quinta-feira, 16 de maio de 2019

Relatório aponta mais impactos negativos do plástico no meio ambiente e na saúde humana



Pedras na praia do Atalaia, em Fernando de Noronha, escondem lixo que vem do mar. — Foto: Fábio Tito/G1


Amélia Gonzales

As ruas estão cheias quando me sento para escrever. Pessoas protestam, legitimamente, contra os cortes de verbas para a educação. Na verdade, a indignação vem no bojo contra várias medidas antipopulares que o governo de Jair Bolsonaro tem submetido à população.

Na pasta do Meio Ambiente, a última ação foi abrir mão de sediar em Salvador a edição latino-americana e caribenha da Semana do Clima (que ocorreria entre 19 e 23 de agosto), evento totalmente custeado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), uma reunião importante para o debate climático. Como bem lembrou meu colega Andre Trigueiro em seu blog, a atitude do ministro Ricardo Salles criou um imbróglio diplomático, político. Acrescento: a justificativa de que não quer estrangeiros aqui "para fazer turismo e comer acarajé" é populista. Com todos as letras.

Protestos são parte da democracia e, quando não há violência, é o meio mais direto e saudável de a população demonstrar indignação contra atos do Executivo. Eu, aqui do meu posto, me inscrevo como pessoa que faz circular informações para ampliar pensamentos. Assim, vamos falar sobre plásticos e seu impacto nos oceanos, contra a vida marinha.

Foi em 1907 que o químico belga, naturalizado americano, Leo Baekeland (1863-1944) criou o primeiro plástico totalmente sintético e comercialmente viável, o Bakelite. Como não podia deixar de ser, a invenção foi muito bem vinda e trouxe vários benefícios à humanidade, até então em busca de um material flexível e duradouro para embalar suas coisas.

Aqui, vale um paralelo: a descoberta do fogo, que começou a ser usado diariamente há 300 mil anos*, ajudou os humanos a alçarem rapidamente ao topo da cadeia alimentar, trazendo enormes consequências (negativas) para a biodiversidade. Já com o plástico, que começou a ser usado freneticamente sobretudo depois da Revolução Industrial, não está sendo nada diferente. É um dos materiais mais onipresentes da economia e "um dos poluentes mais difusos e persistentes do planeta", segundo uma pesquisa publicada em fevereiro deste ano e realizada por oito instituições mundiais que o "The Guardian" publicou nesta quarta-feira (15).

Intitulado "Plastic & Health", o estudo apresenta um panorama completo dos impactos do plástico na saúde humana e aconselha que qualquer solução para a crise do plástico deve abordar todo o ciclo de vida do produto. Como se vê, não contente em causar mal a outras espécies, a humanidade também consegue fazer mal a si própria.

"Em todas as fases do seu ciclo de vida, o plástico representa riscos distintos para a saúde humana, decorrentes tanto da exposição às próprias partículas de plástico como às substâncias químicas associadas. Pessoas em todo o mundo estão expostas em vários estágios deste ciclo de vida", conclui o relatório.

A compulsão ao plástico também ameaça as tentativas de cumprir o Acordo do Clima conseguido em Paris durante a COP-15, quando os líderes de países bateram o martelo no sentido de reconhecer que a humanidade precisa agir para conter o aquecimento global e mantê-lo a 1,5ºC até o fim do século. "A pesquisa mostra que até 2050 o plástico será responsável por cerca de 13% do total do 'orçamento de carbono' – o equivalente a 615 usinas a carvão", diz a reportagem do "The Guardian".

Os autores afirmam que o plástico descartável encontrado em embalagens e bens de consumo de alta velocidade constitui o maior segmento da economia do plástico. E pedem uma ação urgente para conter, não só a produção, como também o consumo do plástico descartável.

"As embalagens plásticas descartáveis respondem por 40% da demanda por plástico, impulsionando um boom na produção de dois milhões de toneladas na década de 1950 para 380 milhões de toneladas em 2015. Até o final de 2015, 8,3 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas - dois terços lançados no meio ambiente, que permanecem por lá", aponta o relatório.

Trazendo a informação para a nossa rotina, pode-se entender melhor. É mais ou menos assim: na lanchonete onde se pede um salgado e um refresco, por exemplo, certamente o lanche será servido num prato de plástico descartável. O cidadão leva cerca de cinco a dez minutos para comer, paga e vai embora, deixando o prato de plástico sobre o balcão. A vendedora segue seu trabalho, que será recolher aquele prato e jogá-lo no lixo. Dali, os profissionais da limpeza urbana vão levá-lo para o depósito, de lá para o aterro sanitário... e o prato de plástico, que nos serviu por cinco minutos, ainda sobreviverá por muitos e muitos anos, poluindo o nosso meio ambiente.

O pior será se ele cair em mãos irresponsáveis que o descartarão em qualquer lugar. O caminho entre este "qualquer lugar" e o mar é ligeiro e curto. O plástico é, hoje, um dos grandes vilões da poluição nos oceanos e põe em risco vidas marinhas. Em março do ano passado, a revista "Scientific Reports" revelou a Ilha de Lixo do Pacífico, que naquela época á tinha um tamanho corresponde a 17 vezes o continente de Portugal. Uma mancha móvel, quase uma sopa, foi vista pelos cientistas, que ficaram impressionados:

"Se a virmos do céu, por exemplo, só vemos um oceano azul profundo, mas se a virmos mais de perto começamos a perceber que há muitos detritos espalhados à superfície", contaram à reportagem do jornal português "Público".

Acabar com isto, ou pelo menos diminuir o tamanho de tal ilha, depende muito de nós. É evidente que a indústria de alimentos se apoderou do plástico em benefício próprio, de espalhar alimentos embalados, e quanto a isto nos sentimos impotentes em parte, porque também é uma opção nossa comer alimentos processados. Mas, de qualquer forma, estamos num bom momento para refletir e perceber que o conforto que o plástico nos proporcionou é relativo e precisa ser revisto.

Basta que se abra mão de hábitos. Por que, por exemplo, é preciso embalar os produtos que se compra nas feiras livres? Por que precisamos sair da padaria com o embrulho do pão dentro de uma dessas indefectíveis sacolinhas brancas? Por que usar tais sacolinhas, se é possível carregar tudo em sacos de pano? Na lanchonete, por que não devolver o prato para a atendente, deixando claro que ele pode ser usado outras vezes?

Poderia preencher todo este espaço com sugestões para diminuir o uso de plástico. Há vários sites que se prestam a este propósito e estão disponíveis para quem tem acesso à internet. Já fico feliz se tiver lançado a semente da vontade de buscar conhecer mais a respeito.


Fonte: Blog da Amélia Gonzales - G1

Amélia Gonzales escreve sobre sustentabilidade e debate temas ligados a economia, meio ambiente e sociedade




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