ROQUE, do Iate Clube Brasileiro. |
NICANOR, do Rio Yacht Club. Foto Axel Grael. |
No Natal, com a família reunida, a conversa como sempre foi sobre barcos e nos veio a saudosa lembrança do Nicanor, velho barqueiro do Rio Yacht Club. Hoje, por coincidência, recebi do amigo João Bosco Quadros Barros uma mensagem no Facebook lembrando do velho Roque, do Iate Clube Brasileiro e postando uma foto.
São as duas queridas figuras nas fotos acima, que infelizmente já navegam em outros mares, mas que marcaram gerações de velejadores dos dois clubes: o Rio Yacht Club e o Iate Clube Brasileiro.
Roque era mais calado, ao contrário do Nicanor que falava muito, resmungava mais ainda.
Os dois foram barqueiros e passaram praticamente a vida toda trabalhando nestes tradicionais e centenários iate clubes de Niterói. Traziam consigo a sabedoria e a cultura dos antigos pescadores da Baía de Guanabara e que conheciam o mar e os segredos do tempo como poucos.
Nicanor, com quem eu convivi mais tempo, me contou certa vez a sua história: passou a sua infância à beira mar, nas praias da Enseada do Saco de São Francisco. Depois, foi morar no mais antigo dos prédios do Rio Yacht Club, numa casa que hoje abriga a escola de vela do clube e que leva o seu nome.
Nicanor e Roque eram muito respeitados. Antes de sair para o mar, os velejadores tinham o prudente hábito de perguntar ao Roque e ao Nicanor sobre o tempo:
"Seu Roque. Vai chover hoje?"
"Seu Nicanor. Vai entrar vento hoje?"
Acreditávamos nas previsões deles muito mais do que na meteorologia da época. Eles tinham uma sensibilidade incrível para as intempéries. E tinham os seus métodos próprios: as nuvens, o voo das aves, a maré, o cheiro de maresia no ar, o mormaço, o balanço das folhas da palmeira no alto do morro do Cavalão: tudo era subsídio para as previsões deles. Intuição + muita sabedoria.
O melhor é que quando não acreditávamos e éramos pegos pelo temporal que eles haviam alertado, levávamos merecidas broncas.
Os dois barqueiros não participavam diretamente das regatas mas, tinham o seu papel. As dicas deles sobre se o vento seria Leste, Sul, Sudoeste influenciavam as decisões dos que iam para a disputa. Ensinaram muito...
Boas lembranças. Que estejam juntos, desfrutando bons ventos e tempo bom lá em cima...
Frequentei o ICB nas décadas de 60/70. Meu pai, Pedro Pereira Capeto, velejou com seu tio (acho que é isso) e era da tripulação dos Guanabaras (Itaicís e Itapacís) ganhando algumas regatas. Tentei resgatar a história da D. Lina (que - se minha memória não falha - tocava o restaurante do clube e morava lá com 2 ou 3 pastores alemães), mas não achei nenhuma menção a ela. O Roque me pegou no colo!! Forte abraço, Pedro H. Capeto (capeto@globo.com)
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