quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Educação integral é ameaça a ONGs?

Fonte: Jornal Brasil Econômico


06/12/2010 - A aprendizagem é ponto crítico para a melhoria da educação. Apesar dos avanços, o último relatório da organização Movimento Todos pela Educação, aponta, por exemplo, que apenas 11 em cada cem estudantes do terceiro ano do ensino médio saem da escola com o conhecimento esperado em matemática.

Sem ensino de qualidade, deficiências como essa não se resolvem. A busca de solução está na educação de tempo integral, sistema que prevê, a partir da jornada ampliada na escola, a diversificação do currículo, com conteúdos que podem dar mais vida aos aprendizados obrigatórios e colocar o mundo atual dentro da escola.

Significa a possibilidade de aulas mais atraentes e significativas, essenciais para combater a evasão escolar.

O programa Mais Educação, do MEC, vai nessa direção. É recente, começou a ser implantado nas redes públicas estaduais e municipais de ensino em 2008, certamente inspirado, em certa medida, no trabalho que organizações da sociedade civil já faziam e fazem, oferecendo a crianças, adolescentes e jovens atividades no contra-turno escolar (esporte, artes, tecnologia, preparação para o trabalho).

Ou seja, uma garantia de ganho de qualidade no ensino enquanto a política pública dá seus primeiros passos.

A educação integral é ainda um cenário para o futuro, mas há organizações não governamentais receosas de perder espaço nesse caminho.

"Hoje, a maioria das ONGs oferece seu programa no contra-turno: se o aluno vai à escola de manhã, participa das atividades à tarde. Se a escola será de turno único, como será possível?", pergunta Axel Grael, que comanda o Projeto Grael, um dos finalistas na última edição do Prêmio Empreendedor Social.

Grael acha necessário e possível conciliar, "fazendo com que a atuação destas organizações sejam mais integradas na agenda da escola".

Maria Antonia Goulart, até recentemente na coordenação de um bem-sucedido programa de educação na rede pública de ensino de Nova Iguaçu (RJ), lembra que o Mais Educação do MEC tem como um de seus pilares a aliança do poder público com a sociedade civil, garantindo inclusive recursos por meio do projeto Dinheiro Direto na Escola.

Em Nova Iguaçu, as ONGs também puderam atuar participando de editais que geraram convênios. "Fizemos parcerias com mais de 50 instituições locais. O requisito básico é o trabalho da ONG estar alinhado com o projeto pedagógico da escola e a política educacional", diz Goulart.

Há muitos outros aspectos a administrar. Às vezes, há uma visão equivocada de que a escola fica com a parte "pior" (o português, a matemática) e a ONG com a "boa" (as atividades de natação, teatro ou de tecnologia).

Outra questão é o espaço. Se a escola não comporta todas as atividades ou quer oferecer ao aluno outros locais de aprendizagem, precisa garantir a mobilidade segura.

Para Fernando Rossetti, diretor executivo do Gife, grupo que reúne instituições, fundações e empresas com projetos sociais, a maioria na área de educação, um desafio para as ONGs é a profissionalização.

Elas precisam de gestão transparente para atuarem como parceiras na política pública. Outro desafio está na postura: ver nessa política uma ameaça ou uma oportunidade para inovar?

Lélia Chacon é jornalista e editora do site e revista Onda Jovem, do Instituto Votorantim.

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http://www.semesg.org.br/pt-br/site.php?secao=noticias&pub=2160

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