COMENTÁRIO DE AXEL GRAEL:
A notícia é péssima. A contratação em 2007 dos guarda-parques foi uma das mais importantes e decisivas medidas administrativas em favor dos parques estaduais do Rio de Janeiro. Os 163 guarda-parques são hoje indispensáveis para o funcionamento das unidades de conservação do RJ, uma vez que são responsáveis pela fiscalização, orientação dos visitantes, prevenção e controle de incêndios, execução de ações de manejo da flora e fauna, educação ambiental e, até, assumem com frequência cargos de direção nos parques,
Além de deixar as unidades de conservação desguarnecidas e vulneráveis à ação de criminosos ambientais, a ausência dos guarda-parques prejudicará o ecoturismo e toda a cadeia produtiva que existe em torno dos parques e que vinha ganhando musculatura recentemente. Isso acarretará mais danos à economia das localidades no entorno das áreas protegidas.
É sempre bom lembrar que o Brasil está muito atrasado em relação a outros países - e o Rio de Janeiro atrasado com relação a outros estados - na implantação das sua áreas protegidas. Nos EUA, os parques geram o equivalente a 3% do PIB daquele país (o maior PIB do mundo). Como mostramos aqui no Blog, gestores de parques nos EUA hoje se preocupam com o número excessivo de visitantes, o que gera impactos ambientais e prejudica a qualidade da experiência dos visitantes.
Enquanto isso, no Brasil ainda não conseguimos enxergar os parques como indutores do desenvolvimento e da economia. A quase totalidade dos parques no Brasil não conta com uma infraestrutura adequada, atrai uma quantidade pífia de visitantes, não consegue proteger os recursos naturais, não gera os serviços ambientais e não cumprem a sua função social, motivos para o qual foram criados.
Um ponto de alento no cenário do setor era o crescente protagonismo dos estados e municípios na implantação de parques e na gestão de paisagens, monumentos naturais, ecossistemas e a biodiversidade. Apesar da infraestrutura precária, alguns parques estaduais fluminenses têm atraído uma visitação muito significativa e já planejam controlar melhor o acesso de visitantes. É o caso do Parque Estadual da Serra da Tiririca (entre Niterói e Maricá) e o Parque Estadual da Ilha Grande. Como poderão estes parques continuarem a receber os visitantes sem os guarda-parques?
Esperamos que o Estado reverta esta decisão e consolide o serviço de guarda-parques como um efetivo permanente, a serviço da conservação da natureza fluminense e consolidando os parques como patrimônio da população do estado e uma oportunidade para a construção de um futuro sustentável para o Rio de Janeiro.
Axel Grael
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Todos os guardas-parques do Rio serão demitidos até abril
Consideradas uma das tropas mais bem treinadas do país, todos os 163 guardas-parques do estado do Rio de Janeiro serão demitidos até março. No lugar, uma Organização Social assumirá a tarefa de manter a segurança das Unidades de Conservação do estado, podendo re-contratar ou não os guardas já treinados.
Contratados temporariamente por intermédio de uma lei aprovada em 2007, ainda durante o governo Rosinha Matheus, os guardas-parques participaram de um concurso público realizado em 2012 para contratação por 24 meses, período renovável uma vez, após o governador Cabral publicar um decreto criando o serviço de guarda parque do estado do Rio de Janeiro. Duzentos e vinte civis formaram o primeiro corpo de guardas-parques do estado. O investimento para a formação desses profissionais custou R$ 1,4 milhão aos contribuintes. Durante seis meses, os aprovados aprenderam a combater incêndio, a guiar visitas e a se relacionar com agricultores do entorno das unidades para evitar queimadas. Quatro anos e meio depois, a carreira de guarda-parque nunca esteve tão ameaçada.
Por decisão do Supremo Tribunal Federal, a lei que amparava a contratação temporária dos guardas-parques foi considerada inconstitucional. Um projeto de lei, de autoria de Carlos Minc (PT-RJ), tramita na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) desde 2011 e determina a criação de 400 vagas definitivas de guarda-parque no Plano de Cargos e Salários do Inea. O PL define formalmente a função de guarda-parque, cria um novo concurso e prevê que os concursados de 2012 sejam incorporados à função. A proposta está parada na Comissão de Constituição e Justiça da Alerj.
“Nunca fomos contratados em regime de urgência, nós fomos contratados em regime temporário, isso porque a gente obedecia uma lei que mandava o Inea constituir isso. Houve um boicote no meio do caminho, onde a gente não conseguiu ser efetivado. Por isso, nós fomos contratados por tempo determinado, não é em caráter de emergência, nunca foi”, afirma Leonardo Sandre Oliveira, presidente da Associação de Guarda-Parques do Rio de Janeiro.
Há 12 anos, o Rio era o estado que mais desmatava a Mata Atlântica. Hoje, o estado alcançou tecnicamente o desmatamento zero. “Quem é o principal escudo das UCs hoje? Quem foi que diminuiu a porcentagem de desmatamento no Rio de Janeiro para quase zero? Como o recurso da compensação ambiental, que é dito para proteger essa área, não é direcionado para os verdadeiros protetores dessa área? Porque tem que ser direcionado através de uma OS. Eles tinham que arrumar uma forma desse recurso chegar ao guarda-parque porque ele é o único escudo”, afirma Oliveira.
A Associação de Guarda-Parques do Rio de Janeiro, que representa os trabalhadores concursados, está fazendo uma petição pública pedindo a efetivação do cargo. Segundo o documento, a escolha do governo em passar a função para Organizações Sociais inviabiliza a fiscalização ambiental realizada em Unidades de Conservação, função que só pode ser exercida por funcionários públicos. “(...) seria o fim desta atribuição e uma grande perda para meio ambiente”, afirma.
Inea responde
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que não haverá a renovação de contratos dos guardas-parques e que em virtude da crise financeira em que mergulhou o estado, haverá uma segunda licitação para a prestação do serviço feito pelos guardas nas Unidades de Conservação estaduais. A primeira licitação não teve interessados.
“Com a OS vencedora, o Inea celebrará um contrato de gestão, por 24 meses, prorrogáveis até 60, que terá metas e indicadores a serem cumpridos, de forma a aprimorar a gestão das unidades de conservação estaduais. Os principais indicadores do contrato de gestão são o manejo de trilhas, notificações preventivas de incêndio florestal, criação e manutenção de aceiros em áreas mais suscetíveis a incêndios florestais, elaboração de planos de contingência e ações de educação ambiental”, afirma o Inea, em nota. O governo do estado pagará 11 milhões para a Organização Social assumir o serviço.
Fonte: O ECO
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