domingo, 8 de julho de 2018

Cidades têm papel decisivo na redução de emissões de gases que causam aquecimento global



COMENTÁRIO: 

A matéria de O Globo aborda a cota de responsabilidade e o potencial que as cidades têm de contribuir com a reversão das mudanças climáticas. 

Consciente desta responsabilidade, a Prefeitura de Niterói criou em o Grupo Executivo de Mudanças Climáticas (GECLIMA) para conduzir as políticas públicas locais sobre o tema. Desde a sua constituição pelo prefeito Rodrigo Neves, o GECLIMA já elaborou o inventário de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) da cidade e incorporou o tema em políticas públicas, como é o caso das seguintes ações:
  • Clima e política urbana: há vários instrumentos relacionados à prevenção das mudanças climáticas na proposta de Revisão do Plano Diretor de Niterói que tramita no legislativo municipal. 
  • Florestas e clima: a política de áreas verdes da cidade de Niterói tem alcançado um grande destaque internacional em função da criação de áreas protegidas (ocupam mais da metade do território de Niterói) e o trabalho de recuperação de ecossistemas (reflorestamento, renaturalização do Rio Jacaré, implantação do Parque Orla de Piratininga etc.)
  • Mobilidade sustentável: O transporte é a principal fonte de emissões atmosféricas em Niterói. A cidade está implantando a Transoceânica e já anunciou que os ônibus que atenderão o sistema serão elétricos, reduzindo as emissões. Também, está em fase de elaboração o Plano Municipal de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS)
  • Niterói de Bicicleta: a Prefeitura está implantando uma malha cicloviária na cidade que já multiplicou o número de usuários de bicicletas como opção de mobilidade em mais de quatro vezes, desde 2013.
  • Niterói contra Queimadas: o programa é desenvolvido pela Defesa Civil de Niterói e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade (SMARHS) e tem atuado para reduzir os casos de queimadas na cidade.

Mais informações sobre estas iniciativas podem ser obtidas na postagem: PARQUES E CLIMA NO PLANEJAMENTO URBANO DE NITERÓI 

Axel Grael
Secretário Executivo
Prefeitura de Niterói



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Cidades têm papel decisivo na redução de emissões de gases que causam aquecimento global

Governos locais e ações voluntárias de seus habitantes podem fazer com que os países consigam alcançar as metas do Acordo de Paris de reduzir emissões - Dimitar Dilkoff / AFP


Cesar Baima

Estudo de pesquisadores na Noruega evidencia potencial de ações locais e individuais na redução da pegada de carbono

RIO - Enquanto governos nacionais discutem em cúpulas como reduzir as emissões de poluentes para deter o aquecimento global, as soluções estão ao alcance das administrações locais. São as cidades que concentram a maior parte da chamada pegada de carbono deixada pela humanidade na Terra. Trata-se do conjunto das emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa embutidas em todo o ciclo de vida de um produto ou um serviço, da fabricação ao seu consumo, incluindo o uso e o descarte de resíduos. Um estudo conduzido por pesquisadores baseados na Noruega, que estimou pela primeira vez a pegada de carbono de cerca de 13 mil das maiores concentrações urbanas do planeta, indica que políticas locais e ações dos próprios habitantes das cidades são os instrumentos mais poderosos para desacelerar o aquecimento global.

Atualmente, cerca de 4,2 bilhões de pessoas, ou 55% da população mundial, vivem em cidades. Essa proporção deverá subir para 68% em 2050, segundo as Nações Unidas (ONU). São pessoas que precisam morar, alimentar-se, vestir-se, entre outras necessidades. Assim, compram cada vez mais produtos fabricados longe dali, bem como usam energia gerada em usinas distantes e ocupam imóveis construídos com materiais de construção trazidos de fora.




