Pescadores são beneficiados com a melhora da balneabilidade, que atrai espécies afastadas da Baía por décadas. Foto: Lucas Benevides |
Enseada de Jurujuba alcança recorde de balneabilidade
A qualidade ambiental da Baía de Guanabara afeta diretamente a vida de quem vive em seu entorno. Impactada por acidentes ambientais que causaram danos irreparáveis e também pela ação do homem ao longo do tempo, a Baía tem reagido de forma positiva aos esforços para salvá-la. Resultado disso é o índice das praias banhadas por esse ecossistema em Niterói. A Enseada de Jurujuba registrou 86% de balneabilidade em setembro e já supera as metas estipuladas ao longo do ano.
Um dos responsáveis por alcançar esse efeito positivo é o programa Enseada Limpa, que tem como objetivo transformar Jurujuba na primeira área da Baía a ser totalmente despoluída. Neste ano, considerando o período entre janeiro e setembro, a média acumulada da balneabilidade foi de 61,64%. Esse número supera o previsto para todo o ano de 2017, 50%.
O programa começou a ser desenvolvido na cidade em 2013 pela Prefeitura de Niterói e abrange as praias de São Francisco, Charitas, Jurujuba, Adão e Eva, que formam a enseada. As águas cada vez mais claras estão se tornando mais comuns nesses locais. De acordo com o secretário executivo e também idealizador do Enseada Limpa, Axel Grael, isso acontece através de iniciativas como a implantação e monitoramento de ecobarreira no Canal de São Francisco, obras de modernização da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Jurujuba e a construção de caixa de retenção de sedimentos em São Francisco.
“O Enseada Limpa mostra uma possibilidade de modelo para a Baía de Guanabara como um todo, porque sempre falamos que a Baía podia ser despoluída em um processo de enseada por enseada. Sabíamos que se resolvêssemos os problemas locais, teríamos os resultados esperados”, destaca Axel.
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) enfatiza que nessa época do ano há menor incidência de chuvas e, por isso, os resultados da balneabilidade são mais positivos. Dados do último boletim divulgado apontam que somente a Praia da Boa Viagem está totalmente imprópria. Em Icaraí, as águas estão liberadas para banho em praticamente toda a sua extensão. Em Jurujuba, apenas um trecho não está com boa qualidade. Diferente do que se via antes, as de São Francisco e Charitas foram positivamente avaliadas pelo Inea.
“As praias de Niterói, de uma forma geral, têm sinalizado ao longo do tempo melhora nos seus índices de balneabilidade”, atesta o órgão.
Saneamento é essencial para a balneabilidade
O boletim de saúde ambiental da Baía de Guanabara revela que Niterói é a única cidade do Estado perto de alcançar a universalização do tratamento de esgoto. Atualmente, 95% dos efluentes gerados por seus habitantes são tratados. A capital conta somente com 47% desse índice.
Por conta disso, a região de Niterói banhada pela parte central da Baía recebeu uma das melhores notas positiva no boletim, atestando a qualidade da água entre 70% e 85%, sendo classificada como boa.
O panorama, no entanto, não é o mesmo em São Gonçalo, onde apenas 10% do esgoto gerado por mais de 1 milhão de habitantes recebe tratamento adequado.
“A diferença entre a balneabilidade de Niterói e São Gonçalo, portanto, deve-se ao início da operação da companhia Águas de Niterói. Com isso, por exemplo, o esgoto que era despejado diretamente na Praia de Icaraí passou a ser coletado e enviado para a estação de tratamento, viabilizando condições melhores de balneabilidade”, ressalta o analista ambiental Rogério Rocco.
Um dos programas desenvolvidos pela concessionária, junto ao Inea, é o Projeto Se Liga, criado em Niterói para diminuir o lançamento de efluentes sem tratamento na Baía de Guanabara. Atualmente, 936 imóveis se conectaram à rede de esgotamento sanitário. Com isso, menos 365,04 litros de esgoto deixaram de ser despejados na Baía e nas lagoas diariamente.
“Desde que assumimos os serviços de distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto na cidade, em 1999, a Águas de Niterói vem investindo na despoluição da Baía de Guanabara por meio da implantação das estações de tratamento de esgoto do Barreto, Jurujuba, Mocanguê, Centro e Icaraí, além de realizar a retirada das línguas-negras que víamos antigamente nas praias da Baía”, afirmou o superintendente da Águas de Niterói, Nelson Gomes.
Ecobarreiras – Para diminuir ainda mais a quantidade de lixo flutuante na Baía, o Inea instalou 17 ecobarreiras na foz dos principais rios que desembocam nessas águas. De julho de 2016 a 11 de setembro de 2017, cerca de 9 mil toneladas de resíduos sólidos foram retiradas.
Em Niterói, foi instalada uma ecobarreira no Canal da Vila Maruí que já retirou, desde julho de 2016, 24,67 toneladas de lixo.
Em São Gonçalo, entre julho do ano passado e 9 de setembro de 2017, as ecobarreiras retiraram 15 toneladas de lixo do Rio Marimbondo; 136,40 toneladas do Rio Imboaçu; 20,53 do Rio Brandoas; e 183,88 toneladas de resíduos do Rio Bomba.
Pesca: problema vai além da despoluição
Além de beneficiar os banhistas, que agora contam com uma vasta opção de praias da Baía de Guanabara como opção de lazer, as ações de despoluição da Baía têm ajudado, ainda que minimamente, a melhorar também a pesca.
Francisco Nascimento, de 53 anos, é filho e neto de pescador, profissão tradicional de quem mora em Jurujuba. Na última semana, ao jogar sua tarrafa nas águas locais, pescou 15 quilos de parati de uma só vez.
“Tem dia que os peixes estão na beirinha da água, não precisamos nem entrar para pegar. A água tem clareado bastante nos últimos anos. Aqui a gente costuma pegar muito parati e corvina também. Às vezes, tem sardinha, mas quando os barcos grandes estão no mar, pegam tudo e não chega nada para a gente”, contou o pescador, dizendo, ainda, que muitos pescadores preferiram se arriscar em outras profissões.
Rogério Rocco, analista ambiental do Instituto Chico Mendes (ICMBio), mestre em Direito da Cidade (Uerj) e professor titular da cadeira de Direito Ambiental da Universidade Candido Mendes (Ucam) de Niterói, afirma que a melhora na qualidade da água favorece, sim, o reaparecimento de espécies antes afetadas pela poluição da Baía de Guanabara.
“Há registros, por exemplo, de locais onde já podem ser encontrados novamente cavalos-marinhos, que são muito sensíveis à poluição”, cita.
Mas, segundo ele, a volta dos tempos prósperos da pesca artesanal é um problema que vai muito além da despoluição da Baía de Guanabara. A indústria do petróleo tem sido a grande vilã para o setor pesqueiro.
“O maior confronto com as atividades pesqueiras tem se dado pela ampliação das ações que envolvem a indústria do petróleo, que aumentou as áreas de exclusão da pesca com a instalação de dutos, bases e outras estruturas de apoio ao processamento do petróleo. Portanto, a meu ver, a melhoria da qualidade ambiental da Baía de Guanabara é insuficiente para a retomada da pesca artesanal”, lamenta Rocco.
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