A perda da Floresta Amazônica seria uma catástrofe para o Brasil e para o mundo. Sua destruição aumentaria significativamente as emissões de carbono do país e desestabilizaria ainda mais o clima global. Crédito da foto: lubasi em Visualhunt / CC BY-SA |
No início do século XXI, o Brasil reduziu enormemente o desmatamento da Amazônia . Uma presidência de Jair Bolsonaro voltaria a colocar as florestas e o clima global em risco: estudo.
en 24 Outubro 2018
Series de Mongabay: Agronegócio na Amazônia, Infraestrutura na Amazônia
- No final do século 20 e início do século 21, o Brasil estabeleceu políticas que transformaram o país em um líder mundial na redução do desmatamento, ajudando a proteger a Amazônia.
- No entanto, os ganhos obtidos ao longo desses anos estão em risco devido às políticas ambientais propostas pelo candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro, que, segundo analistas, tem grande probabilidade de se tornar o futuro presidente do Brasil no segundo turno de 28 de outubro.
- Bolsonaro prometeu fechar o Ministério do Meio Ambiente, relaxar a aplicação de leis ambientais e licenciamentos, permitir a exploração econômica de reservas indígenas, banir ONGs internacionais como Greenpeace e WWF do país, e sair do acordo climático de Paris. As posições políticas de Bolsonaro são baseadas em sua plataforma oficial do partido e declarações na mídia.
- Um estudo feito pelos autores deste comentário estima que o desmatamento brasileiro e as emissões de carbono sob as políticas de Bolsonaro causariam uma perda sem precedentes da floresta amazônica e contribuiriam para desestabilizar o clima global. Esta publicação é um comentário. As opiniões expressas são as dos autores, não necessariamente d a Mongabay.
Era bom demais para ser verdade. No final do século 20 e início do século 21, a floresta amazônica brasileira estava desaparecendo rapidamente (27.772 quilômetros quadrados ou 10.723 milhas quadradas por ano em 2004), tornando o Brasil o líder mundial em desmatamento, além de um grande emissor de gases de efeito estufa (GEE). A partir de 2005, as taxas anuais de desmatamento começaram a diminuir a uma velocidade impressionante, caindo para 4.575 quilômetros quadrados em 2012, uma queda histórica de mais de 83% em apenas oito anos.
Isso fez com que as emissões de carbono do país diminuíssem 63% entre 2005 e 2012. Com base nesses resultados, o governo brasileiro prometeu uma redução ambiciosa de suas emissões de GEE — 37% até 2025 e 43% até 2030, abaixo dos níveis de 2005 — na 21ª Conferência das Partes (COP21) em Paris em dezembro de 2015.
Há várias explicações plausíveis por trás dessa queda repentina nas taxas de desmatamento na Amazônia brasileira, que vão desde a expansão de áreas protegidas e terras indígenas, melhor aplicação da legislação ambiental existente, intervenções nas cadeias de fornecimento e restrições de crédito, a multas e embargos de desmatadores ilegais.
Essa conquista, elogiada por muitos dentro e fora do governo, possui uma durabilidade incerta dada a crescente demanda por commodities agrícolas no mundo, projetos de infraestrutura de transportes e energia em grande escala (incluindo represas, rodovias e ferrovias na Amazônia), além da turbulência política.
Hoje, em meio a uma crise econômica sem precedentes e agitação política, as proteções ambientais correm o risco de serem revertidas. A taxa anual de desmatamento na maior floresta tropical do mundo tem crescido constantemente desde 2012.
Mas o pior ainda está por vir. Jair Bolsanaro, o candidato de extrema-direita que está prestes a se tornar o próximo presidente do Brasil, prometeu que, se eleito, vai fechar o Ministério do Meio Ambiente , relaxar a aplicação de leis ambientais e licenciamentos , abrir as reservas indígenas para a mineração, e sair do acordo climático de Paris. Além disso, ONGs internacionais, como o Greenpeace e o WWF, seriam banidas do país.
