segunda-feira, 8 de julho de 2013

Postes, fios e árvores: um problema que amarra as nossas cidades ao atraso

 
Árvore desfigurada por poda para liberar fiação. Foto Axel Grael.
 
 
Problemas sobre as nossas cabeças

O anúncio da regulamentação do uso dos postes nas cidades por concessionárias de serviços de distribuição de energia, telefonia, internet, etc., anunciada pelo Governo Federal (vide matéria abaixo, de O Globo), é muito bem vinda. O problema é que a medida parece ser ainda tímida para resolver uma das muitas mazelas das cidades brasileiras: a verdadeira "macarronada" de fios que tomam os postes das nossas ruas e espaços públicos. O foco da regulamentação parece estar apenas em apaziguar as brigas entre concessionárias de energia x comunicação, o que é muito pouco.
 
A falta de ordem na fiação nos postes oferece riscos à população, inviabiliza a manutenção de uma arborização urbana saudável e bem formada, desvaloriza fachadas e prédios notáveis, ameaça a fauna urbana e polui visualmente a cidade. Além disso, encarece e prejudica a qualidade dos serviços, pois a fiação aérea é sujeita às intempéries e a cada temporal (ou basta um vento mais forte) a população fica sujeita aos apagões. Para evitá-los, as concessionárias acreditam ser necessário mutilar as árvores da cidade.

O avanço que se espera é que as concessionárias sejam obrigadas a implantar redes subterrâneas, o que evitará todos os problemas acima citados. O argumento para não fazê-lo é o custo. Ora, isso é inaceitável!!! Por que isso é possível em outros países - alguns em situação de desenvolvimento e com economia mais fracas que a brasileira - e aqui não? As agências reguladoras precisam se convencer que há outros custos na mesa que precisam ser contabilizados: Quanto vale uma árvore? Qual o prejuízo ao cidadão e à economia de cada apagão? Quanto custa ao desenvolvimento do turismo causado pela poluição visual da fiação? Que se estabeleçam cronogramas, prioridades para áreas históricas e turísticas da cidade e obrigações com relação às novas urbanizações. Manter o velho "business as usual" é que não podemos aceitar.

Em Niterói, a Prefeitura tem pressionado as operadoras a fazer uma faxina nos postes e, pelo menos retirar os fios abandonados, não mais em uso. Isso mesmo: muitos fios são abandonados nos postes pelas operadoras que implantam novas redes e sequer se dão ao trabalho de retirar as antigas.

Ocorre que as prefeituras têm uma grande dificuldade de atuar sobre a questão das redes elétricas e posteamento, pois o setor tem regulação federal, o que é um absurdo: postes no país todo são regulados de Brasília. O problema é agravado pelo fato que, além de quem manda nos postes estar longe, tem muita gente para estabelecer as regras:
  • Fiação de energia: quem regula é a ANEEL
  • Fiação de telefonia, internet, etc.: quem regula é a ANATEL
  • Iluminação Pública: apenas esse uso dos postes é de responsabilidade municipal.
Que a regulamentação que está sendo gestada pelo Governo Federal ofereça mais às cidades do que apenas resolver privilégios comerciais e disputas entre operadoras pelo poder sobre os postes do país. Que contribua para que tenhamos cidades mais verdes, mais belas e mais modernas.

Axel Grael

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Governo quer regras para compartilhamento de postes de luz com teles
 



RIO — O governo quer aumentar a concorrência entre as empresas de telefonia que hoje alugam espaços nos postes de luz. Por isso, já está em reta final um decreto que vai criar novas regras para o compartilhamento de infraestrutura entre as teles e as distribuidoras de energia. De acordo com as exigências, os postes serão divididos em cinco pontos, que deverão obrigatoriamente ser ocupados por diferentes grupos econômicos. Além de reduzir o emaranhado de fios, que poluem visualmente as cidades e colocam em risco a segurança elétrica, o objetivo é elevar os investimentos das companhias, que encontram dificuldade para expandir sua rede Brasil afora.

