que a cada R$ 1 investido em infraestrutura para a segurança hídrica, mais de R$ 15 são obtidos em benefícios asso¬ciados à manutenção das distintas atividades produtivas no país.

Já a falta de investimento para essa finalidade pode causar perdas econômicas principalmente para o setor industrial, seguido pela pecuária e a agricultura de irrigação, além de comprometer a saúde da população e a manutenção da biodiversidade aquática.

“A questão da segurança hídrica não está atrelada apenas à garantia da disponibilidade de água, mas também à gestão desse recurso, de modo a assegurar que exista e seja disponível para todos os setores usuários”, afirmou Pires.

A vazão média anual dos rios brasileiros é de, aproximadamente, 180 milhões de litros por segundo. A distribuição desse recurso, contudo, se dá de maneira extremamente desigual no território brasileiro e o país apresenta grandes perdas na distribuição.

Uma redução média da perda de água na distribuição para valores próximos a 15% promoveria um ganho líquido em torno de R$ 37 bilhões até 2033, estima o relatório.

“A região Norte do Brasil, por exemplo, tem a maior disponibilidade hídrica do país, em função da Amazônia, mas perde muita água na distribuição”, exemplificou Pires.

Um vídeo sobre o sumário para tomadores de decisão pode ser acessado em www.youtube.com/watch?v=TyF4rulyoPU&feature=youtu.be.




Fonte: Agência FAPESP










sábado, 6 de julho de 2019

Por que a Mata Atlântica é o lugar ideal para a restauração de florestas e paisagens



Área de restauração de Mata Atlântica em São Francisco Xavier, no estado de São Paulo (Foto: Bruno Calixto/WRI Brasil)


O Brasil tem o ousado objetivo de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de áreas degradadas e florestas. O país não está sozinho nessa meta. Mais de 50 países já se comprometeram com a restauração de florestas, por meio do Desafio de Bonn e da Declaração de Florestas de Nova York. Ao todo, esses países prometem restaurar 350 milhões de hectares até 2030.

São metas muito importantes porque os benefícios da restauração já são bem conhecidos. O plantio de florestas recupera solos degradados, protege e revitaliza nascentes e corpos d’água, captura carbono da atmosfera, e pode promover uma economia de produtos da floresta, gerando renda e emprego no meio rural.

Apesar disso, ainda há uma grande dificuldade de se descobrir onde restaurar e reflorestar. Tomadores de decisão, produtores rurais e empresários ainda precisam de direcionamento para identificar onde estão as melhores oportunidades de restauração. Em um estudo publicado nesta terça-feira (3) na revista científica Science Advances, uma equipe de pesquisadores buscou identificar quais são os locais que possuem grande potencial de benefício da restauração somado a boa viabilidade de que o plantio de árvores prospere.

O que são hotsposts?
Um hotspot para conservação é um ecossistema muito importante em termos de biodiversidade, com grande quantidade de espécies de fauna e flora, e que ao mesmo tempo está ameaçado de extinção. Para a elaboração do estudo, os pesquisadores consideraram como hotspot 10% das áreas dentro desses ecossistemas que possuem maior oportunidade de restauração – ou seja, locais em que restaurar gera mais benefícios e custa menos.

Os resultados mostram que, no Brasil, nenhum lugar supera a Mata Atlântica. O bioma, que cobre 15% do território nacional e 17 estados brasileiros, foi o ecossistema com maior quantidade e área de hotspots para a restauração em todo o mundo, o que exemplifica a grande oportunidade que o Brasil e financiadores internacionais têm ao investir no plantio de florestas nativas na região, gerando ótimos resultados tanto do ponto de vista ecológico, como econômico.

O estudo

O artigo identificou mais de 100 milhões de hectares de áreas degradadas em várias partes do mundo – como América do Sul e Central, África e sudeste da Ásia – que apresentam bons resultados em relação a oportunidades de restauração. Para identificar essas áreas, o estudo considerou apenas 4 benefícios da restauração:

  • A conservação da biodiversidade, com foco em áreas com presença de espécies vulneráveis à extinção;
  • A capacidade das florestas capturarem carbono e, assim, limitarem o aquecimento global;
  • A capacidade das florestas tornarem o ambiente mais resiliente para se adaptar às mudanças climáticas;
  • E o potencial para manter a qualidade e quantidade da água.

Além disso, os pesquisadores consideraram critérios para identificar as áreas que são viáveis para restauração, como custo de oportunidade da terra, risco de investimentos e taxa de sobrevivência das áreas restauradas.

Seguindo esses critérios, o trabalho descobriu que seis países da África têm o melhor custo-benefício da restauração: Ruanda, Uganda, Burundi, Togo, Sudão do Sul e Madagascar. Além disso, cinco países têm a maior área acumulada de hotsposts de restauração: Brasil, Indonésia, Madagascar, Índia e Colômbia. No Brasil, a Mata Atlântica tem o maior destaque.

Por que a Mata Atlântica é tão importante

A Mata Atlântica tem as condições ideias para que a restauração ganhe escala no Brasil. É um bioma bastante desmatado: estima-se que menos de um terço de sua área original permaneça com cobertura vegetal nativa. Ou seja, há uma grande quantidade de áreas degradadas capaz de ser restaurada.

Além disso, é o bioma onde habita a maior parte da população do Brasil. Isso é importante do ponto de vista econômico, já que as áreas que podem ser restauradas estão próximas de centros consumidores, podendo assim estimular a economia da floresta, com comercialização de produtos como madeira de origem legal, frutas, castanhas, entre outros; e também do ponto de vista ambiental, já que grande parte da população poderá usufruir dos benefícios da restauração, como melhora da qualidade da água ou adaptação a eventos extremos.

Essa restauração já está acontecendo. Há experiências interessantes em São Paulo, no Vale do Paraíba, e no Espírito Santo, por meio do programa Reflorestar. Em Minas, temos o bem-sucedido projeto Conservador das Águas, no município de Extrema. Um outro estudo, publicado no último mês, identificou mais de 700 mil hectares de florestas em restauração no bioma, das quais quase a metade são executadas por membros do Pacto para a Restauração da Mata Atlântica. O desafio agora é fazer com que essa restauração ganhe escala, atingindo os 12 milhões de hectares no Brasil todo e gerando benefícios para toda a sociedade.


