O diretor presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Marcos Kisil, discute como o apelo emocional desta época do ano pode induzir a enganos sobre a natureza da filantropia e adverte: é preciso saber para o quê, para quem e com que expectativa de resultado se faz uma doação.
O Natal é sempre um momento de reflexão e ação. É o período do Advento em que nos preparamos para a vinda do Senhor. Buscamos nos reconhecer como seres humanos racionais, mas também emocionais - que acreditam na capacidade humana de vencer as dificuldades e manter viva a esperança de uma vida melhor. Nesta época, buscamos ser mais tolerantes, atenciosos, abertos às necessidades dos outros. E, assim, acreditamos que fazemos o bem ao olharmos para as necessidades de nossos irmãos menos favorecidos.
Neste contexto, aumentam as chances de nos tornamos altruístas - pelo menos durante alguns dias.
A experiência mostra que neste período do ano aumentam as doações: individuais, familiares, ou resultado de coletas na escola, no trabalho, no clube ou mesmo em igrejas. Mas, essa é uma caridade de data marcada que, muitas vezes, busca mais a felicidade de quem dá e não a de quem recebe. Por isso, é preciso dizer sem meias palavras que ela tem um viés paternalista. Sacia as necessidades temporais de adultos (cestas básicas, panetones, almoços de rua) e de crianças (brinquedos baratos que estão quebrados no dia seguinte, guloseimas), mas não muda a realidade em que vivem.
Me pergunto se esta caridade natalina poderia ser diferente. Como aproveitar melhor as emoções propiciadas por esta época de festas e realmente agir para transformar o Ano Novo num despertar da esperança e da felicidade para o próximo?
Em primeiro lugar, acho que é preciso acreditar que podemos fazer a diferença na vida de alguém por meio da doação. Para tanto devemos agir como alguém que investe no ser humano vislumbrando que ele pode crescer e se desenvolver por sua própria capacidade. Se estamos convencidos de que é possível, devemos refletir sobre os impedimentos que uma vez sanados ou abrandados poderiam resultar em seres humanos melhores: para si mesmos, para suas famílias, para as comunidades onde vivem e para a sociedade como um todo.
Dessa maneira posso descobrir que diferentes pessoas apresentam necessidades também diferentes. Por exemplo: um idoso abandonado num asilo necessita de remédios para seus problemas crônicos de saúde; uma criança carente necessita de livros para estudar; um adolescente em dúvida sobre que caminho seguir precisa sentir-se integrado à sociedade para não fazer opções erradas.
Para ter sinergia com o bom uso dos recursos individuais, as doações são mais eficientes e úteis se colocadas em organizações de reputação ilibada na atenção à causa que escolheram defender. Tanto a escolha da causa a ser apoiada como a escolha da instituição beneficiaria de uma doação exigem reflexão pessoal e diligência na busca da decisão.
Creio que estes rápidos conselhos podem servir ao doador natalino:
1. Evitar doar por impulso
Nesta época do ano, cada um de nós sofre diversos tipos de pressão: de marketing direto, por meio de telefonemas, cartas e e-mails; e também solicitações de colegas, ou pseudo-colegas. Assim, não é surpresa percebermos que nos tornamos presas dos mais insistentes. Para tirá-los da nossa frente o quanto antes, cedemos ao impulso de “pagar” para aliviar a pressão. Aceitando este jogo, doamos sem saber o porquê, para quê, e quem será o beneficiário final.
2. Conhecer a causa ou problema social
Para evitar doações por impulso, o melhor a fazer é identificar ao longo de todo o ano que causa social ou ambiental gostaria de apoiar – lembrando que ela responde à nossa própria consciência. Qualquer que seja a causa a contribuir é importante estar bem informado como ela está sendo considerada pelo poder público, pelas organizações da sociedade civil e também por empresas que fazem seu próprio investimento social. Assim é possível identificar as ações de caráter mais estratégico ou capazes de alavancar ações realizadas por outros doadores.
3. Informar-se sobre a organização beneficiária
Temos um universo de organizações sociais que alegam conhecer e trabalhar em prol de uma causa. Infelizmente, mesmo este universo tem os seus párias. Existem organizações de fachada que ora são criadas para beneficio de seus “donos”, ora são dirigidas por “laranjas” que se prestam a intermediar recursos públicos para o beneficio de políticos ou apaniguados de plantão no poder público, usando de corrupção. Ou, ainda, que servem para encobrir o “caixa 2” de empresas inidôneas. Para prevenir esse risco, buscar informações para quem se está doando exige paciência e pesquisa. Isso pode ser feita pela internet, através de perguntas dirigidas a quem já doou para a entidade em vista, ou através de uma visita pessoal para conhecer os serviços que ela diz oferecer e quem são seus líderes. Neste caso, aplique a regra dos “3is”:
(1) Como está lidando com a causa ou problema social identificado, qual a Ideia central que orienta a missão da organização, especialmente no que se refere ao caráter assistencialista ou de desenvolvimento dos atendidos;
(2) Qual é a reputação conseguida pela Instituição ao longo dos anos, quem investiu nela, como, para quê, que opinião já formaram, quais foram os resultados alcançados e divulgados;
(3) Finalmente, quem são os Indivíduos por traz da instituição: quem são seus lideres, como estão legitimados, quais são suas condições técnicas, que reputação têm; quem integra o seu staff e quem são seus voluntários. Conhecer os “3is” ajuda bastante um doador a tomar sua decisão.
4. Estabelecer um plano pessoal de doação
Com base na possibilidade financeira de cada um é possível estabelecer quanto e quando se pode doar. A doação natalina pode muito bem ser uma das doações a serem feitas ao longo do ano. Conhecendo sua capacidade, o doador em potencial pode entrar mais bem preparado em um grupo de filantropia organizado na escola, no trabalho, no clube, na igreja, ou na própria rua em que reside. Assim, o recurso individual é sinérgico com os recursos de outros doadores, permitindo uma ação social mais ambiciosa e capaz de obter maior impacto.
5. Doar para programas, projetos ou ações que podem ser avaliados
Nunca dê um cheque em branco a ninguém. Conhecer onde e como o recurso será empregado determina se o seu resultado pode ser mensurado através de um processo avaliativo. Aqui, devem ser buscados resultados concretos. Muitas organizações, especialmente na época natalina, tentam sensibilizar os doadores para suas causas e não para o que querem transformar na sociedade. Usam palavras bonitas, porém vazias para um investidor social. Não caia nessa!
Com essas breves sugestões, esperamos que cada um de nossos leitores tenha um Santo e Feliz Natal, e que o Ano Novo seja de esperança num mundo justo e sustentável.
Fonte: IDIS
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