domingo, 14 de dezembro de 2014
Olimpíadas devem servir de estímulo para despoluição da Baía de Guanabara
Akemi Nitahara - Agência Brasil 12.12.2014 - 20h35
Apesar de não ser possível despoluir a Baía de Guanabara até os Jogos Olímpicos Rio 2016, o evento deve servir de estímulo para que o processo de limpeza continue, como ocorreu com a Baía de Sydney, na Austrália, após as Olimpíadas 2000.
De acordo com Paulo Cesar Rosman, professor de engenharia costeira do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os australianos também não conseguiram atingir nível satisfatório de despoluição para os Jogos, mas atualmente a situação está bem melhor.
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“As Olimpíadas foram um degrau muito importante. Se não fosse a meta intermediária, as pessoas possivelmente não tomariam consciência e dariam tanta atenção para a necessidade de recuperação da Baía de Sydney. O mesmo podemos dizer da nossa sofrida Baía de Guanabara, que, sem dúvida, nos fará passar algumas vergonhas durante as Olimpíadas, porque as condições deixam muito a desejar”, ressaltou Rosman.
O tema foi discutido hoje (12), no 1º Seminário sobre a Baía de Guanabara: Situação Atual e Perspectivas no Contexto dos Jogos Rio 2016, promovido pelo Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção (Sage), da Coppe-UFRJ, e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ciências do Mar (INCT Pro-Oceano).
Segundo o professor, investimentos como o do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), na década de 1990, cumpriram o previsto, que era avançar no saneamento básico da região. Porém os valores aplicados são insuficientes para a magnitude do problema.
“Juntando todos os projetos, talvez se alcance R$ 2 bilhões em 20 anos. O Maracanã custou R$ 1 bilhão. Você acha que dá para resolver o problema de cinco milhões de pessoas sem saneamento, urbanização e sistema de coleta de lixo gastando dois maracanãs? Ou o que se gastou no Maracanã foi uma roubalheira impossível de compreender, ou o que se gastou na Baía de Guanabara foi uma brincadeira em relação ao tamanho da encrenca”, acentuou.
Para Paulo Cesar Rosman, é preciso investir pelo menos R$1bilhão por ano para que a Baía de Guanabara consiga, em 10 anos, atingir situação aceitável. Por enquanto, a verba prevista para o Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam) é R$ 1,5 bilhão até 2016. O professor destacou que a poluição é apenas um efeito colateral da falta de desenvolvimento socioeconômico da região.
“Infelizmente, ainda temos um grande contingente de pessoas carentes, preocupadas em estar vivas semana que vem. Para essas pessoas, qualidade de vida é um luxo. Elas ainda não chegaram lá. Precisamos criar um desenvolvimento socioeconômico, de maneira que a cidadania delas seja resgatada, que elas consigam ter preocupação com a qualidade de vida. Quando isso ocorrer, o local onde moram ficará bonito, terá árvore, sem lixo no chão e valão de água negra em frente à casa. Ninguém aguentará isso. O dia em que 90% dos habitantes tiverem como principal preocupação a qualidade de vida e do ambiente onde vivem, a Baía de Guanabara está salva”, afirmou Rosman.
No seminário também foram apresentados temas relativos à diversidade biológica, contaminação viral, parâmetros de qualidade da água e sistemas de circulação de água na baía. Em outro seminário realizado em Niterói, região metropolitana do Rio, o tema foi Utilização Turística da Baía de Guanabara.
De acordo com o ministro do turismo, Vinícius Lages, a ocupação turística da região pode começar antes mesmo da despoluição. “Ainda que não na velocidade demandada, estamos trabalhando para poder diminuir esses impactos, reduzindo a poluição e transformando este, que é um grande palco, um ecossistema natural que representa muito do que o Rio é. Principalmente para a cultura náutica, devemos cuidar da natureza e da paisagem. Isto tem a ver com a sustentabilidade do uso dos recursos do mar”, acrescentou.
Fonte: EBC - Agência Brasil
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