Espetáculo da natureza: arraia pula no mar, perto do Forte da Urca - Marcio Alves / Agência O Globo |
Com grande tráfego marítimo, local é uma das principais áreas de ocorrência de animais que passam pelo Rio durante migração
Rafael Galdo
RIO — A neblina do começo da manhã ainda cobria o mar quando uma arraia, de pelo menos um metro e meio de envergadura, deu as boas-vindas à tripulação. Saltou três vezes para fora d’água, diante de pesquisadores que navegavam a costa fluminense ontem. Um espetáculo da natureza em plena boca da Baía de Guanabara, que, a despeito da poluição e do tráfego pesado de embarcações, ainda se mostra essencial à fauna marinha, como constata a equipe multidisciplinar do Projeto Ilhas do Rio, que desde 2011 — após a criação do Monumento Natural das Ilhas Cagarras — estuda e monitora a unidade de conservação e seu entorno, desde as Ilhas Maricás, em Itaipuaçu, às Ilhas Tijucas, na Barra.
— Para nossa surpresa, observamos que a boca da Baía é uma das principais áreas de ocorrência de animais, tanto os que vivem no nosso litoral, como arraias e golfinhos, quanto os que estão migrando para outras regiões, como as baleias jubarte — afirma a bióloga Liliane Lodi, coordenadora das pesquisas sobre cetáceos no projeto.
Nesta quinta, ela embarcou com sua equipe, na Urca, rumo a ilhas das cidades do Rio e de Niterói, na tentativa de avistar as jubartes. Nesta época do ano, desde junho, essas gigantes — que podem medir mais de 15 metros e pesar 40 toneladas — passam pelo Rio, vindas das águas geladas do Atlântico Sul, para se reproduzirem nas temperaturas mornas do Nordeste brasileiro, sobretudo em Abrolhos, na Bahia. Um dos objetivos de sua pesquisa é justamente identificar que áreas as baleias frequentam no Rio, com o intuito de traçar prioridades de conservação.
Diversas aves também frequentam o espaço - Marcio Alves / Agência O Globo |
Na rota de ontem, a pesquisadora deu azar. Nenhuma baleia foi avistada. Mas Liliane conta que este ano, assim como já tinha ocorrido em 2016, as baleias estão se aproximando mais do Rio, por motivos que ainda são estudados. Nesta temporada, num único dia foram vistos mais de 40 borrifos no mar, que são os sinais que os pesquisadores buscam para saber que elas estão por perto. No último dia 19 de julho, duas jubartes faziam acrobacias perto do Pão de Açúcar, próximo de onde as arraias se exibiam na manhã de ontem.
— Toda essa vida na entrada da Baía faz com que precisemos estabelecer medidas para proteger esta área. Uma das mais imediatas seria a redução da velocidade das embarcações que trafegam pela região. Além disso, cada um tem que fazer sua parte, porque a quantidade de lixo, principalmente o plástico, é enorme. Duas vezes, chegamos a ver golfinhos filhotes com sacos agarrados na cabeça. Foi uma imagem muito triste — diz Liliane.
A AMEAÇA DO PLÁSTICO
Para ela, a recente proibição dos canudos no Rio foi um avanço. Mas a bióloga lembra que muitos outros materiais plásticos que poderiam ser evitados pela população continuam chegando ao mar. Mesmo quando transformados em micropartículas, esses resquícios continuam prejudicando a saúde de peixes e mamíferos aquáticos, como as baleias.
— Se as jubartes, por exemplo, se sentirem ameaçadas por essa poluição, elas podem mudar a rota, e vamos perder esse espetáculo da passagem delas perto do Rio — alerta.
Principal vilão, o plástico também é um risco para as aves, que são abundantes na região. A Ilha Redonda, por exemplo, é o segundo maior ninhal de fragatas no Brasil, com cerca de 5.500 indivíduos. E a Ilha Cagarra é o lar dos atobás marrons.
Fonte: O Globo
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