Eu sempre conto isso em minhas conversas sobre o esporte. Deixei de remar após ser campeã estadual porque os meus heróis esportivos, grandes remadores brasileiros, na ocasião, dormiam na garagem de barcos do clube. Não havia investimento “saudável” no esporte de alto-rendimento, imagine então se haveria algum investimento na base. Afoguei, na Lagoa Rodrigo de Freitas, todas as minhas intenções de seguir para o alto-rendimento, fui estudar.
Eu e milhares de atletas perdidos todos os dias no Brasil, conhecemos muito bem esta realidade e, em sua maioria, acumula frustrações. Mas eu tive uma sorte, a oportunidade de ganhar uma bolsa universitária por vencer exatamente no ano do centenário do Flamengo. Minha prova daria a vitória ao Clube no campeonato, mas era exatamente a única que meu saudoso técnico Buck não tinha certeza do resultado e, se eu e minha dupla Rosângela perdêssemos, o clube não ganharia naquela data histórica.
Sabidamente, Buck me chamou para uma conversa em sua sala. Sentada a sua frente, me disse: “Fabiana, ganhe a prova e te dou a bolsa integral da Universidade”. Para mim, aquela meta era uma medalha de ouro num campeonato mundial. Fui. Venci. E se sou jornalista é pelo Buck, pelo Flamengo e pela competição.
Mas aquele ali ao lado “dele” não acumulou frustrações e tampouco optou por sair do esporte de alto-rendimento. Ele teve outra sorte,e recebeu um dos maiores e melhores investimentos que um jovem de comunidade de baixos recursos pode ter: a oportunidade.
Oriundo do projeto da família Grael, que leva o sobrenome de dois dos mais consagrados velejadores brasileiros, Torben e Lars, e que já atendeu a mais de 15 mil crianças e jovens em 17 anos de existência, surgiu Samuel Gonçalves, o Samuca, como é carinhosamente chamado pelos amigos.
Ao lado de Lars Grael , Samuca foi campeão mundial neste domingo, 8 de novembro, e mostrou ao mundo que o investimento no esporte de base e em comunidades é algo tão incrível, que este resultado deixaria perplexa qualquer pessoa que não entende, verdadeiramente, do poder do esporte.
E nesta competição, o poder do esporte extrapolou e o Brasil ganhou muito!
Ganhou ao ver um grande velejador, mesmo com a perna amputada, ser campeão mundial ao lado de um garoto que começou num projeto social.
Tudo que poderia parecer improvável, para quem sabe o poder do esporte, sabe que não é. O esporte é isso. Transforma vidas, inspira pessoas, muda sociedades, e mais que tudo, realiza o que para os pobres mortais é intangível.
Mas tratando-se de Lars e Samuca, quem iria duvidar?
Lars Grael e Samuel Gonçalves, Campeões mundiais 2015 da Classe Star.
Fabiana Bentes
Diretora geral da plataforma Sou do Esporte
Fonte: Sou do Esporte
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