domingo, 19 de dezembro de 2010

Atlas semântico registra expressões caiçaras



Por Redação TN / Felipe Maeda Camargo, Agência USP


Uma espécie de “mapa” linguístico, que registra o vocabulário característico de comunidades caiçaras de quatro municípios de São Paulo (Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba), foi elaborado pela professora e pesquisadora Márcia Regina Teixeira da Encarnação. O “mapa”, na verdade, trata-se de um atlas semântico-lexical, e está descrito na tese de doutorado de Márcia, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Atlas semântico detalha vocábulos de comunidades caiçaras O atlas semântico-lexical é diferente de um dicionário, pois é usado por linguístas e engloba gráficos, tabelas e outros recursos que mostram os diferentes termos usados por um grupo de pessoas.

Comunidades caiçaras é um termo que se refere aos habitantes das zonas litorâneas; suas populações nasceram a partir do século XVI da miscigenação de brancos de origem portuguesa com grupos indígenas do estado de São Paulo.

Apesar de boa parte das palavras e expressões encontrados pela pesquisadora serem comuns em outras regiões do País, algumas expressões mereceram destaque no estudo. Os membros da comunidade, por exemplo, chamam” banana gêmea” de “banana cunha” e empregam “picumã” no sentido de “fuligem”. A professora diz que são termos de origem tupi. “Esta herança carrega as experiências dos séculos anteriores e, em uma graduação maior ou menor, é complementada a cada geração”, detalha.

Uma palavra que chamou atenção da professora, mas que não tem relação com a influência da origem indígena, é "pituca", que se refere à sujeirinha dura que se tira do nariz com o dedo.

A preservação das palavras e expressões em atlas evita que com o tempo eles desapareçam sem registro, segundo a pesquisadora: “A principal intenção foi deixar expressa nossa colaboração para os mais diversos estudos sobre a língua portuguesa falada no Brasil neste início de século. A cada dia, chegam novos sujeitos e, com eles, chegam valores vindos de outras realidades, não só distantes, mas muito diferentes, que vão se incorporando, dia após dia, na vida dos atuais habitantes da região.”

Dados estatísticos

O registro dos vocábulos partiu de um questionário feito para 16 moradores das comunidades, quatro de cada cidade. O questionário possuía 210 questões que apresentava uma descrição, na qual a pessoa devia responder com a palavra que conhecia. “Em um das questões, perguntava: como se chama uma pessoa que não tem dentes?”, exemplifica Márcia. Os moradores tinham que responder oralmente.

Além de registrar todas as variações linguísticas, a pesquisa mediu a incidência delas. Assim, a professora verificou os vocábulos em uso coloquial nas comunidades. Em geral, as palavras de maior incidência, como amendoim, girassol, carrinho de mão, são comuns em outras regiões do país. No total, 148 palavras apresentaram alta incidência (mais de 50%) e foram dadas como resposta em todos os lugares.

Márcia entrevistou adultos de 18 a 30 anos e de 50 a 65 anos, de ambos os gêneros, que tivessem estudado apenas até a 8ª série do ensino fundamental. A professora diz que “essa escolha das faixas etárias deu-se pelo interesse em se ter a representação de falantes mais jovens e de falantes mais velhos”.

A pesquisa fez parte da tese de doutorado da pesquisadora pela FFLCH, defendida no mês de setembro desse ano, no Departamento de Letras, sob orientação da professora Irenilde Pereira dos Santos. Márcia dará continuidade ao seu estudo com as análises semânticas de cada um dos vocábulos encontrados e lançará um livro sobre o assunto.

Fonte: TN Projetos Sociais

Um comentário:

  1. Uma pesquisa dessa deve ser muito, muito trabalhosa. Imagina conseguir separar as alterações introduzidas, ao longo de centenas de anos, nas línguas raízes .
    Parabéns Axel, pelo blog e pelos projetos desenvolvidos !

    Newton Almeida http://www.limpezariomeriti.blogspot.com
    MEIO AMBIENTE RIO DE JANEIRO

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