Fonte: WRI Brasil









domingo, 31 de março de 2019

FLORESTAS E ÁGUA: Especialistas do Inpe alertam para a preservação de árvores



Destruição da Floresta Amazônica preocupa meteorologistas e ambientalistas. — Foto: Rosa Maria/Pixabay


'Rios-voadores', que trazem chuva da Amazônia para centro e sudeste do país, podem estar ameaçados pelo desmatamento

Por Lucas Cardoso e André Rosa, G1 Vale do Paraíba e região

O abastecimento de água no Vale do Paraíba e em outras regiões do país pode estar em risco pela falta de preservação da Floresta Amazônica. É o que alertam pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) ouvidos pelo G1 no Dia Mundial da Água, comemorado nesta sexta-feira (22). (assista ao vídeo


Assista ao vídeo aqui.


Antonio Nobre e José Marengo fizeram parte de grupos de pesquisadores que há mais de uma década espalharam aparelhos meteorológicos pela Amazônia e depois processaram, em São José dos Campos (SP), dados de um fenômeno.

Eles comprovaram a existência de uma grande coluna de água, que é transportada pelo ar, da Amazônia ao centro-sul do continente. "Um rio maior que o Amazonas", compara Nobre, PhD em Ciências Naturais, pela Universidade de New Hampshire (EUA), e hoje pesquisador no Inpe .

"Esse rio voador só existe graças à Floresta Amazônica, que produz umidade e impulsiona a formação dele", complementa Marengo, doutor em meteorologia, com pós doutorado no renomado Instituto Goddard, da Nasa. Hoje, Marengo é coordenador-geral de pesquisas no Cemaden.

Os rios voadores, como metaforicamente foram chamados pelos pesquisadores, nascem perto da linha do Equador, ao norte do Pará. O sol evapora água do Oceano Atlântico, e a transporta para dentro do continente, graças à ação dos alísios, um vento especial que carrega umidade e provoca chuva por onde passa. 

Os rios voadores, como metaforicamente foram chamados pelos pesquisadores, nascem perto da linha do Equador, ao norte do Pará.

Quando percorre a região da Amazônia, essa coluna de ar úmido ganha um poderoso e decisivo aliado. Ela se junta à umidade emitida pela 'transpiração' das árvores amazônicas. O destino desse rio voador seria o Oceano Pacífico, não fosse um outro ponto determinante no percurso, a Cordilheira dos Andes.

Ao encontrar os Andes, o rio voador faz uma curva e ganha velocidade, rumo ao centro do continente. Leva chuva ao Centro-oeste, Sudeste, e partes do Sul e Nordeste brasileiros, antes de perder força. Sem esse rio voador, a realidade seria diferente.

"Do outro lado dos Andes é o Atacama, o deserto mais seco do mundo. Na África é o Namíbia-Kalahari, na Austrália é o deserto da Austrália. E São Paulo, essa região do Centro-Oeste pra baixo, é uma região que seria, geograficamente, um deserto. Esse era nosso destino geográfico, não fossem os rios voadores e a floresta", explicou Nobre

A quantidade de vapor emitida pelas árvores foi calculada pelos pesquisadores. "Uma árvore amazônica, com uma copa de 20 metros, chega a colocar mil litros de água por dia na atmosfera. É um irrigador em reverso. Se você pensar que a Amazônia tem 400 bilhões de árvores de variados tamanhos, a quantidade de água que passa do solo pro ar, num dia, é de 20 trilhões de litros de água. O Rio Amazonas, que é o maior do mundo, joga no Atlântico, no mesmo período, 17 trilhões de litros de água", comparou o pesquisador. 

"Uma árvore amazônica, com uma copa de 20 metros, chega a colocar mil litros de água por dia na atmosfera. É um irrigador em reverso. Se você pensar que a Amazônia tem 400 bilhões de árvores de variados tamanhos, a quantidade de água que passa do solo pro ar, num dia, é de 20 trilhões de litros de água. O Rio Amazonas, que é o maior do mundo, joga no Atlântico, no mesmo período, 17 trilhões de litros de água"

Desmatamento

A supressão de árvores na Amazônia preocupa os pesquisadores. O Inpe monitora o desmatamento, por meio do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes). Em 2018, foram desmatados 7.900km² de vegetação, 13,7% a mais do que em 2017.

"Se você pensar que a Amazônia já teve de 600 a 700 bilhões de árvores e hoje tem 400 bilhões, é de se preocupar. Se continuarmos nesse ritmo, o rio voador vai morrer. Eu comparo a floresta com uma bomba hidráulica. Se eu chego com uma marreta e arrebento a bomba, acabo com a irrigação da minha agricultura. Destruir floresta, destruir árvore, é quebrar a bomba que está irrigando o Brasil", disse Nobre. 

"Se você pensar que a Amazônia já teve de 600 a 700 bilhões de árvores e hoje tem 400 bilhões, é de se preocupar. Se continuarmos nesse ritmo, o rio voador vai morrer. Eu comparo a floresta com uma bomba hidráulica. Se eu chego com uma marreta e arrebento a bomba, acabo com a irrigação da minha agricultura. Destruir floresta, destruir árvore, é quebrar a bomba que está irrigando o Brasil"

"Temos que cuidar, proteger os mananciais, proteger a floresta. Se você não pode deixar a floresta intocada, pelo menos pode usá-la sustentavelmente. A água doce, a água para beber está começando a ficar escassa", complementou Marengo.

Crise hídrica

José Marengo relaciona a crise hídrica de 2014, em São Paulo, com a falta de preservação ambiental.

"Tem registro de seca no Brasil desde 1500. Cada seca que acontece é um problema e a população sofre. Na crise de 2014, as estruturas hidráulicas não foram bem dimensionadas, as temperaturas foram maiores, o consumo de água aumentou e os níveis dos reservatórios caíram. Água é um recurso que não é ilimitado e, meteorologicamente falando, estamos sujeitos a experimentar a falta d'água. Por isso é importante preservar esse rio voador, que começa em se mantendo as árvores na Amazônia", concluiu.


