domingo, 6 de julho de 2025

NEGACIONISMO CLIMÁTICO NO BRASIL

Imagem: Renato Trivella

No ano de 2012, o programa Jô Soares, exibido pela Rede Globo de televisão, produziu uma entrevista com o professor Ricardo Felício da Universidade de São Paulo (USP), que teve como tema o aquecimento global, ou melhor, nas palavras do entrevistado: “a farsa do aquecimento global”. Naquela entrevista, o então anônimo professor argumentou que “o aquecimento global é apenas uma hipótese” e que o “efeito estufa é a maior falácia da história”. Em seguida, declarou que “a floresta amazônica nada influencia no clima da Terra, e que se fosse completamente desmatada, a floresta se reconstituiria em 20 anos”. Aquele era o momento em que o negacionismo climático ganhava sua primeira grande aparição na mídia no Brasil, em um contexto político muito oportuno: às vésperas do final do prazo para o veto presidencial do novo Código Florestal, que concedeu o perdão para os produtores rurais que desmataram áreas de preservação e reservas legais até o ano 2008.

Três anos antes da entrevista de Felício a Jô Soares, o professor Luiz Carlos Baldicero Molion, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) comparecera a uma audiência pública da Câmara dos Deputados Federais, a convite de membros da bancada ruralista, para discutir a relação entre o desmatamento e as mudanças climáticas. Com o objetivo de sustentar a proposta ruralista de reformulação do Código Florestal, Molion argumentara que havia um entendimento errado da relação entre o problema do desmatamento e as emissões de CO2 (gás carbônico) como causa das mudanças climáticas. Segundo ele: “o CO2 não controla o clima global; podem colocar quanto CO2 quiserem na atmosfera, que será benéfico”. Além disso, segundo Molion, há um entendimento errado da relação entre o problema do desmatamento e as emissões de CO2 como causa das mudanças climáticas. “Devemos evitar o desmatamento por conta da manutenção da biodiversidade, pois o CO2 não é o vilão, nem o poluente que mostram pela televisão”, argumentara o professor. Tais argumentos lançavam suspeitas aos fatos científicos sustentados por 99% da comunidade científica mundial representada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), plataforma da Organização das Nações Unidas (ONU), que fornece aos formuladores de políticas avaliações científicas regulares sobre as mudanças climáticas.

​Munidos dos argumentos negacionistas, deputados a favor da causa ruralista sustentaram que existia algum tipo de conspiração por trás do regime internacional de mudanças climáticas e do ativismo ambientalista relacionado. Para o deputado federal Aldo Rebelo (relator da comissão especial que discutia a alteração do Código Florestal no ano de 2009, na época, do PCdoB), o argumento negacionista deixava claro que havia em torno da questão climática levantada nas discussões sobre o Código Florestal brasileiro uma “ideologia distinta das questões ecológicas e científicas”, mais especificamente: “a ideologia imperialista norte-americana”, representada pelas ONGs e organismos internacionais, que visava “conter o avanço do setor agropecuário no Brasil”. Para Rebelo, seria “uma perda de tempo o encontro em Copenhague” (se referindo à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas realizada naquele ano em Copenhague), pois esse encontro se referia às “pressões exercidas pelos países desenvolvidos sobre as responsabilidades ambientais dos países emergentes”. Comungando dessa visão conspiratória, o deputado federal Moreira Mendes (um dos líderes ruralistas mais ativos no processo do Código Florestal na Câmara) afirmou que existia uma forma de “colonialismo ambiental” em curso, que tornava a questão ambiental uma “nova maneira de subjugar os países em desenvolvimento”. A utilidade do negacionismo climático para os ruralistas naquele debate era evidente. Apresentava-se uma outra “opinião” sobre o assunto, supostamente advinda da ciência, que introduzia suspeitas, dando a entender que havia “um outro lado da história” que estava sendo omitido e, com isso, tentava-se afastar a questão das mudanças climáticas do debate sobre o Código Florestal.

Apesar da visibilidade obtida na TV e da utilidade do negacionismo climático como suporte para a posição ruralista nos embates parlamentares, aquele ainda não seria o grande momento do negacionismo climático no Brasil. Durante os governos Lula (2003-2010) as questões ambientais se tornaram parte importante da agenda de política externa, e a ciência e a política climática tiveram seu maior desenvolvimento. Lula sancionou a lei nacional de mudanças climáticas e, na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas em Copenhague (COP 15), adotou uma posição ousada ao estabelecer metas voluntárias de redução de carbono, comprometendo o Brasil a reduzir as emissões de gases do efeito estufa de 36,1% a 38,9% até 2020. Na área da ciência climática, foram estruturadas importantes redes de pesquisas científicas nacionais como a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), que se tornaram redes abrangentes de pesquisas interdisciplinares em mudanças climáticas embasadas na cooperação de 90 grupos de pesquisa de 108 instituições e universidades brasileiras e 18 estrangeiras, que produziram estudos científicos que deram suporte à política climática nacional e à posição geopolítica do governo nas arenas internacionais. Assim, a estruturação político-científica das mudanças climáticas produziu um regime no qual o negacionismo climático se tornaria residual na ciência e na política ambiental brasileira naquele período.

​Entretanto, uma década depois, os ventos mudariam de direção. No ano de 2019, logo após a posse do presidente Jair Bolsonaro, Ricardo Felício e Luiz Molion reapareceram na cena pública. Junto a 20 professores de universidades brasileiras, eles publicaram em um site chamado “notícias agrícolas”, e endereçaram ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, uma carta aberta em que reivindicaram uma “agenda climática baseada em evidências e nos interesses reais da sociedade”. Para os autores, as questões climáticas continuavam sendo "pautadas, predominantemente, por equivocadas e restritas motivações ideológicas, políticas, econômicas e acadêmicas” e que “não há evidências científicas da influência humana no clima global”. Deixando de lado a discussão climatológica, os autores adotaram na carta um tom predominantemente político, argumentando que a proposta de “economia de baixo carbono” é “uma pseudo-solução para um problema inexistente”.

​A carta dos negacionistas parece ter chegado ao endereço certo. Ricardo Salles, um dos Fundadores do Movimento Endireita Brasil (MEB) e ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (cargo no qual tornou-se alvo de ação movida pelo Ministério Público de São Paulo sob a acusação de alterar ilegalmente o plano de manejo da várzea do rio Tietê, com a intenção de beneficiar interesses privados), foi escolhido por Bolsonaro para ocupar a pasta do Meio Ambiente com a finalidade de “agilizar” os processos de licenciamento ambiental e tratar das questões ambientais “sem viés ideológico”. Em relação ao tema das mudanças climáticas, Salles adotou como primeiras ações administrativas fechar a Secretaria de Mudanças Climáticas e Florestas e, em decisão conjunta com o Itamaraty, desistir de sediar no Brasil a COP25 em 2019. Questionado por repórteres a respeito de sua posição, Salles declarou que as mudanças climáticas antropogênicas permanecem “um assunto acadêmico controverso” e que há “muito alarmismo sobre o assunto”.

​Após a publicação da carta negacionista, Molion e Felício foram convidados a comparecer à audiência realizada pela comissão de Relações Exteriores e de Meio Ambiente do Senado em maio de 2019. A comissão teve como objetivo discutir a importância do tema das mudanças climáticas para a agenda política nacional e internacional, indicando que, após décadas de aprovação de políticas, leis e acordos internacionais sobre mudanças climáticas, poder-se-ia voltar atrás nos compromissos firmados pelo Estado. Além dos negacionistas, a comissão convidou para uma sessão paralela os cientistas membros do IPCC: Paulo Artaxo, Carlos Nobre, Mercedes Bustamante e o astrofísico Luiz Gylvan Meira Filho. Em uma longa sessão de exposição de estudos, eles corroboraram a validade das informações científicas sobre as mudanças climáticas e alertaram a respeito dos riscos do aquecimento atmosférico para a sociedade brasileira. Na ocasião, o meteorologista Carlos Nobre, surpreso por ter que defender a validade científica das mudanças climáticas após cinco relatórios do IPCC e do amplo consenso alcançado pela comunidade científica internacional a respeito do tema, declarou que: “nós estamos vivendo um momento que nós cientistas não previmos – nem mesmo os cientistas sociais – que no século XXI estaríamos vendo um movimento mundial anti-ciência, anti-intelectualismo”.

