COMENTÁRIO DE AXEL GRAEL:
Matéria publicada nesta quinta-feira (10/05) no site do jornal O Fluminense aborda um problema recorrente na Lagoa de Piratininga: o bloom de algas, termo utilizado para designar a proliferação anormal de algas, que pode provocar a coloração atípica das águas. Às vezes, verificam-se manchas verdes, vermelhas, ferruginosas, marrons, "cor de coca-cola" etc. Depende da espécie ou das espécies dominantes no determinado momento. Nos últimos dias, tem se observado uma intensa coloração verde na Lagoa de Piratininga.
Ainda não temos como afirmar com precisão o que estaria acontecendo, mas sabemos que o fenômeno é decorrente da eutrofização da lagoa (termo técnico que indica desequilíbrios ambientais causados pelo excesso de nutrientes), consequência de décadas de crescimento da Região Oceânica de Niterói sem que tivesse sido acompanhado do necessário investimento em saneamento, dentre outras causas.
A condição eutrófica é prejudicial para a lagoa, pois reduz a disponibilidade de oxigênio na água, aumenta a turbidez e causa outros problemas químicos, físicos e biológicos. Reverter a eutrofização requer, dentre outras medidas, o controle das fontes externas de nutrientes e solução para o estoque de matéria orgânica contido, por exemplo, no lodo do fundo da lagoa.
Outras soluções são possíveis. O experiente biólogo Paulo Bidegain tem defendido, como o fez na matéria de O Fluminense, a adoção de tecnologias de oxigenação forçada da coluna d´água. Pode ser um bom caminho, realmente, para algumas partes da lagoa. Mas, a adoção destas medidas precisam ser confirmadas por estudos prévios.
É importante lembrar também que os problemas da Lagoa de Piratininga (o mesmo ocorre em Itaipu) não são uniformes ao longo do espelho d'água, com variações dependendo da região da lagoa. Há uma diferença de salinidade, oxigenação, profundidade, circulação das águas e de eventual estratificação. Se os problemas são diversos, as soluções provavelmente também serão múltiplas. Portanto, a recuperação do Sistema Lagunar é uma tarefa complexa e dependerá de intervenções que não se limitam apenas ao espelho d'água das lagoas.
O fenômeno atual: a cor verde
Acompanhei hoje em algumas postagens no Facebook e grupos de WhatsApp com opiniões sobre o problema. Algumas pessoas chegaram a sugerir que a mancha verde poderia ser causada por cianobactérias e que as mesmas seriam tóxicas. Respeito as opiniões pois sei que são de pessoas que gostam e se preocupam tanto com as lagoas como eu, mas, mesmo sem me considerar um especialista no assunto, mas na condição de quem já lida com o tema há muitos anos, gostaria de fazer algumas considerações para contribuir com o salutar debate sobre o problema.
- A presença de algas, cianobactérias e outros organismos planctônicos é natural e indispensável para a cadeia trófica e, portanto, para a saúde do ecossistema da lagoa. O problema acontece quando há um desequilíbrio e a explosão da população de alguns destes organismos. A cor atual da água sugere que estamos diante de um bloom de alguns destes organismos.
- O fenômeno do bloom de algas tem sido recorrente nessa época do ano na Lagoa de Piratininga, tanto que quase todos os anos eu escrevo sobre isso aqui no Blog. A medida que avançamos no outono/inverno, passamos a ter uma maior variação de temperatura: quente de dia e frio à noite. Isto, somado à presença de ventos à noite, pode gerar um movimento vertical na coluna d'água, disponibilizando nutrientes contidos no lodo do fundo, que favorecem a proliferação de micro-organismos planctônicos. Estamos tendo uma forte incidência de radiação solar (poucas nuvens e baixa umidade), o que acelera o metabolismo e também favorece o bloom. Tivemos chuvas há poucos dias, o que também traz nutrientes para a lagoa.
Cabe esclarecer que existem cianobactérias tóxicas, mas que nem todas as cianobactéria são tóxicas. Não é possível afirmar apenas com observação ocular que haja uma predominância atual de cianobactérias na população planctônica. Só com análises laboratoriais especializadas é possível faze-lo.
Posso estar enganado, mas não me lembro de ter visto na bibliografia sobre a lagoa, a referência a concentrações elevadas de cianobactérias tóxicas. A preocupação das pessoas é justificada, pois o problema acontece no sistema lagunar da Barra da Tijuca, particularmente com a ocorrência da Microcystes, que produz a toxina microcistina. Enfrentei o problema em 2007, quando eu era presidente da FEEMA e tive que interditar parte da Praia da Barra da Tijuca. Mas, repito, que não há a evidência do problema do lado de cá.
O que a Prefeitura de Niterói está fazendo para salvar a Lagoa de Piratininga?
A atual administração da Prefeitura de Niterói deu início em 2013 ao planejamento de um programa para o salvamento do sistema lagunar, tendo a consciência que para faze-lo deveria atuar em todo a bacia hidrográfica, que no nosso caso coincide praticamente com os limites da Região Oceânica de Niterói. Foi então idealizado o Programa Região Oceânica Sustentável (PRO-Sustentável).