Fonte: G1



Ciência do desastre








terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

PAULO NOGUEIRA NETO: agradecimento a um dos maiores nomes do meio ambiente no Brasil, que faleceu aos 96 anos.



Paulo Nogueira Neto.

O Brasil perdeu um dos maiores nomes do ambientalismo e da gestão ambiental pública: o Dr. Paulo Nogueira Neto, falecido aos 96 anos, nesta segunda-feira, 25, em São Paulo.

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP, em 1945, depois fez o curso de História Natural, na Faculdade de Filosofia e Letras, o qual ele concluiu em 1959. Além disso, foi professor emérito do Instituto de Biociências, onde também foi um dos fundadores do Departamento de Ecologia Geral.

Paulo Nogueira Neto foi um dos precursores das políticas públicas no Brasil, quando criou e dirigiu a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, em pleno regime militar e no momento que o Brasil vivia o auge do desenvolvimentismo e pregava que estava de portas abertas para as indústrias poluidoras.

Neste contexto tão desfavorável, teve habilidade e sabedoria para formar a SEMA e unir-se aos estados para criar o Sistema Nacional do Meio Ambiente, formado por órgãos ambientais pioneiros como a Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEEMA (RJ), CETESB (SP) e outros, que ajudaram a compor a sua base de apoio para estruturar a gestão ambiental governamental no país.

Uma triste perda. O Dr. Paulo Nogueira Neto foi a pessoa que me estimulou a ser engenheiro florestal. 

Dr. Paulo. Muito obrigado por toda inspiração e pelo legado que o Sr. deixa para o nosso país. 

Axel Grael



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Por ocasião da Crise Hídrica que assolou o Brasil, mas principalmente São Paulo, em 2015, escrevi uma postagem lembrando o alerta feito por ele em 1977, portanto 37 anos antes, que faltaria água em São Paulo: 

“E, talvez, antes do final do século, São Paulo terá que se abastecer com água transportada do vale do Ribeira.”

Na postagem, intitulada EM ENTREVISTA À FOLHA DE SP EM 1977, O AMBIENTALISTA PAULO NOGUEIRA NETO ALERTOU PARA A CRISE DA ÁGUA , lembre de como o Dr. Paulo Nogueira Neto influenciou a minha tomada de decisão pela carreira de engenheiro florestal e pela militância ambientalista.

Transcrevo o texto a seguir:


---***---


PAULO NOGUEIRA NETO

O professor Paulo Nogueira-Neto é uma das mais importantes referências para mim.

Foi após uma conversa com este pioneiro do movimento ambientalista e da política ambiental pública no Brasil, que me decidi por seguir a carreira de engenheiro florestal e me dedicar ao ambientalismo.

A conversa foi em Brasília, na então ainda acanhada sede da recém criada Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, na década de 1970, quando eu ainda era adolescente e definia para que carreira eu faria o vestibular.

A SEMA foi o órgão ambiental pioneiro do país, criado logo após a Conferência de Estocolmo, quando a diplomacia nacional defendeu a posição que no Brasil as empresas poluidoras eram bem-vindas pois precisávamos nos desenvolver!

Praticamente sem estrutura e com pouco apoio e respaldo político no governo federal, Paulo Nogueira Neto teve a sabedoria de trabalhar com o que tinha e buscar os escassos apoios onde eles estivessem. Encontrou apoio em alguns estados, justamente os que mais poluíam: RJ, SP e MG, além de SC. Foi nessa aliança, construída com raros interlocutores sensíveis à causa ambiental que surgiram os primeiros órgãos ambientais do país: FEEMA (RJ) e CETESB (SP). Nascia aí o embrião do SISNAMA, o Sistema Nacional do Meio Ambiente.

Me lembro muito bem daquele encontro. O Dr. Paulo Nogueira Neto falou dos desafios ambientais das décadas pela frente. Meu pai perguntou: "Mas, o Sr. acha que engenharia florestal tem futuro?". A resposta foi: "Futuro tem. Não tem ainda é presente. Se você acredita no futuro, siga em frente".

Suas palavras fizeram um velejador, mas neto de um farmacêutico (na época que meu avô Romão Grael exercia o seu ofício no interior de São Paulo, farmacêuticos eram praticamente botânicos), decidir ser engenheiro florestal. Lembro que sempre que eu falava com amigos sobre a minha decisão, tinha que explicar o que era a tão desconhecida profissão.

Em 1977, ano que ingressei no curso de Engenharia Florestal, na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Paulo Nogueira Neto dava a entrevista que resultou na matéria da Folha, que o texto abaixo se refere.

É importante contextualizar a corajosa atitude do líder ambientalista. As palavras de alerta de Paulo Nogueira Neto foram proferidas numa época de ditadura militar, de forte influência desenvolvimentista e quando ainda havia uma percepção de inesgotabilidade dos recursos naturais. Na época, a população de São Paulo e da maioria das cidades brasileiras era ainda uma fração do que temos hoje. Ainda assim, enxergou longe!

Manifestações como a dele eram mal compreendidas e consideradas alarmistas e os defensores de tais ideias eram considerados inimigos do progresso e do desenvolvimento. Tempos depois, passaram a chamar ambientalistas como ele também de "ecochatos".

Pois bem. A realidade está ai para mostrar que a falta de ouvidos para o alerta do ambientalista nos trouxeram exatamente para a crise que ele antecipou.

E a falta de prudência e a falta de atitude para a transição para uma sociedade sustentável continuam a nos empurrar para outras crises e outras tragédias ambientais. Aliás, tragédias ambientais ou tragédias humanas...?

Quando começarão a ouvir os ecochatos?

Axel Grael




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Morre Paulo Nogueira Neto, pioneiro da proteção ambiental 

Criador das primeiras unidades de conservação do País, professor foi o primeiro secretário de meio ambiente do País, cargo equivalente ao de ministro, durante regime militar 

Giovana Girardi, O Estado de S. Paulo
25 de fevereiro de 2019 | 23h31


SÃO PAULO - O professor emérito de Ecologia da USP Paulo Nogueira Neto, considerado um dos patronos do ambientalismo no Brasil, morreu nesta segunda-feira, 25, aos 96 anos.

