domingo, 17 de março de 2013

Transporte de chorume para ETE Icaraí está com os dias contados


Caminhão descarrega chorume produzido em Seropédica no ETE Icaraí Renato Onofre

Inea autoriza despejo de resíduo tóxico nas ETEs de Sarapuí e Alegria e reduz carretas em Icaraí

Percurso de 167 km é propício a acidentes

Carretas com material tóxico passam por estradas malconservadas e quatro áreas de preservação ambiental



Renato Onofre, O Globo

O transporte de chorume da Central de Tratamento de Resíduos (CTR) Seropédica para Niterói está com dias contados. A Secretaria estadual de Ambiente informou com exclusividade ao GLOBO-Niterói que, a partir de amanhã, a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Sarapuí, em Belford Roxo, estará autorizada a tratar o líquido produzido a partir da decomposição do lixo orgânico. Com isso, o CTR passará a despejar metade dos 300 mil litros gerados no local diariamente na Baixada Fluminense. O restante será encaminhado à ETE Alegria, no Caju, cujo processo de adequação das instalações será finalizado em 30 dias. Até lá, a ETE de Icaraí continuará a fazer o tratamento.

Desde a sua inauguração, em abril de 2011, o aterro sanitário de Seropédica é alvo de críticas de ambientalistas por não ter destinação própria para o chorume e, por isso, já foi multado duas vezes. Outra crítica é o trajeto de 167 quilômetros percorrido pelo líquido altamente tóxico, em carretas, até chegar à estação em Niterói. O caminho é marcado por estradas precárias e alto fluxo de veículos — o que aumenta o risco de acidentes. Os veículos passam ainda por quatro Áreas de Preservação Ambiental (APAs) no entorno da Baía de Guanabara. Sem contar com a circulação por vias estreitas de Niterói até chegar à Rua Lemos Cunha, onde fica a ETE Icaraí. Os impactos aos moradores de Niterói vêm sendo denunciados por Gilson Monteiro em sua coluna no GLOBO-Niterói.

O Instituto Estadual de Ambiente (Inea) deu prazo até dezembro para que a Ciclus, empresa que opera o aterro de Seropédica, termine a construção de uma estação de tratamento própria, como prevê a concessão.

— A empresa (Ciclus) está errada e tem até o fim do ano para se adequar — afirmou o secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc.

Apesar de afirmar que não há risco no transporte de chorume, a presidente do Inea, Marilene Ramos, afirma que a autorização do tratamento na ETE de Sarapuí tem como objetivo diminuir o impacto do transporte do material pelo entorno da Baía de Guanabara e, principalmente, em Niterói, já que os caminhões ficam estacionados em via pública, aguardando a autorização para fazer o transbordo, numa zona densamente ocupada:

— Não há risco nessa operação, mas somos sensíveis ao impacto que isso causa à cidade.

Tratamento próprio

Até hoje, a única ETE licenciada, capaz de tratar chorume na Região Metropolitana é a de Icaraí, administrada pela Águas de Niterói. A cidade, porém, vai continuar recebendo o chorume proveniente de Itaboraí — para onde o município manda o lixo recolhido nas ruas — e de Alcântara. O Inea, entretanto, enfatiza que os dois aterros já estão se adequando para ter centros de tratamentos próprios.

Em nota, a Ciclus afirmou que está em fase final de contratação da estação de tratamento de efluentes. A empresa afirma ainda que realiza o pré-tratamento de 80% do chorume na própria unidade.

Diariamente, cerca de 20 caminhões percorrem 167 quilômetros do aterro sanitário de Seropédica até a Estação de Tratamento de Esgoto de Icaraí para que o chorume produzido na Zona Oeste do Rio seja tratado em Niterói. No caminho, o rejeito orgânico atravessa quatro Áreas de Preservação Ambiental (APAs), entre elas a de Guapimirim — considerada a mais resguardada do entorno da Baía de Guanabara —, e três das principais estradas federais do estado. Devido à carga tóxica, as carretas não podem trafegar pela Ponte Rio-Niterói.

