Capela Nossa Senhora da Boa Viagem no topo da ilha; Cristo Redentor é visto ao fundo. Foto: Guilherme Leporace / Agência O Globo |
Grupos de até 30 pessoas terão acesso em quatro turnos. Passeios começam no sábado
Por Maíra Rubin
NITERÓI - Você sabia que a igrejinha que fica no topo da Ilha da Boa Viagem é virada para o mar porque dali, no século XVIII, padres davam bênçãos a marinheiros que se lançavam ao oceano? E que, no mesmo lugar, famílias dos militares se reuniam para se despedir e acompanhar a saída daqueles que poderiam não mais voltar para casa? E ainda que, atrás da ilha, há ruínas de um pequeno forte, erguido entre 1690 e 1702, que servia como ponto de observação para a defesa do litoral e controle de navegação na Baía de Guanabara? Fatos históricos e curiosidades como esses sobre um dos principais pontos turísticos de Niterói poderão ser conhecidos pelo público que for à Ilha da Boa Viagem a partir deste sábado, às 10h, quando ela será reaberta a visitações regulares após mais de 20 anos fechada.
A novidade faz parte de uma parceria firmada entre a prefeitura, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o grupo de escoteiros Gaviões do Mar, que administra a ilha desde 1937. Depois de atravessar a ponte recém-reformada e subir 127 degraus, o visitante será recebido por guias bilíngues e jovens escoteiros capacitados pela Neltur, que contarão toda a história da ilha e do escotismo no país. Neste primeiro momento, apenas a área do entorno da capela poderá ser explorada.
Condenada há 15 anos, a ponte de 105 metros de extensão que leva ao portal da Ilha da Boa Viagem passou por obras: pilares e guarda-corpos foram refeitos - Guilherme Leporace / Agência O Globo |
Para preservar o conjunto arquitetônico tombado pelo Iphan desde 1938 — por seu acervo histórico, arqueológico, etnográfico e paisagístico —, a visitação, gratuita, será limitada em 120 pessoas por dia. Grupos de até 30 pessoas, formados por ordem de chegada, terão acesso em quatro turnos: às 9h, às 11h, às 14h e às 16h, aos sábados, domingos e feriados. A duração média do passeio será de uma hora e meia. Grupos fechados levados por profissionais de turismo e operadoras devem fazer o agendamento pelo Disque-Turismo (0800 2827755). Excepcionalmente, amanhã não haverá limite de visitantes, e a ilha ficará aberta até as 17h.
A Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, que havia passado por reformas entre abril de 2012 e abril de 2013, só receberá celebração de missas a partir de abril, sempre no quarto domingo do mês, segundo o padre Wallace Dahan dos Santos, pároco da Igreja de São Domingos, responsável pela capela. Isso já vinha acontecendo, mas sem muita regularidade, devido, inclusive, à interdição, pela Defesa Civil, da ponte de acesso à ilha.
Condenada há mais de 15 anos, a passagem que liga a ilha ao continente recebeu investimentos de R$ 695 mil e passou por reforma durante aproximadamente quatro meses. Foram recuperados 105 metros da ponte, pilares e guarda-corpos, e instalados 40 lâmpadas de LED e piso antiderrapante. A tinta usada na pintura facilita a limpeza de possíveis atos de vandalismo.
Os planos do prefeito Rodrigo Neves são de que, no futuro, a igreja, construída em 1734 e com capacidade para 130 pessoas, esteja aberta durante os passeios, e que o prédio onde funciona a sede do Gaviões do Mar se torne um museu sobre a história do homem na Baía de Guanabara e o escotismo brasileiro. Ele também deseja que a Bateria da Marinha — conhecida como Forte da Boa Viagem, que fica atrás da ilha — possa ser conhecida pelos visitantes.
— Há um ano começamos a desenvolver o trabalho para que niteroienses e turistas possam conhecer esse recanto, que é um dos locais mais bonitos de Niterói — diz o prefeito. — Há muitos moradores da cidade que estão aqui há décadas e nunca tiveram a oportunidade de conhecer essa maravilha.
Rodrigo ressalta que a capela ainda precisa de alguns reparos (“Os próximos restauros estão sendo negociados com o Iphan”), mas que a sua estrutura está em boas condições.
— Já a abertura da capela está sendo avaliada pela Arquidiocese de Niterói. A ideia é que esse espaço seja das pessoas, mas é preciso que elas tenham a consciência de que este é um patrimônio histórico e nacional que precisa ser conservado — alerta o prefeito, destacando que a Ilha da Boa Viagem ganhou uma base fixa da Guarda Municipal.
O padre Wallace também defende a abertura regular da capela:
— Essa igreja é um patrimônio histórico e não há motivos para ela ficar fechada. A realização de missas no local ajuda ainda a fomentar a criação de uma comunidade religiosa.
Portal da ilha com placa dos escoteirosFoto: Guilherme Leporace / Agência O Globo |
Com o Pão de Açúcar ao fundo, capela se destaca no topo da Ilha da Boa ViagemFoto: Guilherme Leporace / Agência O Globo |
O vice-prefeito Axel Grael acredita que toda a ilha esteja pronta a médio prazo e garante que intervenções pontuais não vão atrapalhar os visitantes:
— Eles poderão visitar o espaço, acompanhar as obras, como acontece em pontos turísticos da Europa e também como foi feito nas obras de Niemeyer que, ainda inacabadas, recebiam arquitetos. Poder ver o esforço que é restaurar um patrimônio.
José Mauro Haddad, presidente da Neltur, enfatiza que, quando as obras do MAC estiverem concluídas, no mês que vem, o visitante poderá fazer um passeio pelo túnel do tempo: ir do século XXI ao XVII em apenas alguns passos.
— Ao visitar o MAC, o maior ícone da cidade, o visitante será orientado a ir até a ilha para que ele possa fazer um contraponto histórico. Esse vai ser o canal mais direto para começar a fomentar o turismo no local — aposta Haddad.
Vista de camarote para provas de vela
Em agosto, durante as Olimpíadas, uma das raias das provas de vela poderá ser vista da lateral direita da Ilha da Boa Viagem. Grael afirma que quem estiver no local assistirá à prova de camarote.
— A raia olímpica que recebeu o nome de Niterói estará localizada entre a Escola Naval e a Ilha da Laje. A Ilha da Boa Viagem será um lugar privilegiado para ver a competição — diz o vice-prefeito.
O esquema de acesso nos dias de competição, no entanto, ainda não foi discutido.
Chefe dos escoteiros, André Torricelli está ansioso para o início das visitações.
— Será muito bacana receber a população e ainda oferecer a vista para as regatas. Era um desejo nosso que a ilha fosse mais visitada, pois, além de ser bom para a população, é bom para nós, já que o nosso trabalho terá uma maior visibilidade — afirma.
Fonte: O Globo Niterói
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