Secretário especial de Meio Ambiente entre 1973 e 1985, órgão criado pelo governo militar e que seria o embrião do Ministério do Meio Ambiente, Nogueira Neto foi responsável por introduzir no País a agenda da conservação da natureza, criando 26 estações ecológicas e áreas de proteção ambiental (APAs), num total de 3,2 milhões de hectares protegidos, em uma época em que o discurso oficial era desenvolvimentista e pregava o avanço, em especial sobre a Amazônia.


Paulo Nogueira Neto no jardim de sua casa no Morumbi em 2004 Foto: Sergio Castro/Estadão

Foi com ele que se criou, por exemplo, a primeira versão da Estação Ecológica da Jureia, ainda sob o governo federal, antes de virar estadual, e a do Jari, na Amazônia. Nogueira Neto também deu origem a alguns marcos regulatórios do País na área, como a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Sisnama. Ainda na década de 1980 foi um dos dois únicos representantes da América do Sul na Comissão Brundtland, da ONU, onde foi cunhado o conceito de desenvolvimento sustentável.

Com formação em Direito e História Natural, o pesquisador, que criaria o Departamento de Ecologia da USP, iniciou sua carreira na área investigando abelhas sem ferrão, após ganhar uma colmeia do sogro. "Ele se interessou pelas abelhas e aí entra o viés do profissional. Ele entendeu qual era o problema científico intocado que estava naquele material", contou o zoólogo e amigo Paulo Vanzolini (1924-2013) na ocasião em que Nogueira-Neto foi agraciado com o Prêmio Professor Emérito – Troféu Guerreiro da Educação em 2005. A distinção é concedida desde 1997 pelo Estado e pelo Centro de Integração Empresa Escola (Ciee).

Em seu discurso de agradecimento, Nogueira Neto lembrou o momento em que foi chamado a Brasília pelo então ministro do Interior, Henrique Manoel Cavalcanti, logo após a publicação do decreto que criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema).

"Falei que era muito fraco, não dava poder de multar, era um decreto criando uma entidade que tinha um nome importante, mas na prática era uma entidade missionária, porque não tinha poderes para agir." Ele pôde mudar os termos e foi convidado para dirigir o novo órgão.

Convencimento

O ambientalista contou que para lidar com os freios impostos pelos militares, sempre se valeu da estratégia de muita conversa e trabalho de convencimento. "Nessa luta toda nós procuramos fazer com que as pessoas fossem realmente convencidas. A impressão era que o Brasil deveria se desenvolver primeiro e depois cuidar do meio ambiente. Depois que o Brasil começou a se desenvolver mais, evidentemente que a gente teria de cuidar ao mesmo tempo da poluição", disse. 


Paulo Nogueira Neto (de cadeira de rodas) acompanha Carlos Minc, Marina Silva, Sarney Filho e Rubens Ricupero, todos ex ministros de Meio Ambiente, para entregar à então presidente Dilma Rousseff um manifesto contra mudanças no Código Florestal em 2011 Foto: ANDRE DUSEK/ESTADÃO

Foi com essa política que ele conseguiu se contrapor ao programa nuclear do regime militar e ainda proteger a Jureia, como contou ainda em seu discurso de 2005.

"Um dia me chamaram no Palácio do Planalto e falaram que tinham uma boa notícia: 'Vamos fazer oito usinas nucleares e cada uma vai ser estabelecida dentro de uma estação ecológica'. Aí pus a mão na cabeça, né? E disse a eles que era contra, que nenhum país tinha isso, mas eles não desistiram e graças a isso hoje nós temos a Estação Ecológica da Jureia, que é a joia da coroa em São Paulo em matéria de unidades de conservação. (...) No momento que o Brasil fez as pazes com a Argentina, cancelaram o programa nuclear", contou. "Aí, para proteger a Jureia, fundamos a SOS Mata Atlântica", continuou.

Quem acompanhou esse trabalho de perto foi José Pedro de Oliveira Costa, primeiro secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e ex-secretário de Biodiversidade do governo Temer. “Foi ele quem me convidou para trabalhar na Estação Ecológica da Jureia, em 1979 e concordou sem pestanejar que não deveríamos sair de lá mesmo depois do decreto que transformou toda aquela área em zona para usinas nucleares", conta.

"Ele me dizia: 'Estamos numa guerra em favor do meio ambiente, precisamos calcular cada batalha sem perder a visão do conjunto da luta. Podemos perder algumas batalhas mas precisamos ganhar a guerra'".

Segundo Costa, Nogueira Neto apoiou a criação do Parque da Serra do Mar, em 1976, a criação do Parque do Tumucumaque em 2002 e das grandes áreas protegidas marinhas no ano passado. "Além de sua importância como pioneiro da militância e governança ambiental, mostrou a todos seu amor e dedicação tanto os homens como à natureza. De forma simples, profunda e fértil."

Durante a premiação de 2005, o diretor do Estado, Ruy Mesquita (1925-2013) lembrou a importância da atuação do ambientalista na criação de uma consciência ambiental no Brasil. "Sobretudo com suas pesquisas sobre a influência das culturas humanas na natureza e a influência da natureza nos comportamentos humanos, resume ele o que de melhor as novas gerações podem aprender em termos de consciência ambiental", disse, antes de entregar-lhe o troféu.

"Faleceu nosso mais antigo e respeitado ambientalista", publicou no Instagram o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

Clima

Nogueira Neto também foi um dos primeiros no Brasil a falar abertamente sobre o risco das mudanças climáticas. "Ou se controlam as emissões de gás, ou teremos problemas seríssimos daqui para frente, não só com as tempestades. O nível do mar vai subir. As inundações serão cada vez maiores durante as ressacas." E dava a receita: "Só há uma maneira prática de parar esse processo, que é plantar floresta, que é capaz de retirar carbono da atmosfera. E o custo do reflorestamento é de quem gera carbono."


"Só há uma maneira prática de parar esse processo, que é plantar floresta, que é capaz de retirar carbono da atmosfera. E o custo do reflorestamento é de quem gera carbono." 


