domingo, 23 de junho de 2019

Projeto vai mapear cachoeiras e parques com grande potencial turístico em dez cidades da Baixada



Cachoeira dos Monjolos em Santo Aleixo Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo


A segurança é um dos temas centrais nos debates entre os idealizadores, que acreditam que o turismo pode promover transformações nesses espaços

Rafael Galdo

RIO — A trilha, no meio da Mata Atlântica, é caminho para poços de água cristalina e pequenas cachoeiras. Exibe espécies de árvores como camboatás e sapucaias, além de ser o lar de micos-leões-dourados, tucanos e saíras. Tamanha biodiversidade fica em Duque de Caxias, no Parque Municipal Taquara. E é uma das atrações mapeadas pelo projeto Baixada Verde, que pretende quebrar estigmas, como a violência, associados à região, revelando belezas ainda pouco exploradas para o turismo.

Nos dez municípios envolvidos no projeto, já foram identificadas mais de 150 áreas de grande potencial, que têm natureza preservada, apesar da imensa malha urbana, às vezes desordenada, do entorno. A ideia de dar à Baixada Fluminense o título de paraíso verde surgiu em 2017, numa reunião do Fórum Estadual de Secretários de Turismo (Fest-RJ). Desde então, a iniciativa ganhou a adesão do estado, de empresários e também de universidades.

— Temos lugares incríveis, muitos com mata nativa, mas que sempre foram deixados meio de lado. Os próprios moradores não conhecem ou não cuidam. Nosso intuito é resgatar esse pertencimento, gerar alternativas de renda e transformar a imagem negativa da Baixada — diz Mirian Rodrigues, vice-presidente do Fest-RJ, destacando que é um trabalho de médio a longo prazo.

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No começo deste mês, o governador Wilson Witzel publicou no Instagram uma foto do Parque Taquara, e deu visibilidade ao projeto. Só nesse recanto, perto de Santa Cruz da Serra, são 43 hectares de floresta. A Secretaria municipal de Meio Ambiente de Duque de Caxias, diz Celso do Alba, titular da pasta, enfrenta desafios, como conscientizar os visitantes a não deixarem lixo onde se divertem. Mas aposta no atrativo como opção de lazer e contemplação.

Na semana passada, a estudante Evelin Vitória, moradora do bairro Parque Paulista, levou o primo e amigos de São Paulo para conhecerem o Poço da Baleia, o de mais fácil acesso na área de conservação. Um dos jovens, Jaconias Santos, nunca tinha se banhado numa cachoeira:

— Não imaginava que houvesse um lugar tão bonito pertinho da cidade.

Paraíso do qual Valdeque Cândido Rocha é o guardião há dez anos. Nascido na Bahia e filho de mateiro, ele foi trabalhar no parque após se aposentar, aos 65 anos, e diz ter se reencontrado ali. Entrou para a faculdade de biologia, formou-se e, atualmente, aos 72 anos, alia os conhecimentos que herdou do pai aos ensinamentos da academia.

— Esse lugar é como se fosse minha casa. Num dos pontos mais altos, fica o Poço da Serpente. A queda d’água forma um escorrega. Desço nela até hoje. É show demais. Volto a ser criança — conta Valdeque, que conhece e explora cada palmo do parque, apesar de alguns trechos de trilha serem de dificuldade moderada.

O inventário dessas atrações está sendo realizado numa parceria do projeto com o curso de turismo do campus Nova Iguaçu da Universidade Federal Rural Fluminense (UFRRJ). A lista inclui áreas para esportes de aventura, como o Pico da Coragem, em Japeri. Há lugares de interesse geológico, como a Serra do Vulcão, em Nova Iguaçu. E mirantes, a exemplo do Morro do Pau Branco, em São João de Meriti.

Em Magé, as cachoeiras são estrelas da companhia, já disputadas, sobretudo, no verão. A Véu de Noiva, com seus 110 metros de queda, é presença certa na lista das mais bonitas do estado. Mas a de Monjolos, no distrito de Santo Aleixo, rivaliza em beleza.

Tinguá, objeto de desejo

A partir da área urbana, são cerca de dois quilômetros de estrada dentro da mata e mais 15 minutos de trilha. Ao se abrir uma clareira no verde, surge uma queda d’água de 45 metros, um poço de água transparente e pedras para se sentar, relaxar e apreciar a natureza.

Nova Iguaçu guarda outro tesouro da Baixada: a Reserva Biológica Federal do Tinguá, com seus 26 mil hectares. Ela é fechada para turismo ao público em geral. Sítios ao redor é que abrem suas portas à visitação. Mas há quem defenda que a reserva vire um parque nacional, com menos restrições do que as atuais.

— Só 5% do parque seriam voltados ao turismo, o restante ficaria para a pesquisa e conservação. Com o parque fechado, temos jovens da região que nunca sequer entraram na floresta — diz o ambientalista Hélio Vanderlei, da ONG Onda Verde, que desenvolve projetos socioambientais em Tinguá e acredita no potencial do Baixada Verde. — Mas não pode ser apenas um título. Tem que ser uma alternativa de desenvolvimento da região.

A segurança é um dos temas centrais nos debates entre os idealizadores do projeto, que acreditam que o turismo pode promover transformações nesses espaços. Em 2012, seis jovens foram mortos por traficantes a caminho de uma cachoeira no Parque do Gericinó, em Mesquita.

Na etapa atual do projeto, além de a Secretaria estadual de Turismo ter desenvolvido uma plano estratégico do Baixada Verde, os municípios se organizam para aplicar recursos do Ministério do Turismo.


Fonte: O Globo









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