sábado, 29 de junho de 2019

EDITORIAL DE O GLOBO: Bolsonaro trata questões ambientais com nacionalismo e bravatas





Viagem do presidente para reunião do G-20 mostra sua dificuldade de entender o problema

Editorial

Em no mínimo uma falha diplomática, o desembarque do presidente Jair Bolsonaro em Osaka, no Japão, para sua primeira reunião de cúpula do G-20, não será lembrado por algum aspecto positivo do Brasil. Pelo contrário.

Queiram ou não, o país tem sua imagem ligada ao meio ambiente, para o bem ou o mal. Com Bolsonaro no Planalto, para o mal, dado o discurso anticonservacionista adotado pelo presidente já na campanha eleitoral. O novo governo tentou atenuar esta postura, até porque Bolsonaro, depois da vitória, foi alertado: desdenhar cuidados com os diversos biomas se traduzirá em prejuízos às exportações brasileiras de alimentos, devido a boicotes que sofrerão, principalmente na Europa, onde a conscientização ambientalista evoluiu muito.

Provam isso referências feitas sobre a relação do Brasil com o meio ambiente, antes do desembarque de Bolsonaro, por dois participantes de peso do G-20 — a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Emmanuel Macron.

Bolsonaro respondeu de forma arrogante, inapropriada, à intenção expressa de Merkel de ter uma “conversa clara” com o presidente brasileiro sobre o tema, e ao alerta de Macron de que a França não assinaria o tratado comercial longamente negociado entre o Mercosul e a União Europeia, fechado ontem, caso o Brasil saia do Acordo do Clima, firmado em Paris. Consta que o Brasil aceitou o pré-requisito francês, para que o tratado não naufragasse no final dos entendimentos.

É nesses encontros de cúpula que governantes estabelecem relações pessoais entre si, de grande relevância para a diplomacia, e tomam contato direto com fatos a que nem sempre dão o devido valor quando vistos de seus países de origem.

A resposta de Bolsonaro mostra que esta viagem poderá fazer bem a ele e a seu governo. O presidente, num arroubo nacionalista infantil, disse que o Brasil tem exemplos para dar a Alemanha sobre meio ambiente. Faltaram ao presidente informações sobre o crescimento alemão no uso de fontes limpas de energia, a eólica e a solar.

Ainda tomado pela inspiração de forte sentimento nacionalista, Bolsonaro soltou a conhecida bravata: “o presidente que está aqui não é como alguns anteriores, que vieram para ser advertidos por outros países”. Repetiu Lula e ministros petistas. Os extremos se encontram.

Se a comitiva presidencial voltar do Japão ao menos com dúvidas sobre a ideia de um liberou geral no meio ambiente, já terá valido a longa viagem.


Fonte: O Globo








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