Cidades Verdes
Experiências brasileiras mostram na prática que telhados verdes podem trazer vantagens como a diminuição da temperatura do ambiente urbano e dos gastos com energia, além de estimularem um consumo mais saudável e sustentável.
Por: Isabelle Carvalho
Uma cidade viva: vidro e concreto sob esplendorosa cobertura verdejante. Não estamos falando de um mundo apocalíptico onde a natureza tomou de volta as cidades, mas de uma tendência internacional que começa a aparecer no Brasil: os telhados verdes. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) observou a eficiência da medida para reduzir a temperatura em edifícios e prevê benefícios para o ambiente das grandes cidades com sua ampla adoção. No Rio de Janeiro e em São Paulo, até shoppings estão começando a adotar a tecnologia.
Grosso modo, os telhados verdes são uma forma de criar áreas verdes na cobertura de casas, prédios ou outras edificações. Eles vêm se tornando populares em várias cidades da Europa e dos Estados Unidos, onde o governo oferece isenção ou redução de impostos para quem os utiliza. Nesses países mais frios, eles são usados como isolantes térmicos, impedindo a saída do calor das habitações. No Brasil, onde as temperaturas são mais altas, já é possível observar uma tendência à sua utilização em alguns lugares, mas com o objetivo oposto: criar um ambiente urbano mais fresco e agradável.
Telhados verdes nas ilhas de Faroe, arquipélago localizado entre a Escócia e a Islândia, são utilizados para impedir a saída do calor. (foto: Erik Christensen/ Wikimedia Commons – CC BY-SA 3.0) |
Uma pesquisa realizada pelo geógrafo Humberto Catuzzo em seu doutorado realizado na Universidade de São Paulo (USP) comparou dois edifícios da capital paulista, ambos no centro da cidade. O Conde Matarazzo possuía um telhado verde intensivo (composto de vegetação arbórea e arbustiva), enquanto o Mercantil/Finasa tinha um telhado comum de concreto.
Nas coberturas dos dois prédios, foram instalados sensores responsáveis por medir a temperatura e a umidade do ar pelo período de um ano. Os resultados, segundo o pesquisador, deixam clara a eficácia dos telhados verdes como uma forma de melhorar a qualidade do ambiente urbano.
“A cobertura verde foi capaz de diminuir a temperatura relativa do ar em 5°C, além de aumentar a umidade relativa do ar em 16%”, conta Catuzzo. “A quantidade de radiação luminosa e térmica refletida para a atmosfera também diminui, pois a vegetação absorve parte dos raios solares; já o concreto aquece rapidamente e emite muita radiação, que fica presa na atmosfera, aumentando a temperatura e provocando ilhas de calor”, continua.
Catuzzo: “A cobertura verde foi capaz de diminuir a temperatura relativa do ar em 5°C, além de aumentar a umidade relativa do ar em 16%”
Catuzzo diz que esse tipo de cobertura também reduz a temperatura interna do prédio, o que pode levar à diminuição do gasto de energia com ar condicionado, por exemplo. Além disso, uma adoção ampla de telhados verdes poderia ajudar até na prevenção de enchentes, segundo o geógrafo, já que a vegetação absorveria uma parte da água da chuva, que hoje escorre diretamente dos prédios de concreto para as ruas.
“Além de todas essas vantagens, o telhado verde pode se tornar um corredor ecológico, servindo como ponte para a passagem de espécies como sabiás e bem-te-vis que habitam parques ou outras áreas naturais situadas ao redor das cidades”, completa.
A instalação de um telhado verde é bem fácil e muitas empresas podem ajudar nesse processo. Porém, alguns cuidados devem ser tomados antes se chegar a essa decisão, como fazer um cálculo para descobrir se o prédio irá aguentar o peso adicional. O custo gira em torno de R$150 por m² para telhados extensivos (compostos por gramíneas). “Com telhados intensivos e semi-intensivos (compostos por arbustos e gramíneas), o preço é um pouco mais alto, devido aos gastos com impermeabilização, irrigação e manutenção constantes”, comenta Catuzzo.
Fazenda vertical
Apesar dos custos altos, o telhado verde vale muito à pena, por exemplo, para o Shopping Eldorado, localizado na cidade de São Paulo. O projeto começou há 30 meses e transformou 2.500 m² da cobertura do estabelecimento em plantações. “Plantamos tomate, pimentão, alface, feijão, couve, hortelã, menta, e tudo é usado pelos funcionários”, conta Rui Signori, engenheiro agrônomo responsável pelo projeto.
A hortelã e a menta plantadas enchem garrafas térmicas de chá em todo o shopping e o feijão semeado será usado no Projeto Feijoada na Laje, que oferecerá um almoço feito com tudo que é plantado no telhado para os funcionários do shopping. Além de proporcionar esse contato entre o homem e a natureza, o projeto do telhado verde também reutiliza o lixo produzido na praça de alimentação como adubo para as plantações. “O resíduo orgânico vai para uma unidade que o transforma em composto orgânico, que funciona como adubo”, explica Signori.
Até o final do ano, o shopping pretende cobrir 6 mil m² do telhado com áreas verdes. “Além de melhorar a temperatura térmica interna, não teremos mais gastos com aterros, pois reciclaremos todo o lixo”, pontua.
Além do Shopping Eldorado, o engenheiro está envolvido em três outros projetos de telhados verdes na cidade do Rio de Janeiro, entre eles, o do Shopping Nova América e o do Boulevard Rio, ambos na zona Norte. No final da equação, os gastos parecem valer a pena, seja em países frios ou quentes: o telhado verde aparece como alternativa sustentável para nossas cidades, com vantagens tanto para seus habitantes quanto para a natureza.
Isabelle Carvalho
Ciência Hoje On-line
Fonte: Ciência Hoje On-Line
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