Imagem de 1974 de Paulo Nogueira Neto com uma anta Foto: Arquivo Estadão


TRAJETÓRIA

Governo federal


Foi secretário especial de Meio Ambiente entre 1973 e 1985, em órgão criado pelo governo militar e que seria o embrião do Ministério do Meio Ambiente.

Marcos regulatórios

Deu origem a alguns marcos regulatórios do País, como a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, que criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e o Sisnama.

Comissão Brundtland

Foi um dos dois únicos representantes da América do Sul na comissão da ONU, onde foi cunhado o conceito de desenvolvimento sustentável.

Prêmio Professor Emérito

Ganhou a premiação Troféu Guerreiro da Educação em 2005, distinção concedida pelo Estado.


Fonte: Estadão



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LEIA TAMBÉM:

EM ENTREVISTA À FOLHA DE SP EM 1977, O AMBIENTALISTA PAULO NOGUEIRA NETO ALERTOU PARA A CRISE DA ÁGUA

'Senado precisa modificar o Código Florestal''





terça-feira, 4 de setembro de 2018

MANANCIAIS: Legislação sobre águas subterrâneas



Coletânea de leis pretende contribuir para o melhor entendimento e preservação dos mananciais subterrâneos (foto: Miguel Boyayan / Pesquisa FAPESP)


Marcos de Oliveira | Agência FAPESP – A Coletânea de Legislação das Águas Subterrâneas do Brasil está disponível para download gratuito. São cinco volumes que tratam das leis estaduais regulatórias do uso e dos cuidados necessários para gestão das águas subterrâneas com o objetivo de evitar a contaminação desses mananciais.

As águas subterrâneas ou águas invisíveis são reservas estocadas pela natureza a muitos metros ou até quilômetros abaixo da superfície. São volumes imensos de água, importantes para o abastecimento das cidades e da agricultura, principalmente no futuro, em momentos de escassez desse recurso. Das águas do mundo, apenas 2,7% são doces e desse percentual, 22,4% estão no subsolo.

Mesmo protegidos, esses mananciais sofrem os impactos do que se faz na superfície. As águas poluídas e contaminadas que permeiam o solo podem alcançar os aquíferos e comprometer essas reservas. “A chave para proteção das águas subterrâneas é a correta gestão do uso e ordenação do solo a partir de um olhar para seu potencial hidrogeológico”, disse Luciana Cordeiro de Souza Fernandes, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp).

Ela organizou a coletânea em parceria com o geólogo Everton de Oliveira, professor colaborador de pós-graduação do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro (SP), e sócio da empresa Hidroplan-Hidrogeologia e Planejamento Ambiental, em Cotia (SP). Oliveira é também diretor do Instituto Água Sustentável, organização não governamental que editou a obra digital e a disponibilizou na internet.

“Essa coletânea que abrange a legislação de todos os estados brasileiros é destinada principalmente aos gestores públicos e órgãos ambientais para direcionar as ações de planejamento de uso do solo com o objetivo de proteger as águas subterrâneas”, disse Fernandes à Agência FAPESP.

A motivação para fazer a coletânea veio da própria Constituição Federal de 1988, que trata de regras gerais sobre águas e delegou aos estados a função de legislar sobre águas subterrâneas.

“Mas até agora apenas o Distrito Federal e 11 estados [São Paulo – que foi pioneiro em 1988, tendo sua lei como referência para os demais estados –, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pernambuco, Maranhão e Pará] promulgaram legislação sobre o assunto. Os demais ainda não elaboraram leis específicas, mas apenas decretos, portarias ou mesmo leis voltadas para as águas superficiais que incluem as subterrâneas”, disse.

O manancial do subsolo mais famoso e importante é o Aquífero Guarani, que abrange oito estados brasileiros, além de áreas na Argentina, Paraguai e Uruguai. Ele é alvo de preocupações de cientistas e ambientalistas em relação a sua contaminação.

“Mas devemos chamar a atenção também para o Aquífero Alter do Chão, sob o solo dos estados do Amazonas, Amapá e Pará. Ele é considerado atualmente o maior aquífero do planeta em volume de água, mas ainda é pouco conhecido da ciência e carente de proteção legal”, disse Fernandes.

A coletânea da Legislação das Águas Subterrâneas é resultado também da colaboração de um projeto de Auxílio Pesquisa – Regular que Fernandes coordenou de 2013 a 2016. “Percebi que precisava compartilhar esse conhecimento que comecei a levantar no projeto”, disse.

Agora, na segunda fase de sua pesquisa, ela está levantando os municípios que têm leis específicas sobre águas subterrâneas. “Por enquanto, são apenas: Araraquara, em São Paulo, Santa Rosa, no Paraná, e Caxias do Sul e Santa Maria, no Rio Grande do Sul”, disse.

Fernandes também é autora do livro Águas Subterrâneas e a Legislação Brasileira, pela Editora Juruá, que trata do zoneamento especial ambiental (ZEA) do Aquífero Guarani, além de uma coleção de livros infantis de educação ambiental sobre o tema água, com destaque para Clara e as águas invisíveis, com apoio da empresa Jundsondas.

A Coletânea de Legislação das Águas Subterrâneas do Brasil pode ser baixada em: http://download.aguasustentavel.org.br/

Fonte: Agência FAPESP












sexta-feira, 16 de março de 2018

Escassez hídrica: fenômeno natural ou resultado de más escolhas?



Estiagem no rio Paraíba do Sul: a atual vulnerabilidade a eventos climáticos extremos foi socialmente construída, vinculada a escolhas técnicas e econômicas ao longo de sua história. (Foto: Paula Lopes/ Paisagem da Janela)


Paulo Roberto F. Carneiro

Desde criança ouvimos que o Brasil é um país abundante em água, o que nos torna privilegiados entre as demais nações. Governos populistas e autoritários sempre souberam utilizar, cada um a seu modo, o poder simbólico da mensagem de país abençoado por uma natureza farta, cujo futuro dependeria apenas da adesão social aos seus projetos de nação.

