Corais esbranquiçados. No mar de Paraty, uma colônia do coral-mole sofre as influências do clima Divulgação/ Joel Creed/ Projeto Coral Sol. |
Processo de branqueamento de colônias pode levá-las à morte
Flávia Milhorance
RIO - A onda de calor que atormenta o Estado Rio neste verão afetou também a biodiversidade marinha. Na Baía da Ilha Grande, entre os municípios de Angra dos Reis e Paraty, pesquisadores registraram nos últimos dias grandes extensões de recifes sofrendo um processo de branqueamento, que ocorre diante das elevadas temperaturas e pode levar à morte das colônias.
O branqueamento é um alerta para a saúde dos corais. É como se eles estivessem gravemente doentes devido ao calor, à radiação UV e também à poluição. Não ocorre apenas no Brasil. Ontem um estudo apontou para o problema também a Austrália. No Rio, é alarmante e foi registrado nas 29 ilhas da Estação Ecológica (Esec) de Tamoios, uma área de preservação na Baía da Ilha Grande.
- Nunca tinha visto algo desta magnitude. O branqueamento às vezes ocorre no verão, mas este ano o calor está excepcional. A temperatura do mar, no caso em Paraty-Mirim, atingiu os 34 graus Celsius, o recorde desde que começamos as medições há dez anos - comentou Adriana Gomes, chefe interina da Esec de Tamoios.
Em janeiro, o mar fluminense sofreu um aquecimento atípico. Uma corrente vinda do Norte inibiu a ressurgência, um fenômeno que ocorre na região de Cabo Frio e que empurra as águas geladas do fundo para a superfície. Apenas nas últimas duas semanas a temperatura do mar começou a se normalizar.
- Ontem (anteontem) mergulhei mais uma vez, e o processo está bem expandido. Tem ocorrido a até três metros de profundidade, onde a água fica mais aquecida. Várias espécies estão sendo afetadas - completou Adriana.
Um dos pesquisadores que fez o registro foi o professor Joel Creed, do Projeto Coral Sol (do Laboratório de Ecologia Marinha da Uerj e do Instituto Brasileiro de Biodiversidade), que controla a expansão dessa espécie exótica na baía. O coral foi trazido de outros ecossistemas por plataformas de petróleo na década de 1980 e tem se espalhado pela região, ameaçando outras espécies. Com o enfraquecimento e a morte dos corais nativos, isto abriria espaço para o Sol se expandir ainda mais, segundo Creed.
Os pesquisadores do projeto analisaram 380 colônias de coral-cérebro (Mussismilia hispida) em seis locais na baía (Ilha dos Meros, do Algodão, Comprida, da Pescaria, do Mantimento e Ponta Arpuá). Destes, 51% estão branqueados e 9% estão mortos devido ao branqueamento. A região mais afetada, segundo o levantamento, foi a Ilha da Pescaria: 27% dos corais-cérebros mortos e 68% branqueados.
- Nunca tinha visto tantos corais passando por isso. Vi coral-cérebro de 20 ou 30 anos morto - relata.
Temperatura muda cor de corais
Os corais têm uma relação mutuamente vantajosa com algas unicelulares (zooxantelas). Enquanto o coral ganha energia produzida pela alga, esta, por sua vez, se beneficia da estrutura. Quando há um estresse climático, as microalgas são expulsas da colônia, explica o biólogo marinho Gustavo Duarte, coordenador executivo do Projeto Coral Vivo:
- Se ele vai morrer ou não, depende da intensidade do fenômeno e se ele é crônico. Se sobreviver, em seis meses percebemos uma recuperação da cor do coral, pois as algas voltam a se reproduzir. O branco é o esqueleto, e ele fica aparente por causa da perda das algas - explica Duarte, que diz estar acompanhando a situação. - Também recebemos denúncias disso. Eu mesmo estive na Praia do Sono (Trindade-Paraty) na última semana e percebi que a água estava muito quente.
A Baía da Ilha Grande é importante por sua biodiversidade marinha, e por isso no local foi criada a unidade de preservação da Esec de Tamoios. A perda de colônias pode afetar a sua diversidade, além de causar um desequilíbrio no fundo do mar.
- Esta situação deve ter conexão com fatores globais de mudanças climáticas. A gente só não pode ser conclusivo porque isto não foi medido com estudos científicos - completa Duarte.
As ondas de calor afetaram também corais da costa de Pilbara, no Oeste da Austrália. O processo lá, entretanto, é contínuo e vem sendo registrado há cinco anos, segundo um estudo publicado ontem pela Universidade do Oeste da Austrália.
Fonte: O Globo Ciência
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribua. Deixe aqui a sua crítica, comentário ou complementação ao conteúdo da mensagem postada no Blog do Axel Grael. Obrigado.