segunda-feira, 27 de julho de 2015

EXPECTATIVAS PARA 2016



O triatleta Armando Barcellos, que participou das Olimpíadas de Sydney, em 2000, pede que os brasileiros deixem um pouco de lado a cultura de resultados e apoiem os atletas da casa
Foto: Lucas Benevides

Atletas niteroienses lançam suas apostas para as olimpíadas

Daqui a aproximadamente um ano, o Brasil irá torcer por diversos atletas nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Niterói será importante não só para receber os turistas que são esperados, mas também porque servirá de base para algumas delegações estrangeiras da vela. Porém, não é só isso. Desportistas nascidos e criados aqui estão no seleto hall de participantes da maior festa esportiva da Terra.

Alguns destes fazem parte de um círculo ainda mais fechado, o de medalhistas olímpicos. O iatismo, esporte no qual Niterói tem imensa história, lidera esse ranking, com 12 medalhas conquistadas. Esse número já seria suficiente para superar países como Uruguai, Venezuela, Peru, Armênia e Israel, por exemplo.

Esse sucesso não acontece por acaso. O município tem longa e rica tradição de produzir talentos esportivos. Exemplos não faltam. Zizinho, Leonardo e Gérson no futebol. Armando Barcellos, Fernanda Keller e Sandra Soldan no triatlo, Bruno Souza no handebol. Porém, se existe um esporte no qual o niteroiense é referência, é a vela. Vários atletas da cidade competiram e conquistaram medalhas em campeonatos mundiais, Pan Americanos ou Olimpíadas. Os nomes são muitos. Torben e Lars Grael, Ronaldo Seinft, Marcelo Ferreira, Isabel Swan, Clinio Freitas e Cláudia Swan são alguns.



E no clima de preparação para os jogos, nossos atletas demonstram um misto de otimismo e preocupação. Para Lars Grael, medalhista olímpico em 1988 e 1996 (Seul e Atlanta, respectivamente), a expectativa é a melhor possível. “O país terá uma exposição boa. Com certeza, irá mexer com a autoestima do povo brasileiro. Serão grandes emoções, não tenho dúvidas”, afirma o iatista.

A velejadora Isabel Swan, medalha de bronze em Pequim 2008, compartilha do otimismo, mas faz uma ressalva: “Sei que o comitê organizador está a mil por hora preparando os eventos-teste. Acho que a competição será importante, especialmente nesse momento conturbado que o Brasil vive, com a crise econômica e política”.

Já Bruno Souza – eleito o terceiro melhor jogador do mundo de handebol em 2003 e que participou dos Jogos de 2004 e 2008 –, e o iatista Clinio Freitas, medalha de bronze em Seul, em 1988, estão mais preocupados. “Espero que tudo o que foi planejado seja realmente entregue. A questão do transporte da população para o local dos jogos e o próprio deslocamento dos atletas até as arenas também me afligem”, diz Bruno. “Estou apreensivo com a finalização das obras”, afirma Clinio.

O velejador Marcelo Ferreira, com três medalhas no currículo (ouro em Atlanta 1996 e Atenas 2004, e Bronze em Sydney 2000) demonstra mais pessimismo. “No Brasil, tudo é sempre uma incógnita. Acabam deixando tudo para a última hora. Espero que tudo funcione e que a imagem do país, tão arranhada lá fora, possa melhorar”, reclama.

Pelo menos em termos da participação brasileira, todos eles concordam que deve ser muito boa. “Tenho certeza que os atletas irão conseguir ótimos resultados”, afirma Clinio.

O triatleta Armando Barcellos, que esteve em Sydney 2000, aproveita para pedir que o povo brasileiro deixe um pouco de lado a cultura de resultados e apoie os atletas da casa, independentemente da colocação que eles tiverem. “O que as pessoas não entendem é como é extremamente difícil chegar a uma competição dessas. Só estão lá os melhores do mundo. Por isso, respeito muito todos os participantes. Claro que seria ótimo que todos pudessem ganhar ouro, prata ou bronze. Mas se pararmos para pensar, são bilhões de pessoas em todo o planeta e somente 50, 60, ou, às vezes, nem isso conseguem chegar a uma Olimpíada. Todos já podem se considerar vencedores por terem chegado tão longe. Eu sei o quanto eles sofreram para isso”, enfatiza Barcellos.

Isabel e Claudia Swan: sobrinha e tia têm boas recordações da vila olímpica e das competições
Foto: Lucas Benevides

E quais seriam as apostas dos nossos atletas? “Eu arrisco dizer que o Isaquias, da canoagem, irá surpreender e subirá no pódio”, aposta Lars. Isabel já é mais conservadora em sua escolha: “Acredito muito no Arthur Zanetti. Ele é um exemplo a ser seguido por conta da dedicação nos treinos e sangue frio nas competições. Acho que ele irá trazer mais uma medalha”, aposta. E completa: “Torço muito também pela equipe feminina de vela. Espero que elas consigam nos surpreender. Além disso, as meninas do handebol, atuais campeãs mundiais, também têm tudo para conquistar esse título inédito”.