No entanto, esse mito tão propalado omitia a diversidade geográfica do País, com exceção do semiárido, visto como um caso à parte, cujo atraso social e econômico atribuía-se à insuficiência de chuvas e aos ciclos prolongados de secas que inviabilizavam a fixação do homem no campo e impediam o desenvolvimento econômico. Pesquisadores como Caio Prado Junior e Celso Furtado puseram por terra a tese da região fadada ao subdesenvolvimento devido ao clima, evidenciando que a explicação para o atraso não estava necessariamente na semiaridez dos sertões, mas sim nas raízes improdutivas do latifúndio e sua oligarquia agrária.

O Sudeste brasileiro nunca foi objeto de preocupações sérias em relação à escassez hídrica. Os relatos de falta d’água sempre foram associados à insuficiência dos sistemas de suprimento de água frente ao crescimento e expansão das cidades, e que mereceram investimentos vultosos em sistemas de abastecimento e obras hidráulicas, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo. Também eram frequentes publicações em jornais sobre inundações que afetavam as cidades.

Em anos recentes, a Região Sudeste atravessou a pior crise hídrica de que se tem registro. Sem desconsiderar a importância do déficit pluviométrico, abaixo da média histórica, considero oportuno que façamos uma reflexão sobre as causas primárias da baixa resiliência ambiental da bacia do rio Paraíba do Sul, uma das mais importantes da Região Sudeste, que potencializa as vulnerabilidades a eventos climáticos extremos. Para tanto, precisamos voltar nosso olhar ao passado da bacia para compreender as transformações ambientais provocadas por séculos de ocupação predatória.

A principal alteração ambiental sofrida pela bacia do rio Paraíba do Sul foi, sem dúvida, ocasionada pela devastação de quase totalidade da Floresta Atlântica que recobria suas terras para dar lugar ao plantio do café. O ciclo do café, que se estendeu do final do século XIX ao início do século XX, deixou para trás um dos maiores passivos ambientais de que se tem registro no País. Devido às características do relevo e sem o uso de técnicas de conservação de solos já conhecidas à época, ignoradas pelas oligarquias agrárias apenas interessadas no lucro fácil proporcionado pelo braço escravo e pelo alto preço pago pelo café no mercado europeu, toneladas de solos foram arrastados para o fundo dos vales, restando, ao final do seu curto ciclo, solos improdutivos e erosão. A supressão da floresta úmida também alterou o comportamento climático e o regime de escoamento dos rios, percebidos hoje nos períodos secos como insuficiência de vazões.

A visão funcionalista da natureza se tornou hegemônica a partir da Revolução de 1930, período em que a sociedade brasileira passa por um intenso processo de reorientação sociopolítica e econômica.

A criação de órgãos como o Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), que passou a conduzir a política de saneamento e drenagem no País, insere-se nesse contexto de “modernização do Estado”, à luz do projeto modernizador que protagonizou grandes intervenções no estado do Rio de Janeiro. Esse órgão logrou empreender um conjunto de intervenções para o “dessecamento” dos pântanos nas planícies costeiras, sobretudo em território fluminense, com o objetivo anunciado de combate à febre amarela.

A Baixada Campista, situada na foz do rio Paraíba do Sul, marcada até o primeiro quartel do século XX pela grande quantidade de lagoas e lagunas perenes e temporárias, viu, até os anos de 1970, mais de 100 lagoas serem totalmente drenadas e aproximadamente 1.500 quilômetros de canais artificiais construídos com a finalidade de drenar a baixada dos Goytacazes. Essas obras modificaram profundamente e de forma irreversível a dinâmica hídrica dessa importante área agrícola do estado. Hoje, a região do delta do Paraíba do Sul é a mais afetada por crises hídricas. A imprensa noticiou amplamente o colapso da atividade agropecuária e o crescente risco para o abastecimento público das cidades que são supridas pelo rio Paraíba do Sul.

A bacia do rio Paraíba do Sul é de grande importância econômica e social, haja vista os inúmeros decretos e portarias do governo federal que regulamentam o uso dos seus recursos hídricos, com vários objetivos: atender às necessidades de geração de energia elétrica, o abastecimento de água das cidades ao longo do seu curso e da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o suprimento para uso industrial e na agropecuária, e o controle de cheias. São múltiplos os usos da água que devem ser considerados no planejamento e operação dos aproveitamentos hidrelétricos na bacia.

A vazão que escoa pelo rio Paraíba do Sul é regularizada por quatro reservatórios utilizados, prioritariamente, para a geração de energia elétrica. O sistema de geração hidrelétrica iniciou sua operação em 1908, com a construção do reservatório de Lajes, e completou-se com a execução do plano de regularização das vazões e a construção das barragens de Santa Branca (1959), Jaguari (1972) e Paraibuna (1978), situadas no trecho paulista da bacia, e de Funil (1969), no estado do Rio, para acumulação dos excedentes de água do período chuvoso.

O sistema de transposição das águas da bacia do rio Paraíba do Sul para o Guandu, construído em 1952, foi inicialmente concebido para a geração de energia elétrica. Hoje, é a principal fonte de abastecimento público da região metropolitana do Rio de Janeiro. A bacia do rio Paraíba do Sul e seus afluentes abastecem 17,6 milhões de pessoas, sendo que desse contingente 9,4 milhões (83% da RMRJ) dependem diretamente desse rio.

Na realidade, por ser praticamente o único manancial com disponibilidade hídrica para o atendimento às demandas futuras de água, na própria bacia e para a região metropolitana fluminense, esse manancial tem que ser considerado uma reserva estratégica, que não pode ser descuidada, sob o risco de comprometer o futuro do estado do Rio de Janeiro.

Estudos atuais sobre as condições na bacia do rio Guandu apontam elevado grau de comprometimento da disponibilidade hídrica para o atendimento das demandas futuras e alertam sobre a importância de se assegurar as atuais regras operativas dos reservatórios da bacia do rio Paraíba do Sul, indicando, principalmente, que seja alterada a atual prioridade dada à geração de energia elétrica. Portanto, devido à baixa resiliência do rio Paraíba do Sul aos eventos de seca, os reservatórios devem ser operados com o objetivo principal de garantir estoques de água para suprir o abastecimento público.