​A preocupação apresentada por Carlos Nobre com o fenômeno atual de desvalorização da ciência diz respeito a uma condição que tem sido chamada de “pós-verdade”. Trata-se de situações nas quais os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. A negação da ciência e dos fatos objetivos não é fenômeno novo. Contudo, na era digital, as conclusões baseadas em evidências parecem ser cada vez mais ameaçadas por crenças baseadas em emoções e experiências pessoais compartilhadas, o que configura uma nova situação. Nesse contexto, redes anticientíficas como, por exemplo, as de antivacina e terraplanismo, estão em ascensão na internet, formando grupos numerosos, organizados para defender teorias que questionam fatos há muito tempo consolidados (para não dizer evidentes) como o fato de que as vacinas combatem doenças e de que a Terra é redonda. Da mesma forma, o negacionismo climático tem se disseminado pela internet. Entrevistas com Ricardo Felício realizadas em 2019 somam milhões de visualizações no YouTube, o que indica um estágio avançado de compartilhamento dos argumentos negacionistas. O negacionismo se propagou, principalmente, por meio de apoiadores do governo Bolsonaro, dentre eles, o próprio Ricardo Felício, que foi candidato a deputado federal pelo PSL em 2018.

​É notório que, com a ascensão de Bolsonaro à presidência e na eclosão de tudo aquilo que esse fenômeno representa em termos políticos e ideológicos, o negacionismo climático foi acolhido em uma cosmovisão que lhe conferiu plausibilidade, e acabou por torná-lo parte do discurso e da política oficial do governo sobre temas do meio ambiente. Dentre os ideólogos do governo, Olavo de Carvalho teve grande influência sobre a formação do pensamento que norteia as ações de quadros importantes da atual gestão. Destaca-se que os ministros Ernesto Araújo, Relações Exteriores, e o ex-ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, foram indicados ao presidente por Carvalho. O atual ministro da Educação Eduardo Weintraub e Felipe Martins, um dos conselheiros mais próximos do presidente, declaram-se publicamente “olavistas”; assim como os filhos de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro. Uma das teses de Olavo de Carvalho é a de que as universidades brasileiras têm sido dominadas por décadas pelo “pensamento da esquerda”, também a grande mídia, que propaga o que ele chama de “marxismo cultural”, a saber, um projeto da “esquerda globalista” dedicado ao empreendimento de destruir a cultura ocidental capitalista e cristã. A “conspiração globalista da esquerda” visa, segundo Carvalho, submeter os povos a um único governo mundial através da ONU e demais órgãos internacionais.

​Para Olavo de Carvalho e seus discípulos, o aquecimento global é um “truque para implementar um governo global”. Para tanto, a “fraude científica se tornou o meio, uma tática da esquerda para produzir o alarmismo”. Portanto, nesse imaginário conspiratório, o negacionismo climático se associa à luta contra o “comunismo internacional” e seu projeto de “dominação ambiental contra a civilização cristã”. Tais ideias não são produto somente da imaginação de Olavo de Carvalho, pois contam com um número de livros e publicações que têm sido divulgados entre bolsonaristas como, por exemplo, o livro de Pascal Bernardin, “O Império Ecológico”, e o livro de Dom Bertrand Oliveira e Bragança, “Psicose Ambientalista”, este último, citado por Bolsonaro na reunião do G20 em 2019. Compartilhando dessa visão, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, denominou “climatismo” essa conspiração global, argumentando que:

O ‘climatismo’ (sic) juntou alguns dados que sugeriam uma correlação do aumento de temperaturas com o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, ignorou dados que sugeriam o contrário, e criou um dogma “científico” que ninguém mais pode contestar sob pena de ser excomungado da boa sociedade. Esse dogma vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China.

Não há nenhuma originalidade por parte do ministro e demais “olavistas” na associação entre “aquecimento global e conspiração marxista”. Em sua genealogia do negacionismo climático norte-americano, os cientistas e escritores Naomi Oreskes e Erik Conway indicaram que a ação de think tanks[1] associados à ala conservadora do Partido Republicano, junto a alguns grupos da mídia, construíram já na década de 1990 uma contra narrativa às mudanças climáticas que defendia valores considerados pelos conservadores como sendo legitimamente americanos: a defesa do livre mercado, o combate ao comunismo e o direito de opinião em assuntos públicos. Em Merchants of Doubt, estes pesquisadores argumentam que a estratégia dos negacionistas junto a mídia visava confundir “equilíbrio” com “objetividade” ao exigir que “todas as partes interessadas numa determinada questão devem ter igual voz na cobertura dos fatos”. Para os autores, esse “balanço” das informações dos “dois lados” é falacioso porque não reflete o modo como a ciência trabalha, pois “uma vez que uma questão científica é fechada, só existe um lado”. Eles concluem que a conivência da mídia com o negacionismo climático tornou fácil ao governo americano decidir por “não fazer nada” em relação ao aquecimento global.

​De acordo com Myanna Lahsen, antropóloga e pesquisadora no Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a difusão das teorias da conspiração no debate sobre as mudanças climáticas induzidas pelo homem tem um longo histórico. Particularmente, nos Estados Unidos, há uma certa facilidade de reivindicações não confirmadas e sugestões de conspiração serem disseminadas entre o público que não simpatiza com a ideia do aquecimento global e suas implicações políticas por conta da ação dos think tanks conservadores junto a mídia. Adam Hodges, linguista e professor da Universidade do Colorado, ressalta que as decisões do governo Trump de negar compromissos com a política climática são sustentadas por redes negacionistas cujo discurso é paranoico e de cunho conspiratório e de grande aceitação pelo público conservador. Para o autor, o impacto final que o estilo paranoico tem sobre a política americana “gera uma forma de pós-verdade cínica que pode efetivamente interromper o debate sobre questões legítimas, movendo o discurso para o reino da fantasia ideologicamente distorcida".

​Notoriamente, os negacionistas climáticos brasileiros do governo Bolsonaro importaram suas narrativas de trabalhos e conferências realizadas por think tanks conservadores norte-americanos. Em julho de 2019, o Itamaraty enviou um diplomata para participar de uma conferência com negacionistas do clima realizada pelo think tank “The Heartland Institute” em Washington. Após a reunião, circulou no Itamaraty um telegrama que reportava os principais pontos abordados na reunião. Em um trecho do telegrama, o diplomata resume o que acredita ser o real motivo dos alertas feitos no mundo sobre as mudanças climáticas: "[...] eles estão colocando em risco nosso modo de vida. O debate não é sobre mudança do clima, nem sobre dióxido de carbono. Não é sobre clima, nem ciência. É sobre socialismo contra capitalismo [...]". Em setembro de 2019, o ministro Ricardo Salles, reuniu-se nos Estados Unidos com grupo negacionista do clima do Competitive Enterprise Institute (CEI), meses antes da COP25.

​O fato de que think tanks conservadores norte-americanos fazem parte das redes de informação do governo pode ter tido influência direta na postura adotada pelo Brasil na COP25. Na reunião realizada em dezembro de 2019 na Espanha, a comissão brasileira compareceu em pequeno número, acanhada e sem proposta clara. Diferente das outras reuniões, o Brasil posicionou-se junto a países como os Estados Unidos, Austrália e Arábia Saudita na tentativa de obstruir as negociações. Com essa decisão, a comissão brasileira negou-se a dar continuidade a sua posição de liderança dos países emergentes e de exigir metas ousadas de redução de emissões CO2 dos países desenvolvidos. Esse realinhamento geopolítico demonstra que o governo brasileiro optou por adotar a trajetória dos maiores emissores de carbono, seguindo os passos de Donald Trump. Após a reunião, em uma atitude de escárnio ao que havia sido discutido na conferência, o ministro Ricardo Salles postou em suas redes sociais uma foto de um farto prato de carne bovina com a legenda: “para compensar nossas negociações na COP, um almoço veggie!”.

