Estadão - São Paulo - 26/12/2018
Análise mostra situação pior, na comparação com 2017; no Litoral Norte, queda foi de 46% de bom e ótimo para 25%
Após um ano com 41% das praias próprias para banho, o litoral paulista teve queda na balneabilidade em 2018. Segundo dados parciais da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), apenas 23% do litoral apresentou praias em condições ótimas ou boas ao longo do ano (uma em cada quatro). No Litoral Norte, a queda foi de 46% para 25%. Já na Baixada Santista, passou de 33% para 15%. A principal preocupação é com o risco de doenças, como gastroenterite, conjuntivite, otite e hepatite
“O cenário deste ano é diferente. Comparando com o ano passado, a qualidade diminuiu. Tivemos vários episódios de chuva, principalmente nos fins de semana, que é quando as análises são feitas. Com a chuva, aumenta a vazão dos cursos d'água que vão para o mar”, explica Karla Cristiane Pinto, bióloga do setor de Águas Litorâneas da Cetesb.
O levantamento deste ano da companhia leva em consideração análises semanais realizadas até o dia 9 de dezembro. Ele aponta que 34% do litoral paulista esteve em condição classificada como ruim ou péssima. No ano passado, o índice era de 13%. Ao longo deste ano, 28% das praias do Litoral Norte e 43% da Baixada estavam nessas condições. Em 2017, eram 5% e 24%, respectivamente. “O monitoramento é feito pesquisando bactérias indicadoras de poluição fecal. A contaminação pode ser ou não por contato com esgoto. A análise é realizada nos dias mais críticos. Verificamos o pior cenário”, diz Karla.
Na quarta-feira, a Cetesb divulgou um boletim referente à semana do dia 16. Na Baixada Santista, 20 praias foram consideradas impróprias para banho. Elas estão localizadas em Santos, no Guarujá, em São Vicente, Praia Grande, Itanhaém e Peruíbe. No Litoral Norte, foram 39 nos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela.
Das 167 praias analisadas, 59 foram consideradas impróprias para banho. Apenas Monguaguá e Bertioga apresentavam 100% de balneabilidade.
Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a poluição por lixo, chorume e dejetos de animais pode afetar a balneabilidade das praias, pois o material pode ser levado pelas chuvas para o sistema de drenagem urbana e chegar aos córregos e canais que deságuam no mar. “Há também as áreas de moradias irregulares, onde a Sabesp é impedida por lei de prestar serviços de saneamento, e que fazem todo tipo de descarte nos corpos hídricos. Por esse motivo, até mesmo a cidade de Santos, que tem o quarto melhor saneamento do País, segundo o Instituto Trata Brasil, apresenta bandeira vermelha em alguns períodos”, diz a companhia, em nota.
A Sabesp informou que, nos últimos dez anos, investiu R$ 2,9 bilhões em obras de saneamento na Baixada Santista e o índice de cobertura das redes coletoras de esgoto atingiu 80%. Na região, o porcentual de tratamento é de 100%. Sobre o Litoral Norte, a companhia disse que os índices de coleta, afastamento e tratamento de esgoto estão crescendo e as negociações para renovação de contrato de concessão com municípios da região para expandir a estrutura de esgotamento sanitário estão avançadas. A Sabesp informou ainda que obras em Caraguatatuba e Ubatuba estão previstas para começar em janeiro.
Riscos
A contaminação da água pode causar uma série de doenças em banhistas. “Há bactérias que podem causar infecções no trato digestivo, o que é muito comum ter nesta época do ano. Elas causam sintomas de febre e diarreia. Tem a hepatite A, conjuntivite e otite”, afirma Paulo Olzon, clínico e infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Olzon diz que, com a chuva, dejetos de ratos também podem contaminar as águas e causar leptospirose. A recomendação do especialista é evitar se banhar nas praias consideradas impróprias. Estar atento às bandeiras que indicam se a praia é própria ou imprópria para banho é também uma das recomendações dadas por Karla para que os banhistas evitem a contaminação. “A gente sempre pede que as pessoas não entrem no mar quando a bandeira estiver vermelha ou 24 horas após as chuvas. As pessoas também não devem se banhar perto de canais, rios e córregos, e não engolir água, principalmente crianças e idosos.”
Crianças
O principal medo de quem vai à praia com uma criança é de que ela se perca, mas há outros riscos que devem estar no radar dos pais. Ferimentos com cacos de vidro, queimaduras solares e desidratação estão entre os problemas que podem ocorrer com os pequenos durante o passeio.
“Ao chegar à praia, é importante dar uma boa olhada no entorno, ver se não tem cacos de vidro ou tampinhas que podem ferir os pés e perguntar para o salva-vidas onde deve ficar, porque tem toda uma análise do mar para identificar onde existe buraco. O afogamento é muito rápido e costuma ser fatal. É muito raro internar uma criança por afogamento”, explica Gabriela Freitas, gerente executiva da ONG Criança Segura. Gabriela recomenda que, ao longo do período que a família vai ficar na praia, uma pessoa que saiba nadar seja eleita para ficar responsável pelas crianças.
Segundo o último balanço da entidade, realizado em 2016, esse tipo de acidente fica em segundo lugar no ranking de causas de morte até os 14 anos. “Além da supervisão muito ativa, a recomendação é de que as crianças usem colete salva-vidas, porque é o que vai deixar todo tronco flutuando. A boia é considerada um brinquedo.”
Além disso, vacinar as crianças com mais de 9 meses contra a febre amarela antes de ir para regiões com o risco de infecção pela doença, caso do litoral paulista, é uma das orientações do pediatra e gerente médico do Sabará Hospital Infantil Felipe Lora.
Para as doenças transmitidas pelo mosquito, como dengue, zika e chikungunya, Lora recomenda o uso de repelentes adequados para a faixa etária das crianças. “É importante lembrar que o repelente sempre deve ser passado depois do filtro solar para criar a barreira que impede que o mosquito venha. O filtro solar tem de ter um fator de proteção alto, mas, abaixo dos 6 meses de idade, esses produtos não são recomendados. Então, as crianças devem ser protegidas com roupas claras.”
O pediatra diz que a exposição ao sol não deve ser feita no horário entre as 10 e as 15 horas e os lanches levados para a praia devem ser leves. “Podem levar uma bolacha de água e sal ou um biscoito de polvilho. Se o alimento é conservado na geladeira, não deve ser levado para a praia. E a água deve ser dada em livre demanda”, afirma. “E atenção: se a urina estiver amarelada, significa que a criança precisa ser hidratada.”
Fonte: O Estado de S. Paulo
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