Participação em matéria do Jornal Nacional, da Globo. |
Nordeste dá exemplos de convivência com a escassez de água
Armazenar água da chuva em cisternas é um hábito cada vez mais comum no semiárido brasileiro. Já foram estocados 22 bilhões de litros de água.
Em um momento em que a Região Sudeste do Brasil se confronta com a seca, é o Nordeste que pode mostrar exemplos de convivência com a escassez de água. Esse é o tema da quarta reportagem da série especial que o Jornal Nacional está apresentando nesta semana.
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Em um dos lugares do Brasil onde menos chove, a pouca água que cai do céu vai para o lugar certo. Senador Pompeu fica a 275 quilômetros de Fortaleza. A primeira chuva lava o telhado e, por causa das impurezas, não é aproveitada. O que vem depois passa por uma filtragem simples e transforma a vida das pessoas.
“Melhorou demais, demais mesmo. Antes água salobra, às vezes dava até dor de barriga nas pessoas. Hoje em dia, não. Hoje em dia é agua limpa de qualidade”, conta o agricultor Francisco Linhares.
A última chuva caiu no mês de julho. Foi o suficiente para encher a cisterna de 16 mil litros. Já se passaram quase cinco meses e ainda tem muita água por lá. “Ela tem aproximadamente 50%”, relata Francisco.
Cercada de vegetação seca, uma segunda cisterna, maior, com 52 mil litros de água de chuva, ajuda a manter uma horta cada vez mais colorida.
“A gente só plantava milho e feijão. Para a gente ter esse bolinho de qualidade, pimentão, um tomate, uma couve, nada disso a gente tinha. Tinha que ir para a cidade comprar e tudo cheio de veneno. Agora, água limpinha, cristalina, a coisa mais linda”, diz a agricultora Antônia do Carmo.
Armazenar água da chuva em cisternas é um hábito cada vez mais comum no semiárido brasileiro, que inclui os nove estados do Nordeste e o Norte de Minas Gerais. Em pouco mais de dez anos, mais de um milhão de cisternas foram instaladas. São 22 bilhões de litros de água estocados para os mais diversos usos. Quantidade suficiente para abastecer, durante dois meses, a capital da Bahia, Salvador, onde vivem quase 3 milhões de pessoas.
Água de chuva também virou solução para seis aeroportos brasileiros administrados pela Infraero, inclusive Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio. O telhado do aeroporto carioca é, na verdade, um imenso coletor de água de chuva com quase 10 mil metros quadrados de área.
Basta uma hora e meia de chuva forte sobre o telhado do Santos Dumont para encher o reservatório com capacidade para 1 milhão de litros de água de chuva. É quantidade suficiente para suprir a demanda dos banheiros do aeroporto durante 37 dias.
Desde que o sistema foi implantado, há seis anos, o aeroporto já economizou mais de R$ 2,3 milhões deixando de comprar água tratada para a limpeza de mictórios e vasos sanitários.
“São 53 mil litros de água por dia. E essa economia é suficiente para abastecer, por exemplo, 440 famílias, por dia, com consumo médio de 120 litros de água”, explica o gerente de manutenção do aeroporto Márcio Mantuano de Souza.
Para o hidrologista Jerson Kelman, o Brasil perde quando não coleta toda a água de chuva que poderia.
“De um lado você deixa de usar água da companhia de abastecimento, portanto a sua conta diminuiu e você diminui a demanda de água dos mananciais para não secá-los. E de outro lado, você amortece a chuva onde ela cai. E portanto, você evita que se tenham enchentes”, afirma Jerson Kelman.
O Jornal Nacional apurou que, em apenas cinco capitais do país, a coleta de água de chuva é obrigatória para certos tipos de construção. É o que já acontece em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Goiânia e Campo Grande. Em outras cinco capitais, há projetos tramitando nas câmaras dos vereadores. Já em dezessete capitais o assunto não é sequer discutido.
“Nós não temos mananciais aqui em Niterói. Nossa água vem de fora, vem de uma distância bastante longa. Se nós não tivermos um uso responsável da água, daqui a pouco, Niterói estará passando por dificuldade com relação à disponibilidade de água”, Axel Grael.
No município de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, economia de água é lei. Todas as novas edificações precisam captar e reutilizar água de chuva e outras águas descartadas como esgoto.
É o que acontece em um prédio com 50 apartamentos. Toda a água de chuva coletada a partir do telhado do prédio vai parar em uma cisterna com capacidade para dez mil litros. E todas as águas cinzas, que são aquelas que vêm do chuveiro, do tanque, da pia ou da máquina de lavar, vão parar em outra cisterna, também com capacidade para dez mil litros. Depois de tratadas, essas águas recirculam pelos apartamentos e respondem hoje por aproximadamente 30% do consumo dos moradores.
O sistema reutiliza 280 mil litros de água por mês. Os filtros, que ficam na garagem removem, as impurezas. Para evitar qualquer risco, adiciona-se cloro. E nem é tão caro assim. Custou menos de 1% do valor total da construção do prédio.
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“Você poder reciclar a água dentro de casa, de maneira barata e simples, e acho que não tem preço”, diz o engenheiro Alexandre Rodrigues dos Santos.
É com essa água que seu Waldomiro rega as plantas, lava pisos e janelas e dá descarga nos banheiros. “É uma economia muito grande do nosso consumo”, ele diz.
“Nós não temos mananciais aqui em Niterói. Nossa água vem de fora, vem de uma distância bastante longa. Se nós não tivermos um uso responsável da água, daqui a pouco, Niterói estará passando por dificuldade com relação à disponibilidade de água”, explica o vice-prefeito de Niterói, Axel Grael.
Não é um problema apenas de Niterói. O risco de desabastecimento atinge regiões que até pouco tempo atrás não imaginavam passar por isso. Para evitar o inferno da falta d’água, que tal olhar para o céu?
Fonte: Jornal Nacional
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