Visita animada. Aluizio Derizans e alguns dos pássaros que todas as manhãs vão comer frutas em sua casa. Na imagem, canários e gaturamos - Custódio Coimbra / Agência O Globo |
Canários, tucanos e saíras aprenderam a conviver com a selva de asfalto e concreto
‘As aves oferecem um refúgio de paz logo ali na janela, na pracinha. No Rio, mais do que em qualquer outra cidade’. Luciano Lima. Ornitólogo
ILHAS DE VIDA NO CENTRO DA CIDADE
O parque por si só é um santuário de pássaros. Seus 137 hectares concentram 162 das 520 espécies da cidade. No Rio, vive cerca de um quarto das 1.832 espécies do país, o segundo mais rico do mundo em aves, atrás apenas da Colômbia. Das 520, 417 têm registro recente no site Wiki Aves, a bíblia dos pássaros no Brasil.
Espécies ameaçadas de extinção, como o tucano-de-bico-preto, aqui não faltam, revela Fernando Pacheco, um dos mais respeitados ornitólogos (especialistas em aves) do Brasil. Caçado à exaustão e acossado pela perda de habitat, o tucano havia desaparecido do Rio. Mas foi reintroduzido com sucesso pelo cientista Adelmar Coimbra Filho nos anos 1970 e se tornou frequente em bairros com bordas de mata. Virou típico da cidade. Engano pensar ser preciso entrar na floresta para ver e ouvir as aves.
— Mesmo que elas não vivam o tempo todo nas ruas, acabam por aparecer — diz Pacheco. — Quanto mais árvores, mais pássaros. Se perto das matas, melhor ainda.
O ornitólogo carioca Luciano Lima, pesquisador do Observatório das Aves do Instituto Butantan, em São Paulo, frisa que a diversidade é muito maior do que se supõe:
— Você pode encontrar um trecho com umas seis árvores visitadas por até 30 espécies diferentes.
O parque por si só é um santuário de pássaros. Seus 137 hectares concentram 162 das 520 espécies da cidade. No Rio, vive cerca de um quarto das 1.832 espécies do país, o segundo mais rico do mundo em aves, atrás apenas da Colômbia. Das 520, 417 têm registro recente no site Wiki Aves, a bíblia dos pássaros no Brasil.
Espécies ameaçadas de extinção, como o tucano-de-bico-preto, aqui não faltam, revela Fernando Pacheco, um dos mais respeitados ornitólogos (especialistas em aves) do Brasil. Caçado à exaustão e acossado pela perda de habitat, o tucano havia desaparecido do Rio. Mas foi reintroduzido com sucesso pelo cientista Adelmar Coimbra Filho nos anos 1970 e se tornou frequente em bairros com bordas de mata. Virou típico da cidade. Engano pensar ser preciso entrar na floresta para ver e ouvir as aves.
— Mesmo que elas não vivam o tempo todo nas ruas, acabam por aparecer — diz Pacheco. — Quanto mais árvores, mais pássaros. Se perto das matas, melhor ainda.
O ornitólogo carioca Luciano Lima, pesquisador do Observatório das Aves do Instituto Butantan, em São Paulo, frisa que a diversidade é muito maior do que se supõe:
— Você pode encontrar um trecho com umas seis árvores visitadas por até 30 espécies diferentes.
Bacurau-da-Telha. |
Não à toa, Horto, Gávea, Jardim Botânico, Santa Teresa, Tijuca e Grajaú, por exemplo, são campeões de diversidade. Mas, mesmo no Centro, o Rio guarda um pouco da herança de Pindorama, a terra das palmeiras em tupi. Um exemplo é a Avenida Graça Aranha. As árvores em meio à selva de asfalto e concreto são ilhas de vida.
— Na Graça Aranha, tem sanhaço-cinza e do coqueiro, bem-te-vi, sabiá-laranjeira, ferreirinho-relógio, maria-é-dia e caturrita. Talvez até mais — revela um dos mais experientes observadores de aves da cidade, o economista Paulo Sérgio da Fonseca.
É questão de prestar atenção.
— Quase todo mundo olha para o chão. Eu olho para cima. As pessoas têm andado assustadas, estressadas. Têm razão. Mas a cidade ainda nos oferece essas aves incríveis. Trazem paz ao dia a dia — afirma a veterinária Elizabeth Pierobon.
Integrante do Clube de Observadores de Aves (COA) do Rio e frequentadora do passeio de Rajão no Jardim Botânico, ela vê e ouve de tucanos a gaviões de mais de uma espécie no trajeto de sua casa, no fim da São Clemente, até o prédio da Fundação Getulio Vargas, na Praia de Botafogo, onde participa de um coro. Na Rua Assunção, por exemplo, há ninhos de tico-tico nos postes de iluminação. Gaviões-carijó e carrapateiro se empoleiram para caçar nos telhados do Colégio Santo Inácio.
Foi com o olhar atento que Elizabeth descobriu que no Rio a natureza sobrevive até em garagem. Fez a descoberta no próprio condomínio. Três ninhos de sabiá-barranco na garagem do primeiro bloco e outros dois, no segundo. No primeiro, há também um ninho abandonado de beija-flor-tesoura. Esse foi deixado desde que a fêmea sumiu numa tempestade. As fêmeas de sabiá-barranco usam as canaletas da iluminação da garagem como base para os ninhos construídos com lama e galhinhos de árvores.