​Verifica-se, portanto, que o negacionismo climático se tornou uma política do governo Bolsonaro. Para que isso acontecesse, as autoridades do atual governo ignoraram a ciência e atacaram membros da comunidade científica, como é o caso dos ataques dirigidos ao ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ricardo Galvão. Após o INPE divulgar os dados de aumento das queimadas na Amazônia, Bolsonaro chamou Galvão de “mentiroso” e alegou que o diretor deveria estar “a serviço de alguma ONG”. Esse episódio, foi seguido de um debate entre Ricardo Salles e Ricardo Galvão na rede de televisão Globo News em agosto de 2019. Na ocasião, Galvão afirmou que o governo não consultou em nenhum momento a ciência brasileira em assuntos que dizem respeito à Amazônia. Ricardo Salles retrucou dizendo: “o problema é quando a ideologia está disfarçada dentro da ciência”, endossando a acusação feita por Bolsonaro. Em entrevista posterior, Ricardo Galvão relatou que após o debate com Salles em frente às câmeras, conversou com o ministro nos bastidores, e se desapontou ainda mais ao ouvir do ministro que “ele não acreditava na ciência brasileira porque a ciência brasileira estava toda aparelhada pela esquerda contra os americanos”. As infundadas acusações do presidente e do ministro repercutiram internacionalmente, expondo o quanto o governo Bolsonaro ignora a legitimidade da ciência brasileira no mundo. Em dezembro, a prestigiada revista Nature abriu sua lista dos dez cientistas que fizeram a diferença em 2019 com a foto de Ricardo Galvão, o chamando de “herói” que desafiou o governo em defesa da Amazônia.

​Diante do que foi apresentado até aqui, podemos refletir a respeito das razões para se negar as mudanças climáticas. Em um primeiro momento, compreendemos que o negacionismo climático serve como um artifício retórico para aqueles que têm como objetivo a desregulamentação das leis ambientais e o não compromisso com acordos internacionais, como foi ilustrado pelo caso dos ruralistas na tramitação do novo Código Florestal brasileiro e no fraco comprometimento do Brasil na COP25. Nesse sentido, o negacionismo climático é frequentemente alistado por grupos que defendem iniciativas liberais, que consideram a legislação ambiental e os acordos internacionais um entrave ao livre comércio, à livre iniciativa, ao pleno uso da propriedade privada. A primeira razão para se negar as mudanças climáticas, portanto, é dar continuidade às atividades econômicas que impactam o meio ambiente sem qualquer regulação ou compromisso público.

​Posteriormente, percebemos que o negacionismo climático também faz parte de uma visão de mundo de certos grupos que realmente acreditam que o aquecimento global é uma fraude. A percepção de que as instituições públicas de ensino estão corrompidas pela ideologia da esquerda e que as mudanças climáticas fazem parte dessa conspiração revela que, para além das razões dos grupos econômicos liberais, o negacionismo climático faz parte de um regime discursivo inserido em uma determinada rede de práticas compartilhadas por grupos que se sentem de alguma maneira enganados e desiludidos. Eles buscam no negacionismo “um outro lado da história” que lhes foi omitido, que a ciência oficial os negou, mas que pode ser encontrado nas palavras de outsiders e organizações que denunciam a corrupção das instituições científicas e políticas. A partir disso, o negacionismo climático passa a transcender os aspectos políticos e científicos e a se referir a significados sociais enraizados em realidades subjetivamente vivenciadas como abrangentes e completas. É ilustrativa a declaração de Ernesto Araújo: “fui a Roma em maio e havia uma onda de frio”, experiência que, para o ministro, torna-se prova de que o aquecimento global não existe. A razão, portanto, para negar as mudanças climáticas nesse caso não diz respeito ao conteúdo científico, mas a uma visão e experiência de mundo incompatíveis com aquelas de quem acredita nas mudanças climáticas.

​Por fim, cabe ainda destacar uma outra razão apontada pela filósofa Déborah Danowski. Segundo ela, há vários tipos de negacionistas e negacionismos:

[...] há os por assim dizer independentes e há os que, por baixo do pano, são pagos por grandes corporações, pelas companhias de carvão, petróleo e gás para produzir artigos de jornal baseados em falsas pesquisas científicas. Mas há ainda um outro tipo de gente que, por motivos diferentes, ou “não aceita” a realidade das mudanças climáticas, ou aceita, mas “não tanto assim”. São pessoas até bem esclarecidas, que dizem frases como: “ah, nisso eu não posso acreditar”, “isso também não, aí já é demais”, “isso aí já é catastrofismo” ... “Catastrofismo não”. Uma razão por que se nega o inegável é que isso que é inegável é também intolerável. Se fôssemos encarar diretamente o que temos pela frente, isso exigiria de nós, aqui e agora, muito mais do que estamos realmente dispostos a fazer. (grifo nosso).

Nesse sentido, muitos daqueles que acreditam nas mudanças climáticas, podem também negar, em alguma medida, a urgência que essa verdade implica para continuar vivendo suas vidas da mesma maneira. Então, delegam a responsabilidade de decidir e encontrar soluções às autoridades e, frequentemente, se frustram com os resultados. Essa é uma forma mais tênue de negacionismo, mas com efeitos igualmente paralisadores. Demonstra-se preocupação com a questão, mas sem se engajar seriamente na causa, sem querer transformar radicalmente o modo de vida, sem levar a sério a urgente necessidade de transformação política. Talvez seja essa a forma de negacionismo que mais tem contribuído para que a questão das mudanças climáticas se encontre tão vilipendiada no Brasil atual.

NOTAS

[1] Think Tanks são grupos de especialistas associados para debater temas específicos e influenciar a formulação de políticas públicas ou processos de tomada de decisão pública. Geralmente, são financiados por corporações e lobbys que têm interesses privados nos resultados de determinada questão pública.

PARA SABER MAIS

AMADO, G. (2019). Ernesto Araújo nega aquecimento global: “Fui a Roma em maio e havia uma onda de frio”. Época. 03 de agosto de 2019. Disponível em: https://epoca.globo.com/guilherme-amado/ernesto-araujo-nega-aquecimento-global-fui-roma-em-maio-havia-uma-onda-de-frio-23851347 Acesso: 06/01/2020.

​ARAÚJO, E. (2018). “Sequestrar e Perverter”. Disponível em: https://www.metapoliticabrasil.com/post/sequestrar-e-perverter Acesso: 06/01/2020.

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CARVALHO, O. (2012). Aquecimento global para Olavo de Carvalho. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=t8FgrKnk2AA Acesso 24/04/2019.

CARVALHO, O. (2016). “ONU, Nova Ordem Mundial e a escravização mundial”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=e2bBHef6u60 Acesso: 06/01/2019.

CHADE, J. (2019). “Leia o telegrama interno do Itamaraty sobre Mudanças Climáticas”. Disponível em: https://jamilchade.blogosfera.uol.com.br/2019/07/31/leia-o-telegrama-confidencial-do-itamaraty-sobre-mudancas-climaticas/ Acesso: 06/01/2020.

​DANOWSKI, D. (2012). O hiperrealismo das mudanças climáticas e as várias faces do negacionismo. Sopro (Panfleto Político-Cultural), p. 2-11.

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GRAGNANI, J. (2019). “Rede antivacina no Brasil importa teorias da conspiração dos EUA e cresce com sistema de recomendação do YouTube”. BBC News Brasil. 20 de junho de 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48695113 Acesso: 06/01/2020.

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​MIGUEL, J. (2017a). Políticas e Infraestruturas das Ciências Atmosféricas. Um estudo social da modelagem climática no INPE. Tese de doutorado. Programa de pós-graduação em Política Científica e Tecnológica, Instituto de Geociências, UNICAMP.

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O Autor:

Jean Miguel é sociólogo, mestre e doutor em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente, realiza pós-doutorado na Escola de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Foi pesquisador visitante da School of Environmental Sciences da University of East Anglia no Reino Unido. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia, tendo interesse, principalmente, nos seguintes temas: ciência, tecnologia e desenvolvimento sustentável; transições sociotécnicas para a sustentabilidade; governança da ciência e da tecnologia em questões socioambientais; mudanças climáticas e sociedade. Atualmente, participa do projeto internacional CLIMAX (Climate Services Through Knowledge Co-production: A Euro-South American Initiative for Strengthening Societal Adaptation Response to Extreme Events - Belmont Forum e FAPESP: n. 2015/50687-8) como co-coordenador do Grupo de Trabalho 3 - Processos sociais que explicam a apropriação da informação climática por tomadores de decisão.

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Fonte: Coletiva. O texto faz parte do interessante Dossiê Emergência Climática, publicado em 2020. 

Segundo informações do site

"A Coletiva é uma revista eletrônica de divulgação científica, publicada pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) desde 2010. Sediada em Recife, a revista disponibiliza dossiês temáticos quadrimestrais e outras seções periódicas, com uma perspectiva de diálogo entre os saberes acadêmicos e outras formas de conhecimento, prezando pela diversidade sociocultural e liberdade de expressão. É voltada para um público amplo, curioso e crítico.

