terça-feira, 10 de junho de 2014

LARS GRAEL E AXEL GRAEL: visões sobre a Baía de Guanabara


RECUPERAR A FÉ NA DESPOLUIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA

Meu querido irmão Lars Grael, velejador medalhista olímpico, militante da causa do saneamento e do esporte como agente das transformações sociais (leia o excelente texto "Por um Brasil Olímpico"), produziu e divulgou em seu site mais um bom texto que reproduz a sua opinião sobre um tema da maior importância: a despoluição da Baía de Guanabara.

No texto, Lars sintetiza a sua visão de usuário cotidiano da Baía de Guanabara ao longo de uma vida inteira e oferece críticas e sugestões com relação à realização das provas de vela dos Jogos Olímpicos de 2016 nas suas águas.

Lars é muito claro em suas preocupações com o andamento do programa de despoluição, mas com relação ao exagero de certas críticas, o velejador "baixa a bola" e racionaliza o debate:

"Em relação a alguns depoimentos de estrangeiros sobre o local em veículos internacionais, acredito que há certo exagero. Concordo que as águas da Baía de Guanabara estão poluídas, com forte odor, contaminação, coloração repugnante e com vários detritos flutuantes. Mas é exagero dizer que não se pode encostar na água. Até hoje não tivemos nenhum registro de algum velejador que tenha sido contaminado ou contagiado por alguma doença oriunda das águas sujas da Baía de Guanabara".

A minha única divergência com a opinião de Lars é quando ele defende que as competições de vela deveriam ir para Búzios. Além de não ser mais viável a transferência - a esta altura -, creio que a hora é de pressionar para que se garanta o máximo de recuperação até 2016 e o máximo de legado para a Baía de Guanabara, mesmo que a meta original não seja mais atingível.

Para garantir este legado, o primeiro problema a se superar é a falta de credibilidade de uma promessa feita ao mundo por ocasião da candidatura olímpica carioca e que, hoje, até o prefeito da cidade, a ministra do Meio Ambiente e o secretário estadual do Ambiente reconhecem que não acontecerá a despoluição conforme prometido.

Diante do descumprimento do compromisso ambiental olímpico (portanto as críticas internacionais, mesmo quando exageradas, são legítimas), a única resposta possível ao mundo é apresentar uma agenda clara e confiável do que será feito e, acima de tudo, mostrar o compromisso pela continuidade dos trabalhos de despoluição no período pós-olímpico. Ou seja, admitir que não fizemos, mas que vamos fazer. Se assim não procedermos, colocaremos em dúvida o compromisso com a despoluição e nos desmoralizaremos.

Continuidade: aí está a minha grande preocupação. Mais do que os avanços possíveis até 2016, penso no futuro da Baía de Guanabara no "day-after" das Olimpíadas.

Lembro-me bem da "ressaca" pós-Rio 92. Após uma verdadeira "overdose" sobre o tema ambiental (todos eram ambientalistas desde pequenininhos) e da badalação do tema da sustentabilidade (uma novidade na época), veio uma contraofensiva. Ambientalistas receberam a alcunha de "ecochatos" e tivemos episódios como o governador do Amazonas Gilberto Mestrinho, que fez sucesso distribuindo motosserras para pobres e manipulados ribeirinhos da região. Até hoje convivemos com esse triste "legado". O exemplo disso é a força da bancada anti-ambientalista no Congresso Nacional.

Teremos uma ressaca pós-olímpica? A despoluição da Baía de Guanabara sofrerá os efeitos colaterais? Não podemos permitir que isso aconteça e a única forma de prevenir é construir o "day after" agora, quando a Baía de Guanabara está no foco.

E só há uma única forma de afastar mais essa derrota para a Baía: apresentar imediatamente um plano de ação convincente e eficaz de medidas até 2016 e medidas pós-2016. E apresentar um mecanismo independente de regulação pública e um modelo de governança realmente participativo que garantam a transparência e a consequente credibilidade necessária para que a sociedade volte a acreditar que despoluir a Baía de Guanabara é um sonho atingível.

Recuperar o passivo brasileiro no saneamento requer investimento e um modelo institucional mais eficaz. A história recente no Brasil mostra que o dinheiro não tem sido o maior problema: existem fontes em bancos multilaterais (BID, Banco Mundial, etc), recursos estes que foram acessados pelo RJ para o PDBG e agora o PSAM. E as verbas do PAC para o saneamento têm sobrado nos cofres federais.

Então a regulação é a chave! O Brasil só avançará no saneamento quando houver um sistema eficiente de regulação, capaz de romper as "caixas-pretas" em que se tornaram as empresas estatais de saneamento pelo Brasil afora. E a regulação independente é a solução para isso. Foi isso que fez a diferença em Portugal. Em 20 anos, saíram de uma "realidade brasileira" (saneamento precário, com rios, estuários e praias poluídas) para uma realidade verdadeiramente europeia. Vejam os rios urbanos de Portugal como estão agora!

É isso que salvará os nossos corpos hídricos e permitirá que a Baía de Guanabara seja finalmente despoluída.

