segunda-feira, 19 de setembro de 2016

HORTA EM CASA: cada vez mais gente se dedica a cultivar em pequenos espaços na sua residência



As hortas caseiras estão cada vez mais presentes nos lares urbanos, provando que, mesmo dentro de uma grande metrópole, não é preciso abrir mão do contato com a terra. Foto: Lucas Benevides


Ulisses Dávila

Cada vez mais as pessoas procuram alternativas para ter uma área verde nos lares

Cada vez mais as pessoas estão atentas para uma alimentação saudável e livre de agrotóxicos, ao mesmo tempo em que moradores de grandes cidades, principalmente os que vivem em apartamentos, procuram alternativas para ter uma área verde em casa. Para essas e várias outras finalidades, as hortas caseiras estão cada vez mais presentes nos lares urbanos, provando que, mesmo dentro de uma grande metrópole, não é preciso abrir mão do contato com a terra.

“Em casas, quase sempre é mais fácil ter uma horta, pois muitas vezes costumam ter mais espaços. No entanto, a demanda mais frequente para esse tipo de trabalho é em apartamentos, o que requer avaliar de forma ainda mais criteriosa o projeto. Também tenho tido pedidos de hortas simples e pequenas para salas. Para esses casos, a preocupação maior é sempre com o sol e com a drenagem”, explica a arquiteta e urbanista Cyntia Sabat.

Para quem pensa na qualidade do próprio alimento, uma horta em casa permite que as pessoas vejam o passo a passo da produção e saibam exatamente o que estão comendo, explica Sabat, que também lembra a comodidade de colher o alimento na hora que se precisa.

“Para ter uma horta em casa, as pessoas precisam estar dispostas a cuidar dela, pois, apesar de simples de ser feita, requer cuidados diários e um pouco de estudo sobre o assunto, tais como: que tipo de adubo usar, frequência da irrigação, entre outras coisa”, lembra Cyntia.

Comemorando três anos de existência, o grupo de Niterói “Quintais Produtivos” reúne pessoas das mais variadas regiões da cidade interessadas no cultivo de hortas em residências.

“Sempre digo que é uma realização pessoal muito grande comer o alimento que se produz. Qualquer caixote ou vaso pode se transformar em uma pequena hortinha, basta querer. Temos mais ou menos 20 membros, em todos os bairros da cidade. Nosso trabalho é basicamente trocar informações através de reuniões e redes sociais, além de encontros mensais para promover um plantio coletivo, com trocas de mudas, sementes e conhecimentos. Agora, até uma escola já faz parte do grupo, da qual vários pais de alunos, que são membros do nosso grupo, resolveram promover um mutirão de plantio junto às crianças. Vamos fazer uma horta lá”, afirma o advogado Renato Viana, de 53 anos.

“Cuidando de uma horta, estamos em contato com a natureza, retomando a nossa origem e criando um estilo de vida”, afirma a musicoterapeuta Vera Hees, de 56 anos, que além do grupo “Quintaes” também é membro da Igreja Messiânica, que estimula a agricultura caseira e promove capacitação através do Fundação Mokiti Okada.


Mariana do Vale, Vera Hees e Renato Viana fazem parte do projeto “Quintais Produtivos”, que reúne pessoas das mais variadas regiões da cidade interessadas no cultivo de hortas em residências. Foto: Lucas Benevides


“Alimentando o solo de forma correta, estamos contribuindo com o meio ambiente, porque estamos mudando nossos hábitos e, em alguma escala, essa contribuição chega ao planeta. Acredito também que hortas urbanas comunitárias podem ajudar na vida de quem é economicamente desfavorecido, através da troca de produto em uma espécie de escambo. Uma boa ideia é começar com o que gostamos de comer. Nessa prática também aprendemos sobre o espiritual, pois entramos em contato com o invisível da natureza, o mistério da semente brotando”, filosofa Hees.

O espaço para se ter um pequeno cultivo pode, inclusive, ser mínimo, tanto vertical quanto horizontal. O principal é que bata sol e que seja resguardado dos ventos fortes, ensina Ana Paula Souza, idealizadora do projeto “Hortinha”, que cria peças e espaços de cultivo nas residências. Segundo ela, uma parede de 2m de altura por 60cm de largura já permite que se faça uma hortinha, assim como varandas pequenas ou guarda-corpos.

“Hoje em dia, o número de pessoas que me procura para fazer uma horta em casa é infinitamente maior do que há 10 anos, quando iniciei o projeto. É um tipo de cliente que busca mais saúde e qualidade de vida, pois a horta proporciona tanto a certeza de se alimentar com vegetais sem venenos, quanto uma atividade de relaxamento e meditação, de contato com a natureza e de aprendizado de valores como paciência, cuidado, amor e respeito”, explica a arquiteta Ana Paula.

No Rio de Janeiro, excluindo as áreas muito próximas ao mar, é possível cultivar tudo que se quiser. Segundo Ana, ervas, hortaliças, leguminosas, frutas, entre outros, rendem boas colheitas em região.
“O que vai influenciar mais no custo são os recipientes. Os insumos são a parte menos custosa (mudas, sementes, terra e adubo). Em média, gasta-se R$ 200 com tudo, dependendo dos produtos.

Os vasos e jardineiras devem ter no mínimo 20cm de profundidade, mas podem ser feitos até com recipientes que se tem em casa, desde que tenham esta medida”, explica Souza.

Para entrar no mundo das hortas residenciais é preciso estar disposto a colocar a mão na terra e a fazer amigos, como explica a chef Mariana do Valle, de 30 anos.

“Para conseguir as sementes livres de qualquer química, chamadas ‘sementes crioulas’, que não são vendidas, a gente precisa se conectar com as pessoas inseridas nesse contexto, criar uma espécie de rede. O mais legal de ter horta em casa, como acontece no movimento dos Quintais Produtivos, é a gente contar sempre com produtos frescos nas receitas. A gente sabe o tempo que cada alimento levou para ficar daquele jeito até chegar à nossa mesa. É outro tipo de relação com os vegetais, muito mais prazerosa. É o ciclo do alimento se fechando”, conclui Mariana.

Fonte: Revista O Fluminense












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