quinta-feira, 1 de outubro de 2015

SMART CITIES - Cidades inteligentes criam nova economia


Mercado de cidades inteligentes vai movimentar US$ 1 trilhão até 2016, segundo estudo da Pike Research: o futuro é logo ali


Uso da tecnologia a serviço da eficiência e da melhoria da qualidade de vida nas metrópoles alimenta mercado bilionário

19/08/2014
Cristina Rios


Em um futuro não muito distante, os sistemas de saneamento, iluminação, transporte e segurança estarão conectados à rede. Sensores irão identificar se o pedestre é portador de alguma necessidade especial e ampliar o tempo em que o semáforo ficará fechado. Cada cidadão poderá acessar, por meio de aplicativos de celular, uma série de dados que o ajudará a definir melhores rotas para chegar ao trabalho, desviar de congestionamentos e até mesmo achar vagas para estacionar. Será possível carregar seu celular por meio de energia solar no ponto do ônibus e até monitorar o consumo de água.

Soluções

Serão as chamadas smart cities, ou cidades inteligentes, cujo conceito mais amplo define o uso da tecnologia para melhorar a infraestrutura e tornar os centros urbanos mais eficientes e melhores de se viver. A ideia ganhou impulso nos últimos cinco anos e o esforço começa a criar um mercado bilionário, que envolve desde gigantes como IBM, Siemens e Microsoft a pequenos desenvolvedores e startups. Essas empresas vêm criando programas para resolver uma série de problemas das cidades – desde vazamentos de água até a poluição do ar e os engarrafamentos.

De acordo com pesquisa da Pike Research, o mercado de cidades inteligentes será de US$ 1 trilhão até 2016. Somente a receita gerada pela venda de soluções deverá subir de US$ 8 bilhões em 2014 para US$ 27,5 bilhões em 2023. “As cidades inteligentes estão formando uma nova economia”, diz Marilia de Souza, gerente de Observatórios do Sesi/Senai/IEL da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Segundo ela, o grande fluxo de dados permitirá mudar a forma como governo e cidadãos se integram à cidade.

A curitibana Dataprom, responsável pelo sistema de cartões do sistema de transporte de Curitiba, começou a testar, há duas semanas, um sistema de semáforos inteligentes, cujo sinal vermelho para os carros permanece acionado mais tempo para idosos e portadores de necessidades especiais poderem atravessar a rua.

A solução funciona com um sistema de cartões. “Em geral, o sinal fica fechado durante 12 segundos. Quando o pedestre usa o cartão, o tempo aumenta para 18 segundos. A população está envelhecendo. As cidades precisarão pensar soluções para esse novo cenário”, diz Antenor Simões Júnior, gerente comercial da empresa. O teste está sendo feito próximo ao Estádio Couto Pereira, no Alto da Glória. Fundada há 25 anos, a Dataprom cresce 25% ao ano e espera elevar seu faturamento de R$ 70 milhões, projetado nesse ano, para R$ 100 milhões até 2015.

Geração de energia

Outra empresa a pegar carona na onda das cidades inteligentes é a Solar Energy, que espera multiplicar por dez o seu faturamento anual, de R$ 10 milhões, em cinco anos, segundo seu presidente, Hewerton Martins.

A empresa desenvolve projetos de geração de energia solar e já implantou o sistema do escritório verde da UTFPR no Rebouças e em um hotel no interior de São Paulo. Um dos sistemas da Solar Energy permite a geração de energia em pontos de ônibus. A energia pode ser integrada à rede da companhia elétrica e abastecer a publicidade no local e até possibilitar a recarga de celulares.

Até 2025, número de metrópoles inteligentes vai quadruplicar

O número de cidades inteligentes vai quadruplicar nos próximos 11 anos. Serão 88 metrópoles em todo o mundo contra 21 de 2013. A conclusão é de um relatório da IHS Technology. Ainda não há, porém, um conjunto de padrões globais que definam o conceito, mas o IHS usou como critérios cidades que desenvolvem ou estão testando a integração de soluções de tecnologias de informação e comunicação em três ou mais áreas funcionais de uma cidade.

Competitividade

“Em linhas gerais, as cidades inteligentes podem se desenvolver na área do governo, por meio de ferramentas de serviços e interação com a população, por meio dos cidadãos, com o uso de internet sem fio, equipamentos e aplicativos e por meio das empresas inovadoras, que desenvolvam novas plataformas” diz Gina Paladino, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento.

Quanto mais inteligente, mais competitiva a cidade será para atrair mão de obra qualificada, empresas e investimentos, explica. “As cidades inteligentes e os novos modelos que elas estabelecem devem nortear o crescimento nos próximos anos.”

Mas, com a falta de parâmetros globais de definição, os atuais rankings sobre as cidades inteligentes ainda são pouco confiáveis. “Dependendo do critério, uma cidade pode ser mais ou menos inteligente”, diz Gina, ao lembrar o exemplo de Barcelona (Espanha) e Seul (Coreia do Sul).

“A primeira é referência na área de governo, a segunda na área de empresas”, diz. Em Barcelona, por exemplo, a população pode visualizar em um mapa digital a localização exata do trem, táxi, metrô ou ônibus que deseja utilizar. Tudo por um aplicativo instalado no celular.

