domingo, 16 de abril de 2017

Reflorestar Minas custaria menos do dobro do que Odebrecht levou



Coluna Marcelo Leite, Folha de SP

Propõe-se aqui uma nova unidade orçamentária para o Brasil: R$ 8 bilhões = 1 odebrecht. É o valor que a mega-empreiteira baiana deixou de recolher aos cofres públicos graças a três medidas provisórias (MPs) sugeridas ao ministro petista Guido Mantega.

Com menos de 2 odebrechts seria possível recompor todas as florestas que precisam ser recuperadas no Estado de Minas Gerais, calcula estudo científico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O cálculo abarca estimativas de todos os gastos privados e públicos para alcançar esse objetivo em 20 anos. Inclui ainda o custo de oportunidade dos proprietários, ou seja, o que perderiam no preço das terras se fossem revertidas de pastagens para matas.

Britaldo Soares-Filho e Raoni Rajão, da UFMG, contaram com a colaboração de Felipe Nunes, da Fundação Estadual do Meio Ambiente (MG), e de Frank Merry, da ONG Conservation Strategy Fund. O trabalho saiu quarta-feira (12) no periódico especializado "Environmental Research Letters".

O objetivo do grupo foi começar a pôr números nas obrigações assumidas pelo país com recuperação florestal. No âmbito do Acordo de Paris (2015), seriam 120 mil km2, quase um Ceará.

Já o Código Florestal remodelado em 2012 estipula que precisam ser recuperadas as áreas de preservação permanente (APP) e as reservas legais (RL) ilegalmente desmatadas. Esse passivo seria de 240 mil km2, o mesmo que 85% do território do Rio Grande do Sul.

Cerca de 20 mil km2 (um Sergipe) dessa dívida em APP e RL cai na conta de Minas Gerais, um Estado que abriga trechos de três grandes biomas brasileiros: mata atlântica, cerrado e caatinga. Britaldo e cia. mapearam e dividiram esse território em três classes de facilidade para recuperação.

Para isso, levaram em conta vários tipos de informação georreferenciada, como topografia, altitude, clima, solos, intensidade de exploração agropecuária no passado e proximidade com fragmentos de mata virgem (dos quais pudessem receber sementes de espécies florestais).





Chegaram à conclusão de que 36% dessas terras podem ter as matas recompostas por recuperação natural, passiva, bastando isolar a área para que não seja pisoteada pelo gado, por exemplo. O investimento total seria pequeno, R$ 646 milhões (0,08 odebrecht).

Acrescentando no cômputo os lugares em que a natureza precisaria de alguma ajuda de baixo custo para regenerar a floresta, como controlar capins invasores, a parcela barata de recuperar saltaria para 75%. O custo somado iria então para R$ 2,4 bilhões (0,3 odebrecht) -sem esquecer que o gasto ocorreria ao longo de 20 anos.

Bem mais difícil seria recuperar os 25% restantes. São áreas muito degradadas, em que uma nova floresta teria de ser plantada com mudas e sementes. O custo total mais que dobraria, para R$ 5,3 bilhões (0,7 odebrecht).

Nessa fatura falta incluir só o custo de oportunidade do proprietário, que o pessoal da UFMG estimou em R$ 9,8 bilhões. Aí a nota chegaria a R$ 15,1 bilhões, mas nem por isso a 2 odebrechts.

Se esse valor pudesse ser extrapolado para todo o passivo florestal do Brasil, pôr o país no rumo do verde geral custaria R$ 181 bilhões.

Menos de 23 odebrechts, se quisermos. Em duas décadas, e não com três MPs.











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