A Leucena leucocephala é uma espécie arbórea, de baixo médio a porte, originária da América Central. A partir da década de 1940, sua utilização foi estimulada em todo mundo, como uma opção de espécie forrageira, principalmente em regiões de clima árido, considerando a excepcional resistência da planta à seca. Por este motivo, chegou a ser conhecida como a " árvore milagrosa".
Na década de 1990, eu estive em Porto Rico e na Costa Rica. Lá, além das qualidades forrageiras, pesquisadores exaltavam as qualidades da Leucena para a produção de lenha e biomassa. Durante um simpósio floretal em San Juan, assisti vários palestrantes apresentarem resultados promissores do aproveitamento da Leucena. A espécie era muito citada como espécie a ser utilizada em sistemas agro-silvo-pastoris e ainda é bastante recomendada (vide exemplo).
No Brasil, chegou a ser recomendada como espécie a ser utilizada para a recuperação de áreas mineradas e outros solos degradados. Pelo seu rápido crescimento e capacidade competititva, foi também recomendada como uma espécie a ser utilizada em projetos de reflorestamento de encostas, onde se enfrentava o problema do capim-colonião, como é o caso da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Como se sabe, o capim-colonião é o grande vilão das encostas por ser altamente comburente, promovendo a propagação de incêndios que acabam afetando áreas com vegetação natural, agravando o problema de perda de cobertura florestal e, consequentemente, impactando a biodiversidade, a estabilidade de encostas, o microclima urbano e ameaçando áreas reflorestadas ou benfeitorias.
Com o seu rápido crescimento, a Leucena forma dossel (conjunto de copa das árvores) em pouco tempo, produzindo o mais eficiente inimigo natural do capim-colonião: a sombra!
A espécie conta com um eficiente e agressivo mecanismo de dispersão. Suas vagens, produzidas em abundância, contém um grande número de sementes que são lançadas naturalmente no entorno da árvore-mãe e, assim, ocorre a colonização do seu entorno.
Ocorre que, justamente por seu alardeado vigor e capacidade de adaptação, a espécie acabou se proliferando de forma descontrolada e se tornando uma espécie invasora, competindo com a vegetação natural de diversos biomas e se tornando um grande problema.
Não são poucos os registros dos problemas ecológicos causados pela Leucena. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Leucena entrou na lista das 100 piores espécies invasoras do mundo. Hoje é reconhecida como invasora agressiva e causadora de perda de biodiversidade, com ameaça destacada às ilhas oceânicas, como Havaí, Galápagos, Fiji, Indonésia, Filipinas e muitas outras. O ICMBio estuda atualmente formas de controlar a propagação da espécie na Ilha de Fernando de Noronha e vários estudos referem-se aos problemas causados em unidades de conservação, como é o caso do Parque Municipal de Santa Luzia, em Uberlândia (MG).
Controle da Leucena
Para reverter o problema, só uma solução: erradicar a Leucena onde o seu crescimento ofereça risco às espécies nativas.
Conforme a matéria do O Globo Niterói (abaixo), de autoria do experiente jornalista Paulo Roberto Araújo, de extensa contribuição à causa ambiental, a Leucena já invade áreas de restinga, e outros ecossistemas. A Leucena já é vista pela Prefeitura de Niterói como um problema na cidade e, como afirma a secretária Dayse Monassa, equipes da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SECONSER) têm se dedicado a promover a erradicação da espécie. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS) também tem desenvolvido operações de erradicação da Leucena nas restingas e áreas protegidas de Niterói.
Como bem relatou o técnico da SECONSER, Alexandre Moraes, que atua na gestão da arborização urbana, muitas vezes, moradores não compreendem a ação da Prefeitura e a confunde com desmatamento. O trabalho de informação e esclarecimento por parte das equipes da Prefeitura é essencial para que a comunidade seja esclarecida quanto aos motivos da ação da Prefeitura.
Assim promove-se a participação da comunidade, sem desestimular a ação vigilante e cidadã daqueles que mantêm-se atentos a qualquer ato contrário às áreas verdes de Niterói.
