Axel e Erik representando o Brasil na classe Snipe, na década de 1960. |
Quadro no bar do Rio Yacht Club, homenageia a primeira conquista dos irmãos Schmidt. |
Erik Schmidt no timão do Brasil 1, que sob o comando de Torben Grael, foi o único barco brasileiro a disputar a Volvo Ocean Race. Axel, orgulhoso, abraça Torben. |
Portando a tocha olímpica pelas ruas de Niterói, às vésperas da Rio 2016. |
O Brasil perdeu hoje um dos seus maiores nomes da história da vela. Faleceu, aos 79 anos, no Rio de Janeiro, o meu tio, o velejador Axel Frederick Preben Schmidt, ou Axel Schmidt, de quem tenho a honra de herdar o nome.
Axel foi um pioneiro do esporte no Brasil. Com o irmão Erik Schmidt, conquistou três vezes o Campeonato Mundial da Classe Snipe: em Rye, Nova York (1961), Bandol, França (1963) e Ilhas Canárias (1965).
- Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos na Classe Lightning (1959)
- Medalha de Prata nos Jogos Pan-Americanos na Classe Lightning (1963)
- Representaram o Brasil nos Jogos Olímpicos do México (1968) e Munique em (1972).
- Na Vela de Oceano foi timoneiro do veleiro “Pluft” na conquista da Regata Buenos Aires - Rio. Timoneou ainda o "Pluft" na tradicional Admiral’s Cup na Inglaterra. Com o seu veleiro “Osprey”, Axel conquistou a Regata Santos-Rio e o Circuito Rio de Vela de Oceano.
Começaram a velejar nos barcos da classe Hagen-Sharpie, cujo desenho teve a contribuição do pai de Axel e Erik, Preben Schmidt. Os barcos eram construídos em Niterói, eram praticamente exclusivos do Rio Yacht Club. Na época, um grande nome da vela niteroiense, que vencia seguidas regatas no Saco de São Francisco (Enseada de Jurujuba) era Margrete Schmidt, irmã mais velha dos gêmeos, falecida ainda jovem mas que mantém o mito até hoje. Depois vieram os barcos da classe Snipe, onde a família fez tradição.
Os velejadores foram os primeiros brasileiros a conquistar campeonatos mundiais. Na mesma época, a Seleção Brasileira de Futebol conquistava as suas primeiras copas do mundo e Maria Ester Bueno, da mesma idade de Axel e Erik e que faleceu dois dias antes de Axel, conquistava os principais títulos no mundo do tênis. O Brasil começava a se destacar no cenário esportivo mundial e os resultados eram muito celebrados. Lembro-me, ainda criança, na década de 1960, de admirar o quarto dos gêmeos repleto de vistosos troféus nas prateleiras, de ver orgulhoso os meus tios Axel e Erik chegando em triunfo ao Brasil, no antigo aeroporto do Galeão e desfilando em carros de bombeiros pelas ruas do Rio de Janeiro e Niterói. As mesmas cenas seriam repetidas anos depois pelos seus sobrinhos Torben, Lars e Martine Grael.
Axel e Erik foram atletas destacados em tempos em que o esporte era amador, não aceitava patrocínios e manter uma carreira esportiva no Brasil era um grande sacrifício. A vela não tinha prêmios em dinheiro, a estrutura das federações esportivas era precária. Atletas enfrentavam dificuldades de financiamento das suas campanhas, viagens e material, sacrificavam suas carreiras profissionais devido ao tempo que precisavam dedicar ao esporte e ainda precisavam superar o olhar preconceituoso contra a vida de atleta. Os Gêmeos do Mar souberam superar todos estes obstáculos e foram arrebatando títulos.
Tios de Axel, Torben e Lars, os velejadores Axel e Erik foram os grandes mestres, inspiradores e incentivadores das gerações seguintes da família Schmidt-Grael, que trouxeram para o Brasil e para o Rio Yacht Club (Sailing), de Niterói, uma coleção consagradora de títulos:
- Torben Schmidt Grael: 5 medalhas olímpicas (duas de ouro, uma de prata e duas de bronze), 6 campeonatos mundiais, uma final de America's Cup e uma conquista da Volvo Ocean Race, além de 30 campeonatos brasileiros, em diversas classes.
- Lars Grael: 2 medalhas olímpicas de bronze na Classe Tornado, 2 títulos mundiais (classes Star e Snipe), 11 títulos continentais e 29 títulos nacionais.
- Martine Grael: medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro - Rio 2016. Também conquistou campeonatos mundiais na classe 49erFX e foi eleita pela Federação Mundial de Vela como a Melhor Velejadora do Mundo em 2014.
- Marco Grael é parte da Equipe Olímpica de Vela do Brasil e Nicholas Grael também vem conquistando títulos importantes.
Axel deixa a esposa Moema, os filhos Ingrid e Anders e os netos Bárbara e Dylan. Além dos familiares e do legado de conquistas esportivas, Axel Schmidt deixa um acervo de divertidas histórias que animará por muitos anos ainda as conversas dos velejadores das mais novas gerações.
Obrigado por tudo tio Axel. Que as velejadas continuem nos mares da eternidade.
Axel Schmidt Grael
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Axel, conheci seus tios assim que eles voltaram ao Brasil, como campeões em 1961. Eles estiveram no meu aniversário de 15 anos, naquele mesmo ano, mais ou menos dois meses depois do falecimento de Margarete em um desastre de avião. Estou contando histórias da minha vida em capítulos, no meu canal do youtube, e contei a história de como os conheci. Só então, querendo saber notícias deles, descobri que o Axel havia falecido, mas não encontrei qualquer referência ao Erik. Ainda é vivo? Como está? Agradeço sua atenção caso possa me responder.
ResponderExcluirMárcia Muniz