Ruralistas alegam que questões ligadas à produção de commodities, como uso de agrotóxicos e desmatamento, geram impacto reputacional.O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) pediu a retirada da menção de problemas ligados à produção de commodities do Plano Clima, mostra uma investigação da Repórter Brasil. O MAPA afirma que a agropecuária é retratada no plano como “atividade próxima a práticas ilícitas”.
Os ruralistas pedem a supressão ou reescrita de ao menos oito trechos. Entre eles estão a menção ao uso extensivo de agrotóxicos; o impacto do desmatamento e conflitos com comunidades tradicionais; a crítica a sistemas alimentares hegemônicos; e a produção de ultraprocessados.
Além do ministério, a solicitação é feita pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e pelo Instituto Pensar Agro (IPA). Este último, em especial, é financiado por entidades como a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) e a CropLife, organização que representa multinacionais fabricantes de agrotóxicos, informa o Instituto Humanitas Unisinos.
Para o MAPA, o texto do Plano Clima é “impreciso, não agrega” e leva a “conclusões de grave impacto reputacional”. No entanto, estudos científicos mostram o papel ímpar dos sistemas alimentares na crise climática. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, a agropecuária respondeu por 70% das emissões brasileiras em 2024.
Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) também mostram que o Brasil foi o maior consumidor de agrotóxicos em 2023. Foram 801 mil toneladas aplicadas na agricultura – 86% mais do que os Estados Unidos, o 2º colocado.
O governo não informou se as sugestões do MAPA foram incorporadas. Porém, reforçou que a elaboração dos 16 eixos temáticos do capítulo de adaptação do Plano Clima está sob responsabilidade dos ministérios “pertinentes a cada tema, cabendo a cada um deles acolher, total ou parcialmente, as sugestões advindas da sociedade e de colaborações interministeriais”.
Não é a primeira vez que a pasta comandada por Carlos Fávaro interfere no Plano Clima – que, vale lembrar, ajudou a elaborar. Por causa do MAPA, o governo não conseguiu anunciar o plano na COP30, como pretendia.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) chegou a acomodar a demanda do setor para retirar da conta emissões de desmatamento de propriedades rurais. Ainda sim, integrantes do MAPA afirmaram haver uma orientação para que o tema fosse tratado apenas depois da conferência do clima de Belém.
“Um plano mais recuado significa não efetividade. A gente não tem tempo para respostas frágeis diante do colapso climático”, avalia Inês Rugani, coordenadora do Observatório Brasileiro de Conflitos de Interesse em Alimentação e Nutrição (ObservaCOI).
Fonte: ClimaInfo

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