O estudo, liderado por Daniel Moran, pesquisador da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, e publicado recentemente no periódico científico Environmental Research Letters, mostra que as pegadas de carbono das cidades e seus habitantes vão muito além de suas emissões diretas, como, por exemplo, as do transporte de casa para o trabalho e vice-versa, ou das fábricas localizadas dentro de seus limites geográficos. As decisões de consumo e os investimentos em infraestrutura compõem o impacto que uma determinado aglomerado urbano provoca no clima.

O trabalho permite concluir que, nesse tema, é mais importante avaliar as cidades do que os países. A pesquisa mostra que 41 das 200 cidades com as maiores pegadas de carbono, uma em cada cinco, estão em países cujas emissões totais e per capita são relativamente baixas. É o caso de aglomerações urbanas de países pobres ou em desenvolvimento, como Daca (Bangladesh), Cairo (Egito), Lima (Peru) ou Manila (Filipinas).

— Ficamos surpresos em ver que em muitos países algumas cidades controlam praticamente toda sua pegada de carbono — contou Moran, em entrevista ao GLOBO. — Isso faz com que seus prefeitos sejam tão poderosos quanto os presidentes para reduzir as emissões.




NOVA YORK E CALIFORNIA FAZEM A DIFERENÇA

Para o pesquisador, governos locais e ações voluntárias de seus habitantes podem fazer com que os países consigam alcançar as metas do Acordo de Paris:

— Quase tudo que você compra numa cidade tem suas emissões geradas fora delas. As cidades têm grande poder de levar à redução destas emissões, algo muito importante num momento em que os governos nacionais se mostram lentos ou hesitantes na luta contra as mudanças climáticas. Se os países não fazem, as cidades ou governos regionais podem dar os passos para resolver este problema.

Moran cita como um exemplo disso os Estados Unidos, que saíram do Acordo do Clima de Paris por determinação do presidente Donald Trump. O acordo compromete 195 países com medidas para limitar o aumento da temperatura da Terra em até 1,5° C acima dos níveis pré-industriais. Com a decisão de Trump, estados como Nova York e Califórnia mantiveram o compromisso com medidas para alcançar esse objetivo. Nestes dois estados estão duas das dez cidades com maiores pegadas de carbono do mundo, segundo o estudo.

— Se o governo Trump não quer, só esses estados podem fazer isso pelo país inteiro — resume.

Para aumentar o impacto das cidades na luta contra o aquecimento global, é preciso unir ação governamental e engajamento da população. Isso porque entre metade e dois terços da pegada de carbono de um morador de uma grande cidade hoje está fora de seu controle. Sua redução depende principalmente da infraestrutura que o cerca. Conta o tipo de material usado na construção de vias ou prédios e também as fontes de energia.

Assim, as políticas públicas têm potencial de impactar fortemente tanto as emissões diretas quanto as indiretas, enquanto as decisões de consumo dos indivíduos terão mais influência nas indiretas, explica o economista Sergio Besserman, ex-presidente do IBGE e atual presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio. No campo das emissões diretas, ele aponta a necessidade de ações voltadas para três vertentes básicas: mobilidade, energia e lixo. Cabe aos governos melhorar e promover o uso de transportes públicos, assim como buscar que sejam impulsionados por fontes limpas ou renováveis, enquanto as empresas também podem colaborar para combater o que chama de “mobilidade burra”, reduzindo deslocamentos com iniciativas de teletrabalho e otimizando a distribuição de cargas e mercadorias.

MEDIDAS EFICIENTES

Já com relação à energia, Besserman considera que a luta deve ser por mais eficiência, principalmente na iluminação pública, com, por exemplo, a substituição de lâmpadas com tecnologias antigas nos postes por novas lâmpadas de LED, mais econômicas e duráveis. Quanto ao lixo urbano, que responde por cerca de 3% das emissões globais de gases do efeito estufa, as prefeituras podem aproveitar o metano produzido e liberado por lixões e aterros sanitários em projetos de geração de energia, em iniciativa com duplo impacto na pegada de carbono das cidades.