O projeto da Coletiva é uma atividade de extensão do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (ProfSocio/Fundaj), ligado à Diretoria de Formação Profissional e Inovação (Difor) da Fundaj. Conta com o apoio do multiHlab - Laboratório Multiusuários em Humanidades, com bolsistas financiados pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe)".

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LEIA TAMBÉM:

TEXTOS SELECIONADOS "NEGACIONISMO CLIMÁTICO"





O que é o negacionismo climático e como ele se manifesta?

Photo: Edward Kimmel, in NRDC Action Fund.

Rejeitar a realidade e os avanços científicos não é algo novo na história da humanidade. Quando o assunto é o clima, saiba como essa rejeição aos fatos científicos acontece.

Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 26 de set. de 2024, 18:09 BRT


O negacionismo pode ser definido como uma recusa em aceitar a validade de fatos comprovados cientificamente, ainda que sejam apresentadas evidências concretas sobre ele. É como explica um artigo dedicado ao tema publicado no site do Instituto Butantan – centro brasileiro de pesquisa em biologia e biomedicina do estado de São Paulo –, uma referência em investigação científica.

Esse termo abrange diversas áreas de estudo, entre elas a história, de onde credita-se o surgimento do conceito. "O termo se popularizou no final da década de 1980, depois que o historiador francês Henry Rousso passou a usá-lo para se referir a grupos e indivíduos que negavam a existência das câmaras de gás e o extermínio em massa de judeus pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial", explica o Butantan.

Como o negacionismo vai contra fatos provados, o ato de rechaçar a realidade impacta na evolução do conhecimento, completa a fonte governamental.

Já o negacionismo climático, especificamente, é conceituado como "a manifestação contrária ao fenômeno do aquecimento global provocado pelo aumento das emissões antrópicas", como detalha um artigo publicado pela Fundação Instituto de Administração (FIA), entidade privada sem fins lucrativos ligada à Universidade de São Paulo.

O negacionismo climático atrapalha uma maior compreensão da conscientização ambiental e das mudanças de consumo e comportamento necessárias para melhorar o relacionamento dos seres humanos com a natureza.

Existe consenso sobre a crise climática na ciência, mas isso não impede o negacionismo

De acordo com a Sociedade Australiana de Psicologia (APS), "embora a maioria das pessoas afirme estar preocupada com o clima, também é verdade que um grande número delas evita, minimiza, desliga ou se distancia do envolvimento efetivo com os problemas".

Segundo a mesma fonte, a maioria dos cientistas climáticos (cerca de 97%) concorda entre si que a mudança climática é causada pelo comportamento humano. Mesmo assim, existe uma certa “lacuna de consenso” neste assunto, e essa diferença de percepção sobre o grau de concordância entre os cientistas é o que reforça o negacionismo climático entre as pessoas.

Já no Brasil, a parcela de negacionistas da população é de 15%, diz uma pesquisa do Datafolha realizada em julho de 2019.

Estudos sobre as percepções da mudança climática feitos na Austrália, no Reino Unido e nos Estados Unidos mostraram, por exemplo, que varia entre 5 a 8% da população o número de pessoas que contestam as alterações no clima do planeta, segundo a APS. Já no Brasil, a parcela de negacionistas da população é de 15%, diz uma pesquisa do Datafolha realizada em julho de 2019. Esse número de pessoas que não acredita no aquecimento global e na sobrecarga da Terra, por exemplo.

Como a consciência ambiental ajuda a combater o negacionismo climático

Já faz décadas que os cientistas dos mais variados campos de estudo alertam para o aquecimento global e seus impactos no clima, explicando como comunidades de todo o mundo enfrentarão "riscos cada vez maiores devido a níveis sem precedentes de inundações, incêndios florestais, estresse térmico, aumento do nível do mar e muito mais", conta um artigo sobre o tema da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Embora as comprovações sejam sólidas – "inclusive mostrando que os desastres naturais relacionados ao clima e induzidos pelas pessoas estão aumentando em frequência e intensidade mais cedo do que o previsto originalmente" –, diz a fonte, existe uma lacuna de entendimento a qual é usada por essa pequena parcela da população mundial para rechaçar os avanços da ciência e gerar confusão acerca do assunto.

Sobre esse tema, a entidade australiana completa dizendo que "uma das maneiras de lidar com essa lacuna é aumentar a conscientização sobre o consenso científico em relação às mudanças climáticas", diz.

"A importância disso não pode ser subestimada – pesquisas mostram que as pessoas têm maior probabilidade de apoiar ações políticas para reduzir as emissões de dióxido de carbono se estiverem cientes do consenso esmagador entre os especialistas de que estamos causando o aquecimento global", defende a fonte.

Fonte: National Geographic Brasil


Negacionismo climático não é sobre ciência, é sobre ideologia

Foto Rafa Neddermeyer, Agência Brasil.

'Extrema-direita enxerga nas políticas anticarbono uma conspiração de esquerda para promover um governo global'

Renato Souza, 29 de maio de 2024

Muito se tem dito que a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul neste mês é fruto, dentre outras coisas, do negacionismo climático e ambiental. Inclusive por governantes, talvez com pretensão de minimizar suas responsabilidades pela calamidade que tomou conta do estado. Mas nem sempre se entende bem o que é o negacionismo climático. É provável que muitos pensem até que os negacionistas sejam negadores da ciência, que tenham críticas epistemológicas à ideia de “verdade científica”. Só que não!

Não há nada de errado em refutar as certezas científicas, afinal, a própria ciência se transforma e evolui exatamente porque é capaz de criticar a si mesma. É só observar como as ciências médicas e da nutrição estão revendo constantemente as recomendações sobre o que devemos comer para termos boa saúde. Além disso, a crítica à ideia de “verdade científica” ou de “certeza científica” esteve presente no pensamento de praticamente todos os filósofos da ciência nos últimos 150 anos, das mais diversas correntes teóricas. Por isso, somente cientistas ingênuos ou dogmáticos realmente acreditam em verdades ou certezas científicas definitivas.

Ocorre que a pretensão dos negacionistas não é fazer uma refutação filosófica ou teórica das certezas científicas. Eles não têm nenhuma crítica legítima e fundamentada à ciência, nem nutrem qualquer querela com o conhecimento científico em geral, quanto mais com a tecnologia. Ao contrário, geralmente são pessoas e grupos que se servem fartamente de conhecimentos científicos e das tecnologias modernas geradas por eles. A questão deles, portanto, não tem a ver com a ciência em si, tem a ver com ideologia, política, economia, e com dinheiro e poder.

O negacionista das vacinas, por exemplo, não deixa de fazer quimioterapia se tiver câncer, mesmo que o método científico que produza a vacina seja o mesmo que produz o quimioterápico. Também não deixa de olhar a previsão meteorológica quando vai plantar na lavoura, nem quando vai colocar o barco no mar, mesmo que as ciências da previsão do tempo e do clima usem os mesmos métodos.

Então, os negacionistas não negam qualquer ciência: eles negam aquela que tenha alguma implicação coletiva ou em políticas públicas, mas não aquela que eles podem usar livremente e individualmente. O que eles rejeitam é que a ciência dite estratégias coletivas de enfrentamento de problemas coletivos, e que, em nome dessas estratégias, ela ameace seu modo de vida, seu conforto financeiro ou sua liberdade econômica. O negacionismo climático é uma forma de reação contra a intervenção do Estado e dos organismos multilaterais na economia e nas formas de produção e de vida das pessoas para fazer frente ao aquecimento global e às mudanças climáticas.

É certo que catástrofes climáticas, como as que têm ocorrido no Rio Grande do Sul, têm feito o negacionismo declinar a ponto de se tornar impopular, e por isso muitos negacionistas têm revisto suas posições. Porém, mesmo “ex-negacionistas” só chegam até o limite de reconhecer as causas antrópicas e as consequências dramáticas das mudanças climáticas, mas, em geral, não abandonam o combate e a obstrução às políticas internacionais e locais contra o aquecimento global e a destruição ambiental.

E por que isso acontece? Exatamente porque o negacionismo não é sobre ciência ou fatos, é sobre ideologia e política, e sobre interesses econômicos e financeiros ameaçados pelas medidas de redução de CO2 e de proteção ambiental.

No fundo, a ciência é só a vítima que estava no caminho.

A origem do negacionismo climático e ambiental é remota, mas está invariavelmente ligada a movimentos conservadores e de extrema direita, de luta por direito à propriedade privada da terra e à desregulamentação da economia. E, nos Estados Unidos, está ligada à descentralização para os estados da jurisdição sobre meio ambiente e acesso às terras, para favorecer leis mais brandas em estados controlados por Republicanos, geralmente do Sul. Mais recentemente o negacionismo climático tem sido patrocinado por indústrias petrolíferas, diretamente interessadas em preservar a irrestrita exploração de combustíveis fósseis.