2 mil projetos voltados para cidades inteligentes são tocados pela IBM. Em Cingapura, Estocolmo e Califórnia, a empresa coleta dados sobre o trânsito e os processa com algoritmos para prever onde acontecerão os engarrafamentos uma hora antes que eles comecem. No Rio de Janeiro, a empresa construiu uma sala de controle no estilo da Nasa, onde diversas telas reúnem dados de sensores e câmeras localizadas em toda a cidade.



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Cidades ou cidadãos inteligentes?

Ramiro Gonçalez, pesquisador do Grupo Engenheiros da POLI-USP e professor de Inteligência de Mercado da FIA-USP

Frequentemente surgem frases ou neologismos que irão transformar o mundo. Palavras como sustentabilidade, big data, benchmark e outras são repetidas à exaustão muitas vezes com significado vazio. Muita filosofia e pouca ação. O termo cidades inteligentes não significa nada se os cidadãos que estejam nelas não tenham acesso à saúde e educação (entre outros direitos) e sejam agentes da construção da cidadania.

A região atualmente onde há mais desenvolvimento integrado no mundo é a de Palo Alto – Berkeley – Cupertino, próximo às universidades de Berkeley (pública) e Stanford (privada). O ambiente propicia um enorme desenvolvimento econômico, pois no eixo representado pelas duas universidades surgiram todas a grandes empresas contemporâneas (Apple, Google, Twitter, HP e Intel ). Exceção ao Facebook, que foi criado em Harvard e ao crescer (pasmem), mudou-se para lá. Juntou-se um caldo raro de se encontrar em outros lugares do mundo: alto nível educacional, valorização do empreendedorismo e mérito.

Essa região não pode ser considerada uma cidade se forem observadas as características jurídicas e políticas do conceito. Entretanto, seus habitantes não sabem disso e criaram uma definição própria de cidade. Eles criaram, de forma espontânea, um ambiente horizontal. Isso antecede qualquer definição vinda de urbanismo ou arquitetura, pois tem a ver com conectividade e interação. Nesta “arquitetura social”, eles se relacionam uns com os outros de forma horizontalizada, sem hierarquias, títulos ou domínios herdados. O objetivo nunca foi definido em algum “planejamento centralizado”, mas todos que vivem lá sabem qual é: inovar.

“Vale das Sinapses”

Não existe mágica ou neologismo. Tudo começa com educação e mérito (sim, avaliações de desempenho) e termina em empreendendorismo. A região entre Stanford e Berkeley é usualmente chamada como “Vale do Silício”, mas deveria ser conhecido como “Vale das Sinapses”.

O resultado não poderia ser mais emblemático: ao ler este texto, pode-se garantir que pelo menos uma marca citada está ao alcance de suas mãos. As cidades inteligentes precisam começar com cidadãos inteligentes.


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ENTREVISTA

“Acesso a dados vai permitir maior interação com os cidadãos”

Antonio Carlos Dias, diretor de smart cities da IBM no Brasil

Que mudança está fazendo com que as cidades se tornem mais inteligentes?

O ponto principal é o acesso aos dados. Isso mudou o jogo. Antes não tínhamos acesso a dados. Com a tecnologia, podemos analisar e antecipar fatos. Antes não tínhamos essa memória. Agora ela está disponível para os governos e cada vez mais para a população. O que teremos no futuro é uma interação maior do cidadão com esses dados. Sistemas inteligentes darão à população mais informação, que ajudará, por exemplo, nas tomadas de decisão. O cidadão ganhará autonomia.

Qual o desafio hoje com a infinidade de dados que há a disposição dos governos?

O desafio é definir o que é relevante. Temos 24 horas de imagens do fluxo de tráfego em uma determinada via, por exemplo. Para quem está parado no congestionamento, saber que o fluxo não vai normalizar em menos de duas horas só vai gerar mais irritação. Mas, se conseguirmos avisar antecipadamente o cidadão que se ele for por esse caminho vai enfrentar congestionamento, ele pode buscar alternativas. O governo, com esse banco de dados, pode fazer mudanças necessárias. O cidadão passa a ter mais qualidade de vida. Passar duas horas no trânsito nas grandes cidades é algo que tem que acabar.

A IBM tem mais de 2 mil projetos ligados ao desenvolvimento de cidades inteligentes no mundo. Além da área de mobilidade urbana, que negócios poderão ser gerados nos próximos anos?

Há uma infinidade de possibilidades, que podem estar ligadas à educação, saúde, meio ambiente, segurança. Em Porto Alegre, por exemplo, havia um problema de segurança que estava ligada à iluminação pública. As lâmpadas queimavam aparentemente com frequência. Mas o sistema tinha problemas. Um cidadão abria um chamado para pedir a substituição junto ao departamento encarregado. Um outro cidadão ligava cinco minutos depois e havia uma sobreposição de solicitações, por exemplo. O sistema inteligente permite o monitoramento automático das substituições e do tempo médio de duração de cada lâmpada. Com isso, as lâmpadas são trocadas antes de queimar.



Fonte: Gazeta do Povo





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