O trajeto sinuoso, que passa por áreas de trânsito intenso e rodovias esburacadas, é apontado por especialistas como uma alternativa perigosa e ameaça o ecossistema da Baía de Guanabara. Na terça-feira, O GLOBO-Niterói seguiu um dos caminhões que faz o transporte do chorume e constatou os riscos do trajeto. Já na saída do aterro de Seropédica, os caminhoneiros enfrentam o primeiro desafio: o excesso de carros. Por mais de cem quilômetros, eles disputam espaço com veículos pesados no trecho que cruzam a Rio-Santos, Avenida Brasil e Rio-Petrópolis.

— Não podemos fazer ultrapassagens porque, devido à carga que carregamos, nosso limite de velocidade é de 80km/h. Às vezes, parece que somos quase engolidos pelos outros — explicou um caminhoneiro que pediu para não ser identificado.

O grande risco, porém, está no trajeto de Magé a Itaboraí, onde fica a APA de Guapimirim. Em fevereiro, O GLOBO mostrou que os 25 quilômetros da BR-493 são marcados por grandes desníveis, falta de iluminação e sinalização precária. A reportagem constatou que havia 665 buracos ao longo da via — uma média de um a cada 38 metros. Segundo Júlio César Wasserman, professor da Universidade Federal Fluminense e coordenador da Rede UFF de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, um acidente prejudicaria o ambiente e, inevitavelmente, a população:

— Esse chorume, muito contaminado com uma série de produtos, ao ser derramando numa área de manguezal, prejudica o solo, contamina os animais e, por último, pode chegar ao homem que estiver utilizando os recursos daquela área, como um pescador.

Excesso de carretas

A bióloga Simone Paez aponta a fragilidade do sistema e afirma que o manguezal é fundamental para a vida na Baía de Guanabara. Além de funcionar como uma estação de tratamento de esgoto natural, dá o suporte à cadeia biológica de vários peixes:

— Hoje, há poucas áreas onde o mangue ainda consegue sobreviver. Guapimirim é um criadouro natural da vida marinha da baía e um desastre poderia botar em xeque a sua frágil sobrevivência.

Em Niterói, um dos principais transtornos é o excesso de caminhões no trânsito das estreitas ruas. Na terça-feira, O GLOBO-Niterói flagrou 23 veículos esperando para descarregar o chorume ao lado do viaduto que dá acesso à Ponte Rio-Niterói, próximo à Favela do Sabão. O vice-prefeito Axel Grael afirmou que já a partir de hoje haverá restrição ao tráfego de caminhões em Niterói, fiscalizada pela Niterói Transporte e Trânsito (NitTrans).

— Só poderão circular dois caminhões por vez dentro da cidade. Enquanto um estiver descarregando o material (na ETE Icaraí), outro espera do lado de fora — explicou Grael, que ainda vai definir em que lugar o restante da frota vai aguardar.

O tratamento do esgoto na cidade também deve sofrer mudanças nos próximos anos. No final de 2014, termina a licença de operação da ETE de Icaraí e, para renová-la, o Inea e a prefeitura analisam mudanças no sistema de tratamento. Para Grael, é necessário reconhecer os avanços que a cidade teve nas últimas décadas em relação ao tratamento do esgoto, mas é preciso melhorar os investimentos em saneamento básico:

— Apesar dos avanços, o saneamento básico ainda não representa uma grande melhora na qualidade de vida do niteroiense. Temos que ter como meta a despoluição de rios e canais. Além de melhorarmos, e muito, o atendimento em áreas carentes

Fonte: O Globo Niterói

Um comentário:

  1. Raimundo Andrade Lacerda18 de março de 2013 às 09:42

    Não faço crítica.Para fazê-la eu tinha que dispor de uma idéia ou proposta que fosse de cunho diferente ao proposto e com consequências mais positivas.Diante disto, aproveito o gancho para sugerir uma vistoria nas ruas Jornalista Moacir Padilha e Eduardo gomes.Alí o CAOS existe.Um choque de ordem, surtiria um efeito bem salutar aos transeuntes.A temática é diferente à mensagem do blog mas, julguei oportuno e deixei esta minha observação.Bom dia.

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