Dentre as muitas ações sendo desenvolvidas pela Prefeitura no momento, destacamos:
Dentre as muitas ações sendo desenvolvidas pela Prefeitura no momento, destacamos:
- ESTUDOS HIDRODINÂMICOS E DE QUALIDADE AMBIENTAL: um edital lançado em 26 de abril permitirá a contratação de serviços de levantamentos de parâmetros de qualidade da água, quantidade e composição dos sedimentos, modelagem da circulação das águas, biodiversidade e outros. Com estes serviços contratados, a Prefeitura poderá monitorar e conhecer em detalhes o que acontece nas lagoas, identificará situações atípicas, mas acima de tudo, poderemos planejar a gestão do Sistema Lagunar para o curto, médio e longo prazo, definindo as prioridades e as medidas preventivas e de recuperação para os problemas. Saiba mais sobre o edital aqui.
- PARQUE ORLA DE PIRATININGA: será implantada uma infraestrutura de lazer e recreação e os ecossistemas do entorno da Lagoa de Piratininga serão reconstituídos. A área também terá jardins filtrantes que reduzirão a chegada de sedimentos e nutrientes provenientes das águas pluviais até a lagoa. Saiba mais sobre o edital aqui.
- RENATURALIZAÇÃO DO RIO JACARÉ: O Rio Jacaré é o principal afluente, ou seja, a principal contribuição individual de água doce para a Lagoa de Piratininga. Através do PRO-SUSTENTÁVEL, a Prefeitura promoverá a renaturalização do rio, iniciativa pioneira no país. O primeiro edital para cumprir o objetivo já foi lançado. Saiba mais sobre o edital aqui.
- OUTRAS INICIATIVAS serão implantadas para promover a melhoria da qualidade ambiental da lagoa de Piratininga, como a implantação do Parque Natural Municipal de Niterói - PARNIT, que abrange, dentre outras áreas, o Morro da Viração, de onde provém algumas das drenagens naturais (córregos) e onde estão abrigos da fauna do ecossistema local. O PRO-SUSTENTÁVEL também contribuirá com a implantação do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET).
- SANEAMENTO: investimento na infraestrutura de coleta e tratamento de esgoto. A cidade já é reconhecida como uma das melhores cidades do país em saneamento, como mostra o ranking do saneamento divulgado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), que considera Niterói a 10ª melhor do país.
- SE LIGA: o Programa "Se Liga" é promovido através de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS), a Concessionária Águas de Niterói e o INEA. Saiba mais sobre o "Se Liga", clicando aqui.
- INFRAESTRUTURA URBANA: a Prefeitura de Niterói está desenvolvendo um investimento massivo em pavimentação das vias dos bairros na Bacia Hidrográfica das lagoas de Piratininga e Itaipu. A pavimentação reduz significativamente a quantidade de sedimentos carreados para a lagoa, principal causa do assoreamento. Antes das obras de pavimentação, as ruas de terra eram as principais fontes de sedimentos, uma vez que as encostas das partes mais elevadas da bacia hidrográfica estão bem recobertas por florestas, o que faz com que a contribuição destas áreas pela erosão seja muito reduzida.
Portanto, os problemas ambientais do Sistema Lagunar de Piratininga e Itaipu são o resultado de décadas de degradação e de falta de medidas preventivas e corretivas eficientes. Finalmente, agora existe um plano de recuperação sendo implantado, que devolverá gradativamente a saúde ambiental das lagoas, para o usufruto da população e para o benefício da cidade.
Vamos em frente!
Axel Grael
Secretário Executivo
Prefeitura de Niterói
Moradores e pescadores temem que ocorra mortandade de peixes
Vista como uma das mais bonitas belezas naturais da cidade e fonte de sustento de muitos pescadores, a Lagoa de Piratininga tem sofrido há anos, com esgotos e assoreamentos. Há cerca de 20 dias, seu espelho d’água ganhou uma nova coloração, mais esverdeada e turva, deixando preocupados moradores e pescadores, que temem que ocorra mortandade de peixes.
Segundo ambientalistas, o problema se deve ao alto nível de esgoto na água. O esverdeamento é uma proliferação de algas, devido ao grande número de esgoto despejado no local há anos, aliada à falta de chuva e ao aumento da temperatura da água.
“Do grande número de moradores da Região Oceânica, estimamos que 20% ainda não tenha o esgoto tratado e, por isso, é despejado na lagoa. Antes, o local possuía um brejo e ‘tratava’ o esgoto, mas ele foi sobrecarregado e poluído e não aguenta mais. Então, a alga consome todo o oxigênio da água e o peixe não sobrevive”, explica o biólogo Paulo Bidegain, especialista em planejamento e gestão ambiental de bacias hidrográficas, recursos hídricos e de parques e áreas protegidas.
Para solucionar a questão, o especialista aponta três caminhos. A finalização do projeto Se Liga, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que notifica os moradores a conectarem o esgoto à rede coletora e interromperem o despejo; a implantação de jardins filtrantes e a injeção de microbolhas de ar, para que as algas e bactérias consumam o resto de lodo já acumulado.