No Brasil, o negacionismo está associado, sobretudo, aos interesses do agronegócio e atividades extrativistas, com vistas a deslegitimar políticas ambientais, expandir a fronteira agrícola por meio do desmatamento e desregulamentar o uso de áreas de preservação, tudo pela manutenção e expansão do modelo de produção primária agroexportadora.

O real alvo do negacionismo, por vezes, aparece já no nome de algumas de suas obras e agentes, como o livro Planeta azul, não verde: o que está em perigo, o clima ou a liberdade?, do ex-presidente tcheco Václav Klaus; ou o portal de notícias Liberdad Digital; e o movimento Americans for Prosperity, todos de linha conservadora neoliberal, que veem nas políticas anticarbono e antiemissões graves ameaças à liberdade econômica, à livre iniciativa e ao direito de propriedade.

A tese dos negacionistas é de que a ciência do clima é uma grande fraude “urdida por ambientalistas anti-industriais, baseadas em teorias assustadoras de cientistas em busca de financiamento, e difundida com a cumplicidade de políticos e meios de comunicação”, como afirma o britânico Martin Durkin no seu documentário A grande farsa do aquecimento global. Uma parte do argumento negacionista é dirigida contra o que eles chamam de “globalismo”, que seria, resumidamente, uma agenda internacional de esquerda capitaneada por organizações multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU), que visa impor uma padronização mundial da cultura, da organização social, dos modos de vida e das formas econômicas, com evidente ameaça à liberdade econômica e à sobrevivência das culturas e dos modos de vida nacionais.

Por esta razão é que o antiglobalismo é uma pauta constante nos nacionalismos de extrema-direita.

No Brasil, também, as vozes negacionistas já foram muito eloquentes, como o autointitulado príncipe, Dom Bertrand de Oliveira e Bragança, autor do livro “Psicose Ambientalista”; o ideólogo Olavo de Carvalho, para quem o negacionismo climático é uma arma na luta contra o comunismo internacional e seu projeto de dominação ambiental contra a civilização cristã; e mesmo alguns membros da comunidade científica, como Ricardo Felício e Luiz Molion.

Mas foi no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro que ele ganhou o primeiro escalão do poder, com o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que disse sobre o aquecimento global e o desmatamento no Brasil, dentre outras coisas, que havia muito alarmismo sobre o assunto, e que “não acreditava na ciência brasileira porque a ciência brasileira estava toda aparelhada pela esquerda contra os americanos”. Já para o ex-chanceler Ernesto Araújo, o “climatismo” é uma conspiração global que vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações.

Nas palavras de um integrante do Itamaraty à época do ministro Araújo, referindo-se ao teor de um encontro em que havia participado nos Estados Unidos, no The Heartland Institute: “O debate não é sobre mudança do clima, nem sobre dióxido de carbono. Não é sobre clima, nem ciência. É sobre socialismo contra capitalismo".

Então, basicamente o negacionismo climático é uma ideologia de extrema-direita que enxerga nas políticas globais anticarbono uma conspiração de esquerda para promover um governo global, com retorno ao planejamento central por outras vias, com restrições à autonomia das nações, à liberdade econômica, à livre iniciativa e ao direito de propriedade, e com comprometimento do modo de vida da civilização ocidental judaico cristã. Por isso, ele tem várias facetas ideológicas: é economicamente neoliberal, é ideologicamente nacionalista e “antiglobalista”, é culturalmente reacionário e é politicamente de extrema-direita, com forte presença do pensamento anticomunista entranhado em seu discurso.

Não sendo um movimento científico ou anticiência, não se espera combater o negacionismo com mais conhecimento científico ou mais informação científica. Mesmo os fatos e a sucessão de tragédias que tem ocorrido só tem potencial de dobrar a percepção negacionista das mudanças climáticas até certo ponto, mas não afetará a sua disposição em obstruir políticas globais e locais de defesa do meio ambiente e de combate ao aquecimento global. Por isso, ele precisa ser vencido é politicamente, e se faz isso desafiando este combo ideológico que sustenta o negacionismo: o neoliberalismo, o nacionalismo, o reacionarismo e o ethos político anticomunista anacrônico e descabido herdado da Guerra Fria.

* Renato Souza é professor do Programa de Pós-graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria.
Editado por: Katia Marko

Fonte: Brasil de Fato




sábado, 5 de julho de 2025

Maior programa municipal de aluguel universitário do país começa em Niterói


Foto Evelen Gouvêa.

A Prefeitura de Niterói abriu inscrições, nesta quinta-feira (3), para o maior programa municipal de aluguel para alunos de graduação e pós-graduação do país. Batizada de Aluguel Universitário, a iniciativa vai oferecer R$ 700 mensais para mil estudantes de instituições de ensino superior localizadas na cidade — públicas ou privadas.

Além de facilitar o acesso à moradia, a Prefeitura do município quer revitalizar o Centro da cidade, que passa por uma ampla reforma urbanística, e manter os universitários na cidade, que já é a terceira cidade do país com maior índice de escolaridade, segundo o IBGE (2022). São cerca de 70 mil universitários na cidade.

“Estamos muito orgulhosos de lançar o Programa Aluguel Universitário, o maior projeto de aluguel e moradia para estudantes do Brasil. Eu comecei minha trajetória política na União dos Estudantes de Niterói, ainda na década de 1990. Na época, a gente lutava por passe livre e meia entrada e, hoje, fico feliz de poder continuar apoiando políticas públicas pensadas para a juventude. Em agosto, já vamos selecionar mil estudantes e não vamos parar por aí. Através do incentivo ao estudo, vamos fortalecer também a economia local e a revitalização de toda a região central. Niterói continua avançando com políticas inteligentes que fazem toda a diferença na vida das pessoas”, reforçou o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves.

As inscrições vão de hoje até o dia 08 de julho e acontecem através da plataforma digital Colab e do site do programa (https://niteroi.rj.gov.br/alugueluniversitario). Ao todo, mil estudantes serão selecionados neste primeiro edital. A iniciativa vai beneficiar estudantes maiores de 18 anos, com renda familiar de até três salários mínimos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e de instituições de ensino superior privadas, matriculados em curso presencial devidamente regularizado pelo Ministério da Educação (MEC).

O auxílio facilita o custeio de moradia garantindo mais acessibilidade ao ensino superior. Com duração inicial de um ano, o benefício poderá ser renovado até a conclusão da graduação ou da pós-graduação, desde que o estudante não ultrapasse dois anos além do prazo regular do curso.

A reprovação por faltas em qualquer disciplina resultará na perda do benefício. Além disso, o estudante não poderá acumular outro subsídio habitacional de mesma natureza.

“Estar neste evento é um prazer muito grande. Iniciativas como esse programa são transformadoras de vidas: geram autonomia e liberdade para os estudantes tomarem decisões com fôlego. Acho que, mais do que uma política de permanência estudantil, o Programa Aluguel Universitário é uma política para o sucesso dos alunos. Ter um olhar inteligente e pensar em decisões complexas, que integram vários setores da sociedade, é o caminho certo para gerir uma cidade e até uma universidade”, celebrou o reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antônio Claudio Lucas da Nóbrega.

A área de abrangência do programa inclui a região central da cidade, incluindo os bairros do Centro e parte de São Domingos e São Lourenço. Já neste primeiro momento, os universitários precisam apresentar o contrato de aluguel em pontos localizados nessas áreas. O mapa com os limites exatos está anexado à legislação que institui o benefício, será incluído no edital e amplamente divulgado nos canais oficiais da Prefeitura. Além disso, vale destacar que haverá visitas domiciliares para verificar o cumprimento das exigências e confirmar que os beneficiários residem, de fato, na localidade informada e que o programa não estabelece restrições quanto à quantidade de beneficiários por imóvel.

“Hoje é um dia histórico para a assistência estudantil do Brasil. Lançamos uma iniciativa inovadora, que já surge como a maior política de auxílio moradia para estudantes do país. A Prefeitura acredita nos jovens e aposta, inclusive financeiramente, em incentivar toda uma geração”, afirmou o coordenador de políticas públicas para a juventude, João Pedro Boechat.