No condomínio vizinho, um casal de saíras-sete-cores escolheu as reentrâncias entre as folhas de uma palmeira do playground para construir o ninho. A voz da saíra é discreta. Ela deixa a exuberância para a plumagem multicor que a torna uma das aves mais espetaculares e um dos símbolos da Mata Atlântica. Um arco-íris com asas em pouco mais de dez centímetros. Há saíras — sete-cores e a igualmente bela saíra-militar — por bairros da Zona Sul.
— As aves oferecem um refúgio de paz logo ali na janela, na pracinha do bairro. No Rio, mais do que em qualquer outra cidade. A observação de aves cresce em todo o mundo. Mas, no Rio, muitas vezes você nem precisa sair de casa. É questão de observar. Tem tiê-sangue, uma beleza, em Copacabana, por exemplo. Há a linda e azul figuinha-de-rabo-castanho. Esse contato com a natureza não tem preço — destaca Luciano Lima.
Autor do guia “Aves do município do Rio de Janeiro”, o biólogo Eduardo Maciel diz que não se trata de melhoria das condições ambientais da cidade:
— As aves se adaptaram a espaços vazios. Quase não existem estudos sobre espécies urbanas, por isso é difícil avaliar a situação atual. Mas certamente há uma maior sensibilidade da população. Hoje criar aves presas em gaiolas é considerado um hábito condenável. Assim como vender e matar passarinhos. Fotografar e filmar uma ave solta vale muito mais do que prender passarinho. Tudo isso ajuda muito.
PASSARINHO FAZ BEM À SAÚDE
Unanimidade entre os especialistas é a volta da seleção canarinho original. O canário-da-terra, quase extinto no final do século XX, está de volta. E em profusão. Voltou não só ao Rio, mas à maior parte do Sudeste. Em casais ou bandos, os canarinhos frequentam comedouros de varandas e janelas, quintais, a cidade quase toda. São a voz e a alegria da casa de Aluizio Derizans da Silva, em São Conrado, que distribuiu comedouros no jardim frequentado também por gaturamos, periquitos e muitos outros.
Foi com o olhar atento que Elizabeth descobriu que no Rio a natureza sobrevive até em garagem. Fez a descoberta no próprio condomínio. Três ninhos de sabiá-barranco na garagem do primeiro bloco e outros dois, no segundo. No primeiro, há também um ninho abandonado de beija-flor-tesoura. Esse foi deixado desde que a fêmea sumiu numa tempestade. As fêmeas de sabiá-barranco usam as canaletas da iluminação da garagem como base para os ninhos construídos com lama e galhinhos de árvores.
No condomínio vizinho, um casal de saíras-sete-cores escolheu as reentrâncias entre as folhas de uma palmeira do playground para construir o ninho. A voz da saíra é discreta. Ela deixa a exuberância para a plumagem multicor que a torna uma das aves mais espetaculares e um dos símbolos da Mata Atlântica. Um arco-íris com asas em pouco mais de dez centímetros. Há saíras — sete-cores e a igualmente bela saíra-militar — por bairros da Zona Sul.
— As aves oferecem um refúgio de paz logo ali na janela, na pracinha do bairro. No Rio, mais do que em qualquer outra cidade. A observação de aves cresce em todo o mundo. Mas, no Rio, muitas vezes você nem precisa sair de casa. É questão de observar. Tem tiê-sangue, uma beleza, em Copacabana, por exemplo. Há a linda e azul figuinha-de-rabo-castanho. Esse contato com a natureza não tem preço — destaca Luciano Lima.
Autor do guia “Aves do município do Rio de Janeiro”, o biólogo Eduardo Maciel diz que não se trata de melhoria das condições ambientais da cidade:
— As aves se adaptaram a espaços vazios. Quase não existem estudos sobre espécies urbanas, por isso é difícil avaliar a situação atual. Mas certamente há uma maior sensibilidade da população. Hoje criar aves presas em gaiolas é considerado um hábito condenável. Assim como vender e matar passarinhos. Fotografar e filmar uma ave solta vale muito mais do que prender passarinho. Tudo isso ajuda muito.
PASSARINHO FAZ BEM À SAÚDE
Unanimidade entre os especialistas é a volta da seleção canarinho original. O canário-da-terra, quase extinto no final do século XX, está de volta. E em profusão. Voltou não só ao Rio, mas à maior parte do Sudeste. Em casais ou bandos, os canarinhos frequentam comedouros de varandas e janelas, quintais, a cidade quase toda. São a voz e a alegria da casa de Aluizio Derizans da Silva, em São Conrado, que distribuiu comedouros no jardim frequentado também por gaturamos, periquitos e muitos outros.
Pássaros Urbanos. FragataFoto: Custódio Coimbra / Agência O Globo |
— O canarinho voltou com força. E esperamos que para ficar. Não sabemos bem o motivo. Talvez porque as crianças tenham trocado os estilingues pelo videogame — frisa Pacheco.
Se o dia é de canários, saíras e sabiás, a voz das noites cariocas é a do bacurau-da-telha. Ele está em todos os bairros, garantem em uníssono os especialistas. Há, claro, corujas de três espécies comuns. Mas, no Rio, o bacurau é rei.
— Muita gente pensa que é coruja. Mas é o bacurau que se ouve em todos os telhados, árvores, em toda parte — afirma Fonseca.
Passarinhos fazem bem à saúde e males espantam, com a chancela da ciência.
— Estudos provam que o contato com a natureza combate o estresse e a depressão. A ciência chama isso de biofilia. O Rio é biofílico e nem sabe — diz Rajão.
Fonte: O Globo
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