terça-feira, 20 de agosto de 2019

Fumaça da Amazônia fez São Paulo anoitecer no meio da tarde



Escuridão às 16h10
O céu às 16h10 na Marginal do Pinheiros, proximo à ponte Eusebio Matoso; nas redes sociais, especulou-se que escuridão poderia ser resultado de queimadas, mas especialistas do Inp e descartam a hipótese Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO


COMENTÁRIO:

LITERALMENTE NAS TREVAS

Um fato estarrecedor na última segunda-feira, 19 de agosto, chamou a atenção para a dimensão do problema das queimadas na Amazônia, dando um exemplo mais perceptível - até para os céticos - que a destruição da floresta não traz consequência apenas local.

O efeito da entrada de uma frente fria e a fumaça das queimadas da Amazônia, empurradas para os céus de São Paulo por correntes atmosféricas, fez com que a tarde paulistana escurecesse a partir das 15:00 / 16:00 horas.

A perplexidade dos paulistas foi esclarecida por técnicos especialistas, que demonstraram que a cor e o cheiro da água da chuva estavam relacionados com a fumaça e as partículas em suspensão na atmosfera, provenientes das queimadas na Amazônia. O fato foi noticiado pela mídia e chegou à TV em rede nacional.

A origem e o trajeto da fumaça em direção a regiões mais ao sul do continente sul-americano foi comprovada por imagens da NASA.

Queimadas, destruição da Amazônia e o governo Bolsonaro

Não é de hoje que as queimadas e a destruição da Amazônia e outros biomas preocupam. O desmatamento a ferro e fogo é parte da história do Brasil, desde o início da colonização, e o problema nunca foi resolvido. Segue até hoje e se agrava a medida que a fronteira agrícola se expande e a floresta se encolhe.

A diferença é que, agora na gestão Bolsonaro, o desmatamento é uma política de governo. O discurso do presidente se opõe abertamente à agenda ambiental, da sustentabilidade e das mudanças climáticas. Bolsonaro propõe acabar com parques, quer garimpos em áreas indígenas, rejeita a ajuda internacional para a Amazônia e constrange antigos parceiros ambientais brasileiros.
Ao nomear um inimigo confesso do meio ambiente para o Ministério do Meio Ambiente, subordinar a agenda ambiental à agenda ruralista e o esforçar-se para o desmonte da legislação e dos órgãos ambientais, o governo passa uma mensagem clara aos desmatadores: "vai em frente que liberou geral".


A revista britânica The Economist publicou o gráfico acima mostrando o salto do desmatamento na Amazônia. Veja em Economist.


É o que estamos vendo agora: mesmo com o pouco tempo do atual governo, o desmatamento saiu do controle e a Floresta Amazônica está indo para o chão ou (literalmente) pelos ares. E a consequência está sendo assustadora, como podemos verificar com esse episódio da tarde paulistana.

Cientistas no Brasil e no exterior alertam que o rápido processo de destruição está nos levando ao "tipping point", ou seja um ponto de não retorno. A evapotranspiração da floresta será interrompida ou reduzida a tal ponto que os ciclos da água, na interação floresta-atmosfera, interferirão nos regimes de chuvas locais, regionais e continentais. Significa que a destruição chegará ao ponto de promover mudanças climáticas que forçarão os remanescentes da Floresta Amazônica a uma adaptação para uma condição de menos chuva. É o que chamam de "savanização", ou seja, a floresta vai se transformar em cerrado, com consequências para a biodiversidade.

Se isso acontecer, segundo estudos, uma das maiores prejudicadas será justamente a agricultura nas regiões onde é mais produtiva no país. É o "ruralismo" do atraso dando um tiro no próprio pé.

Que o susto de uma tarde escura em São Paulo promova a reflexão sobre a insensatez e a irresponsabilidade da política ambiental do atual governo.

Que se faça luz nas trevas!!!

Axel Grael
Engenheiro Florestal



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Análises confirmam presença de partículas de queimadas maior do que o normal em água de chuva preta de SP

Pesquisadores explicam efeitos da fuligem de queimadas na cor da chuva em São Paulo. Inmet afirma que maior parte da fumaça veio de outros países. Testes mostram quantidade elevada de substâncias provenientes de incêndios florestais.