A medida faz parte da estratégia da Prefeitura para fomentar o desenvolvimento econômico e social da cidade, tornando Niterói um polo cada vez mais atrativo para os jovens talentos. Além disso, busca reduzir o tempo de deslocamento dos estudantes, estimular a frequência às aulas e promover o uso residencial da região central da cidade.

Os interessados no programa precisam apresentar: documento de identidade; CPF; comprovante de residência; declaração de matrícula (atualizada há menos de 60 dias pela Instituição de Ensino Superior); comprovante de Inscrição no Cadastro Único (atualizado nos últimos 6 meses, a contar da data de publicação deste edital) – este item deve possuir os dados referentes à Faixa de Renda Familiar Total e Faixa de Renda Familiar Por Pessoa (per capita); documento que comprove a participação no Bolsa Família, BPC ou Moeda Araribóia, se for o caso.

Integrante do programa Jovem EcoSocial, a estudante Victória Antônio de Oliveira, 21 anos, disse que estava ansiosa para se inscrever no programa. Ela também é moradora do Centro e cursa o terceiro período de Direito da Universidade de Salgado de Oliveira (Universo).

“Esse projeto é maravilhoso e eu estou muito feliz por ele ter saído do papel. É um grande projeto para os jovens de Niterói, porque acredito que os jovens de outras cidades não estão tendo essa oportunidade incrível. É gratificante ver”, destacou.

O programa também vai ser um diferencial para jovens de outras cidades do Estado do Rio. A estudante Yana Santana, 26 anos, veio de Angra dos Reis para estudar Direito na UFF e atualmente reside no Morro do Estado. Ela vai se inscrever no programa para morar no Centro.

“O Aluguel Universitário já é o maior programa habitacional de moradia estudantil do Brasil, que nesse edital vai beneficiar mil estudantes. E a intenção é que nos próximos meses complete muito mais. É de fato um projeto de política pública que vai mudar a realidade já dos estudantes que moram aqui em Niterói e daqueles que vão vir morar aqui na cidade. É um projeto que está aí para mudar vidas e a construção do movimento estudantil”, disse a jovem que está à frente da diretoria executiva do Centro Acadêmico de Direito da UFF.

Fonte: Prefeitura de Niterói




Desmatamento e emissões brasileiras


É indiscutível que o desmatamento é o grande vilão das emissões de gases de efeito estufa do Brasil. Como mostra a análise de 2024 do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, apesar de uma queda de 12% nas emissões totais em 2023 em relação a 2022, o desmatamento continua como principal fonte de emissões no Brasil.

De acordo com o SEEG, a queda do desmatamento na Amazônia é o principal responsável por trás da redução das emissões brasileiras. No entanto, tal qual uma balança, as emissões associadas ao desmatamento de outros biomas subiram.

A agropecuária registrou seu 4º recorde consecutivo de emissões, com 631,2 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e), um aumento de 2,2% em relação a 2022. O aumento se deve principalmente ao crescimento do rebanho bovino, com a maior parte das emissões originárias da fermentação entérica, vulgo “arroto de boi”, com 405 MtCO2e emitidos. O setor agropecuário representou 28% das emissões brutas do Brasil no ano passado.

Além do desmatamento, há a degradação ambiental – que está diretamente relacionada à expansão das queimadas, especialmente nos meses de agosto e setembro, destaca dados do Imazon. (diretamente relacionada à expansão das queimadas, especialmente nos meses de agosto e setembro, destaca o Imazon. Junto com o fogo, seca e extração de madeira também contribuíram para esse processo.

O Pará, que se prepara para sediar a COP30 em novembro, lidera o ranking do desmatamento e, junto de Mato Grosso, têm como principais fontes de poluição climática o desmatamento e a atividade pecuária. Bahia, Maranhão, Piauí, Tocantins (Matopiba) também se destacam historicamente pelo desmatamento e degradação ambiental.

O Brasil é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo. Reduzir o lançamento desses poluentes é fundamental para que o país contribua para o combate à mudança climática e assuma seu compromisso com o Acordo de Paris.

Fonte: ClimaInfo 



sexta-feira, 4 de julho de 2025

Petroleiras precisam reflorestar 5 Amazônias para neutralizar emissões

Estudo mostra que compensar reservas de combustíveis fósseis com plantio é impossível na prática e reforça que redução das emissões é urgente.


Para continuar explorando petróleo, gás fóssil e carvão sem limites, empresas de combustíveis fósseis tentam propor ações para compensar as emissões com a queima de seus produtos, a principal causa das mudanças climáticas. Há propostas como a compra de créditos de carbono e tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS) e soluções baseadas na natureza, como o reflorestamento.

Mas um estudo publicado na Communications Earth & Environment, da Nature, escancara a inviabilidade logística, financeira e climática, tanto do reflorestamento como das demais alternativas. Para isso, a pesquisa se baseia nas reservas de petróleo, gás fóssil e carvão das 200 maiores empresas do setor. E sentencia: o mais viável, inclusive economicamente, é não queimar esses combustíveis fósseis.

Como destacou o g1, no caso do reflorestamento, a pesquisa aponta que, para compensar essas emissões, seria necessário reflorestar uma área de 24,75 milhões de km2. Isso equivale às Américas do Norte e Central, ou três vezes o tamanho do Brasil – ou, como a Exame comparou, cinco Florestas Amazônicas.

A queima das reservas das 200 maiores empresas de combustíveis fósseis poderia gerar 673 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e). Para compensá-las, o estudo define “reflorestamento” como o estabelecimento deliberado de novas florestas em terras sem cobertura de árvores, excluindo regeneração natural e agrofloresta. Ou seja, criação intencional de florestas em terras anteriormente não florestadas.

O que os cientistas verificaram é que reflorestar exigiria mais espaço do que se pensava. E mesmo que os formuladores de políticas estejam dispostos a sacrificar uma área tão extensa, ainda haveria limitações ecológicas a serem consideradas, como o deslocamento de comunidades, terras agrícolas e habitats existentes. Além disso, o reflorestamento poderia afetar ecossistemas existentes que fornecem serviços ecossistêmicos vitais.

A pesquisa avaliou a valorização líquida ambiental das empresas, considerando seu valor após descontar as despesas necessárias para compensar suas emissões. O estudo comparou os custos com reflorestamento com outras formas de compensação, como a compra de créditos de carbono e a captação direta de carbono na atmosfera (CCS e afins).

O reflorestamento seria o método mais barato, com a OCDE estimando o custo a partir de US$ 16 por tonelada de CO₂e. Com esse valor, 36% das empresas analisadas ainda teriam uma avaliação de mercado positiva se tentassem compensar todas as emissões potenciais de suas reservas atuais. Mas a grande maioria [64%] não.

Quanto aos créditos de carbono, usando o preço médio do mercado de carbono europeu de 2022 (US$ 83 por tCO₂e), o estudo mostra que 95% das empresas teriam uma Avaliação Ambiental Líquida negativa. E se a opção for pela captura direta do carbono no ar, ao custo atual da tecnologia (US$ 1.000), todas as empresas teriam Avaliação Ambiental Líquida negativa.

Fonte: ClimaInfo




CLIMAINFO APONTA RESPONSABILIDADES PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E CAMINHOS PARA A SOLUÇÃO


Quem são os responsáveis pelas mudanças climáticas?


Nas últimas décadas têm aumentado a frequência e também a intensidade de eventos climáticos extremos, como as tempestades e as inundações que acontecem no Rio Grande do Sul e a seca e as queimadas no Pantanal. Isto é consequência do aquecimento global e das mudanças climáticas por este geradas. Em sua raiz, estão as emissões de poluentes climáticos: os gases de efeito estufa.

As emissões acumuladas destes gases encaminham a temperatura média da Terra para perto de 1,5ºC acima das temperaturas pré-industriais, que é a meta de limitação do aquecimento global do Acordo de Paris. Se continuarmos a lançar gases estufa na atmosfera no ritmo atual, poderemos chegar aos 3ºC de aquecimento global até o final deste século, o que terá consequências catastróficas para a humanidade e para a natureza tal qual conhecemos.

Mas quem são os responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa? Podemos responder a esta pergunta separando em diferentes grupos: corporações empresariais, setores da atividade econômica ou países.