“A comporta instalada na Lagoa de Piratininga não atende à lagoa inteira, mas próximo ao Jardim Imbuí, onde ela está instalada, a água do mar renova o oxigênio e ela não fica tão comprometida. Porém, no meio dela, a situação é mais complicada. O projeto Parque Orla, da Prefeitura de Niterói, prevê essa instalação dos jardins, refazendo o brejo do sistema e filtrando o esgoto já existente”, completa.
O secretário Executivo, Axel Grael, ressaltou que na última terça-feira a Prefeitura de Niterói lançou editais para a realização de estudos que mostrem a composição do ecossistema do local.
“Essa cor verde é um problema cíclico, ainda mais nesta época do ano, por conta do excesso de nutrientes ao longo de décadas. Além do edital de estudos, há ainda o projeto do Parque Orla, com recursos do Pró-Sustentável, que prevê essa recuperação. A Lagoa será recuperada, mas não é dia para a noite”, destaca.
O pescador Reginaldo da Silva, de 51 anos, que atua na região há mais de 30, já percebeu a diminuição do número de peixes e de camarões na lagoa, o que prejudica seu orçamento no fim do mês.
“É uma tristeza ver a lagoa assim. Está com bastante espuma, barrenta e esverdeada. O peixe sente, né? Há uns 20 dias uns apareceram mortos”, lembra.
Jorge Gabriel Fernandes Junior, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Jardim Imbuí (AMJI), conta que a lagoa nunca esteve tão verde. “Está assustando os moradores..., muitos estão nos procurando”, conta.
Fonte: O Fluminense
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Vamos em frente!
Axel Grael
Secretário Executivo
Prefeitura de Niterói
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Esgoto deixa espelho de lagoa esverdeado
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| Problema, segundo especialistas, deve-se à proliferação de algas. Foto: Evelen Gouvêa |
Carolina Ribeiro
em 10/05/2018 20:00
Moradores e pescadores temem que ocorra mortandade de peixes
Vista como uma das mais bonitas belezas naturais da cidade e fonte de sustento de muitos pescadores, a Lagoa de Piratininga tem sofrido há anos, com esgotos e assoreamentos. Há cerca de 20 dias, seu espelho d’água ganhou uma nova coloração, mais esverdeada e turva, deixando preocupados moradores e pescadores, que temem que ocorra mortandade de peixes.
Segundo ambientalistas, o problema se deve ao alto nível de esgoto na água. O esverdeamento é uma proliferação de algas, devido ao grande número de esgoto despejado no local há anos, aliada à falta de chuva e ao aumento da temperatura da água.
“Do grande número de moradores da Região Oceânica, estimamos que 20% ainda não tenha o esgoto tratado e, por isso, é despejado na lagoa. Antes, o local possuía um brejo e ‘tratava’ o esgoto, mas ele foi sobrecarregado e poluído e não aguenta mais. Então, a alga consome todo o oxigênio da água e o peixe não sobrevive”, explica o biólogo Paulo Bidegain, especialista em planejamento e gestão ambiental de bacias hidrográficas, recursos hídricos e de parques e áreas protegidas.
Para solucionar a questão, o especialista aponta três caminhos. A finalização do projeto Se Liga, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que notifica os moradores a conectarem o esgoto à rede coletora e interromperem o despejo; a implantação de jardins filtrantes e a injeção de microbolhas de ar, para que as algas e bactérias consumam o resto de lodo já acumulado.
“A comporta instalada na Lagoa de Piratininga não atende à lagoa inteira, mas próximo ao Jardim Imbuí, onde ela está instalada, a água do mar renova o oxigênio e ela não fica tão comprometida. Porém, no meio dela, a situação é mais complicada. O projeto Parque Orla, da Prefeitura de Niterói, prevê essa instalação dos jardins, refazendo o brejo do sistema e filtrando o esgoto já existente”, completa.
O secretário Executivo, Axel Grael, ressaltou que na última terça-feira a Prefeitura de Niterói lançou editais para a realização de estudos que mostrem a composição do ecossistema do local.
“Essa cor verde é um problema cíclico, ainda mais nesta época do ano, por conta do excesso de nutrientes ao longo de décadas. Além do edital de estudos, há ainda o projeto do Parque Orla, com recursos do Pró-Sustentável, que prevê essa recuperação. A Lagoa será recuperada, mas não é dia para a noite”, destaca.
O pescador Reginaldo da Silva, de 51 anos, que atua na região há mais de 30, já percebeu a diminuição do número de peixes e de camarões na lagoa, o que prejudica seu orçamento no fim do mês.
“É uma tristeza ver a lagoa assim. Está com bastante espuma, barrenta e esverdeada. O peixe sente, né? Há uns 20 dias uns apareceram mortos”, lembra.
Jorge Gabriel Fernandes Junior, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Jardim Imbuí (AMJI), conta que a lagoa nunca esteve tão verde. “Está assustando os moradores..., muitos estão nos procurando”, conta.
Fonte: O Fluminense
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