Axel Grael
Engenheiro Florestal
Vice-Prefeito de Niterói
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Planta considerada praga, leucena se espalha por Niterói e ameaça vegetação nativa
As leucenas estão em toda a Estrada da Cachoeira e até em jardins públicos do Largo da Batalha, misturadas aos flamboyants - Marcos Tristao / Agência O Globo |
Botânica da UFRJ recomenda erradicação. Prefeitura diz que combate já é feito em São Francisco e Charitas
por Paulo Roberto Araújo
Considerada uma planta de 1001 utilidades e importada do México na década de 70 para alimentar o gado e ser usada no reflorestamento de encostas do Grande Rio, a leucena virou uma grande ameaça à vegetação nativa de Niterói. Ela pode ser encontrada em vários pontos da cidade e até mesmo em áreas públicas. Como seu efeito nocivo é pouco conhecido, a leucena é até protegida em áreas de preservação, como na restinga de Camboinhas: ela cresce rápido e é muito resistente à seca e ao fogo, e só não sobrevive em áreas de sombra.
Na restinga de Camboinhas, entre o calçadão e a areia da praia, as leucenas, que têm vagens com muitas sementes, está dizimando a vegetação nativa, principalmente nas proximidades dos quiosques. Em alguns locais, ela se mistura a amendoeiras e casuarinas, outras espécies exóticas que prejudicam a vegetação nativa, mas poucas pessoas sabem disso.
UMA ILUSTRE DESCONHECIDA
O jardineiro Djalma Silva, de 41 anos, que há dez anos cuida dos jardins dos condomínios do calçadão de Camboinhas, onde leucenas são usadas como cerca por alguns quiosques, diz que nunca ouviu que elas são uma praga:
— Mas, mesmo que soubesse que ela destrói as outras, nada poderia fazer porque não se pode tocar na vegetação de restinga. Se derrubarmos uma árvore, mesmo desse tipo, as pessoas vão chamar a polícia ambiental.
Jardineiro Djalma Silva não conhecia a leucena - Marcos Tristao / Agência O Globo |
A leucena pode chegar a dez metros de altura e continua dando brotos mesmo depois de cortada ou queimada. Suas vagens secas produzem sementes em abundância. Muitas leucenas foram plantadas na Estrada da Cachoeira, entre São Francisco e Jurujuba, para conter a encosta. Por isso elas predominam ao longo da via e se misturam aos bougainvilles em jardins públicos do Largo da Batalha.
Professora de Botânica da UFRJ, Tânia Wendt explica que desde 2011 a leucena está na lista de espécies exóticas invasoras e seu plantio é proibido, mas, segundo ela, não existem políticas públicas voltadas para o assunto e há muita desinformação. A planta chega a competir com a vegetação de mangue da Baía de Guanabara.
— É preciso erradicação total. Ainda assim, será necessário um trabalho com herbicidas, já que a planta é capaz de dar brotos mesmo depois de cortada. No Rio, o que me chamou mais a atenção é que esse problema afeta até os jardins tombados do Burle Marx, no Parque do Flamengo — lamentou a botânica.
A secretária de Conservação e Serviços Públicos de Niterói (Seconser), Dayse Monassa, reconhece o problema. Segundo ela, as equipes da prefeitura estão erradicando as leucenas em operações que também combatem outra praga urbana: a erva de passarinho. Dayse disse que o trabalho está sendo feito em São Francisco e Charitas e depois vai para a Região Oceânica.
— Já suprimimos leucenas adultas no Canal de São Francisco, mas em alguns bairros as equipes de parques e jardins são hostilizadas por moradores que não sabem que a espécie é invasora e precisa ser cortada. Além de invasora, ela é perigosa em vias públicas porque quebra com facilidade e passa a ser um risco para pedestres e veículos — alertou a secretária.
TRATADAS COMO INOCENTES
O biólogo Alexandre Moraes, da Seconser, disse que tem que dar uma longa resposta técnica aos moradores que tentam impedir o corte das leucenas:
— Esta árvore é o terror. Espalham-se com uma facilidade incrível. Quando mais suprimimos, mais elas aparecem.
Leguminosa com folhas pequenas verdes claras, flores esbranquiçadas em forma de pompom — lembram algodões um pouco maiores —, as leucenas produzem vagens com um tom castanho-escuro.
— A leucena é uma verdadeira praga, mas parece que os órgãos que cuidam da manutenção dessas áreas públicas, algumas delas tombadas, estão ignorando o fato e, por vezes, até oferecem podas e tratos culturais a essas árvores — concluiu Tânia Wendt.
Fonte: O Globo Niterói
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