Por corporação empresarial: apenas 100 empresas responderam por 71% das emissões globais de gases de efeito estufa entre 1988 e 2015. As 10 corporações empresariais mais poluidoras do clima nesse período foram: China Coal, responsável por 14,3% das emissões, Saudi Aramco (4,5%), Gazprom (3,9%), National Iranian Oil Co (2,3%), ExxonMobil Corp (2,0%), Coal India (1,9%), Petróleos Mexicanos-Pemex (1,9%), Russia Coal (1,9%), Royal Dutch Shell (1,7%) e China National Petroleum Corp (1,6%). A brasileira Petrobras está na 22a posição do ranking das maiores poluidoras climáticas. Abaixo apresentamos as 22 maiores poluidoras. Note-se que todas elas, à exceção da mineradora BHP Billiton, são empresas envolvidas com produção de ou geração de eletricidade à base de combustíveis fósseis.” A lista completa das 100 maiores pode ser encontrada neste link.

Por setor econômico: os principais setores que emitem gases de efeito estufa no mundo são: (1) produção e consumo de energia (como a lista das empresas que mais emitem comprova), (2) agropecuária, silvicultura e uso da terra, (3) indústria e (4) manejo de resíduos sólidos e de efluentes líquidos. No mundo, a produção e o consumo de energia carregam a maior responsabilidade, com mais de 70% das emissões, enquanto a atividade agropecuária, silvicultura e mudança de uso da terra é responsável por cerca de 18% da poluição climática. No Brasil, essa ordem se inverte: aqui, a agropecuária e o desmatamento são responsáveis por aproximadamente 75% das emissões de gases estufa, enquanto a produção e o consumo de energia são responsáveis por 18%.

Por país: os 10 países que mais emitem gases de efeito estufa são, nesta ordem, China, EUA, Índia, Rússia, Brasil, Indonésia, Japão, Irã, Canadá e Alemanha. O Brasil é o 5º maior poluidor climático do mundo.


O que os responsáveis pela crise climática (não) estão fazendo: desde o início da era industrial, em meados do século 19, as emissões dos gases que estão mudando o clima têm aumentado progressivamente, junto com o crescimento no uso de combustíveis fósseis para geração de eletricidade, transporte etc. Porém esse crescimento é muito mais acentuado nas últimas décadas – coincidentemente, quando o mundo já tinha comprovado seu impacto sobre o clima e já negociava um acordo climático global. Mesmo depois da assinatura do Acordo de Paris, as emissões continuam crescendo.


As empresas, setores e países responsáveis pela crise climática não estão agindo com a urgência necessária para evitar as piores consequências da mudança do clima. Não custa lembrar: tudo que estamos vivendo é consequência de um aquecimento global perto de 1,5oC, que é a meta mais conservadora do Acordo de Paris. Ou seja, é este nível de eventos climáticos que teremos se tudo der certo. Por isso, a hora de agir é agora.

Propostas de ação contra a crise climática

Para a sobrevivência das sociedades humanas é essencial que façamos a transição energética para um mundo movido a energia renovável. A tarefa não é fácil, mas é urgente. Em novembro de 2023, 61 organizações da sociedade civil brasileira apresentaram para os negociadores da Convenção do Clima reunidos em Dubai, na COP28, um conjunto de propostas para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Transcrevemos abaixo as propostas: 
  • Criar um plano global para a eliminação gradual da exploração e queima de combustíveis fósseis, visando à redução de pelo menos 43% até 2030 e 60% até 2035 abaixo dos níveis de 2019, liderado pelos países desenvolvidos e petroestados. O plano deve prever o fim da prospecção e da exploração de novas reservas de combustíveis fósseis, a eliminação gradual da produção e a eliminação progressiva do financiamento público e dos subsídios ao setor de petróleo, gás fóssil e carvão.
  • Incluir neste plano um compromisso de não exploração de uma parcela significativa das reservas conhecidas. Reconhecendo seu papel histórico na crise climática, os países ricos e os petroestados devem ser os primeiros a abrir mão da exploração de petróleo, gás e carvão. 
  • Incluir também cronogramas de descarbonização por região/país que estabeleçam metas e ditem o ritmo de abandono dos fósseis.
  • Estabelecer zonas prioritárias de exclusão da proliferação dos combustíveis fósseis, protegendo ecossistemas críticos para a vida no planeta. A Amazônia deve ser uma destas zonas, tanto para a exploração onshore quanto para a offshore.
  • Criar mecanismos financeiros que ultrapassem significativamente os 100 bilhões de dólares prometidos pelos países ricos e que permitam aos países pobres e de renda média descarbonizar suas matrizes energéticas e se adaptarem aos impactos de um clima cada vez mais extremo.
  • Estabelecer um imposto global sobre os lucros inesperados do Big Oil e dos petroestados (países cuja economia é essencialmente centrada em combustíveis fósseis).
  • Implementar a meta de ao menos dobrar o financiamento para adaptação até 2025, aumentando significativamente a proporção, a quantidade, a qualidade e a acessibilidade do financiamento para adaptação e perdas e danos, considerando a aplicação mais eficaz de recursos financeiros no nível local.
  • Criar mecanismos de troca da dívida externa dos países pobres e em desenvolvimento por ações de mitigação e adaptação à crise climática.
  • Facilitar aos países pobres e em desenvolvimento o acesso às tecnologias de fontes renováveis de energia e de eficiência energética, liberando-as de patentes e outros entraves ao seu acesso.
Fonte: ClimaInfo



Entrevista com Martine Grael, que está fazendo história na SailGP


Minha sobrinha Martine Grael está fazendo história como a primeira mulher a comandar um barco na SailGP, uma das mais sofisticadas e competitivas modalidades da vela mundial. Com duas medalhas de ouro olímpicas na carreira, Martine agora é a pilota (timoneira) do Mubadala Brazil SailGP Team, a primeira equipe latino-americana na competição. Em junho, Martine e a tripulação brasileira conquistaram a primeira vitória na competição, na etapa de Novo York.

O resultado é surpreendente para um time que estreia na competição e ainda busca dominar o rápido catamarã F50 da liga, que veleja sobre foils e chega a mais de 100 km/hora.

"Foi um dia inesquecível para nossa equipe. Velejamos bem, com boas decisões táticas, comunicação afiada e muita concentração. A vitória na primeira corrida de domingo mostra que estamos no caminho certo. É um grande impulso para nós e para o esporte no Brasil", declarou Martine para o Globo Esporte.

Seguimos na torcida! Vamos Brasil!!!

Axel Grael


Entrevista para a Rádio Cultura Regional, de Dois Córregos - SP, cidade natal do meu pai.


Assista à entrevista

Tive a feliz oportunidade de ser entrevistado por Raul Cézar Ribeiro, do programa "Uma Prosa na Terrinha Querida", na Rádio Cultura Regional, de Dois Córregos, no interior de São Paulo.

Dois Córregos, hoje com cerca de 25 mil habitantes, é a cidade natal do meu saudoso pai, Dickson Melges Grael, nascido em 1922. Meu avô, Romão Grael, era dono de uma drogaria que se chamava "Drograel". Muito conhecido na cidade, foi prefeito (29/10/1930 a 20/09/1933) e dá o nome a uma das ruas principais da cidade. 

Romão Grael, prefeito de Dois Córregos (SP), de 1930 a 1933. Foto da Galeria de Prefeitos

Um detalhe interessante é que ser farmacêutico naquela época demandava muitos conhecimentos sobre a natureza, pois muitos medicamentos eram naturais e fitoterápicos. Por isso, meu pai dizia que o meu avô Romão era um profundo conhecedor de botânica. Daí posso ter herdado o meu interesse pelo meio ambiente e a trajetória ambientalista, a minha profissão de engenharia florestal e a minha atuação como prefeito. Sempre lamentei muito não tê-lo conhecido, uma vez que ele faleceu antes de eu nascer.  

Saiba um pouco mais sobre a história de Dois Córregos

Meu pai migrou muito jovem para Niterói e, com ele, vieram seus irmãos e depois a minha avó, Luiza, conhecida como Vó Nenê. Com isso, infelizmente, tivemos pouco contato com a cidade. Só estive lá uma vez e muito rapidamente. 

Apesar disso, desde cedo, aprendemos a amar Dois Córregos, graças às histórias e relatos do meu pai, dos tios e dos demais familiares e amigos dois-correguenses que nos visitavam. Lembro com saudades do jornal "O Democrático", que meu pai era assinante e nos trazia notícias da região. 

Dois Córregos (SP). Foto da internet.

A entrevista a Raul Cezar Ribeiro versou sobre a trajetória da família, sobre as conquistas esportivas dos meus irmãos Torben e Lars, sobre a nova geração de campeões com Martine, Marco, Nicholas, sobre a minha gestão como prefeito de Niterói (2021-2024), sobre temas da gestão pública, além de falar sobre sustentabilidade e clima.