A adaptação aos efeitos das mudanças climáticas implica estratégias de longo alcance. A recuperação ambiental da bacia do rio Paraíba exige ações coordenadas e integradas de gestão de recursos hídricos, investimentos intensivos no tratamento dos esgotos sanitários e na diminuição de perdas nas redes de distribuição de água, avanços tecnológicos no reaproveitamento e reuso da água na indústria, novas tecnologias agrícolas, entre outros.

O aumento da área florestada da bacia requer investimentos contínuos, por décadas, e não será suficiente apenas a recomposição de matas ciliares, sempre lembrada por especialistas. Significativas extensões de terra improdutivas e sujeitas a erosão deverão ser recuperadas com o plantio de espécies nativas de Mata Atlântica, mediante programas de incentivos fiscais e não fiscais que visem à adesão de proprietários e agricultores para a recuperação dessas terras.

Procurei demonstrar que a atual crise hídrica não decorre apenas da escassez de chuvas, embora seja um dos seus componentes. É necessário compreender que o quadro atual de vulnerabilidade aos eventos climáticos extremos foi socialmente construído e estão vinculadas às escolhas técnicas e econômicas realizadas ao longo de sua história, e que essas escolhas acarretam dificuldades à sua adaptação aos novos desafios.

Já há consenso nos meios técnicos e científicos que períodos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes. A adaptação às incertezas climáticas requer alteração da forma hegemônica e predatória de exploração da terra, a superação do uso desordenado do solo urbano e do déficit de políticas públicas e de planejamento de longo prazo. Não é admissível ouvir de autoridades públicas que precisamos rezar para que chova na cabeceira dos reservatórios e que não poderiam prever períodos secos tão intensos.


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Biólogo com mestrado em Planejamento Urbano e Regional (Ippur/UFRJ) e doutorado em Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (Coppe/UFRJ), Paulo Roberto F. Carneiro atualmente é pesquisador do Núcleo Profº Rogério Valle de Produção Sustentável do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ)

*Artigo originalmente publicado em Rio Pesquisa, Ano VIII, Nº 30 (Março de 2015).
Fonte: FAPERJ











terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

CRISE HÍDRICA: Cidade do Cabo luta para evitar o dia que não haverá mais água nas torneiras



COMENTÁRIO DE AXEL GRAEL:

Assim como o Brasil, principalmente São Paulo, enfrentou uma assustadora crise hídrica, o mesmo está acontecendo agora na Cidade do Cabo, África do Sul.

A região vive uma das mais severas secas da história e a população da região metropolitana de Cape Town, com cerca e 4 milhões de habitantes, tem aguardado a chegada do Dia Zero, o dia em que não haverá mais água nas torneiras. A temida data já era para ter chegado, mas uma medida de última hora conseguir adiar para o dia 11 de maio o trágico momento: a água de irrigação das fazendas de fruticultura foram desviadas para dar um pouco mais de prazo para a cidade, enquanto aguarda-se as chuvas.

O texto publicado na revista National Geographic aborda o drama vivido pela cidade, os erros que levaram à atual situação e as outras cidades no mundo que vivem o mesmo risco.

Axel Grael
Secretário Executivo
Prefeitura de Niterói



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Why Cape Town Is Running Out of Water, and Who’s Next

The South African city plans to shut off the taps to 4 million people. But it's just one of many cities around the world facing a future with too little water.


By Craig Welch

PUBLISHED February 2, 2018




How Cape Town Is Coping With Its Worst Drought on Record

Editor's Note: On Monday, February 5, Cape Town officials announced that the city had gotten “a slight reprieve” and that "Day Zero" had been pushed back to May 11. The reason: Fruit growers and other agricultural operations in the region have used up their annual water allocation, making more water available for the city. "There has not been any significant decline in urban usage, " deputy mayor Ian Neilson stressed in a statement. With a heat wave forecast to increase evaporation from reservoirs, he said, Capetonians must reduce consumption “to prevent the remaining water supplies running out before the arrival of winter rains.”



By late spring, four million people in the city of Cape Town—one of Africa's most affluent metropolises—may have to stand in line surrounded by armed guards to collect rations of the region's most precious commodity: drinking water.

Population growth and a record drought, perhaps exacerbated by climate change, is sparking one of the world's most dramatic urban water crises, as South African leaders warn that residents are increasingly likely to face "Day Zero." That's the day, now projected for mid-April, when the city says it will be forced to shut off taps to homes and businesses because reservoirs have gotten perilously low—a possibility officials now consider almost inevitable.

"The question that dominates my waking hours now is: When Day Zero arrives, how do we make water accessible and prevent anarchy?" says Helen Zille, former Cape Town mayor and the current premier of South Africa's Western Cape province, in a guest newspaper column published last week.

For years, a shutdown of this magnitude in such a cosmopolitan city had been almost inconceivable. But as overdevelopment, population growth, and climate change upset the balance between water use and supply, urban centers from North America to South America and from Australia to Asia increasingly face threats of severe drinking-water shortages.

Nowhere has that threat seemed to come on faster and catch more by surprise than it has in Cape Town.





"I'm afraid we're at the 11th hour," says South African resource-management expert Anthony Turton. "There is no more time for solutions. We need an act of God. We need divine intervention."

Approaching “Day Zero”

The situation seems to be worsening by the day.

The city is prepping 200 emergency water stations outside groceries and other gathering spots. Each would have to serve almost 20,000 residents. Cape Town officials are making plans to store emergency water at military installations, and say using taps to fill pools, water gardens, or wash cars is now illegal. Just this week, authorities stepped up water-theft patrols at natural springs where fights broke out, according to local press reports. They're being asked to crack down on "unscrupulous traders" who have driven up the price of bottled water.

For months, citizens have been urged to consume less, but more than half of residents ignored those volunteer restrictions. So earlier in January, the city requested even steeper cuts, asking residents to consume just 50 liters per day—less than one-sixth of what the average American uses. If consumption doesn't drop steeply and quickly, city officials warned this week, everyone will be forced into Day Zero, where all will have to live on far less—about 25 liters a day, less than typically used in four minutes of showering.

