domingo, 3 de janeiro de 2016

Em entrevista ao O Globo Niterói, prefeito Rodrigo Neves analisa a conjuntura e faz projeções para 2016


‘Tenho desconforto com o PT’, diz Rodrigo Neves

Prefeito deixa em aberto possibilidade de trocar de partido, mas evita fazer críticas a Dilma e Cunha

Por Igor Mello

Prefeito fez duras críticas ao ex-secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto, seu maior rival - Divulgação/Prefeitura de Niterói


NITERÓI - Sentado em seu gabinete, no sexto andar da sede da prefeitura, no Centro, Rodrigo Neves mostra desconforto ao falar de política. Dono de uma ampla e diversificada base de apoio — que, como ele mesmo destaca, vai do PCdoB ao DEM —, escolhe as palavras antes de cada pergunta, tentando não se comprometer com nenhum aliado. A postura cautelosa dá lugar a um discurso confiante ao defender as realizações de seu governo, que promete atravessar sem sobressaltos um 2016 problemático na economia. Já ao tratar do caos na Saúde do estado, profere palavras duras contra o principal adversário político, Felipe Peixoto, mas absolve o governador Luiz Fernando Pezão, um de seus grandes aliados.

Como foi enfrentar um ano de crise econômica como 2015?

Em meados de 2014, já com uma análise das dificuldades que teríamos no ano seguinte, estruturamos algumas medidas para a travessia de 2015. As principais foram a modernização da Dívida Ativa e a implantação do Programa de Recuperação Fiscal (Refis) de Niterói. Elas permitiram à prefeitura viver um contexto completamente distinto da grande maioria das prefeituras do Rio e do próprio governo estadual. Chegamos ao fim de 2015 honrando os repasses de fornecedores e pagando os salários em dia. Governei nossa cidade quatro anos em crise: os dois primeiros anos pela herança pesada da administração anterior e os dois últimos pela crise do estado e da União.

Muitos economistas projetam que 2016 será um ano ainda mais difícil no que diz respeito à economia. Até onde essas medidas garantem que os serviços públicos funcionem sem transtornos para a população?

Trabalhamos com um cenário conservador, de agravamento da crise fiscal, sobretudo do estado do Rio. Estruturamos várias medidas necessárias para a travessia, com segurança, de 2016. Destaco o acesso do município ao Fundo Judiciário, que vai permitir obtermos pelo menos R$ 35 milhões para o pagamento prioritário de aposentados, pensionistas e precatórios. Também foi aprovada a lei da securitização da Dívida Ativa, o que vai nos permitir lançar propostas ao mercado. Já há várias instituições financeiras interessadas.

Como o senhor vê a situação do estado neste momento? Até que ponto a crise é responsabilidade do governador Luiz Fernando Pezão?

O que me parece é que há uma conjunção negativa de fatores, com a queda abrupta do preço do barril de petróleo, a redução da atividade econômica da cadeia do petróleo e a reduzida capacidade de endividamento do estado, em função de já ter captado recursos em anos anteriores para investimentos como os do Arco Metropolitano e do Maracanã. Isso comprometeu a margem fiscal para novos financiamentos. Há uma conjunção de fatores que fragilizam muito a gestão do estado. Em alguns setores, notadamente na Saúde, além da crise, há um evidente problema de gestão e competência.

Por quê?

Em vez de reduzir os cargos comissionados nesse momento de crise, eles foram ampliados. Os gastos com custeio e terceirizações também foram ampliados. Houve uma politização exagerada da gestão da Saúde. Isso criou um problema sistêmico. Não foi em uma ou outra unidade, não. Toda a rede estadual de Saúde entrou em colapso. No caso da Saúde, há prejuízos graves a Niterói.

O atendimento nos hospitais municipais foi prejudicado?

Reabri a emergência do Getulinho, o Mário Monteiro e várias unidades básicas. Mas o fechamento das unidades estaduais em Niterói e municípios vizinhos está prejudicando o atendimento aos niteroienses. Estamos chegando este mês a um número espantoso de quase 50% de pacientes de outras cidades na rede municipal de Niterói. Estou formalizando, em janeiro, o relato dessa situação ao Ministério Público, porque fizemos o dever de casa e o atendimento ao niteroiense não pode ser prejudicado pela falta de competência da Secretaria estadual de Saúde.

Diante desse desgaste vivido pelo Felipe Peixoto (que esta semana entregou o cargo de secretário estadual de Saúde), como o senhor vê o quadro para a eleição deste ano?

Eu vou me concentrar na eleição no segundo semestre. Temos muitas coisas a entregar e uma crise a enfrentar.

Mas o senhor tem feito uma série de eventos públicos para anunciar apoios, como os feitos ao PMDB e ao PPS. Essas articulações não visam à eleição?

A base já está formada. Eu tenho dito que é fundamental, nesses momentos de crise, a união para além dos interesses pessoais, partidários e ideológicos.

Nas pesquisas feitas até aqui, o senhor vai muito melhor quando seu nome não é associado ao PT. Isso não é uma motivação para mudar de partido?

Acho que meu comportamento tem mostrado que meu partido é Niterói. Evidentemente tenho desconforto (com o PT). A minha maior preocupação é não passar a ideia de que poderia agir por oportunismo eleitoral. Isso é uma questão menor porque temos que aguardar a própria evolução do quadro nacional. Foi muito importante, apesar de todos os problemas, esse ambiente de diálogo e união entre os três níveis de governo. Tenho que ter muita responsabilidade quando tomar posições com relação a essa questão partidária.

E como o senhor vê a situação da presidente Dilma, com a ameaça de impeachment?

Tenho na minha base de apoio partidos que são a favor do impeachment, como PPS, Solidariedade e DEM, assim como há na oposição outros que são contrários ao impeachment, como o PDT e o PSOL. O mais importante é que haja diálogo, porque a impressão que a gente tem é que Brasília se desconectou do Brasil real. Esse ambiente de desentendimento entre Executivo e Legislativo está prejudicando profundamente o país. Acredito que o maior erro da presidente foi não ter deixado claro na campanha a situação real das contas do país. O ajuste fiscal é necessário, mas é imoral e completamente desproporcional essa taxa de juros, que inviabiliza completamente a atividade econômica.

E a atuação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?

(Risos) Eu acho que já falei demais sobre assuntos nacionais. Estou muito concentrado na gestão da prefeitura desde o primeiro dia após a vitória na eleição de 2012.

Fonte: O Globo Niterói


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