Por G1 SP, GloboNews e TV Globo

Assista ao vídeo com a reportagem da Globo clicando aqui


Análises técnicas feitas por duas universidades mostraram que a água da chuva de cor escura, coletada por moradores de São Paulo nesta segunda-feira (19) após nebulosidade forte encobrir a cidade, contém partículas provenientes de queimadas. Nas redes sociais, moradores da Grande São Paulo postaram fotos da água da chuva escura.

O teste feito pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) identificou a presença de reteno, uma substância proveniente da queima de biomassa e considerada um marcador de queimadas, na água da chuva coletada na segunda-feira.

Já o exame realizado pela Universidade Municipal de São Caetano (USCS) mostrou que a concentração de material particulado, ou seja, de fuligem, foi sete vezes maior do que a registrada na água de uma chuva normal.

Queimadas aumentam 82% em relação ao mesmo período de 2018Amazônia concentra metade das queimadas em 2019

A fumaça das queimadas atingiu as nuvens de chuva que já estavam sobre a cidade na segunda-feira. A fuligem, que viaja a uma altura maior do que o material particulado proveniente da poluição comum, foi então absorvida pela nuvem - dando origem à chuva "preta", segundo Theotonio Pauliquevis, físico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

"As nuvens de chuva ficam de 1,5 km a 10 km do solo. Quando a poluição parte do nível de superfície e vem de carros ou fábricas, ela fica presa embaixo das nuvens, formando uma camada visível, mais escura, no horizonte", explica. "Aí, quando a água cai, ela bate nas partículas e a enxurrada leva essa poluição comum."

"Já a nuvem de fumaça viaja a cerca de 3 km ou 4 km do solo. Ela bate de frente com a nuvem de chuva, que absorve a fuligem e forma essa espécie de gosma que dá origem às nuvens escuras e avermelhadas e também à chuva 'preta', mais escura que o normal", diz o pesquisador, que estuda a composição química da chuva na Amazônia em períodos de queimadas.

Enquanto os pesquisadores da USP analisaram a identificação de reteno, que é um marcador de queimadas, a análise da USCS verificou quantidade de fuligem 7 vezes mais que o normal e a presença de sulfetos 10 vezes superior à média. A substância é proveniente da queima de combustíveis fósseis e queimadas.

"Se eu estou com 7 vezes mais do que deveria ter, eu tenho nessa água substâncias químicas que podem afetar a saúde. Agora a gente vai ter que investigar o que que é isso", diz Marta Marcondes, bióloga e professora da linha de pesquisa de saúde e meio ambiente da USCS.

Marcos Buckeridge, diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), diz que a fuligem proveniente das queimadas também pode conter substâncias tóxicas aos seres humanos. "Se nós tivéssemos recebido a fumaça sobre a cidade, sem a presença de uma frente fria que trouxe chuva, isso poderia ter um efeito muito pior nas pessoas", diz.

A meteorologista Beatriz Oyama, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), explica que as nuvens de chuva podem acumular o material particulado que se encontra na atmosfera.

"A chuva é um processo de limpeza da atmosfera. Como a gente está abaixo da nuvem, a gente não sabe exatamente qual é a concentração de partículas lá em cima, onde a nuvem se forma. No nível de superfície, o ar já está relativamente limpo por conta da chuva", explica Oyama.

O repórter cinematográfico Leandro Matozo, da GloboNews, coletou a água com fuligem em baldes no quintal da casa onde mora, em São Mateus, na Zona Leste da capital. As amostras recolhidas no local foram utilizadas nos exames das universidades. Agora, novos testes devem mostrar para a saúde das substâncias encontradas.


Água escura coletada em casa de São Mateus, na Zona Leste de SP — Foto: Leandro Matozo/GloboNews

Água preta coletada em São Mateus — Foto: Leandro Matozo/GloboNews

Água da chuva de cor escura foi coletada em diversos pontos de São Paulo nesta segunda (19). — Foto: Luciana Cantão/TV Globo

Dia virou noite

Na tarde desta segunda-feira (19) a cidade de São Paulo ficou com o céu encoberto por nuvens escuras e o "dia virou noite". O fenômeno está relacionado à chegada de uma frente fria e também de partículas oriundas da fumaça produzida em incêndios florestais.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), parte deste material particulado é de origem local e oriundo da Amazônia brasileira, mas "outra parte considerável, talvez a predominante, de queimadas de grandes proporções, originadas nos últimos dias perto da tríplice fronteira da Bolívia, Paraguai e Brasil, próximo da região de Corumbá, em Mato Grosso do Sul."

