Thiago Reis
São 270.479 focos de incêndio registrados pelo Inpe, recorde da série histórica anual, iniciada em 1999. Estiagem prolongada e ausência de fiscalização são apontadas como causas.
Com 270.479 focos de incêndio, 2017 já é o recordista em número de queimadas de toda a série do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciada em 1999. E o ano nem acabou.
O mês de setembro é um dos grandes responsáveis pelo dado histórico. Foram 110.988 pontos de calor registrados – número nunca antes atingido em apenas 30 dias no país e que representa mais de 40% do total do ano. Em dezembro, são 6.873 focos em apenas nove dias (a média mensal é 8.836).
Na comparação com todo o ano passado, já há um aumento de 44% no número de focos de calor.
Para o pesquisador Alberto Setzer, responsável no Inpe por coordenar o monitoramento de queimadas no país, a estiagem prolongada em boa parte dos estados e a ausência de fiscalização estão entre as principais causas da propagação do fogo.
Vários estados ficaram sem precipitação, propiciando que os incêndios se alastrassem e atingissem áreas maiores, diz. "Mas o principal foi o descontrole por parte da fiscalização, porque a gente está falando em crimes sendo cometidos."
Ele cita o caso de Mato Grosso, onde houve um decreto proibindo queimadas, cujo período foi, inclusive, estendido. "Mesmo assim, não foi observada nenhuma alteração no uso do fogo. Pelo contrário, aumentou tremendamente." O estado teve quase 44 mil focos neste ano.
O Pará também teve um ano atípico. O estado já teve, até agora, mais de 64 mil focos de incêndio – um aumento de 118% em relação ao ano passado. O número é bem maior que o registrado em 2004 (47.822), até então o ano com o maior número de queimadas.
As unidades de conservação também foram devastadas pelo fogo. A área atingida é maior que a do ano passado, de acordo com dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pelas unidades.
Parte considerável da destruição ocorreu no Parque Nacional da Chapada do Veadeiros, que passou pelo maior incêndio da sua história. O fogo só foi controlado após 68 mil hectares serem atingidos.
Setzer diz que é esperado que o número de focos diminua no ano que vem, mas alerta para o descontrole em novas fronteiras agrícolas, como pôde ser observado em Mato Grosso e no Pará. "Em geral, do ponto de vista do clima, é difícil ter anos consecutivos com o mesmo padrão. Então é esperado que 2018 seja mais úmido, mesmo sendo complicado prever. Mas mais que isso, quando há muitas queimadas, a vegetação seca é consumida. Então a matéria orgânica disponível para a queima diminui muito", afirma.
Pelo mundo
Não foi só o Brasil que viveu um ano complicado. Várias queimadas já atingiram a Califórnia, nos Estados Unidos, obrigando, inclusive, retiradas em massa. A primeira morte em decorrência do fogo foi confirmada nesta sexta (8).
Em Portugal e na Espanha, diversas regiões sofreram com os incêndios florestais, que deixaram ao menos 40 mortos.
Monitoramento
O monitoramento por satélite do Inpe consegue diagnosticar todos os focos de incêndio que tenham pelo menos 30 metros de extensão por 1 metro de largura.
Quase todas as queimadas hoje são causadas pelo homem, seja de forma proposital ou acidental. As razões variam desde limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos e colheita manual de cana-de-açúcar até disputas por terras e protestos sociais.
Segundo o Inpe, as queimadas destroem a fauna e a flora nativas, causam empobrecimento do solo e reduzem a penetração de água no subsolo, além de gerar poluição atmosférica com prejuízos à saúde de milhões de pessoas e à aviação. Denúncias de incêndios criminosos podem ser feitas ao Corpo de Bombeiros, às prefeituras, às secretarias estaduais do Meio Ambiente e ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Fonte: G1
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