OPINIÃO:
BOLSONARO É O RETROCESSO CIVILIZATÓRIO
O texto da jornalista Miriam Leitão alerta para a tragédia que uma gestão Jair Bolsonaro poderá ser para a política ambiental e para os temas relacionados com a sustentabilidade, como é o caso da agenda climática.
Por defender o ideário ruralista, uma gestão do capitão representará ameaça à Amazônia, a retirada do rigor da análise sobre a aprovação de agrotóxicos, transgênicos. A chapa militar à presidência defende a revisão dos limites dos parques e das áreas indígenas, o afrouxamento do licenciamento ambiental.
O Plano de Governo oficial do candidato, conforme registrado no TSE, não dedica uma só linha à política ambiental, apenas citando no capítulo dedicado à Agricultura (Página 68), o seguinte texto:
A nova estrutura federal agropecuária teria as seguintes atribuições:
Política e Economia Agrícola (Inclui Comércio)Recursos Naturais e Meio Ambiente Rural
Defesa Agropecuária e Segurança Alimentar
Pesca e Piscicultura
Desenvolvimento Rural Sustentável (Atuação por Programas)
Inovação Tecnológica
O registro faz sentido com o discurso do capitão que extinguirá o Ministério do Meio Ambiente e subordinará as suas atividades ao Ministério da Agricultura, submetendo as suas demandas à lógica da agricultura ruralista. Já pensaram ruralistas gerindo parques, emissões de gases de efeito estufa, qualidade ambiental nas cidades etc?
E a ameaça ao meio ambiente não para por aí. O candidato da chapa militar já prometeu liberar a caça, rever quilombos e combater o que chama de ativismo social.
Ou seja, acabar com as organizações da sociedade civil. Na sua visão, organizações de assistência como as que se dedicam aos deficientes físicos, mentais e outras ações sanitárias seriam combatidas, As associação de moradores, grupos ambientalistas, organizações de cicloativistas e até organizações como o Projeto Grael que já beneficiou mais de 17 mil jovens estariam em risco?
Um alento é que a vontade do capitão, dos seus generais e seguidores doutrinados ainda precisam superar a legislação vigente e as instituições democráticas do país.
Mas, será que o candidato que usa o microfone do Congresso Nacional para celebrar o torturador Brilhante Ustra, logo faz apologia à tortura, que enaltece e se diz herdeiro dos tempos de ditadura militar, que acha poder escolher qual mulher deve ser por ele estuprada, estaria preocupado em cumprir a lei?
É bom lembrar que as urnas do primeiro turno deu uma turbinada no chamado Centrão, que apesar de ter perdido 15% dos integrantes, ganhou um reforço da bancada eleita pelo PSL, atingindo um potencial de chegar 259 parlamentares. É bom lembrar que para mudar a Constituição é preciso dos votos de 308 parlamentares. A chamada Bancada da Bala deve crescer 71%. Portanto, considerando que outras bancadas conservadoras como a da Bíblia, a ruralista e outras também cresceram, não será tão difícil promover as mudanças desejadas pelo extrema direita.
Restará a cidadania e a pressão internacional que já se assusta com uma eventual vitória da extrema direita no país.
Ainda há esperança que o país não se afunde em tempos de trevas. Vamos continuar o debate eleitoral e defender a opção por Haddad, que não foi o meu candidato no primeiro turno (minha candidata era Marina Silva), mas no cenário de segundo turno é o caminho para barrar o retrocesso civilizatório.
Que haja luz!
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O Meio Ambiente e o Bolsonarismo
por Míriam Leitão
O alerta não vem de um ambientalista, mas de um dirigente de instituição financeira internacional, com quem conversei. O que o preocupa, num cenário de vitória de Jair Bolsonaro, é o absoluto desprezo pela questão ambiental e climática. Na visão dele, é obvio que a competitividade e a capacidade de financiamento do agronegócio serão maiores quanto mais pacificada for a relação com o meio ambiente. Um general da campanha de Bolsonaro reclamou que no Brasil não se pode derrubar “uma árvore sem que alguém venha encher o saco”. No ano passado, só na Amazônia e no Cerrado foram derrubadas 14 milhões de árvores.