"I'm not sure if we'll be able to avert Day Zero," says Kevin Winter, lead researcher at an urban water group at the University of Cape Town. "We're using too much water, and we can't contain it. It's tragic."

Says David Olivier, a research fellow at the Global Change Institute at South Africa's University of the Witwatersrand, "The fundamental problem is the kind of lifestyle we're living. There's almost a sense of entitlement that we have a right to consume as much as we want. The attitude and reaction of most posts on social media is indignation. It's 'we pay our taxes' and therefore we should be as comfortable as possible.”

The Complications of Climate

The path to Cape Town's crisis is both typical—and not.

Much like southern California, South Africa is arid, but Cape Town's most recognizable land mass, Table Mountain, traps onshore breezes coming off warm ocean waters, creating local rains that power rivers and fill underground aquifers. It is an oasis surrounded by desert with a Mediterranean climate. Its beauty has driven populations skyward and brought increasing wealth and prosperity. There are pools and water parks and wineries and lush gardens, though even as the city modernized, hundreds of thousands still live in impoverished settlements. Unemployment tops 25 percent.




About 3 million black shade balls covered the Ivanhoe Reservoir in the Silver Lake section of Los Angeles when this photo was taken in September 2009. Managers hoped the balls would cool the water, to decrease chemical reactions that were creating carcinogens.
Photograph by Gerd Ludwig, National Geographic


Unusually high levels of the carcinogen bromate were discovered in the reservoir in October 2007. Bromate occurs when bromide, naturally present in groundwater, and chlorine, used to kill bacteria, react in strong sunlight.


The shade balls are weighted with clean drinking water as ballast so they don’t blow away, giving the appearance of a child’s playground.


The shade balls are made of black polyethylene and are covered with a coating that resists ultraviolet light, to reduce degradation over time.


Over the last 20 years, the city recognized some of the increased threat. It made strides in reducing water use from its six major reservoirs, which hold up to 230 billion gallons of water. Per capita consumption declined, the city reduced leaks, it forced large users to pay more, and generally promoted water efficiency, says Winter. Cape Town won several international water management awards. It even tries to shame top water users by publishing their names.

But officials also made an increasingly common mistake: They assumed future rainfall patterns would resemble the past, or at least not change too quickly.

"It's like driving a motor car and looking in the rear-view mirror," Winter says. "They solved the old problems, but they didn't recognize the risks ahead. Now here comes the juggernaut."

A decade ago, the city was told that population growth and shifts projected to come with climate change—drier, hotter weather, with less winter rainfall, and reduced stream flows—would require it find additional water sources.

"They were warned, but those warnings were not enough to shift attention from schools or hospitals or all the other things on the agenda," Winter says.

In the end, the dangers came suddenly. In 2014, the six dams were full, but then came three straight years of drought—the worst in more than a century. Now, according to NASA data, reservoirs stand at 26 percent of capacity, with the single largest, which provides half the city's water, in the worst shape. City officials plan to cut the taps when the reservoirs hit 13.5 percent.

While it's not clear how much of the current dry spell is driven by natural variability as opposed to climate change, "it's clear our current system is no longer reliable enough," Olivier says. "We may not have another drought like this for a few decades. But extreme events are only going to become more common."

And consequences could be felt in many other places across the globe.

Other World Cities at Risk

Already, droughts in recent years have helped spark famine and unrest in rural nations around the Arabian Sea, from Iran to Somalia. But water crises are also threatening massive cities around the world.

Already, many of the 21 million residents of Mexico City only have running water part of the day, while one in five get just a few hours from their taps a week. Several major cities in India don't have enough. Water managers in Melbourne, Australia, reported last summer that they could run out of water in little more than a decade. Jakarta is running so dry that the city is sinking faster than seas are rising, as residents suck up groundwater from below the surface.

Much like Cape Town's fiasco, reservoirs in Sao Paulo, Brazil, dropped so low in 2015 that pipes drew in mud, emergency water trucks were looted, and the flow of water to taps in many homes was cut to just a few hours twice a week. Only last-minute rains prevented Brazilian authorities from having to close taps completely.

"Sao Paulo was down to less than 20 days of water supply," says Betsy Otto, director of the global water program at the World Resources Institute. "What we're starting to see are the confluence of a lot of factors that might be underappreciated, ignored, or changing. Brought together, though, they create the perfect storm."

Competition for water is increasing, as population growth drives demand for drinking water and agriculture and as countries become more affluent. In fact, cities aren't always even aware that the water they think they can count has been claimed or polluted or is being consumed by other users.

Meanwhile, climate change is causing wider swings in weather, with more intense storms and more extreme events. "Think of southern California's record snowpack after five years of drought followed by more drought—such swings are likely to be the new normal," she says.

At the same time, as with Mexico City or Jakarta, infrastructure is often inadequate. Water management is unsanitary, leaky, polluted by heavy metals, or not sufficient to deliver enough supply to support demand. "It's simply not up to the task," Otto says.

Often the failure is about money, but there are almost always political dynamics at work, too.

Political Miscalculations

"Frankly, where it gets dangerous is the inability of our political institutions to keep up," says Geoff Dabelko, associate dean and director of the environmental studies program at Ohio University. "The overriding story of the coming decade is going to be about how well our institutions deal with the increased rate of change."

In South Africa, the ruling African National Congress and the Democratic Alliance, the opposition party that runs the city, each have some responsibility for maintaining or administering water. Experts suggest that each made fundamental missteps.

"Both believed that this would be a short-term drought and that things would return to normal at some point," Turton says. "But climate change is a factor now, and it's only begun to dawn on them how much the demand for water will just keep increasing."

For the moment, the region is scrambling to bring new supplies on line. Four new desalination plants are under construction. New water wells are being drilled and a plant that would reuse effluent is being built. Most of those projects are more than half completed.

All but one, however, is behind schedule, as city leaders push to at least get something up and running soon.

"Residents of Cape Town are very surprised by how dramatically the situation has escalated, says Magalie Bourblanc, a public policy analyst specializing in resource management at South Africa's University of Pretoria. "But I think people are realizing very quickly just how bad the situation could be."