Dilma Pena assumiu a culpa pela atual crise hídrica, mas dividiu a responsabilidade com o governo e a 'sociedade paulista'
SÃO PAULO e BRASÍLIA - A presidente da Sabesp, Dilma Pena, admitiu nesta quarta-feira, em depoimento à CPI da Câmara Municipal de São Paulo que investiga o contrato da Prefeitura com a estatal, que a água na capital paulista pode acabar em meados de novembro, caso não chova. Dilma voltou a culpar o clima, dessa vez o calor - e não mais a estiagem -, pelo aumento do consumo de água nos últimos dias. A temperatura em São Paulo começou a subir somente esta semana.
— Temos uma disponibilidade suficiente para atender a população nesse regime de chuvas até meados de novembro — disse Dilma Pena, que negou durante o depoimento que haja racionamento na cidade.
A presidente da estatal disse que a Sabesp está realizando obras para a utilização da segunda parte do chamado volume morto do Sistema Cantareira. Nesta quarta-feira, a reserva técnica do manancial, que abastece 6,5 milhões de pessoas na região metropolitana, chegou a 4,3%.
Aos vereadores paulistanos, Dilma Pena assumiu a responsabilidade pela atual crise de abastecimento, mas a dividiu com o governo e com a população.
A presidente da Sabesp, Dilma Pena - Elza Fiúza / ABr |
— Este problema eu divido com a diretoria colegiada da Sabesp, com os nossos superintendentes, que estão trabalhando de 12 a 18 horas ininterruptas por dia, com o governo de administração, com o governo do estado e com a sociedade paulista.
Na semana passada, em conversa com o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) captada pelos microfones da Câmara, Dilma Pena e o tucano chamaram a CPI de “teatro”. Matarazzo ainda disse que o colega Police Neto (PSD), integrante da CPI, era “vagabundo”. Na ocasião, Dilma Pena prestara o seu primeiro depoimento à comissão.
Para a presidente da Sabesp, a decisão liminar da semana passada da Justiça Federal proibindo a utilização da segunda reserva do manancial - exceto se estudos técnicos comprovarem ser impossível o cumprimento da ordem judicial – não é problema para o governo paulista.
— No primeiro parágrafo diz que não se pode usar, mas depois há uma relativização, (afirma que) se for justificado o uso, que seja com parcimônia. E faremos dessa maneira. O estado e as instituições competentes estão resolvendo isso — destacou.
Segundo Dilma Pena, há uma obra já licenciada, em fase de finalização, para disponibilizar 106 milhões de metros cúbicos para o Sistema Cantareira, que poderá abastecer tanto a Grande São Paulo quanto a região de Campinas, no interior paulista.
O promotor de Justiça José Eduardo Ismael Lutti, do Ministério Público Estadual, também em depoimento na comissão do Legislativo municipal, disse que as ações adotadas pela Sabesp não são suficientes para garantir o abastecimento de água.
— O que fica claro, depois de ouvir declarações de funcionários, é que a Sabesp não planeja o bastante para garantir a segurança hídrica em qualquer tipo de cenário, a não ser acreditando que as chuvas virão normalmente. A esperança por parte da companhia é a de adesão das pessoas ao bônus, e não um planejamento do recurso hídrico com segurança — disse o promotor.
Relator da CPI, o vereador Nelo Rodolfo (PMDB) criticou a falta de transparência da estatal e do governo do estado sobre a crise de abastecimento.
— O morador de São Paulo é sempre o último a saber.
PARA ANA, SABESP DESCUMPRE ORDEM JUDICIAL
A Agência Nacional de Águas (ANA) acusou a Sabesp de estar descumprindo a determinação da agência e uma medida judicial ao retirar água além da cota de 777 metros no rio Atibainha, do Sistema Cantareira. Segundo vistoria da régua de medição feita pela ANA na localidade na terça-feira, o nível da água naquele rio estava em 776,62 metros, abaixo do piso em 38 centímetros, portanto.
O bombeamento de água abaixo da cota de 777 metros, significa que a Sabesp já estaria usando a segunda parte do volume morto do sistema Cantareira, para o qual pediu autorização de uso da ANA apenas na sexta-feira. Segundo a ANA, os dados do sistema da Sabesp estão diferentes daqueles verificados em campo, .
Nesta quarta-feira, o presidente da ANA, Vicente Andreu, enviou ofício ao Departamento de Águas e Energia Elétrica do estado de São Paulo (DAEE), solicitando que “adote as providências cabíveis, em caráter de urgência, devido à rigorosa estiagem que ocorre na região”.
Em ofício enviado ao DAEE na sexta-feira, a Sabesp informava que “manutenções imprevistas no sistema” ocasionaram um deplecionamento além do esperado no Atibainha. Na sexta-feira, O GLOBO questionou a Sabesp sobre o fato de a cota de 777 metros ter sido superada. Na segunda-feira, a assessoria informou que as regras impostas pela ANA e pelo DAEE estavam sendo cumpridas.
Nesta quarta-feira, a ANA se manifestou também sobre o pedido formal da Sabesp para explorar o Atibainha além da cota de 777 metros. Segundo a agência federal, o pedido só pode ser avaliado se a empresa paulista informar também novos limites para outros reservatórios do complexo de Cantareira.
A ANA informou ainda, por meio de ofício ao DAEE, que considerando a ação civil pública interposta pelo ministério público federal e estadual de São Paulo, que obteve decisão liminar, “é necessário que a Sabesp ateste a impossibilidade da continuidade do abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo sem a utilização dos volumes localizados abaixo da cota de 777 m no reservatório do Atibainha e ateste que essa utilização não irá interromper a defluência de vazões por gravidade a jusante do reservatório, na bacia do Paraíba.”
Fonte: O Globo
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