Quero aqui agradecer a Rádio Cultura Regional por permitir esse passeio e reaproximação com Dois Córregos, mesmo que, dessa vez, de forma apenas digital. Que venham oportunidades de estar mais uma vez por aquelas terras.

Um abraço aos nossos parentes e a toda a população de Dois Córregos.

Axel Grael



quarta-feira, 2 de julho de 2025

LONDRES TRANSFORMARÁ OXFORD STREET EM RUA PARA PEDESTRES


Um número crescente de cidades no mundo está adotando medidas efetivas de mitigação e adaptação climática e as providências têm contado com o apoio da população, consultada sobre as iniciativas. É o caso de Paris (França), Amsterdam (Países Baixos), Copenhague (Dinamarca), Melbourne (Austrália). No Brasil, Niterói foi a primeira cidade a criar uma Secretaria Municipal do Clima e é considerada um dos melhores exemplos de políticas climáticas locais. 

Saiba mais em CIDADES NA TRANSIÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE E RESILIÊNCIA CLIMÁTICA: conheça a experiência de Niterói e de outras cidades 

No momento que a Europa passa por mais uma onda de calor, recebemos a mais nova notícia nesse sentido: a consulta pública feita pela Prefeitura de Londres para buscar apoio para transformar a Oxford Street - um dos pontos comerciais mais movimentados de Londres, em rua apenas para pedestres. A iniciativa segue o exemplo de outras cidades que estão retirando os automóveis das suas áreas mais afetadas pelas mudanças climáticas. 

As imagens abaixo foram divulgadas pela página CarFreeNews, no Instagram, e mostram como está hoje e como ficará, de acordo com o material de divulgação da Prefeitura:

Como ficará a Oxford Street. Crédito: Mayor of London´s Office 

Situação atual da Oxford Street. Foto Wikipedia.

Situação atual. Foto AFP via Getty Images

Assim como ocorreu em outras cidades, a consulta à população londrina mostrou o apoio à medida, com 2/3 dos 6 mil moradores que responderam favoravelmente à mudança. 

Outras medidas

Apesar do acerto da medida a ser adotada, considerando as imagens divulgadas pela prefeitura londrina, e comparando com as iniciativas das outras cidades, principalmente Paris, que decidiu radicalizar no esverdeamento da sua área central, o projeto de Londres parece ter menos arborização e poderá ter efeito de adaptação climática menos eficiente.

A preocupação com o aumento da temperatura está presente também de outras formas na administração da cidade. Visitando o site da prefeitura (www.london.gov.uk/) encontramos uma pesquisa que está sendo desenvolvida pelo governo local. Veja aqui

PARIS: SAEM OS CARROS E CHEGAM MAIS ÁREAS VERDES

Place de Catalogne. Photographer: Pierre Crom/Getty Images Europe

Paris é vista como um grande exemplo de sustentabilidade urbana e políticas climáticas, tendo sido aderente ao planejamento climático desde 2007, quando surgiu o primeiro plano climático, que teve o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, incluindo uma meta de redução de 75% entre 2004 e 2050 e uma meta de curto prazo de 25% até 2020. Posteriormente, em 2012, o plano recebeu uma atualização até que em 2018, aprovou a Plano de Ação de Qualidade do Ar, Energia e Clima. 

A cidade passou a enfrentar a supremacia do automóvel, fez uma grande aposta no transporte coletivo e no transporte ativo, investimentos que ganharam impulso durante a preparação para sediar os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. Desde 2020, trezentas ruas já foram fechadas para o automóvel, abrindo espaço para pedestres, ciclistas e áreas verdes. A prefeita Anne Hidalgo defende a ideia de uma cidade "bioclimática", com "plantas emergindo do teto dos prédios e nas praças públicas". Dois episódios recentes chamaram ainda mais a atenção para a determinação da cidade de Paris de alcançar a resiliência climática:

O primeiro episódio foi a aprovação pelo Conselho de Paris, em novembro de 2024, do Plano Climático 2024-2030, com a preocupação com as previsões de um aumento da temperatura da cidade nos próximos anos, com o trânsito e a poluição. Com a inspiradora palavra de ordem: "Mais rápido, mais justo e mais local", o plano declara guerra aos automóveis principalmente na área central da cidade, substituirá 60 mil vagas de estacionamento por espaços verdes, para pedestres e ciclovias, e também anunciou a implantação de 300 hectares de florestas urbanas até 2030, sendo que 10% já estará implantado até 2026. O objetivo é reduzir a poluição e enfrentar as ilhas de calor e os efeitos das ondas de calor que tem afetado a cidade de uma forma crescente. Também será possível evitar alagamentos, por permitir melhores soluções de drenagem e a infiltração no solo dos canteiros e áreas verdes.

O segundo episódio, foi no domingo, 23 de março, quando os parisienses aprovaram, num referendo, um salto a frente ainda maior: com 66% dos votos, os eleitores decidiram retirar o acesso dos carros em mais 500 ruas. O objetivo é fazer de 5 a 8 ruas por bairros para pedestres e áreas verdes e a população local dos bairros será consultada novamente para definir quais ruas. A prioridade é para as ruas onde existem escolas para incentivas o deslocamento dos alunos a pé ou de bike. A ideia geral é que a requalificação do espaço público aconteça numa proporção de 2/3 de áreas de calçadas e pavimentadas para 1/3 de áreas plantadas. Cada rua terá um orçamento médio de 500 mil euros.

A expectativa é que as novas árvores e áreas verdes reduzam a poluição do ar em 4%, além dos benefícios para a poluição sonora. Mas, a grande aposta é na retirada da circulação dos automóveis. Desde a época do Plano Haussmann, que modernizou Paris no século XIX, a prioridade da arborização urbana era para o embelezamento das ruas. A orientação do novo plano é para que haja uma maior diversidade de espécies e árvores que resistam à seca a ao calor intenso, oferecendo boa sombra para o conforto térmico.

Axel Grael


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Oxford Street will be pedestrianised as soon as possible, says London mayor

Sadiq Khan says regeneration plans for central London shopping street have received ‘overwhelming support’

Sadiq Khan said two-thirds of respondents backed the proposals to padestrianise Oxford Street. Photograph: Mayor of London/PA

Gwyn Topham Transport correspondent

Sadiq Khan has said he will pedestrianise Oxford Street “as quickly as possible”, after two in three respondents to a public consultation backed plans to ban traffic from London’s central shopping area.

The mayor’s office said there was “overwhelming public and business support” for the proposals to regenerate the street, whose lustre is slowly returning as department stores muscle back among the sweet and souvenir shops of dubious repute.

More than 6,600 businesses, individuals and groups responded to the formal consultation on plans announced last year that included full pedestrianisation of a 0.7-mile strip west from Great Portland Street; improving the area; and allowing street cafes and outdoor events.

Khan said: “Oxford Street has suffered over many years, so urgent action is needed to give our nation’s high street a new lease of life.

“It’s clear that the vast majority of Londoners and major businesses back our exciting plans, so I’m pleased to confirm that we will now be moving ahead as quickly as possible.”

The Labour government has said it will approve a mayoral development corporation (MDC) to push through plans, after previous attempts to pedestrianise the street were knocked back by Westminster city council. An MDC could now be established in early 2026, including representation from the council, which even now under Labour control has opposed the scheme.

Cllr Adam Hug, the leader of the council, said: “While the mayor’s formal decision today was not the council’s preferred outcome, it is far from unexpected, and it is now important for Oxford Street’s future to move forward together.”

He added that since 2022 the street had “roared back to life after the pandemic” and said the council would work with Khan to see it “reimagined” in a way that worked for visitors, shoppers and residents.

Oxford Street is already largely restricted to general traffic but is a key route for London buses and taxis. Steve McNamara, the general secretary of the LTDA, which represents black-cab drivers, thought the plans would worsen congestion in the capital. “Putting this traffic down surrounding streets will cause chaos – we’re already Europe’s most congested city, maybe we’ll now get the world title,” he said.

Detailed traffic proposals to reroute buses and ban all traffic will be released and consulted on later this year.

Khan added: “We want to rejuvenate Oxford Street; establish it as a global leader for shopping, leisure and outdoor events with a world-class, accessible, pedestrianised avenue. This will help to attract more international visitors, and act as a magnet for new investment and job creation, driving growth and economic prosperity for decades to come.”

Fonte: The Gardian


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