Opel Manta, antigo objeto de desejo para os jovens da Alemanha. |
Se na década de 1950 qualquer garoto sabia modelo e ano de todo veículo, hoje a fascinação é bem menor entre os jovens alemães. Fatores vão de novas regras do mercado de trabalho a símbolos de status alternativos.
Para Christian Eichler, a bicicleta é seu principal meio de transporte – e também o único. "Não tirei carteira de motorista; para mim até agora simplesmente não houve motivo. Sempre morei em cidades maiores, onde não preciso de carro." Quando o rapaz de 28 anos precisa transportar algo, ele liga para os amigos, e até agora sempre acabou dando certo.
Segundo os dados mais atuais do Instituto de Demoscopia Allensbach (IfD), Eichler está totalmente dentro do espírito da época: cada vez menos jovens alemães se sentam atrás do volante. Enquanto em 2005 73% de quem tinha entre 25 e 29 anos dirigiam, em 2016 a proporção é de apenas 60%.
O automóvel como sonho da juventude, comprado com os primeiros salários no estágio profissional, parece ter seus dias contados. Mas será mesmo?
Michael Sommer, diretor de projeto do IfD, relativiza: "O carro se torna cada vez menos importante para os jovens urbanos. No campo, em contrapartida, seu significado, no mínimo, permanece constante."
Na cidade, afinal, há grande número de alternativas. Em comparação com os meios de transporte público e a bicicleta, o automóvel próprio está cada vez menos atraente, devido à falta de estacionamentos, os engarrafamentos e os custos altos. E, para quem precisar de um de qualquer jeito, há sempre o aluguel e o car-sharing.
Nas zonas rurais, por outro lado, muita coisa não é possível sem as quatro rodas – a menos que se esteja disposto a pedalar 15 quilômetros a cada ida ao supermercado. Ou a organizar a vida na dependência do ônibus local, que passa três vezes por dia.
Bicicleta de design exclusivo é mais cotada como símbolo de status entre a juventude |
Símbolo de status em declínio
Isso é o que se refere ao uso prático do automóvel. Mas, e quanto a seu significado social, o veículo como símbolo de status, produto ampliador da personalidade, a que se atribui valor emocional? O sociólogo econômico Holger Rust já pesquisa há tempo a relação entre os jovens e os veículos motorizados.
"Nos anos do 'milagre econômico', a motorização individual era algo assim como a promessa cumprida da democracia do pós-guerra. Sucesso profissional e pessoal se expressavam na escolha do veículo. Através das décadas, então, o automóvel pouco a pouco perdeu seu status simbólico."
Na década de 1950, todo garotinho sabia dizer modelo, ano de fabricação e o número de cavalos-de-força de cada carro, lembra Rust. Na segunda metade dos anos 2010, tal fascinação vai bem longe, como confirmam os dados do instituto em Allensbach: se no ano 2000 44% dos alemães entre 18 e 29 anos ainda se interessam pelo tema, em 2016 eram apenas 31%.
O sociólogo observa que as novas circunstâncias econômicas dos jovens são corresponsáveis por esse desinteresse. "Atualmente muitos entram na vida profissional relativamente tarde. E mesmo aí, muitas vezes se trata de contratos por tempo limitado." E quando as possibilidades de poder arcar com um automóvel são tão distantes, é também inútil se ocupar do objeto.
Além disso, em comparação a antes existe um grande número de produtos que funcionam como símbolo de status alternativo. A juventude atual tende antes a expressar a que grupo pertence através de um smartphone, uma certa marca de bicicleta ou a decoração da moradia, afirma Holger Rust.
E a combinação também revela mais do que os produtos isolados. "Pode-se combinar um terno com uma camiseta de capuz, e dessa forma ironizar o luxo. Também a valorização, entre os jovens, de artigos velhos e aparentemente danificados, como cozinhas ou bicicletas, no fim das contas não é nada mais do que uma colocação, uma atitude. A autodefinição através de produtos nunca foi tão diferenciada como hoje."
Além disso, em comparação a antes existe um grande número de produtos que funcionam como símbolo de status alternativo. A juventude atual tende antes a expressar a que grupo pertence através de um smartphone, uma certa marca de bicicleta ou a decoração da moradia, afirma Holger Rust.
E a combinação também revela mais do que os produtos isolados. "Pode-se combinar um terno com uma camiseta de capuz, e dessa forma ironizar o luxo. Também a valorização, entre os jovens, de artigos velhos e aparentemente danificados, como cozinhas ou bicicletas, no fim das contas não é nada mais do que uma colocação, uma atitude. A autodefinição através de produtos nunca foi tão diferenciada como hoje."
Sem automóvel, dia a dia pode ser complicado numa grande família. |
Pragmatismo acaba vencendo
Embora a maior parte dos alemães jovens não tenha qualquer envolvimento emocional com o automóvel, muitos acabam precisando dele, mais cedo ou mais tarde. Por exemplo, Sebastian Paus, de 19 anos, morador de numa cidadezinha no estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Como seu hobby é salto hípico, ele precisa transportar o cavalo entre dois pontos, todas as semanas, seja para a aula de hipismo ou para os torneios. Por isso, já tem carro próprio, que também utiliza para ir até a escola, a oito quilômetros de casa.
Os filhos igualmente costumam ser um motivo para aquisição de um veículo motorizado: sair com as crianças de bicicleta ou ônibus para o jardim de infância, o médico ou as férias, acaba não sendo muito prático.
O princípio de quanto maior e mais caro o automóvel, mas elevado o status social definitivamente não vale mais hoje em dia. Mas o significado para cada um depende das condições individuais. Assim, o significado do carro varia não só entre coetâneos de meios diferentes como entre integrantes do mesmo grupo social em fases diferentes da vida.
O próprio Christian Eichler já conta que em algum momento acabará tirando a carteira de motorista. "Talvez eu precise dela para o trabalho, e também para viajar é mais prático. Mas em princípio não vai ser um carro próprio, eu usaria antes o car-sharing."
Fonte: Deutsche Welle
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