O decreto já está na Casa Civil e foi fruto de trabalho conjunto entre os ministérios das Comunicações, de Minas e Energia, dos Transportes e das Cidades. Atualmente, o compartilhamento dessa infraestrutura esbarra na falta de interesse das empresas de energia, já que 90% das receitas com os alugueis dos postes são convertidos em redução tarifária da conta de luz. Assim, dizem fontes do governo, não há interesse em uma gestão mais eficiente dos contratos com as teles. Como resultado, empresas que usam os postes desde a privatização do setor, em 98, pagam entre R$ 1 e R$ 2 por poste a cada mês, enquanto as novas companhias chegam a pagar R$ 13 mensais pelos postes.

— Assim, a competição é penalizada. As teles que estão entrando hoje têm de fazer um investimento maior, construindo toda a rede. O objetivo do decreto é que haja um tratamento igual. Essas regras vão guiar o mercado. Mas claro que haverá um prazo para as empresas se adequarem. Por isso, a divisão dos postes será por grupo econômico e não por serviço (como telefonia fixa, móvel e banda larga), o que vai permitir a integração desses serviços numa única rede — adiantou ao GLOBO Maximiliano Martinhão, secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.

Mudanças no cálculo de reajuste da luz

Para atender ao setor elétrico, o decreto vai rever a fatia de 90%, oriunda das receitas das distribuidoras com aluguel dos postes, usada na modicidade tarifária. Segundo Maximiliano, a ideia é que esse percentual seja reduzido.

— Com essa queda, as elétricas terão incentivo para melhorarem a gestão (dessas estruturas) e até poder rever os contratos antigos (com as teles). Quando uma empresa deixa de pagar R$ 13, esse benefício chega ao consumidor, pois há aumento de competição. Ao ter uma melhor organização dos fios, haverá mais qualidade. Hoje é uma verdadeira teia de aranha, e os técnicos (de telecom) têm muitos problemas de segurança — afirmou Maximiliano.

Do outro lado, as elétricas dizem que não foram procuradas. Segundo Nelson Fonseca Leite, presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), é preciso ordenar as ocupações atuais de postes, com a criação de normas de procedimentos técnicos e de segurança.

— As teles instalam os cabos sem seguir normas em muitos casos, aumentando os riscos à população. A concorrência entre as teles é importante, mas deve haver uma migração planejada dos atuais contratos de compartilhamento — ponderou Leite, ressaltando a importância da redução dos 90% das receitas do aluguel para o cálculo de reajuste tarifário.

A maior parte das teles esperam novas regras de compartilhamento há anos, já que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não conseguiu chegar a um acordo até hoje e agora decidiu esperar o decreto. A Embratel disse que a padronização de preços e critérios de utilização são fundamentais para que as empresas possam fazer todos os investimentos. A TIM, que considera a iniciativa do governo importante, afirmou que as operadoras não conseguem desenvolver suas redes, devido aos altos valores que são cobrados. A GVT lembrou que a infraestrutura deve ser utilizada da forma mais racional com o objetivo de viabilizar a competição. Já a Oi informou que entende que o assunto não deveria passar pela interferência do poder público, sob risco de onerar o serviço.

Light tem 600 mil postes no Rio

Do outro lado, as elétricas não informam quanto ganham por ano com o aluguel. A Light, por exemplo, é dona de 600 mil postes em 31 cidades do Rio. Em nota, disse que o valor do ponto de fixação dos postes é negociado entre as partes. Também em nota, a Eletropaulo, com um 1,2 milhão de postes em sua área de concessão, lembrou que compartilha 80% de seus postes e que só 10% do que arrecada com esse aluguel é usado para manutenção das estruturas. Mas não quiseram comentar o novo decreto.

— Em muitas capitais, as teles deixam cabos ociosos entre os postes, pois não têm interesse em retirá-los. Elas não querem permitir a entrada de novos concorrentes. Não se pode esquecer que a rede aérea é mais procurada pelas empresas, pois é a mais barata — disse uma fonte do governo que não quis se identificar.

Dutos farão parte dos projetos de rodovias e ferrovias

Além dos postes de luz, o decreto de compartilhamento prevê também mudanças nos editais de concessão das novas rodovias e ferrovias, que deverão ser licitadas a partir de setembro. Nesse caso, diz a Empresa de Planejamento Logístico (EPL), a construção dos dutos de telecom já fará parte do projeto básico das vias. O objetivo é evitar uma segunda obra, o que acaba elevando os preços ao consumidor final.

