sábado, 27 de setembro de 2014

Redescobrindo o Brasil através da música. Presidente da Fundação de Artes de Niterói lança livro


André Diniz e Diogo Cunha lançam livro que retrata a história do País através de canções. Foto: Divulgação / Thiago Cortes



Suzana Moura

Livro ‘A República Cantada’, de André Diniz e Diogo Cunha, usa cerca de 200 canções para contar a história do País

Os pesquisadores de música popular André Diniz e Diogo Cunha acabam de lançar o livro A República Cantada, que retrata a história do Brasil através de mais de duzentas canções. Com uma narrativa leve e descontraída, a obra traça um painel abrangente da cultura e da política brasileiras, do surgimento do maxixe e do choro, ainda no final século XIX, à profusão de ritmos e artistas que vêm cantando e contando a história mais recente do País.

Entre casos curiosos, refrões emblemáticos e personagens inesquecíveis, além de boxes informativos e cronológicos com os acontecimentos que marcaram diferentes épocas, o leitor irá conhecer melhor o passado ao som das músicas que ajudaram a construir uma identidade genuinamente nacional.

“O livro trata da relação entre a nossa República sofredora e a música popular, com uma qualidade rara: a obra canta e nos faz cantar com ele”, diz o compositor Aldir Blanc.

De acordo com Diogo Cunha, não existe linguagem mais universal que da música. Ouvimos música no ônibus, no carro, em casa, nas praças, nos estádios, nas festas e até no supermercado.

“Uma das artes brasileiras mais reconhecida, a música sempre foi moderna. Sua diversificação expressa a pluralidade de um País que entrou no período republicano com um discurso avançado, apesar da grande dívida social. Cantava-se o sonho de uma sociedade liberal, entretanto as marcas do passado escravista ecoam até hoje”, fala Diogo.

Embora a ideia do livro tenha surgido há bastante tempo, André assume que não foi fácil fazer um recorte do período republicano e da história da música popular.

“Tivemos que optar pelas canções que retratam as épocas e também pela trajetória política dos presidentes. São mais de cem anos dos dois. Esse foi um trabalho muito audacioso”, conta, bem humorado.

O processo de pesquisa para a composição do livro levou cerca de quatro anos e os autores “garimparam” pérolas do cancioneiro, além de detalhes hilários sobre os presidentes e o momento político do Brasil.

“Espero que gostem, aliás, no livro tem musicais para todos os gostos. Imagina, você poder ler sobre seu País através de suas canções prediletas. A obra é direcionada aos estudantes médios, universitários e para quem gosta de história, música e cultura brasileira. A principal lição do livro é que a música brasileira não é apenas boa para ouvir, mas também para pensar o País”, categoriza André.

Alguns fatos inusitados foram descobertos durante o trabalho de pesquisa. Um deles diz respeito ao cantor Orlando Silva, o predileto de Getúlio Vargas.

“O livro é recheado de assuntos surpreendentes e curiosos como esse. Depois de uma apresentação, Vargas virou para Orlando e disse: ‘Gostaria de ter a sua popularidade, Orlando’. E o cantor respondeu: ‘Mas o senhor é o homem mais popular do Brasil, presidente’. E Vargas retrucou: ‘Mas eu tenho inimigos e você? Quem é inimigo da sua bela voz?’”, adianta André.

Um pouco da história do choro – Da interpretação musical dos ritmos estrangeiros feita por músicos brasileiros nasceria, nas últimas décadas do século XIX, o gênero conhecido como “choro”. Ancorados em um quarteto básico (flauta, cavaquinho e dois violões), os chorões – nome dado aos músicos que tocam choro – foram muito importantes na divulgação e consolidação da música popular. Eles tocavam em pequenas estalagens, cortiços e festas familiares. Donos de extraordinário talento, fundaram uma das mais relevantes escolas de instrumentistas da música brasileira. O flautista Joaquim Callado é considerado o Pai dos Chorões por ter formado o primeiro grupo conhecido do gênero, o Choro do Callado, ou Choro Carioca. Seu legado continuou nos sopros de Patápio Silva, Pixinguinha, Benedito Lacerda e Altamiro Carrilho.

Fonte: O Fluminense



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