O raciocínio do banqueiro é assim: se o produtor do Cerrado, por exemplo, quer ter água para produzir, precisará cumprir rigorosamente os limites das áreas de preservação em suas terras. Se cumprir esses limites, ele poderá ser financiado por capital externo que não aceitaria, a esta altura, emprestar para desmatadores. Esse financiamento pode ser feito a juros baixos, sem depender do subsídio estatal.
O mais lógico seria, segundo o banqueiro, que o diálogo que começava a existir entre o agronegócio e o ambientalismo fosse estimulado. Mas, na eventualidade de um governo Jair Bolsonaro, ficará mais difícil. A bancada do agronegócio que aderiu ao candidato busca respaldo para suas posições mais extremadas. E ele já disse que submeterá o assunto ao Ministério da Agricultura, acabando com a pasta do Meio Ambiente.
O general Oswaldo Ferreira, que está tocando os planos do candidato para a área de infraestrutura e de meio ambiente, lembrou ao “Estado de S. Paulo” os anos 1970, quando ele era um tenente “feliz da vida” trabalhando na BR-163. “Derrubei todas as árvores que tinha à frente, sem ninguém encher o saco. Hoje, o cara, para derrubar uma árvore, vem um punhado de gente encher o saco”.
A verdade é o contrário do que acredita o general. O Brasil derruba muita árvore, esse é o problema. No ano passado, foram 6.947 km2 de floresta desmatada na Amazônia e 7.408 km2 no Cerrado. Isso significa que o Brasil derrubou nos dois biomas algo como 14 milhões de árvores, só em 2017, segundo Tasso Azevedo, do Observatório do Clima. “E os dados de 2018 podem ser 30% maiores, como mostram as pesquisas do Imazon.”
O Brasil tem que cumprir objetivos internacionais de desmatamento líquido zero em 2023. Mesmo que o país, num governo Bolsonaro, saia do Acordo de Paris, os grandes bancos internacionais e multilaterais continuarão tendo que seguir regras de não financiar produtores vistos como desmatadores. Países podem escolher líderes que negam o problema ambiental e climático. Aconteceu nos Estados Unidos. Mas a despeito das crenças de Donald Trump, as empresas americanas continuam fazendo a transição para uma economia de baixo carbono, na agricultura, na indústria automobilística e até no setor de petróleo. É inexorável a mudança para um novo padrão sustentável, mas o estrago de curto prazo pode ser muito ruim se o país escolher voltar a visões de mundo totalmente desatualizadas. “No meu tempo”, diz o general, “não tinha MP e Ibama para encher o saco”.
O Ministério Público continuará em qualquer governo com sua independência, incomodando qualquer que seja o governo. Nesta campanha, Ciro Gomes disse que queria pôr o MP na caixinha, o ex-ministro José Dirceu disse que é preciso tirar dele o poder de investigação, e esse general da campanha de Bolsonaro sonha com a volta ao tempo em que ele não limitava o poder militar no seu ataque ao meio ambiente. Mas um governo com essa visão pode fazer um grande estrago na estrutura dos órgãos de controle do executivo, como o Ibama, Inpe, ICMBio.
O governo Dilma, como escrevi neste espaço várias vezes, passou por cima do Ibama e reduziu áreas de preservação. O governo Temer diminuiu o tamanho da preciosa Floresta de Jamanxin no Pará. Um governo com posições radicais pode ser bem pior. Enfrentará resistência, contudo, principalmente das instituições científicas independentes que produzem dados para qualificar o debate brasileiro. Além disso, o Brasil poderá perder bons negócios. Meio ambiente há muito tempo deixou de ser questão ideológica. A tentativa de volta no tempo será um tiro no pé. E quem me disse isso, repito, foi um banqueiro.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
Fonte: O Globo
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Compare os programas de governo registrados no TSE
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