segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Grupo deve propor gestão integrada na baía do Araçá, no litoral paulista
Por Noêmia Lopes
Agência FAPESP – A baía do Araçá, entre as cidades de Ilhabela e São Sebastião, no litoral paulista, oferece ao homem serviços ambientais como provisão de alimentos (por meio da pesca), depuração de efluentes, ciclagem de nutrientes e área para ocupação urbana e turística. Oferece também benefícios menos tangíveis, relacionados, por exemplo, ao vínculo que a população estabelece com ela em termos de identidade e herança cultural.
Por outro lado, a baía é impactada por intervenções antrópicas na terra e no mar, como a construção do porto de São Sebastião e a poluição urbana, que podem comprometer serviços e benefícios ofertados pela natureza.
Com o objetivo de entender o complexo funcionamento desse sistema, propor caminhos para o uso integrado da região – levando em conta processos ambientais, físicos, biológicos e sociais – e depois aplicar a lógica de trabalho a outras regiões e escalas, um grupo de pesquisadores desenvolve, desde 2012, o Projeto Temático Biodiversidade e funcionamento de um ecossistema costeiro subtropical: subsídios para gestão integrada, sob a coordenação da professora Antonia Cecília Zacagnini Amaral, do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Estudar o mar é mais difícil e caro do que estudar áreas continentais, e ainda sabemos pouco sobre os processos que ocorrem na região costeira. Precisamos entender potencialidades, ameaças, oportunidades e fragilidades a fim de aprimorar estratégias de gerenciamento”, afirmou Alexander Turra, pesquisador do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do módulo Manejo Integrado do Temático, no primeiro encontro do Ciclo de Conferências 2014 do programa BIOTA-FAPESP Educação, em São Paulo.
Entre as ameaças já identificadas pelo grupo, Turra citou o projeto de expansão do porto de São Sebastião, que pode comprometer ou interromper o serviço de depuração de efluentes prestado pelo fitoplâncton.
“No canto direito da baía, há um córrego que leva esgoto praticamente in natura dos bairros ao mar. Analisando dados de nutrientes da água, constatamos uma depuração ativa, que pode ser prejudicada caso a laje para a extensão do porto seja instalada”, disse.
Nesse caso, o resultado seria um acúmulo de matéria orgânica não processada pelo fitoplâncton, com potencial de causar danos à extensa biodiversidade do local – já são mais de 730 espécies apenas de organismos bentônicos (associados ao fundo do mar, tanto em lama, areia ou pedra).
Para a continuidade das pesquisas, que vão se estender até 2016, o Projeto Temático do qual Turra faz parte conta com outros 11 módulos: Sistema Planctônico, Sistema Nectônico, Sistema Bentônico, Sistema Manguezal, Hidrodinâmica, Dinâmica Sedimentar, Interações Tróficas, Diagnóstico Pesqueiro, Identificação e Valoração dos Serviços Ecossistêmicos, Modelagem Ecológica e Gerenciamento e Organização de Dados e Metadados Espaciais.
Valoração dos serviços marinhos
Os exemplos apresentados na conferência confirmam, segundo Turra, a necessidade de olhar para os serviços ecossistêmicos marinhos de forma integrada, buscando a aproximação de diferentes atores sociais para uma discussão multissetorial. “Incluindo professores de Ensino Fundamental e Médio, que podem trabalhar a lógica dos serviços ecossistêmicos e da valoração dos benefícios ambientais com seus alunos”, disse.
Usar os oceanos com sabedoria e planejar o futuro de modo que os serviços prestados pelo ambiente marinho sejam maximizados depende, segundo ele, do tripé ciência (aliando conhecimento e informação), educação para a cidadania e políticas públicas.
Turra citou iniciativas como o Programa de Mentalidade Marítima (Promar), da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, e a Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
Estudos feitos em diferentes países, citados por Turra em sua apresentação, mostram que todos os oceanos já sofreram algum tipo de impacto por conta de ações antrópicas e mudanças climáticas. Foram identificadas 400 zonas mortas (com queda letal nos níveis de oxigênio), sete delas na costa brasileira.
BIOTA-FAPESP Educação
Em 2014, o ciclo de conferências organizado pelo Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade de São Paulo (BIOTA) terá palestras focadas nos serviços ecossistêmicos.
“Os conceitos desse debate ainda não estão dominados, estão em evolução. Mas se fazem cada vez mais presentes no cenário internacional e nas discussões sobre conservação, estratégias e políticas”, disse Carlos Joly, professor da Unicamp, diretor do Painel Multidisciplinar de Especialistas da IPBES e coordenador do BIOTA, na abertura do evento.
“A plataforma IPBES, criada em 2012, terá o mesmo papel que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem para convenções sobre o clima. Ou seja, produzirá relatórios e diagnósticos com o intuito de orientar a tomada de decisão por parte dos governos”, disse.
Ainda no primeiro dia de conferências, Rozely Ferreira dos Santos, professora do Instituto de Biociências (IB) da USP, falou sobre o contexto histórico da definição conceitual de serviços ecossistêmicos, fazendo um apanhado histórico sobre estudos realizados por economistas e ambientalistas na busca por definições mais objetivas sobre o tema.
Outros quatro encontros programados para o primeiro semestre deste ano vão tratar de serviços ambientais específicos, como polinização (essencial para a produção agrícola); proteção de recursos hídricos de rios, riachos, lagos e reservatórios; mudanças climáticas (relacionadas à perda de biodiversidade); e ciclagem de nutrientes (um exemplo é a influência da biodiversidade sobre a poluição e o equilíbrio de dióxido de carbono e oxigênio na atmosfera).
Mais informações sobre os próximos encontros estão disponíveis em www.fapesp.br/eventos/biotaeduc2014.
Fonte: Agência FAPESP
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Precisamos fazer algo parecido na Baía de Guanabara urgentemente!
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