sexta-feira, 6 de abril de 2012

Chega de canalização e dragagem! Uma lição para a mentalidade de gestão obreira de rios urbanos no Brasil.


Opinião de Axel Grael:

A matéria abaixo é um excelente exemplo que rios podem conviver e melhorar a vida nas cidades. Transformados em áreas verdes, tornam-se refúgios para a fauna urbana, valorizam bairros, trazem conforto e reduzem o stress da vida nas cidades, moderam os efeitos das ilhas de calor causadas pelas extensas superfícies de concreto, ofertam espaços para o lazer e para equipamentos esportivos, turísticos e culturais.

Em outros países as áreas de beira-rio são cada vez mais valorizadas ao serem transformadas em parques e áreas de lazer, enquanto nas cidades brasileiras são desprezadas e maltratadas. As cidades frequentemente colocam-se de costas para o rio, com as casas que ocupam a orla normalmente voltando a frente para as ruas e os fundos para o rio.

Rios são sujos e ameaçam com as suas cheias e, portanto, não merecem maiores privilégios na atenção dos moradores da cidade. Assim, usar rios para jogar aterros, lixo, esgoto e etc virou cotidiano e não choca as pessoas como devia.

Ninguém parece se importar ao ver os rios serem violentados com as deletérias e há muito ultrapassadas práticas de canalização, dragagem, retificação (supressão dos meandros), implantação de avenidas, etc. Estas práticas são a sentença de morte para os ecossistemas dos rios, mas não importa. Na ótica de setores obreiros governamentais, os rios urbanos são vistos como meros condutores de água: quanto mais rápido a água passar, melhor! E quem estiver rio abaixo que se dane para lidar com as enxurradas facilitadas por estas obras.

Dragagens não são a solução, mas mero paliativo. No estado do Rio de Janeiro, muitos milhões de reais são gastos anualmente em onerosas obras inúteis que se espalham por suas baixadas e que apenas protelam a próxima enchente. Recursos públicos preciosos são jogados fora em dragagens sucessivas que precisam ser refeitas a cada nova chuva forte. Apenas a indústria das dragagens e das obras de canalização se favorecem.

Rios precisam de planejamento que envolva toda a sua bacia. O assoreamento - que é a desculpa para as sucessivas dragagens - é a consequência do uso do solo nas bacias hidrográficas. O que fazer então quando milhares ou milhões de pessoas já moram ao longo do rio? O ideal é prevenir nas áreas de expansão urbana, e isso não é feito: os erros se repetem. Onde a malha urbana já é intensamente adensada, há que se pensar em paleativos. Pensar no tratamento de esgoto, na qualidade da micro e mesodrenagem, na desocupação das margens, na prevenção do assoreamento, em técnicas de controle de enchentes que evitem ou retardem a chegada das enxurradas nas áreas planas e de menos velocidade de escoamento. Onde for possível, que se processe a renaturação dos rios, como a Alemanha tem feito com maestria.

O exemplo de Cingapura é inspirador. Tive a oportunidade de conhecer esse diminuto país que tem muito a ensinar a um país de extensão continental como o nosso. O país - uma ilha - é quase todo urbano e, portanto, sabem valorizar cada espaço livre. Além das áreas verdes, teríamos muito a aprender com a gestão do transporte e do trânsito na cidade.

Que fique o exemplo. Que inspire um novo olhar sobre os nosos rios urbanos.

Axel Grael

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Cingapura transforma canal de concreto em paisagem sustentável


Muitos estudiosos afirmam que a cobertura de canais com placas de concreto ocasiona a morte do rio. Porém essa ainda é uma das ações tomadas por governos no disfarce da poluição. Em Cingapura, cidade localizada no sudeste da Ásia, o projeto NParks e PUB agência nacional de água, fizeram a ação inversa. Eles transformaram um canal de concreto localizado em um dos maiores e mais populosos parque da cidade, o Bishan Park, em uma paisagem sustentável.


O rio Kallang foi reaberto oficialmente em meados do mês de março, em comemoração ao Dia Mundial da Água. Segundo o atelier de arquitetura, Dreiseitl, responsável pela obra, o projeto tem importância internacional, com destaque na infra-estrutura ecológica de nova geração, combinando funções de engenharia convencional, com oportunidades de recreação e contato com a biodiversidade.


Além da hidrovia redirecionada, a equipe utilizou o concreto retirado do canal na construção de lanchonetes e playgrounds. Além disso, o parque possui áreas abertas com gramado verde para jogos, esculturas feitas de materiais reciclados e hortas comunitárias.


A qualidade da água nos tanques e rio é mantida, sem o uso de produtos químicos. Eles foram compostos por plantas cuidadosamente selecionadas que filtram poluentes, absorvendo nutrientes da água.
 

Segundo o diretor e assistente chefe do NParks, Kong Yit San, a volta do rio trouxe também pássaros, libélulas e garças para perto da população. Ele ainda acredita que com a variedade de atividades que o parque oferece, o novo Bishan Park vai atrair mais visitantes, e então tornar Cingapura em uma “Cidade Jardim”.

Fonte: Ecodesenvolvimento

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Veja outro exemplo de recuperação de rios e áreas urbanas degradadas:  http://axelgrael.blogspot.com/2009/11/cheonggyecheon-em-seul-coreia-um.html


2 comentários:

  1. Ate parece o Canal de Marapendi, Axel! Bjs Ane

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  2. hmduppre@yahoo.com.br4 de dezembro de 2012 às 15:59

    Axel, existe alguma possibilidade de trazer para o RJ a infraestrutura verde renaturalizando os rios e as matas ao redor das cidades?Como começar? Nena

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