O dano que essas políticas podem causar é extremo. Com base em uma metodologia de modelagem econômica que simula a competição pelo uso da terra para atender à crescente demanda global por commodities, como carne bovina e soja, estimamos que, se as proteções ambientais forem removidas pelo próximo presidente brasileiro, a perda média anual de floresta Amazônica aumentará rapidamente para 25.600 quilômetros quadrados (9.884 milhas quadradas) por ano, um número semelhante às taxas de desmatamento medidas no início dos anos 2000 e um aumento de 268% em relação a 2017.
Dentro de uma década, a escala do desmatamento seria equivalente à área do Reino Unido ou do estado americano de Oregon. Além disso, 18% desse desmatamento (46.300 quilômetros quadrados ou 17.877 milhas quadradas) ocorreriam dentro de áreas protegidas, incluindo parques nacionais e reservas indígenas.
As emissões de carbono aumentariam à medida que o desmatamento também aumentasse. Sob as políticas propostas por Bolsonaro, de 2021 a 2030, as emissões acumuladas do corte raso da floresta Amazônica atingiriam 13,12 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e), ou uma média de 1,31 GtCO2e por ano, tornando praticamente impossível para o Brasil cumprir seus compromissos internacionais feitos em Paris. Esta emissão anual de dióxido de carbono corresponde a 3% das atuais emissões globais. Além disso, de acordo com a literatura mais recente 13.12 GtCO2e poderiam representar até 20% do balanço global de carbono “livre” suficiente para alcançar a meta do IPCC de 1.5C. O dióxido de carbono equivalente (CO2e) é uma medida usada para comparar as emissões de vários gases de efeito estufa com base no seu potencial de aquecimento global.
Nessas eleições, e nos próximos anos, a vontade política é necessária para garantir que a floresta amazônica e os serviços ecossistêmicos que ela fornece sejam conservados. A perda de biodiversidade e a regulação do clima que poderia resultar de uma mudança radical nas políticas seriam um ponto de inflexão tanto para a biodiversidade quanto para as mudanças climáticas, com consequências globais.
Autores:
Aline C. Soterroni, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, Brasil, e Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados, Laxenburg, Áustria (soterr@iiasa.ac.at);
Fernando M. Ramos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, Brasil (fernando.ramos@inpe.br);
Michael Obersteiner, Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados, Laxenburg, Áustria (oberstei@iiasa.ac.at); e
Stephen Polasky, Universidade de Minnesota, St. Paul, MN, EUA. (polasky@umn.edu).
Citações:
Soterroni et al., Environmental Research Letters 13 (7) 1–12 (2018). http://iopscience.iop.org/article/10.1088/1748-9326/aaccbb/pdf
Jason A. Lowe, Daniel Bernie, The impact of Earth system feedbacks on carbon budgets and climate response. Phil. Trans. R. Soc. A 376 20170263 (2018). http://rsta.royalsocietypublishing.org/content/376/2119/20170263
Revisão da tradução: Debora Santos.
Fonte: Mongabay
---------------------------------------------------
LEIA TAMBÉM:
Abandonar o Acordo de Paris é tiro no pé do Brasil
Opinião do editor de Meio Ambiente Global do The Guardian sobre o risco de retrocesso ambiental no Brasil
Editorial de O Globo: "Meio ambiente não é questão secundária" Cientistas estimam que desmatamento da Amazônia pode triplicar em ‘cenário Bolsonaro’
Calor prejudicará agricultura e aumentará pobreza no Brasil, alerta ONU
Cientista alerta que aumentar a área da agropecuária e destruir florestas causará prejuízos à economia
Retrocesso ambiental pode custar US$ 5 tri ao Brasil até 2050, diz estudo
INPE: Desmatamento cresce 36% no período eleitoral
Para milhares de entidades, fala de candidato contra o ativismo afronta a Constituição
Philip M. Fernside: "Amazônia e os Retrocessos do Momento Político"
Suzana Kahn, O Globo: "O Brasil e a biodiversidade"
Míriam Leitão, O Globo: "O meio ambiente e o bolsonarismo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribua. Deixe aqui a sua crítica, comentário ou complementação ao conteúdo da mensagem postada no Blog do Axel Grael. Obrigado.