Estará previsto ainda nos novos contratos o fim do chamado "direito de passagem", taxa que as teles têm de pagar para poderem usar os dutos ou instalarem redes nas vias aéreas ao longo das vias. O tema, no entanto, promete polêmica ente os futuros concessionários, que alegam ser fundamental a cobrança pelos serviços para poderem cobrar pedágio por um valor menor.

— Cada vez mais necessária, a infraestrutura de telecom deve ser mais compartilhada. Claro que deve haver isonomia para todos os participantes. Hoje, as empresas de energia não pagam pelo espaço dos postes, pois é de utilidade pública. Queremos estender esse conceito à banda larga. A discussão é quem vai pagar a conta. Por outro lado, as concessionárias podem ter uma compensação ao usar as redes das teles — disse Manuel Poppe, coordenador do Núcleo de Tecnologia da EPL.

Maximiliano Martinhão, secretário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, diz que “alguém vai perder receita”:

— A Casa Civil vai chamar os ministérios para discutir. Até em obras municipais de infraestrutura, como saneamento, que recebem recursos federais, deverá ser avaliada a inclusão de infraestrutura de telecom. As prefeituras poderão, por exemplo, chamar entes privados para fazer os dutos, enquanto a obra é feita, reduzindo custo. Por isso, o ministério das Cidades está envolvido.

Poppe, da EPL, diz que o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) também será beneficiado, já que hoje a rede de telecom da Telebras é compartilhada nas linhas de transmissão de energia, que são de propriedade das geradoras e de empresas privadas e ficam afastadas dos grandes centros urbanos:

— Já as rodovias cortam as cidades. Assim, o custo para levar rede até o cliente final será bem menor.

Fonte: O Globo

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Assista a reportagem do Bom Dia Brasil, da Globo, sobre o problema dos postes.


4 comentários:

  1. Não vejo problema com relação às arvores. É só cortá-las e plantar exemplares que não crescem muito, em sues lugares. É claro que de quando em quando, deverão ser podadas, mas por profissionais, e não por pessoas que vem destruindo suas belezas, como vejo por ai. Não importa que tenham 50 ou cem anos de idade, o que não pode, é acontecer o que acontece quando temos chuvas acompanhadas de ventania.

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  2. Pressão é de todos nós...mas as prefeituras tem uma interface com o Governo Federal mais direta. Lutem por isso.

    Custo pode ser reduzido com o projeto bem feito e dividido entre as responsáveis ( concessionárias )....como plano de governo...passando as redes aéreas para subterrânea aos poucos...começando pelos respectivos centros de distribuição.

    Já que o assunto é energia e comunicação...sugiro a implantação pela Prefeitura de captação de energia solar e eólica...com o excedente produzido durante o dia sendo destinado a rede...e o consumo tendo desconto a noite por parte das operadoras.

    Abraços,

    Lembrando...
    Votei no Vice

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  3. Infelizmente não acredito que essa iniciativa terá futuro porque aqui estamos falando de um problema cultural do brasileiro, de querer e arrumar jeitinho para tudo. Tem um poste ali, então mais um fio aqui outro ali não fará diferença... Daí chegamos ao cenário retratado nas imagens do belo post. Estamos dois séculos atrasados das grandes metrópoles mundiais. Para mudar esse cenário de caos sobre as nossas cabeças, seria necessário reconstruir a cidade de baixo para cima. Sei que todo esforço é válido mas acho que devemos nos concentrar em assuntos de maior interesse público, como o caos do trânsito, por exemplo.

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  4. Prezado Grael e demais colegas,

    Muito interessante a matéria e vem de encontro com soluções que estamos trazendo agora para o Brasil. A utilização de infraestrutura de cabos subterrâneos é amplamente difundida e aplicada faz mais de 30 anos na Europa e América do Norte. É realmente lamentável andar pelas cidades e ver o visual das mesmas serem deterioradas, dentre outros pontos negativos como colocado no texto principal, por emaranhados de fios, de difícil manutenção e por muitas vezes sem utilização.

    Caso queiram terei o maior prazer em apresentar-lhes nossas soluções, que já estão sendo aplicadas por exemplo no metro Rio pela construtora J Queiroz.

    Um grande abraço a todos.

    Viriato Bello
    viriato@civilsnet.com
    bells@bells.ind.br
    www.civilsnet.com
    www.bells.ind.br

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