Marcelo Ferreira também acredita no sucesso das mulheres do Brasil. “Não vou apostar em um nome apenas, mas tenho a impressão que essa será uma Olimpíada feminina. As mulheres estão brilhando muito e conquistando cada vez mais títulos”, diz.

Sendo uma cidade vizinha à sede dos jogos, Niterói também deve ser bastante procurada por turistas, assim como aconteceu na Copa do Mundo de 2014. Claudia Swan, tia e madrinha de Isabel, e que participou da edição de Barcelona, em 1992, chama atenção para o fato de estarmos recebendo várias delegações estrangeiras, especialmente da vela. “Algumas equipes internacionais irão ficar em Niterói fazendo a aclimatação e treinando, será um momento importantíssimo”, enfatiza.

Bruno lembra, ainda, outro fator importante para a cidade: “Teremos a passagem da tocha olímpica por aqui e outros eventos pré-competição”. Armando prefere lembrar a tradição na formação de atletas de Niterói: “Essa cidade é mágica para os desportistas. Nossa geografia é privilegiada em comparação aos nossos vizinhos. Aqui, o longe é ir até o Centro. E mesmo assim, ele está a apenas dez minutos de bicicleta. Se morasse no Rio, teria que acordar de madrugada para treinar. Aqui, não. Consigo treinar às 7 horas. Somos privilegiados”.

Claudia concorda. “Niterói tem muitos atletas participando ou que já participaram de Olimpíadas. É um motivo a mais para torcermos”, afirma.

Segundo Lars, participar de uma Olimpíada é a realização de um sonho. “É coroar a carreira do atleta. É uma sensação de que se atingiu o topo da pirâmide. Digo isso porque nos campeonatos mundiais, por exemplo, você enfrenta os melhores atletas da sua modalidade, da mesma forma como ocorre nos jogos olímpicos. Entretanto, a Olimpíada é diferente, é simplesmente o maior evento da humanidade”, atesta.

Armando Barcellos resume bem a sensação: “Sem desmerecer minhas conquistas e recordes no Iron Man, mas participar de uma olimpíada é o máximo que o atleta pode almejar. É a luta de uma vida inteira”.

Para Claudia Swan, o evento esportivo ainda trouxe uma realização a mais. “A expectativa de entrar no estádio olímpico para a cerimônia de abertura junto com o restante do time foi de acelerar o coração. Ainda mais de mãos dadas com meu marido (o também iatista Clinio Freitas)”, revela.

E como seria a convivência entre os maiores esportistas do mundo, na Vila Olímpica? Lars define de maneira simples: “É a Disney World dos atletas. É uma coisa mágica, especialmente para quem sempre foi apaixonado por esportes como eu. Somente quando você anda pela Vila e encontra esses deuses do desporto mundial, passa a compreender a verdadeira magnitude do evento”.

Entretanto, Lars faz um alerta: “Esse alvoroço todo, encontrar todas essas personalidades que só se vê na TV pode causar, em alguns, um certo deslumbramento, uma perda do foco. Cabe à comissão técnica de cada esporte monitorar e evitar isso”.

Para Clinio, são três os momentos mais marcantes que um atleta pode ter em uma Olimpíada: “Conseguir chegar lá, participar do desfile e, claro, subir ao pódio. Felizmente, eu consegui as três logo na minha primeira participação. Sou realizado”.

Fazer parte de um espetáculo grandioso como esse também serve para que histórias curiosas sejam relembradas. “Um dia, estava almoçando na vila olímpica em Atenas e um rapaz pediu licença para sentar-se à mesa. Quando olhei, era o tenista americano Andy Roddick, mal consegui comer depois disso”, brinca Bruno.

Seja como for, o fato é que Niterói sempre foi e continuará sendo um celeiro de grandes talentos do esporte.

Para Clinio e Lars, a lembrança mais curiosa foi a mesma. “Em Barcelona, em 1992, a marina onde foi disputada a vela e o badminton eram os únicos esportes disputados dentro da Vila Olímpica. Assim, todos os esportes vinham nos visitar e desejar boa sorte. O próprio Rei Felipe da Espanha competiu na classe Soling. Essa experiência foi marcante”, contam.

Já Isabel diz que ficou impressionada com a variedade de comidas no restaurante. “Achei muito legal ter opção de várias partes do mundo. Assim, cada um podia escolher a melhor opção e não sentir falta da comida do país”, afirma.

Seja como for, o fato é que Niterói sempre foi e continuará sendo um celeiro de grandes talentos do esporte. A magia da maior festa do planeta estará bem perto de nossas casas. Novos heróis serão consagrados. Outros perderão seus reinados. Porém, nossa cidade continuará a ter sua história conectada com os jogos. Por toda a eternidade. Uma verdadeira potência olímpica!

Texto: Gustavo Roman

Fonte: Revista O Fluminense







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