— A atitude principal deve ser a responsabilidade no consumo, o que envolve tanto a ação individual quanto as políticas públicas — recomenda Besserman. — Deve-se buscar usar mais materiais sustentáveis nas construções no lugar de cimento e concreto, altamente intensivos em emissões, e evitar compras supérfluas. Antigamente, frutas e legumes tinham época, mas agora as pessoas querem comer de tudo de janeiro a dezembro, trazendo morangos do Peru, por exemplo, fora da estação. O “consumo consciente” deve se focar em alavancar a economia regional, num compromisso com produtores locais, o que no futuro vai se aplicar cada vez mais a outros setores além do de alimentos. São mudanças de hábitos de consumo que, se de um lado são muito individuais, de outro também têm grande força coletiva.

Outro que destaca este caminho é Mathis Wackernagel, presidente da ONG Global Footprint Network, que vê na própria arquitetura e engenharia das cidades uma maneira de unir os esforços governamentais locais e individuais na redução da pegada de carbono geral.

— A maneira como construímos a infraestrutura das cidades tem grande influência na forma como as pessoas vivem — lembra Wackernagel. — Basta ver as cidades compactas da borda do Mediterrâneo, construídas antes do advento dos carros e muito mais eficientes em termos de emissões. Siena, na Itália, já era uma cidade grande antes disso, cresceu muito mais desde então mas ainda é um exemplo de uma economia de baixo carbono. Lá as pessoas ainda vivem de uma maneira mais medieval, digamos. Andam ou usam bicicletas para se deslocar, consomem produtos locais, bem diferente dos moradores de cidades modernas como Houston (no estado americano do Texas), construídas em torno dos carros.

CONSCIENTIZAÇÃO POPULAR

Wackernagel defende que em projetos de intervenção ou reestruturação urbana, os governantes das cidades levem sempre em conta o aumento de sua eficiência em termos de emissões diretas ou indiretas, isto é, em torná-las “mais Siena e menos Houston”. O que, na seara individual de suas populações, passa por trocar o “eu devo” ou “eu preciso” pelo “eu quero”.

— O problema é que, como nossas cidades não foram construídas para serem mais eficientes do ponto de vista das emissões e pegada de carbono, hoje temos muito mais Houstons que Sienas no mundo — diz. — Mas se por um lado a má notícia é que não temos como reconstruir totalmente nossas cidades, a boa é que não precisamos “reeducar” as pessoas, já que elas respondem à infraestrutura e mesmo vários pequenos passos podem mudar a maneira como vivem. E ao dizerem que querem isso, as pessoas podem fazer as coisas acontecerem, numa decisão econômica de seu próprio interesse. Afinal, uma casa construída com materiais mais sustentáveis, tirando proveito da natureza para iluminação e calefação em uma cidade mais eficiente vai se valorizar em um futuro de recursos cada vez mais restritos, enquanto residências ineficientes em regiões ineficientes vão perder valor.

Segundo Wackernagel, também só assim será possível jogar mais para o fim do ano o chamado Dia de Sobrecarga da Terra. Calculado anualmente pela ONG que preside, ele marca a data em que a Humanidade usou toda a capacidade regenerativa de nosso planeta, entrando numa espécie de “cheque especial” ecológico na qual as emissões de gases-estufa respondem por 60% da conta. Este ano, o Dia de Sobrecarga da Terra “cai” em 1º de agosto próximo, o mais “cedo” na História.

— O carbono é uma pegada importante, mas só parte da pegada ecológica total da Humanidade — afirma. — Entender o impacto de nossas ações na capacidade regenerativa da Terra é fundamental para o futuro do planeta e das próximas gerações. Não podemos continuar nesta economia de liquidação, que usa e destrói o planeta que vivemos sem dar chance para que ele se recupere.


Fonte: O Globo



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GECLIMA

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