quarta-feira, 5 de junho de 2019

Estudo mostra que Floresta da Tijuca absorve metais pesados e torna mais limpo o ar do Rio



Vista parcial do panorama da Pedra da Proa, no alto do Morro do Pai Ricardo, na Floresta da Tijuca: área é das mais bem preservadas da cidade Foto: Custodio Coimbra


Ana Lucia Azevedo

Pesquisa investigou papel da mata na absorção de chumbo, zinco, cromo e cádmio, despejados no ambiente sobretudo pelo trânsito na metrópole

RIO - Da Pedra da Proa, um recanto desconhecido pela maioria dos cariocas, pode se ver reunidos numa só moldura os principais cartões-postais do Rio de Janeiro. Estão lá o Cristo Redentor , o Pão de Açúcar , a Baía da Guanabara , a Lagoa , as praias do Leme ao Pontal . Mas é a Floresta da Tijuca , que cerca a Proa, que chama a atenção de especialistas.

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Nela, a expressão " pulmão do Rio " cabe sem exagero. Um estudo da PUC-Rio mostra que a floresta absorve os metais pesados despejados pelo trânsito e torna o ar mais limpo. Um serviço ambiental tão pouco conhecido quanto a Proa e que dá ao Rio, mais do que a qualquer outra cidade do mundo, motivos para celebrar e refletir no Dia Mundial do Meio Ambiente .

Com suas montanhas, florestas, manguezais e praias, o Rio é a metrópole com maior capital natural e tem a maior cobertura verde entre as grandes cidades do planeta, diz Fabio Scarano, professor da UFRJ e coordenador geral da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.

São 28% do território só de florestas (Tijuca, Pedra Branca e Mendanha), sem contar jardins e parques públicos. Nenhuma outra grande cidade tem tanto verde e o valoriza tão pouco, destaca ele.

Filtro natural carioca

O grupo de Adriana Gioda, do Departamento de Química da PUC , investigou o papel da floresta na absorção de metais pesados, como chumbo, zinco, cromo e cádmio. No Rio, as emissões de veículos são as principais fontes dessa forma de poluição , nociva para pulmões e coração. O grupo usou espécies de plantas da floresta para monitorar a poluição e viu que os níveis de poluição são menores na mata. O estudo ainda está em andamento e promete revelar ainda mais sobre o pulmão do Rio.

— A floresta a torna o Rio mais respirável — diz Adriana Gioda, que tem o projeto de pesquisa apoiado pela Faperj.

O professor do Departamento de Geografia da PUC Rogério Ribeiro de Oliveira, especialista na Floresta da Tijuca, acrescenta que além de contribuir para regular o clima local, as matas cariocas protegem a cidade da chuva ácida e ajudam a eleminar a poluição do ar. Não apenas, a Tijuca, mas também as florestas da Pedra Banca e do Mendanha são essenciais para a cidade, destaca.

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Coorganizador do livro "Rio de Janeiro capital natural do Brasil", Rodrigo Medeiros, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, salienta que a falta de planejamento e governança histórica, agravada recentemente, torna a cidade vulnerável a desmoronamentos, inundações e proliferação de doenças transmitidas por mosquitos, todos problemas que poderiam ser amenizados ou evitados com boa gestão ambiental.

— O Rio não é uma cidade com uma floresta dentro. É uma floresta com uma cidade no meio. E precisa se reconhecer como tal. Temos um imenso patrimônio natural e não o usamos a nosso favor. A má gestão e a destruição das matas agravam em vez de evitar nossos problemas crônicos de deslizamentos e inundações. Toda vez que invadem e destroem um pedaço de mata roubam do carioca uma parte de seu patrimônio, sem o qual o Rio não seria habitável — afirma Medeiros.

Copa da floresta 'segura' chuva

Já se sabia que a floresta é importante para evitar desmoronamentos e amenizar o calor. Estudos do grupo de Ana Luiza Coelho Netto, do Departamento de Geografia da UFRJ, estimaram que a copa da floresta intercepta cerca de 20% da água das chuvas. Sem ela, as enchentes e desmoronamentos seriam mais destrutivos. Especialistas dizem que há soluções na própria natureza para combater mazelas urbanas. Os problemas são velhos, mas nunca foram tão graves quanto agora.

— A crise climática que trouxe chuvas intensas frequentes e a má gestão da cidade são agravantes. E a solução não é a velha e ineficaz receita de sempre. Obras de engenharia não vão resolver sozinhas desmoronamentos e enchentes. A solução está em planejar levando em conta o capital natural . Há conhecimento. Falta vontade política — diz Medeiros.

Frequentador assíduo das matas cariocas, Horácio Ragucci, presidente do Clube Excursionista Brasileiro (CEB) e coordenador-geral da Trilha Transcarioca, lembra que as matas prestam ainda mais serviços, ao oferecer lazer e bem-estar. Ele costuma apreciar a paisagem da Proa para relaxar:

— É um patrimônio que só o Rio tem e quase não usufrui e conhece. Há cem anos o CEB já protestava contra invasões e o mau uso da floresta. Está mais do que na hora de abraçar esse patrimônio.


Fonte: O Globo










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