por en 28 Setembro 2018 | Translated by Mariana Almeida
- Avanços recentes na tecnologia de monitoramento florestal baseado em satélites ajudaram conservacionistas a localizar onde o desmatamento acontece. No entanto, limitações quanto às causas da perda de cobertura vegetal dificultam os esforços para detê-la.
- Um novo estudo publicado recentemente representa um avanço rumo a esse objetivo ao identificar os maiores vetores do desmatamento ao redor do mundo.
- No geral, o estudo demonstra que 27% de toda perda florestal (20 mil quilômetros quadrados por ano) é causada pelo desmatamento relacionado ao manejo de commodities. Ou seja, uma área de floresta do tamanho de ¼ da Índia foi derrubada para plantação de commodities ao longo de 15 anos. Outro grande vetor causador da perda de cobertura vegetal é a silvicultura, representando 26%; queimadas e agricultura itinerante somam 23% e 24% respectivamente. O estudo concluiu que menos de 1% do desmatamento
- Os autores do estudo concluíram que o desmatamento causado pelo manejo de commodities se manteve sem alterações ao longo dos 15 anos de pesquisa, o que, segundo eles, indica que acordos comerciais de desmatamento-zero podem não estar funcionando em muitos locais. Eles esperam que suas descobertas ajudem a aumentar a governança e a transparência em cadeias de produção globais.
Saber onde o desmatamento acontece é essencial para os esforços que almejam impedi-lo ou diminuí-lo. Grandes avanços rumo a esse objetivo foram feitos nos últimos anos, com ONGs melhorando a capacidade dos satélites para monitorar e identificar perda de cobertura vegetal em florestas ao redor do mundo. Agora, um novo estudo dá foco ao desmatamento, identificando as suas principais causas.
Em 2014, o World Resources Institute (WRI) e parceiros lançaram uma plataforma online para auxiliar governos, empresas e ONGs a combater o desmatamento em escala global. Ao aproveitar as mais recentes tecnologias de satélite e armazenamento em nuvem, a plataforma, chamada Global Forest Watch monitora as florestas do mundo quase em tempo real, fornecendo ferramentas, dados e mapas para rastrear a perda de cobertura vegetal.
Mas nem todas as causas, ou vetores, do desmatamento são iguais em termos de impacto. Alguns são mais destrutivos, permanentes ou evitáveis que outros. A conversão em larga escala de florestas para terras destinadas à plantação de commodities, como o óleo de palma e a borracha, geralmente causam mais danos ambientais do que, por exemplo, o corte de árvores ou incêndios florestais.
“Saber se a floresta está ou não perdida para sempre quanto a um novo uso da terra, como a agricultura, ou se há possibilidade de recuperação ao longo do tempo, tem grande relevância para melhorar o nosso entendimento sobre o papel que as florestas ao redor do mundo têm na influência da meta global de carbono” afirma Nancy Harris, Gerente de Pesquisa da Global Forest Watch. “Florestas podem ser tanto a fonte quanto o destino de sequestro de carbono atmosférico, dependendo de como as administramos”.
No entanto, a tecnologia de satélite por trás das plataformas de monitoramento florestal é incapaz de identificar os vetores subjacentes da perda de cobertura vegetal. A Global Forest Watch, por exemplo, acredita que isso sirva de fachada nos diferentes continentes do mundo, e que só cresce em locais como o Brasil, a Malásia e a Indonésia.
Mas um novo estudo tenta melhorar essa visão basicamente monocromática sobre a perda de cobertura vegetal ao identificar os principais vetores de desmatamento em níveis regionais. Seus resultados foram publicados recentemente na Science e podem ser acessados na Global Forest Watch.
Um grupo de pesquisadores da WRI, do Sustainability Consortium e da Universidade de Maryland desenvolveu um novo mapa após analisarem milhares de imagens de satélite no Google Earth para criar um modelo aproximado. Eles usaram esse modelo para determinar o vetor principal de perda florestal em uma área de 10 quilômetros quadrados entre os anos de 2001 e 2015.
No total, eles descobriram que 27% de toda perda florestal (50 mil quilômetros quadrados por ano) é causada pelo desmatamento relacionado ao manejo de commodities. Isto é, uma área de floresta do tamanho de ¼ da Índia foi derrubada para plantação de commodities ao longo de 15 anos.
