Há quatro décadas, Axel atua na militância e na política em defesa das causas ambientais - sem jamais abrir mão do prazer de velejar.
“A causa ambiental tem uma mensagem negativa que muitas vezes é pessimista e derrotista. Eu sempre defendi que ninguém se mobiliza pelo que não existe mais. Se a natureza acabou, morreu, o que vamos fazer? Isso desmobiliza as pessoas. O que precisamos é de uma mensagem mais otimista e de exemplos que deram certo. A má notícia pode ser útil para abrir os olhos para o problema, mas se as pessoas não sentirem que podem ser úteis, colocam a atenção em outra coisa. Sempre procuro provocar essa questão porque a gente tem que acreditar na força e na capacidade que a gente tem de mudar.”
Axel Schmidt Grael carrega um dos sobrenomes mais nobres do esporte brasileiro. A família Grael contabiliza mais medalhas olímpicas que muitos países: são duas com Lars (bronze em 1988 e 1996) e cinco com Torben (dois bronzes, em 1988 e 2000; uma prata, em 1984; dois ouros, em 1996 e 2004). Também velejador, Axel, irmão dos medalhistas, compartilha da paixão pelo esporte até hoje. Pelo menos duas vezes por mês, coloca seu barco na água. Mas Axel escolheu outro caminho: a luta pela preservação ambiental.
O mais velho dos irmãos Grael nasceu há 60 anos em São Paulo, mas sua cidade do coração é Niterói, onde morou a maior parte de sua vida, foi eleito vice-prefeito em 2012 e atualmente é secretário executivo municipal. Também em Niterói, em um casarão às margens da Baía de Guanabara, está a sede do Projeto Grael, cujo objetivo é “oferecer aos jovens uma oportunidade educacional e de socialização através de uma experiência náutica”, segundo seu estatuto. Criado em 1998, o projeto já integrou mais de 16 mil jovens em seu programa ambiental e náutico.
Esta não é a primeira iniciativa de Axel na busca por um mundo melhor. Aos 20 anos, ele se formou engenheiro florestal atraído pelas questões ambientais. “Isso nos anos 1970, quando ninguém falava muito sobre o tema”, ressalta. Mas sua ação como militante ambientalista se acelerou por um motivo bastante peculiar: óleo de sardinha.
Na época, havia três fábricas de sardinha em lata próximas à Baía de Guanabara, onde Axel tinha o costume de velejar. O problema é que todos os dias, quando recolhia sua embarcação, ele via seu casco lambuzado de óleo, resultado do descarte incorreto dos resíduos das empresas. “Tentei de tudo para resolver o problema: dialogar com as empresas, reclamar no órgão público… Entendi que não poderia delegar a ação aos outros, eu precisava fazer”, recorda. “Organizei uma regata de protesto que teve cobertura até do Fantástico e, a partir disso, uma turma se reuniu para formar um grupo ambiental”, completa.
Assim, nasceu o MORE, Movimento de Resistência Ecológica, associação que chegou a ter mais de 5 mil inscritos. Sua atuação previa a defesa da Baía de Guanabara, mas se tornou maior e passou a incluir esforços pela despoluição de lagoas e pela adoção de ciclovias, entre outras bandeiras. “Na época, vivíamos em regime de exceção no Brasil e a questão ambiental não era entendida: fomos taxados de comunistas e subversivos”, relata Axel.
“Hoje, o assunto está mais em pauta, a Virada Sustentável [na qual Axel foi palestrante em painel sobre água] é um exemplo disso. Mas a causa ambiental e de sustentabilidade, à medida que avançam, põem o sarrafo mais acima”, analisa. Para ele, estamos melhores em relação à poluição química, de metais pesados, óleos e graxas, mas ainda temos sérios problemas em relação à carga orgânica e ao esgoto.
Para Axel, o movimento ambientalista de hoje andou para trás em relação à década de 1980. “Hoje, temos mais consciência, mídia e educação, e essa geração tem essa informação já na escola, mas, como movimento, sinto que regrediu. Naquela época, o engajamento comunitário era forte. Hoje ele existe, mas não tem capilaridade, organicidade e alcance de antes”, pontua.
Axel também faz uma análise crítica dos processos de organização social e cita movimentos como a primavera árabe ou o “Ocuppy Wall Street”, nos Estados Unidos. “A organização não vem de estruturas tradicionais, vem de um lugar amorfo, tem lideranças dispersas. O problema: processos tiveram forças para derrubar regimes, mas, e depois? São efêmeros, mobilizam, mas não dão continuidade”, diz Axel. “Agora, como movimento ambientalista, ainda estamos aprendendo com isso”.
Seja como político, seja como militante, sempre em processo de aprendizado, Axel continua com a mesma motivação que o levou para a luta ambiental: propor alternativas às ações nocivas ao meio ambiente. E, enquanto isso, ainda curte os prazeres que a natureza pode dar, como colocar seu barco na água e sentir o vento dar o seu destino.
Fonte: Blue Vision Braskem
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