Marcelo Feereira e Torben Grael recebem a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Arquivo O Globo. |
Sanny Bertoldo
RIO - Não teve festa, nem mesmo algum tipo de despedida oficial. Maior medalhista olímpico do Brasil, o velejador Torben Grael - dono de dois ouros e dois bronzes na classe Star, e uma prata na Soling - desistiu da disputa por uma vaga nas Olimpíadas de Londres-2012 sem fazer alarde, e encerrou um dos capítulos mais vitorioso do esporte nacional.
"Tínhamos um apoio da Confederação, mas estávamos disputando recursos inclusive com meus filhos (Marco, na classe 49er, e Martine, na 470). Aí, não dá". Torben Grael
A decisão, que começou a tomar forma após a etapa da Holanda da Copa do Mundo de Iatismo, em maio, ocorreu em comum acordo com o parceiro Marcelo Ferreira, com quem foi bicampeão olímpico, em Atlanta-1996 e Atenas-2004, e ficou com a prata nos Jogos de Sydney-2000. Sem patrocínio e com a forte concorrência de Robert Scheidt e Bruno Prada, líderes do ranking mundial de Star, a dupla achou melhor interromper a campanha olímpica - apenas um representante de cada classe se classificará para os Jogos. Em 11 no ranking, Torben e Marcelo conquistaram o terceiro lugar no Mundial do ano passado, disputado no Rio, e, este ano, ficaram em terceiro na etapa da Espanha da Copa do Mundo e em sétimo na Holanda.
- Tínhamos um apoio da Confederação, mas estávamos disputando recursos inclusive com meus filhos (Marco, na classe 49er, e Martine, na 470). Aí, não dá. Uma campanha olímpica de alto nível é cara e não tem como ficarmos tirando do nosso bolso. Se é para fazer, tem que ser direito, com dedicação. No fim, eram tan$adversidades que achamos melhor desistir - explica Torben. - É triste porque, depois de ter contribuído o tanto que contribuímos, não conseguimos mais por falta de incentivo. Mas íamos ter que parar em algum momento. Melhor ser agora.
- Não tinha muito mais o que fazer. Teríamos que estar em condição de igualdade com os outros para poder brigar. Não queremos só velejar, queremos ganhar. E, desse jeito, não dava. O COB comprou um barco para nós, mas só. As passagens, hospedagens, era tudo por nossa conta. Isso foi desanimando - completa Marcelo. - Sinceramente, não faz sentido, por tudo que fizemos, ainda termos que correr atrás de patrocínio. Atleta de alto nível tem que receber esse suporte.
Desde a primeira Regata de Volta ao Mundo com o Brasil 1, em 2005/2006, no qual o barco brasileiro terminou em terceiro, a dupla já não se dedicava 100% à classe Star. Torben, inclusive, abriu mão da campanha olímpica de Pequim-2008 para disputar sua segunda Volta ao Mundo, dessa vez como comandante do barco sueco Ericsson, com o qual foi campeão, em 2008/2009. Um dos mais respeitados velejadores do mundo, ele também é reconhecido por sua atuação na America's Cup, a mais tradicional competição oceânica, da qual foi campeão em 2000 e ficou em segundo em 2007.
Segundo ele, terem ficado um tempo afastados da Star e estarem no fim da carreira olímpica dificultaram a busca por patrocínio. No entanto, afirma, a situação é sintomática.
- Eu fico chateado nem é por nós. Claro, gostaríamos de fazer mais uma campanha olímpica. O problema maior é que, a um pouco menos de cinco anos para as Olimpíadas no Brasil, a gente ouve falar sobre obras de infraestrutura, mas pouca coisa mudou no esporte - alerta Torben. - A palavra legado já ficou banalizada, mas a principal vantagem de se realizar uma Olimpíada aqui seria mudar a prática esportiva no país, mas isso parece muito longe de acontecer.
Aos 51 anos, Torben não tem planos de se afastar do esporte. Embora já não veja mais tempo hábil para disputar uma terceira Volta ao Mundo - a próxima edição começará dia 29 de outubro, na Espanha -, ele não descarta participar da seguinte. Por enquanto, entre seus compromissos está a Mitsubishi Sailing Cup, que reúne veleiros oceânicos de 40 pés (12,3 metros de comprimento), e terá sua terceira etapa no Rio, entre 1 e 4 de setembro.
"A palavra legado já ficou banalizada, mas a principal vantagem de se realizar uma Olimpíada aqui seria mudar a prática esportiva no país, mas isso parece muito longe de acontecer". Torben Grael.
Scheidt é aposta em Londres
Para Marcelo, que começou a velejar por acaso, aos 12 anos, o encerramento da carreira olímpica fecha um ciclo. Hoje, aos 45 anos, ele trocou o desafio do mar pelas turbulências em terra firme, e se tornou sócio de uma importadora de vinhos e de uma construtora. Com seu bom humor característico, garante que não está triste e que segue em frente:
- Tirei um peso das costas e virei a página. A vela faz parte de um passado que me deu muitas alegrias e, antes que se transformasse em um presente de tristezas, eu saí.
Sem os bicampeões olímpicos no caminho e em ótima fase, a dupla Scheidt e Prada se torna uma das grandes apostas para as Olimpíadas de Londres. Dona de uma medalha de prata na Star, em Pequim, os Jogos-2012 podem ser a última chance para a dupla subir ao lugar mais alto do pódio já que, pelo menos por enquanto, a classe está fora das Olimpíadas do Rio-2016.
Fonte: O Globo, 17 de agosto de 2011.
Una lastima no contar con Torben como representante en un juego olimpico
ResponderExcluirFico triste mais uma vez, em saber que atletas olímpicos, que deram tanta alegria aos apreciadores do esporte, desistem por falta de patrocínio. Isso é o fim. Até quando os políticos brasileiros vão tratar o esporte e os nossos atletas desta maneira? Para que fazer copa do mundo e olimpíadas no Brasil, se não damos as mínimas condições aos nossos atletas?
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