“Centenas de empresas se comprometeram publicamente com a produção e fontes sustentáveis de commodities globais como o óleo de palma, a soja, a carne e o ouro”, afirma Nancy, coautora da pesquisa. “Pela primeira vez conseguimos quantificar a perda de cobertura vegetal e relacioná-la à produção de commodities, além de avaliar o progresso coletivo de empresas quanto a seus compromissos. Nossos resultados mostram que ainda há muito a ser feito”.
Outro grande vetor de perda de cobertura vegetal é a silvicultura, representando 26%; queimadas e agricultura itinerante somam 23% e 24% respectivamente. O estudo concluiu que menos de 1% do desmatamento global é atribuído à urbanização, com cerca de 1% causado por alguma coisa que não esses quatro principais vetores.
“As pessoas acreditam, erroneamente, que a urbanização é um vetor relevante para as taxas gerais de desmatamento porque é uma mudança na paisagem a que as pessoas estão, por definição, muito expostas. Nossos resultados demonstram que a urbanização é um vetor muito menor na perda de cobertura vegetal global, o que pode ser algo surpreendente para muitos”, afirma Nancy.
O estudo aponta que o desmatamento relacionado ao cultivo de commodities está concentrado principalmente na América Latina e no Sudeste Asiático. Na América Latina, grandes plantações e criações de gado são apontados como os principais vetores da perda florestal, enquanto o cultivo do óleo de palma é a causa principal na Malásia e na Indonésia. Os autores da pesquisa defendem que seus resultados indicam que esses lugares deveriam ser marcados como pontos-chave para a erradicação do desmatamento causado por cadeias de produção e políticas de desenvolvimento voltadas à redução da emissão de gases causadores do efeito estufa liberados pelo desmatamento.
“A conservação, restauração e manejo apropriado de florestas tropicais, de mangues e de pântanos podem fornecer ¼ das ações de mitigação necessárias até 2030 para alcançar o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento em dois graus”, declara Nancy.
Os autores do estudo concluíram que o desmatamento causado pelo manejo de commodities se manteve sem alterações ao longo dos 15 anos de pesquisa, o que, segundo eles, indica que acordos comerciais de desmatamento-zero podem não estar funcionando em muitos locais.
“Apesar dos compromissos das empresas, a taxa de desmatamento causado pelo cultivo de commodities não diminuiu”, declaram os pesquisadores em seu estudo. “Para acabar com o desmatamento, as empresas precisam eliminar 5 milhões de hectares convertidos pelas cadeias de produção todo ano”.
Os autores da pesquisa afirmam que os incêndios florestais, a agricultura itinerante, e a silvicultura tecnicamente permitem a recuperação florestal, e que estudos futuros podem fornecer um entendimento mais detalhado dos impactos desses vetores. Como exemplo, eles informam que a agricultura itinerante no Peru é bem administrada, enquanto que esse tipo de perda florestal na África Subsaariana leva a danos de longo prazo. A compreensão de onde a agricultura itinerante age mais como um agente de degradação florestal é importante para empresas que buscam parceria com pequenos agricultores.
Os pesquisadores esperam que suas descobertas ajudem a aumentar a governança e a transparência em redes de produção globais. Agora, segundo eles, as quase 450 empresas que estabeleceram objetivos para eliminar o desmatamento em seus processos produtivos têm um mapa legível de áreas prioritárias que devem receber certificação e monitoramento.
“As análises traduzem em imagem o que já sabíamos – que as causas da perda de cobertura vegetal variam significativamente ao redor do mundo”, afirmam os autores do estudo em uma declaração. “Essa nova informação vai permitir que empresas, governos e cidadãos conscientes reconheçam onde os esforços devem ser alocados para atingir o desmatamento-zero por parte dos processos produtivos e a identificar e agir onde outros vetores causam um aumento indesejável da perda de cobertura vegetal”.
Referência: Curtis, P.G., C.M. Slay, N.L. Harris, A. Tyukavina, and M.C. Hansen. 2018. “Classifying Drivers of Global Forest Loss.” Science.
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