Axel Grael


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TEMOS QUE ENCARAR A DESPOLUIÇÃO DA BAÍA DE GUANABARA DE FRENTE

Lars Grael
(www.larsgrael.com.br)



Desde que o Rio de Janeiro se candidatou para receber os Jogos Olímpicos de 2016, temos alertado sobre a poluição na Baía de Guanabara e a pretensão de despoluí-la. Temos uma larga experiência olímpica, além de velejarmos frequentemente na raia da próxima Olimpíada. Sabíamos que a total despoluição das águas da Baía não aconteceria. Com o passar do tempo, as autoridades falaram em 80% e agora já se fala em 60%.

Não podemos negar que há obras em curso, é só observar o local. Essas alterações e ações podem até chegar a melhorar o atual quadro, mas é algo muito pequeno. Apenas o recolhimento do lixo das águas da Baía não é uma solução para o grave problema que enfrentamos. Isso é somente algo paliativo e muito pouco diante da real situação. Hoje, a Baía de Guanabara está extremamente poluída e vínhamos alertando sobre isso. Mas o que conseguimos perceber é que só estão empurrando o problema para frente.

E é importante deixar claro que não estamos apenas criticando, também demos sugestões. Sugerimos algumas medidas para as autoridades e responsáveis. A nossa posição é de antecipar um desgaste, que, inclusive, já está acontecendo com todas essas matérias de repercussão nacional e internacional.

Em relação a alguns depoimentos de estrangeiros sobre o local em veículos internacionais, acredito que há certo exagero. Concordo que as águas da Baía de Guanabara estão poluídas, com forte odor, contaminação, coloração repugnante e com vários detritos flutuantes. Mas é exagero dizer que não se pode encostar na água. Até hoje não tivemos nenhum registro de algum velejador que tenha sido contaminado ou contagiado por alguma doença oriunda das águas sujas da Baía de Guanabara.

Junto com outros atletas experientes na vela, apresentei a raia de Búzios como alternativa para as disputas da modalidade nos Jogos do Rio. O local tem ótimas condições de mar e vento e para a prática da vela. A maior dificuldade talvez seria o fato de que Búzios não ter uma marina, porém, a Baía de Guanabara também não. Ou seja, em qualquer um dos lugares teriam que ser realizadas obras com esse fim. Porém, um complicador, depois de tanto tempo, pode ser a demora em se tomar a decisão. Creio que o tempo para se mudar as regatas de local já tenha passado. A maioria das equipes que vem para o Rio já fechou suas bases e também já está realizando estudos técnicos sobre a Baía de Guanabara. Mudar tudo agora ficaria complicado e seria radical criar toda uma logística neste paraíso do litoral Fluminense.. Contudo, negar o problema é ainda mais radical e, com certeza, a pior solução.

Em outros Jogos Olímpicos, o palco das competições de Vela foram escolhidos não pela proximidade do epicentro dos Jogos, mas pelo critério de melhores competições para a prática deste esporte.

Exemplo de México 1968 (com a Vela em Acapulco); Munique 1972 (Kiel); Montreal 1976 (Kingston); Moscou 1980 (Tallin); Los Angeles 1984 (Long Beach); Seul 1988 (Pusan); Atlanta 1996 (Savannah); Pequim 2008 (Quindao); Londres 2012 (Weymouth).

Afirmam em tratar saídas de esgoto nas proximidades das raias de regata. Não resolverá, pois, a Baía é dinâmica e o esgoto despejado in natura em vários municípios da Baixada Fluminense aonde a taxa de saneamento é próxima de zero, chega as raias de competição através do movimento das marés.

Esta poluição interfere também nas águas de Copacabana, palco das provas de Maratona Aquática e natação do Triatlo olímpico. A escolha do horário das provas próximos do final do ciclo da maré enchente, será uma das soluções.

A crítica precisa ser construtiva. União de sociedade, ambientalistas, esportistas e todos os níveis governamentais em favor do bem comum: seriedade, execução e resultados. Temos que unir todos os envolvidos para mitigar a poluição. Qualquer avanço é válido porque ficará como legado das Olimpíadas no País. O que temos que fazer é encarar o problema de frente. Negar a existência do problema e afirmar que as águas da Baía já se encontram acima dos padrões internacionais, é faltar com a verdade, O nosso objetivo é contribuir, e oferecer nossa experiência, com conhecimento de causa. Temos que fechar um pacto de compromisso que estabeleça metas para a melhoraria da Baía de Guanabara, e proporcionar ao País, pelo menos algum legado dos Jogos Olímpicos 2016.

Precisamos de um pacto pela Baía de Guanabara. Pacto entre a sociedade, municípios, estado do RJ e Governo Federal. Vejamos a solução adotada em Chesapeake Bay através de uma autoridade responsável pela baía ("bay authority"), que já foi poluída. A Baía de Chesapeake banha quatro estados americanos, entre eles o estado de Maryland, que coincidentemente é estado parceiro do Rio de Janeiro há mais de 50 anos, através da organização Companheiros das Américas. Graças a esta parceria foi assinado o histórico convênio entre os EUA e o Brasil para a cooperação para a despoluição da Baía de Guanabara.

Lars Grael


Fonte: Blog do Lars Grael


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