A Climatempo confirma a análise do Inmet de que a fumaça das queimadas atingiu o estado de São Paulo.

"A fumaça não veio de queimadas do estado de São Paulo, mas de queimadas muito densas e amplas que estão acontecendo há vários dias em Rondônia e na Bolívia. A frente fria mudou a direção dos ventos e transportou essa fumaça pra São Paulo", diz Josélia Pegorim, meteorologista da Climatempo. “Aqui na região da Grande São Paulo a gente teve a combinação desse excesso de umidade com a fumaça, então deu essa aparência no céu."

No final de semana, a direção do vento estava levando a fumaça para o Sul do Brasil. Com a chegada da frente fria no Sudeste, a fumaça começou a ser direcionada para o estado de São Paulo, segundo a Climatempo.

Os meteorologistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que também monitora o clima no país, ainda não verificaram influência das queimadas no aumento na nebulosidade que tornou o céu da capital tão escuro.

"O vento até pode trazer essa fumaça de queimadas, mas teria que ser bem intenso o incêndio. Geralmente, isso ocorre mais com fumaça de vulcões", diz Caroline Vidal, meteorologista do Inpe.


Fonte: G1




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Com escuridão atípica, dia vira noite em São Paulo nesta segunda


Segundo meteorologista, cenário foi provocado por nuvem muito baixa e profunda; internautas tentam 'provar' que é de tarde

Felipe Cordeiro e Giovana Girardi, O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Três da noite? O relógio ainda marcava 15 horas nesta segunda-feira, 19, em São Paulo quando o céu escureceu, o que causou a impressão de que a tarde tivesse virado noite na cidade.

Quatro da noite? Às 16 horas, o céu em São Paulo estava escuro Foto: Alex Silva/Estadão


De acordo com Helena Turon Balbino, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), trata-se de uma nuvem muito baixa e profunda, por isso ela é tão escura, que se formou a partir de ventos bastante úmidos vindos de sudeste e sul.

"É mais ou menos como quando estamos em um avião, descendo e entramos no meio de uma nuvem", diz.

Nas redes sociais, especulou-se que a escuridão poderia ser resultado das queimadas da Amazônia ou da Bolívia – que chegou a provocar uma nuvem de fumaça de 30 km –, mas tanto a especialista quanto o pesquisador Alberto Setzer, do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), disseram ser pouco provável essa hipótese.

Segundo Setzer, um pouco dessa fumaça de fato chega a São Paulo, mas não a ponto de ser a principal explicação para a escuridão desta segunda-feira. Imagens de satélite compiladas pelo pesquisador na semana passada mostraram um corredor de fumaça da Amazônia descendo para o centro-sul do País.


Dia vira noite em Sâo Paulo, com escuridão atípica

De acordo com os dados do Inpe, o número de focos de incêndio neste ano no País – dados contabilizados do dia 1 de janeiro até este domingo – já é 82% maior do que o mesmo período do ano passado. Foram registrados 71.497 focos no País neste ano, contra 39.194 em 2018. É o número mais alto dos últimos sete anos, batendo 2016, que até então tinha sido o líder, com 66.622 de 1º de janeiro a 18 de agosto.

No Twitter, internautas de São Paulo brincaram com a mudança repentina do céu. Um dos assuntos mais comentados da rede social era a expressão "São 16h", em que os usuários publicavam fotos para tentar "provar" que o dia virou noite.

Além do céu encoberto e da escuridão atípica para o horário, a capital paulista enfrenta frio e chuva fraca. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura, o tempo fechado e chuvoso vai continuar nas próximas horas.

"Por conta do tempo fechado, úmido e da entrada do ar de origem polar, a temperatura apresentou gradual declínio desde as primeiras horas da madrugada quando foi observada a máxima de 17,4°C", informou o órgão, em nota.


Além do céu encoberto e da escuridão atípica para o horário, São Paulo enfrenta frio e chuva fraca Foto: Alex Silva/Estadão

As estações meteorológicas automáticas do CGE registraram 16ºC em Perus, na zona norte, e 13ºC no extremo da zona sul. A umidade relativa do ar nessas regiões é, respectivamente, de 85% e 100%.

O CGE afirma que os ventos causam maior sensação de frio. Já as áreas de instabilidade que se deslocam do interior do Estado para a capital provocam chuvas de intensidade moderada.

Durante a noite, há potencial para chuvas fortes, trovoadas e rajadas de vento.

Fonte: Estadão


 






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